Ion de Andrade
Médico epidemiologista e professor universitário
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Que cuidados devo tomar com a minha pessoa idosa em casa no contexto do Isolamento Social?

Tais medidas complementares dão alcance as estratégias de Isolamento Social, cujo propósito é a redução do contágio, agregando a ela a potencial redução das hospitalizações e das mortes. 

Que cuidados devo tomar com a minha pessoa idosa em casa no contexto do Isolamento Social?

por Ion de Andrade, Lyane Ramalho e Loyse de Andrade

Não podemos nos intimidar diante da falácia insustentável do Isolamento Vertical, que significaria tentar isolar apenas a população de risco, silenciando sobre a discussão crucial para a redução dos internamentos e dos óbitos pela COVID-19 e que toca a como proteger a pessoa idosa no seu domicílio, no contexto desse Isolamento Social.

Tais medidas complementares dão alcance as estratégias de Isolamento Social, cujo propósito é a redução do contágio, agregando a ela a potencial redução das hospitalizações e das mortes. 

Após a introdução o texto apresenta as recomendações do que pode ser feito. 

Introdução

Como já sinalizamos noutros artigos, cada percentual da população idosa protegida resultará em 5 a 6% a menos na letalidade geral pela Covid-19 e de 3,5 a 4% nos internamentos. Isso decorre do fato de que a população idosa corresponde a 13,8% dos brasileiros, mas representa mais da metade dos internamentos e mais de 75% dos óbitos.

A proteção da pessoa idosa no domicílio, quando a família exercita o isolamento Social, é portanto, a melhor relação eficiência/eficácia que podemos ter no enfrentamento da epidemia do ponto de vista da prevenção.

De fato se, por hipótese, pudéssemos proteger 100% dos idosos, todas os desfechos só ocorreriam em outras faixas etárias e em menor magnitude, porém os números absolutos da mortalidade geral seriam reduzidos em 75 a 80% que é o que corresponde à parte dos idosos nessa letalidade e os internamentos seriam reduzidos a mais do que a metade. A vantagem dessa estratégia de Proteção ao Idoso do contágio, suplementar ao Isolamento Social, é que o colapso dos serviços de saúde poderia ser contornado, pois estaríamos “tirando da fila” a população mais vulnerável o que permitiria melhor qualidade da assistência para os que inevitavelmente terão necessidade dela.

É essa a matemática que temos que entender para que a Atenção Primária à Saúde, a Sociedade Organizada, a mídia e a população em geral possam, com clareza do que querem, atuar de forma robusta em favor da proteção ao idoso no contexto do Isolamento Social.

Muitos brasileiros já entenderam isso e estão protegendo os seus idosos. Um artigo do Globo intituladoNo Brasil, um quarto dos mortos por coronavírus está fora dos grupos de risco flagra o fenômeno, que apresentamos no gráfico abaixo publicado pelo jornal, mas não consegue extrair dele essa provável verdade. O artigo acredita, erroneamente nonosso ponto de vista, que a doença está mudando de perfil e, diferentemente de como age em toda parte, está se tornando mais virulenta contra os mais jovens. Discordamos dessa análise por acreditar que a redução dos óbitos em idosos já decorre de graus de cuidados que as famílias brasileiras estão ativamente tomando em relação aos seus idosos, um esforço que foi capaz de alterar o indicador e que deve ser potencializado.

Entendemos que o gráfico abaixo em lugar de se intitular “Número de mortes aumenta entre os fora de risco”, deveria ter como título Número de mortes cai entre idosos. Esse fenômeno,  por ação de todos, deve se tornar ainda mais robusto.

Elencamos aqui, inspirados no artigo Proteção domiciliar dos idosos sob Distanciamento Social no contexto da COVID 19” também publicado no GGN (clique aqui para ler) as Recomendações do que se deve fazer em casa para proteger a pessoa idosa do contágio da Covid-19.

 

Que cuidados devo tomar com a minha pessoa idosa em casa?

SEMPRE, oriente o idoso a lavar as mãos ou higienizá-las com álcool a 70%. Caso ele não possa, o cuidador deve fazer por ele;

Respeite e pratique o isolamento social. O isolamento social é uma importante medida para reduzir o contágio do idoso; 

Lembre-se que o maior risco para a pessoa idosa, no contexto do isolamento social, é de ser contaminado pelo novo coronavírus em casa;

Evite o contato da pessoa idosa com os netos. Os jovens e as crianças, embora costumem na maioria das vezes não ter sintomas ou ter sintomas leves, podem transmitir a doença ao idoso;

Mesmo adultos sem sintomas podem transmitir a Covid-19. Se você tem pessoas idosas em casa, comporte-se na relação com esses idosos com o cuidado que você teria se estivesse doente e transmitindo o coronavírus;

Mantenha a distância da pessoa idosa de pelo menos 1,5m em todos os momentos do dia;

No trato com ele nas ocasiões em que em que o contato mais próximo for necessário, para banho ou higiene pessoal, você deve usar uma máscara para protegê-lo;

Reserve os utensílios que ele usa, (garfo, faca, colheres, copo, xícara) só para ele;

Se esforce para manter a saúde mental da sua pessoa idosa, lhe dê atenção e respeito e tente preencher o seu dia com atividades diversas, TV, rádio, jogos individuais, jogos no smartphone, palavras cruzadas, banhos de sol e quando possível, atividade física, tudo isso sempre com os cuidados recomendados;  

Se você tiver um cômodo extra em casa, (um espaço pouco usado, um quarto, arejado e iluminado), que permita que permaneça adequadamente, sugerimos que a sua pessoa idosa possa passar boa parte do dia nele para reduzir o contato com os familiares e diminuir as chances de contaminação;

Mantenha contato com a Unidade de Saúde ou com o médico de referência e peça para que criem um grupo de whats app para que a comunidade de pacientes e os profissionais de saúde possam ter um espaço de diálogo, acompanhamento e monitoramento;

Se a sua pessoa idosa for acamada, todos os que tiverem contato com ele no momento dos cuidados devem ter lavado as mãos corretamente e utilizar máscaras, pois a sua fragilidade é ainda maior;

Se a sua pessoa idosa é autônoma e tem vida social fora de casa, esse comportamento é de alto risco para ela e a família deve informar que por alguns meses essas atividades devem ser suspensas;

As visitas aos idosos, exceto a do pessoal de saúde, utilizando máscaras, devem ser suspensas, mesmo a de familiares próximos e amigos;

Se há idosos que moram sozinhos na sua vizinhança, crie uma rede de solidariedade na sua comunidade para ajudá-los a resolver os problemas fora de casa, como compras ou pagamentos, permitindo que eles não se exponham;

Mantenha a doença crônica da sua pessoa idosa tratada e converse com a equipe da Unidade de Saúde ou médico de referência para acompanhá-lo em atenção domiciliar praticando também a validade prolongada do receituário dos medicamentos de uso contínuo;

Mantenha o calendário vacinal da sua pessoa idosa em dia e

Torne a sua pessoa idosa protagonista dessas recomendações!

Autores

Ion de Andrade é médico epidemiologista da Secretaria de Estado da Saúde Pública do RN/Cefope/ETSUS, mestre em Pediatria, doutor em Ciências da Saúde, e pesquisador do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde LAIS/UFRN;

Lyane Ramalho é professora do Departamento de Saúde Coletiva da UFRN, mestre e doutora em Saúde Coletiva, tutora do PMM pela UFRN, coordenadora geral do PEPSUS/UFRN e pesquisadora do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde LAIS/UFRN;

Loyse Raboud de Andrade é assistente social, especialista em gerontologia e responsável pelo Espaço Solidário – Centro de Convivência de idosos, Instituição de Longa Permanência e Casa dia de Idosos do Centro Sócio Pastoral Nossa Senhora da Conceição de Mãe Luiza em Natal/RN

Ion de Andrade

Médico epidemiologista e professor universitário

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