A violência policial e as UPPs

Sugerido por Assis Ribeiro

Do Brasil de Fato

“O inimigo interno é, no conceito de pacificação de hoje, o povo todo das favelas”

Para Maria Helena Moreira Alves, professora aposentada da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, que acaba de lançar o livro Vivendo no fogo cruzado, o Bope entra nas casas, arromba as portas, bate nas pessoas. Ela afirma que ouviu relatos de mulheres que falavam “Graças a Deus meu marido não estava em casa, porque quando tem homem eles matam”

Viviane Tavares

O Brasil inteiro se acostumou a assis­tir, por anos a fio,a notícias da violência que caracterizava a vida de uma de suas cidades: em qualquer canto desse país, todo mundo sabia que, no Rio de Janei­ro, traficantes de drogas instalados nas favelas imprimiam um clima de guerra à população.

Em 2009, o Brasil inteiro recebeu, com otimismo, o anúncio de uma polí­tica que expulsaria o tráfico, ‘pacifican­do’ as favelas cariocas. Cinco anos de­pois, esse mesmo Brasil inteiro assiste, na tela da mesma TV, a cenas em que moradores dessas comunidades inter­ditam ruas, queimam pneus em protes­to e atacam a sede da Unidade de Po­lícia Pacificadora (UPP), chorando seus mortos – só que, agora, pela polícia.Depois de passar seis meses visitando, conhecendo e entrevistando pessoas de diversas favelas cariocas, Maria Hele­na Moreira Alves, professora aposenta­da da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), acaba de lançar o livro Vivendo no fogo cruzado, que ajuda a entender esse processo.

Nesta entrevista, ela explica que o projeto de pacificação que chegou ao Brasil tem origens num programa nor­te-americano que foi aplicado durante a Guerra do Vietnã e que tem semelhança com a experiência de outros países, co­mo a Colômbia. Ela localiza na ditadu­ra o início da construção de um inimi­go interno, que hoje se identifica com as populações de favela. E alerta: as pes­soas reagem quando começam a perder seus filhos.

A política de ‘pacificação’ no Brasil vem desde Duque de Caxias, passa por Canudos e hoje é encontrada nas favelas. Como se deu isso historicamente e como você avalia o que temos hoje?

Maria Helena Moreira Alves – É claro que já temos todo um precedente que apoia isso, mas o que nós temos ho­je, o programa da UPP e o termo paci­ficação, está ligado diretamente ao pro­grama dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã, que, aqui, está ligado à dou­trina de segurança interna, que foi apli­cada durante toda a ditadura militar. Isso foi criado durante a ditadura, não foi com Duque de Caxias nem com a es­cravidão. Apesar de podermos dizer que o Bope [Batalhão de Operações de Poli­cias Especiais] parece o capitão do ma­to, na verdade ele é um soldado armado para enfrentar uma guerra interna, e o inimigo interno é, no conceito da paci­ficação de hoje, o povo todo das favelas.

Costuma-se dizer que a referência da UPP aqui no Brasil veio da Colômbia. Você diz que veio do Vietnã. O que há em comum na experiência de Brasil, Colômbia e Vietnã?

Têm em comum o cerco, a tomada do território, o trabalho primeiro mili­tar, seguido de um trabalho social. No Rio, o trabalho social nunca chegou, fi­cou só no repressivo. Em Bogotá sim, teve mais trabalho social, que também não foi adiante, mas a repressão foi mais intensa. O Vietnã foi o modelo, com um programa que se chamava Pacification Hamlets. Era o cerco das aldeias que eles achavam que estavam sob influên­cia dos vietcongues, em áreas do Vietnã do Sul, que estava em guerra com o Viet­nã do Norte. Os Estados Unidos apoia­vam o Vietnã do Sul, mas havia várias áreas que estavam sob influência dos vietcongues. E nesses territórios eles fi­zeram o Pacification Hamlets, que se­guia muito o modelo que agora a gente vê da UPP: primeiro uma invasão militar do território, seletivamente eliminando os líderes mais importantes; depois uma segunda onda de repressão que envolvia tortura não seletiva – já não eram os lí­deres, mas qualquer pessoa comum que eles pegavam, torturavam e jogavam pa­ra as outras verem, como parte do ter­ror; e controle de modo que a aldeia fi­casse pacificada pelo medo. Mas vinha uma segunda etapa que era para ga­nhar corações e mentes, com programas de educação, esportes em geral e saúde também, com muita coisa voltada para crianças. A ideia era dividir a comunida­de, que algumas pessoas que estivessem envolvidas em programas sociais achas­sem bom e tentassem ignorar a parte re­pressiva. E a parte repressiva passava a ser mais escondida. No caso do Vietnã, quando houve o massacre muito famo­so em My Lai, o povo se rebelou e os Es­tados Unidos tiveram que fugir quando perderam a guerra. E o mesmo vai acon­tecer no Brasil. Chega um momento em que a política de terror gera mais raiva do que medo. É parte da própria sobre­vivência: qualquer animal quando es­tá muito acuado se defende atacando. E essa reação vem quando você começa, por exemplo, a perder seus filhos.

Qual é o objetivo da pacificação e quem está sendo pacificado?

A população que está sofrendo esse processo é aquela que não é útil para o sistema econômico. Então, se eliminá­-la, não faz falta. O que eles estão eli­minando são os jovens pobres, negros, analfabetos que não servem para a mão de obra, aquela mão de obra fácil, que já tem muito. Em termos de direitos hu­manos, o Brasil é um dos piores países. É sempre importante lembrar que esta­mos em um país que não está em guerra declarada, embora o ex-governador do Rio de Janeiro tenha declarado guer­ra, mas isso foi da cabeça dele. O Bra­sil está em situação de rebelião popular, mas não é uma guerra civil, ainda. Es­pero que não venha a ser. Se continu­ar essa pressão, até pode vir a ser, co­mo é o caso da Colômbia. Muitos ca­sos, como o da Nicarágua, com o levan­te de Manágua, que eu vivi quando mo­rei lá, foram causados também pelo ter­ror, que controla até certo ponto. De­pois, quando você não tem mais espe­rança, acaba o medo. O levante de Ma­nágua foi quando aconteceu a operação Herodes, no final do governo contra os sandinistas, na qual eles mandaram ro­dear certas áreas mais combativas de Manágua, retiraram à noite das casas os maiores de dez anos e metralharam na rua, com argumento de que eles já estavam entrando na Frente Sandinista de Libertação Nacional. É muito pareci­do com a forma como a polícia brasilei­ra fala que o jovem vai virar traficante: “Nasceu, vira criminoso”. E eles mata­ram tantas crianças, que houve uma re­belião total, as pessoas se juntaram aos sandinistas e fortaleceram o movimen­to, que ganhou a revolução. E as pesso­as falaram que acabou o medo quando não tinham mais nada a perder. Hoje, o que temos? O Bope entra nas casas, arromba as portas, bate nas pessoas… Ouvi relatos de mulheres que falavam “Graças a Deus meu marido não esta­va em casa, porque quando tem homem eles matam”.

Mas, nos exemplos que você cita, como o da Nicarágua, havia forças de esquerda organizada com a qual a população revoltosa se aliou. Como isso se dá no Brasil?

Nós temos um exemplo histórico úni­co no Brasil de organização de revolta popular, que são os quilombos. Infeliz­mente, não se trabalha muito com isso, mas somos um dos únicos países que teve uma revolução popular de escra­vos que chegaram a fundar cidades, fo­ram mais de 8 mil quilombos. Eu acho que ainda temos essa cultura nas fave­las pelo trabalho comunitário, o chama­do mutirão. Existe muito dos quilom­bos nesse sentido. Fiquei admirada de ver que, quando começava um tiroteio nas favelas, apareciam pessoas de tudo quanto era lugar e esvaziavam a esco­la em 20 minutos. Retiravam mil crian­ças, não necessariamente deles, mas de vizinhos, e elas ficavam protegidas até os pais voltarem. É uma organização comunitária muito profunda de solida­riedade. Não é que as pessoas estejam a favor do tráfico ou achem o tráfico me­lhor do que a polícia, mas diziam o se­guinte: o traficante local é da comuni­dade, nós temos menos medo dele por­que se você não for diretamente contra ele, ele não faz nada com você nem com a sua família, já a polícia não, vai con­tra todo mundo. A diretora de uma das escolas em que eu estive no Complexo do Alemão me contou que, durante um tiroteio muito grande, houve um mo­mento em que o Bope entrou, com Ca­veirão e tudo, e começou a dar tiros de dentro da escola. Tiraram até telhas pa­ra dar tiro. E no dia seguinte veio o che­fe do tráfico reclamar com ela, dizendo: ‘como é que você deixa uma coisa des­sas? Eu tenho filho nessa escola’.

Agora, sobre rebelião popular, é outra coisa. Acho que você tem razão. Nós não temos condições hoje de organizar ne­nhuma resistência – eu nem diria rebe­lião – com caminhos dirigidos, como tí­nhamos esperança, quando fundamos o PT, de que o partido fizesse esse papel. Seria o caminho da classe trabalhadora guiada pelo PT para um jeito petista de governar, mudando todas as referências, não fazendo alianças, inclusive com uma coisa que também não aconteceu, e que é triste, que era o novo movimento sindical ser autônomo, não ligado a nenhum go­verno. Durante um tempo isso foi mui­to forte, mas hoje a CUT tem dirigentes no governo, acabou a autonomia do mo­vimento sindical e, de certa maneira, de outros movimentos também. Então, di­minuíram os movimentos sociais como uma corrente que possa organizar o povo e não existe partido que possa organizar o povo em geral, porque todos estão vin­culados a uma política de interesses. Isso é muito grave porque a população deixou de acreditar nas instituições. E o que po­de ser uma rebelião popular, então? Pode ser uma explosão social, do tipo queima tudo, quebra tudo, sem direção, que po­de virar fascista ou pode ser só quebra­-quebra e ter um massacre geral de re­pressão e voltar à situação de repressão interna das comunidades mais pobres. Até ter outra explosão. Isso acontece em vários países. Tem que ter um grande lí­der carismático e todo um movimento por trás organizado para conseguir is­so. E o Brasil não tem mais nem um líder carismático. Eu acho que o Lula ainda é, mas já não tem mais a força da condução de um movimento, como tinha antes. Ele podia ter feito isso em 2002, acho que ti­nha 80% de aprovação para fazer trans­formações profundas. Na hora em que não fez, em que começou a fazer alianças para governar dentro do modelo político que existe, tirou essa possibilidade. E ho­je em dia acho que o povo está descrente. Então nós podemos ter uma situação de muita confusão, muita briga na rua, mas sem uma condução política.

Você disse que a política de segurança mudou muito pouco, mas muitas pessoas acreditaram nas UPPs. Por quê?

Acho que as pessoas tiveram uma es­perança muito grande por chegarem outras coisas com a UPP. E se foi ven­do, com o passar do tempo, que não era isso. Lembro de uma frase de uma mo­radora da Rocinha [favela do Rio de Ja­neiro] que, quando perguntada se era a favor da UPP, respondeu: ‘Estou em si­lêncio’. E foi indagada que, se estava em silêncio é porque estava gostando, e ela respondeu que o silêncio significava o medo. Se você mora lá, diante da vio­lência, não é possível dizer que é contra, com sua família na mira de uma metra­lhadora em cada esquina. E essa popu­lação está em um fogo cruzado porque os donos do morro ainda estão lá, mas os mandantes estão fora da favela. No livro Vivendo no fogo cruzado, a entre­vista com Beltrame [secretário de se­gurança do Rio de Janeiro] mostra que não tem traficante nas favelas, que eles moram fora das favelas, o que existe é o pequeno tráfico, vendido em envelopi­nho de R$ 300. O governo não está com véu nos olhos e sabe quem comanda o tráfico e quem comanda o tráfico é in­ternacional.

Ainda é cedo para avaliar a estratégia adotada no Brasil, como defende o secretário de segurança pública do Rio de Janeiro José Mariano Beltrame? O que já dá para avaliar hoje?

A UPP está muito clara. É possí­vel avaliar há muito tempo. O Beltra­me, por ser um intelectual e ter uma certa vivência que vai além da UPP, ele não gosta muito do programa. In­clusive na entrevista do livro [Vivendo no fogo cruzado] ele diz que não gosta do nome ‘pacificação’ por chamar mui­ta atenção ao que realmente é. O que não está claro é por que o governo fede­ral está apoiando. E por que a Ministra de Direitos Humanos chora quando vê uma notícia como a da mulher arrasta­da [Cláudia Silva Ferreira], a do Ama­rildo, e depois não faz nada de concre­to. Não tem uma intervenção do Go­verno Federal. E tinha na época do Lu­la, isso eu tenho que dar crédito a ele, mas ele acabou se aliando ao Cabral, e a aliança com o Cabral foi mais impor­tante do que os direitos humanos. Ali­ás, ele nos falou isso em uma das entre­vistas: que faria aliança até com o diabo se fosse necessário para o Brasil apro­var as leis sociais para acabar com a pobreza. ‘E para passar as leis no Con­gresso, eu preciso do PMDB. E o PM­DB no Rio é o Cabral. Eu tenho que me aliar ao Cabral’, ele disse. Era uma crí­tica dele mesmo ao sistema de governo. Ainda estávamos no Pronasci [Progra­ma Nacional de Segurança Pública com Cidadania], mas ele já sabia que o pro­grama iria morrer. O que precisamos é uma reforma geral, temos que rever a Constituição. Antes eu falava de des­militarizar, mas agora eu defendo que a PM deve ser abolida. Precisamos de uma polícia civil para lidar com o povo, melhorá-la, treiná-la, trabalhar com in­teligência, não pode ser os que estão aí hoje, mas acho muito difícil. A PM está nas mãos dos governadores.

Por que o Pronasci não vingou?

Eu acho que existem interesses por trás que estão vinculados ao crime or­ganizado e que não querem que o pro­grama dê certo. Realmente não inte­ressa a muita gente poderosa – eu não diria que está no poder, diria podero­sa – do crime organizado internacio­nal, que está vinculado com o crime lo­cal, que isso dê certo. É mais fácil com­prar a polícia, formar miliciano, do que ter uma polícia eficaz que trabalha com a comunidade e vai prevenir crime. Is­so é bem claro. Os governadores não querem porque têm o Exército nas suas mãos e muitas vezes defendem interes­ses não só deles, mas interesses econô­micos próprios. Vi uma notícia de que a senadora Kátia Abreu está apresen­tando um projeto no Congresso que eli­mina o cadastro das empresas que têm trabalho escravo. Isso é muito grave e mostra como ainda existem interesses até para manter a escravidão.

A investigação coordenada por Philipp Alston, relator especial da ONU sobre Execuções Extrajudiciais, Sumárias ou Arbitrárias, aponta diversas iniciativas como o fim da polícia militar e do caveirão, a instalação da ouvidoria da polícia de forma séria e a eliminação dos ‘autos de resistência’ ou ‘resistência seguida de morte’ para o avanço da segurança pública no país. Isso pode ajudar?

As sugestões do Philipp são impor­tantes porque vêm da ONU, mas Luiz Eduardo Soares já falava isso e con­tinua falando. Hoje a OAB já assumiu esse discurso. É importante que seja a ONU porque há possibilidade de san­ções sobre o Governo Federal. E não vai ter esse papo de que não posso inter­vir porque a Constituição não deixa. Is­so é difícil porque faz parte da geopolí­tica internacional não falar da violência do Brasil, não falar mal da UPP, não fa­zer sanção. Se o que está acontecendo no Brasil fosse na Ucrânia seria um es­cândalo internacional. Há todo um es­quema internacional, porque querem que o Brasil continue fazendo o seu pa­pel de subimpério. A doutrina de se­gurança nacional com desenvolvimen­to existe ainda e o papel geopolítico do Brasil como a Escola Superior de Guer­ra concedeu ainda está vigente dentro do contexto geopolítico internacional. Não é à toa que o Obama deu palmadi­nha nas costas do Lula e falou que ele é o cara. O Lula não entendeu o que isso quis dizer. Ele é o cara ideal para con­duzir o país em uma geopolítica que in­teressa aos Estados Unidos, que nunca quiseram reformas políticas profundas no Brasil. Pode ter o Mujica no Uruguai que eles aguentam, dão prêmio, mas o Brasil é outro papo. O Brasil tem fron­teira em quase toda a América Latina, domina o Atlântico inteiro, de lado a la­do, com isso domina a África, e isso tu­do está dentro da concepção da doutri­na de segurança nacional e internacio­nal da Escola Superior de Guerra. (Es­cola Politécnica de Saúde Joaquim Ve­nâncio/Fiocruz)

 

Redação

9 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Fantástico

    Artigo muito esclarecedor.

    Acabei de ler no site de “A Pública” uma reportagem sobre a guerra entre a PM e o PCC no auge da crise de segurança de 2012. Infelizmente o padrão de violência da Polícia Militar é generalizado no Brasil, não se restringe de forma alguma ao Rio.

    O BOPE no Rio, a ROTA em São Paulo, outros “corpos de elite” em outros estados; a mensagem é sempre a mesma – o favelado é criminoso por natureza. Pela votação do tenente-coronel Telhada nas últimas eleições municipais, é um discurso que uma parte não desprezível da população apoia, e não só os mais ricos.

    Aqui o link: http://apublica.org/2014/05/guerra-a-periferia/

  2.  
    Mais uma vez um texto

     

    Mais uma vez um texto tentando olhar a favela de fora para dentro. As boas intenções são muitas, mas uma coisa é criticiar tendo vivido a realidade..

    Acho que as pessoas tiveram uma es­perança muito grande por chegarem outras coisas com a UPP. E se foi ven­do, com o passar do tempo, que não era isso. Lembro de uma frase de uma mo­radora da Rocinha [favela do Rio de Ja­neiro] que, quando perguntada se era a favor da UPP, respondeu: ‘Estou em si­lêncio’. E foi indagada que, se estava em silêncio é porque estava gostando, e ela respondeu que o silêncio significava o medo.

    Depreende-se do texto acima que as pessoas estão querendo passar a impressão de que o medo é em função apenas da polícia. Querer acabar com a polícia é sugestão sem sentindo algum, é muita inocência achar que “é só abolir e treinar uma policia”. Enquanto houver gente disposta a metralhar a cabeça de policiais a cada esquina, enquanto houver a sanha desesperada pelo dinheiro, a violência sempre irá existir de ambos os lados. Essa acentuação da demonização da polícia é preocupante porque parece que estão desconsiderando o contexto de ódio em que se vive, como eu escrevi esses dias:

    https://jornalggn.com.br/blog/francy-lisboa/a-exposicao-diaria-a-miseria-humana-pelas-policias-hora-de-pensar

     

    Ainda, as UPPs são sim coisa boa que deve ser aperfeiçoada, quem não sentiu cheiro de pneu queimado na favela sabe do que eu estou falando. Favela que sempre gritou, sempre pediu ajuda, mas as UPPs as vezes parecem  ser mais criticados devido ao fato de quem as concebeu do que pelo projeto em si.

    https://jornalggn.com.br/blog/francy-lisboa/a-exposicao-diaria-a-miseria-humana-pelas-policias-hora-de-pensar

  3. Comando Vermelho. A História
    Comando Vermelho. A História Secreta do Crime Organizado, de Carlos Amorim, é um trabalho de valor excepcional, cuja leitura se recomenda a todos os brasileiros que se preocupem com o futuro deste país. Futuro do qual se pode ter um vislumbre pelas palavras de William Lima da Silva, o “Professor”, fundador e guru do Comando Vermelho, citadas à p. 255: “Conseguimos aquilo que a guerrilha não conseguiu: o apoio da população carente. Vou aos morros e vejo crianças com disposição, fumando e vendendo baseado. Futuramente, elas serão três milhões de adolescentes, que matarão vocês [ a polícia ] nas esquinas. Já pensou o que serão três milhões de adolescentes e dez milhões de desempregados em armas?” O fenômeno da conscientização e o surgimento do chamado crime organizado só vão aparecer na década de 70. Houve portanto aí a introdução de um fator novo, de uma diferença específica no tipo de influência exercido pelos militantes sobre os bandidos. Essa diferença residiu essencialmente no conteúdo das informações transmitidas: em vez de simples doutrinação ideológica, os bandidos receberam ensinamentos práticos, que puderam por em ação tão logo saíram da cadeia. Que ensinamentos foram esses? Primeiro, princípios de organização, que incluíam desde a estrutura hierárquica e disciplinar do grupo armado até sistemas de comunicação em código.

  4. Só para eu entender. Então

    Só para eu entender. Então seria melhor que o narco-tráfico mantivesse o controle das favelas?

    Creio que haja pontos a melhorar nas ações de Estado nestas áreas, precisamos de mais Estado, não de menos Estado.

    A simplificação do discurso, contrapondo a Polícia aos interesses dos moradores,  é gritante.

  5. Vou citar o que vi em

    Vou citar o que vi em reportagem na tv (ou jornal?). Número de carros roubados abandonados,  no Rio, em vias públicas, aumentou por que não há como levá-los às comunidades devido a presença da polícia. Pombas e antes será que as pesoas de bem nada notavam. Infelizmente, pode ser até interesse da mídia, não temos notícias da quantidade de denúncias contra ação de traficantes antes da upps para compararmos como o que vemos contra a polícia. A impressão que deu foi que o convívio com traficantes ( e tudo o mais que implica)era melhor (ou é) do que com a polícia. CAracas, então tá.

  6. O câncer do Brasil são as

    O câncer do Brasil são as favelas, em especial as do RJ em sua maioria localizada  nos morros, encostas de difícil acesso e beira de rio.

    Para se entender a proliferação de favelas nas capitais e grandes cidades do Brasil é necessário entender porque se deu a falta de políticas habitacionais pelo país a fora. O grande auge até então dessas construções, foi na Era Vargas.   Até o início dos anos sessenta do século passado, mas precisamente até o ano de sessenta e dois ainda se construíam para as classes populares e menos abastadas. Houve um esquecimento deliberado de construção de moradias populares a partir da instauração da ditadura militar no Brasil.  Naquele período de grandes e megas construções, constriu-se grandes obras pelo país e esqueceu-se deliberadamente de construir conjuntos habitacionais para famílias de baixa renda, como se habitações populares não fosse obrigação de Estado, como escolas, hospitais, estradas, hidrelétricas etc.

    Não conheço país nenhum do mundo que se desenvolveu sem atacar o problema da habitação popular.  O nome habitação popular já diz tudo, são construções para atender a demanda populacional de baixa e de baixíssima renda, as quais nem de longe imaginaram algum dia possuir um imóvel próprio se valendo de seus proventos mensais.   

    Depois da ditadura militar o país mergulhou em um cáos econômico-social profundo e as construções populares que antes inexistiam, acabou-se de vez.  Os estados do RJ e SP continuaram a receber migrantes do nordeste as pencas e o único lugar que se apresentava para esse contingente morar eram as favelas por razões óbvias é claro.  Quem ganha um salário mínimo ou pouco mais, não tem a menor condição de pagar aluguel, e era para as favelas que essa mão de obra subalterna se dirigia com fins de moradia. 

    Hoje ocorre outro fenônomo interessante, não há mais espaços vagos nas favelas para se construir, verifica-se então outro fenômeno, o morar de aluguel, verdadeiros chiqueiros alugados a quem não dispõe de um mínimo espaço para construir seu casebre.

    Em países onde houve a preocupação com a construção de moradias populares inexistem as chamadas favelas.  Vi nos EUA prédios altos com oito a doze andares, antigos, sem elevador e sem instação de gás, mas em bairros com infra-estrutura urbana suficientes para que essa população viva com alguma comodidade.

    O Brasil de hoje com mais de meio século de atraso começou a fazer a sua parte com o programa mcmv que visa a atender a essa demanda reprimida por moradias com um mínimo de decência e infra-estrutura urbana.  No tocante a criminalidade que impera nesses antros chamados de favelas as razões são várias, séculos de abandono se transformaram em um barril de pólvora, onde a polícia para se defender entra atirando.

    Não existe nesses antros ruas, avenidas, casas numeradas e ruas nominadas.  São verdadeiros labirintos do minotauro, onde somente quem mora ali conhece os seus meandros, seus contornos, suas vielas e seus becos.

    Também não existem postes, fiação elétrica, esgoto sanitário, água encanada, esses serviços quando existem são roubados da parte pagadora de impostos que fica no entorno.  Ônibus urbanos também não circulam em suas dependências, enfim essas pessoas vivem confinadas em guetos infectos.

    Enquanto a população do país era majoritariamente rural foi relativamente fácil manter esses guetos sob relativo controle, porém com a migração, o crescimento populacional e a inexistência de uma política habitacional que os atendessem, ficou praticamente impossível manter a ordem onde impera o mais absoluto caos.

    Muitos se perguntam porque apenas nas favelas a polícia entra atirando se existem traficantes e mal feitores em toda parte da cidade.  A resposta para isso é simples, nos bairros há infra estrutura urbana, as pessoas pagam impostos, a Lei impede que propriedade privada seja invadida sem ordem judicial.  Nas favelas há a conivência e a convivência com o tráfico, muitas famílias vivem disso, a polícia é vista como inimiga, o lugar é de difícil acesso, a polícia ataca para se defender, pois sabe que será atacada assim que botar os pés por lá.  Os moradores desses antros não dispõe de escrituras, portanto são invasores aos olhos da Lei.  As  concessionárias de serviços públicos também não os vê com bons olhos, pois não costumam pagar por serviços, mesmo quando esses serviços são instalados de forma legal. Há a cultura de que todo morador faz parte ou é conivente com os traficantes.  Uma coisa emblemática que se dá por lá é a de que quando a favela é invadida por traficantes rivais que querem tomar as bocas de fumo na marra, os moradores querem e exigem a presença da polícia para expulsar a quadrilha invasora, agora quando a polícia invade para pegar traficante ou desmontar bocas de fumo, aí a polícia é malvada e truculenta.

    A única maneira que eu vejo de resolver ou atenuar essa situação é a transformação da favela em bairro, e a construção de conjuntos habitacionais fora das favelas.  Se não houver urbanização, se o poder público continuar a não investir e ou considerar morador de favela cidadão de segunda classe, vamos ser todos cúmplices da criminalidade e também alvo do crime, pois não acredito que somente os favelados possam ser vítimas do sistema constituído, quem mora em seu entorno também é punido, ora por bala perdida, ora pela desvalorização de seus imóveis que ficam na linha de tiro.  Perguntem a quem mora próximo de favela, se é bom ter uma favela na vizinhança.

    Nunca  é tarde para se recomeçar, achar que os favelados irão sair da favela pela simples vontade de sair, sem que o Estado ofereça condições para essa saída, é mera utopia. 

  7. UPPs

    Assis,

    É isto mesmo, o massacre oficial ocorre em diversas regiões com UPP, e o BOPE, quem compreende isto?

    Na zona sul o ataque é mais brando, mas à medida que o bairro “pacificado”  vai se afastando do Centro a coisa muda, porque, como disse a professora com extrema perfeição, a turma dos rapazes pretos, pobres e com pouca instrução não preocupam a ninguém, e os sumiços não provocam eco.

    Repito o que já disse aqui-Há alguns anos Copacabana ficou, a única vez, sem nenhuma pessoa dormindo nas calçadas, e quando eu reparei (quis dar uma quentinha prá um deles e não vi nenhum deles, homem ou mulher ) , percorri o bairro de ponta a ponta e nada, até que encontrei um no meio do bairro, isto por volta de uma e meia da manhã, e dali  fui pra onde eu batia o ponto, e quando eu comentei o fato, um conhecido meu falou que uns oito mendigos foram assassinados à queima roupa enquanto dormiam, e aí a turma toda sumiu. Você acha que isto foi notícia em jornal ou televisão ?

    Costumo dizer que se jogarem uma bomba de neutrons no Alemão, Maré e outras localidades, quase ninguém do andar de cima sentirá falta, alguns reclamarão porque ficaram sem a empregada.

    As UPPs, conforme eu disse ao início do Programa, precisa do trabalho social para dar certo, não precisa de BOPE e muito menos de Exército, idéia esta ainda mais estapafúrdia pelo fato de ter sido solicitada pelo governo estadual, ou seja, o próprio governo pediu para sofrer uma intervenlção militar.

    Acontece que o trabalho social não chegou a 10% do pretendido em nenhuma das regiões “pacificadas”, não houve qualquer trabalho técnico que incentivasse aquelas pessoas a comerciar, a $$$ que girava por causa do tráfico sumiu ou foi reduziuca, e aí ? Aí ele precisa descer prá poder sustentar a rurma.

    Isto não é nenhuma novidade, alguns conhecem a receita muito bem obrigado, mas os diversos conflitos de interesse falam mais alto. .Em minha opinião, a  tendência  é continuar a tendência, uma situação cada vez pior. 

     

  8. O velho mimimi de sempre de

    O velho mimimi de sempre de setores da esquerda contra a atuação policial. Estudei há 15 anos na FFLCH/USP e é impressionante como esse discurso não muda.

    Do alto de suas cátedras na USP, UERJ etc, bem como de seus apartamentos em Ipanema e Higienópolis, lançam um olhar totalmente distorcido sobre a realidade das favelas.

    Convido esses pseudo-intelectuais a se mudarem a uma favela sem UPP (daquelas ainda dominadas por traficantes armados de fuzil) juntamente com suas cheirosas famílias petit borgeois. Podem imaginar o que os traficantes fariam com sua princesinha de 18 anos de idade?

    Ah, claro, isso nunca vai acontecer. Por isso eles não se preocupam com as meninas, filhas de trabalhadores pobres, que são estupradas diariamente. Nem com os irmãos delas, recrutados ainda crianças pelo tráfico, condenados a passagens pela cadeia e uma vida precocemente encerrada por disputas entre traficantes ou em confronto com a polícia.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador