Autoritarismo do DEM em Salvador deixa partido sem vereador

Com sua velha roupagem de PFL, o DEM deu as cartas na política baiana por 15 anos, elegendo três governadores nesse período. Hoje, por intransigência de dois caciques locais, o deputado federal ACM Neto e o presidente da executiva estadual José Carlos Aleluia, o partido sequer tem vereador em Salvador, dizem seus desafetos.

Na capital baiana, a hegemonia política do partido foi minguando progressivamente. Em 2000, quando a antiga versão do DEM detinha o controle das máquinas municipal e estadual, sete dos 30 candidatos pefelistas conseguiram se eleger. Quatro anos mais tarde, cinco entre 23 candidatos do partido à Câmara dos Vereadores foram eleitos.

Em 2008, já batizado de DEM, apenas três dos 22 filiados do partido conseguiram a eleição nas urnas. Três anos depois, a bancada virou pó.

O iG tentou entrar em contato com três vereadores eleitos que deixaram o DEM na atual legislatura. A vereadora Andréa Mendonça, hoje no PV (abandonou seu antigo partido em setembro do ano passado), estava viajando e não pôde conversar com a reportagem.

Paulo Magalhães Júnior, desde setembro de 2009 no PSC, e Eronildes Vasconcellos Carvalho, conhecida como Tia Eron, que em setembro de 2011 migrou para o PRB, afirmaram ter saído da agremiação por causa de atitudes da direção do partido no Estado.

O vereador Paulo Magalhães Júnior acusou ACM Neto, seu primo, de autoritarismo. “Eu caminhei ao lado dele por muito tempo, desde que nós dois éramos da juventude do PFL”, disse o vereador. “Eu sempre o admirei, acho que é o deputado mais competente da bancada baiana na Câmara, mas a relação com ele sempre foi muito difícil”, revelou Magalhães Júnior, que criticou o comportamento de seu parente. “ACM Neto herdou do avô um enorme patrimônio político. Mas não sabe ser um líder de perfil afável”, declarou o vereador.

De acordo com ele, ACM Neto não dialoga com seus correligionários. Ao contrário do que diz o nome do partido, Democratas, Neto, ressalta Junior, quer se impôr pela força. Desse modo, acrescentou o vereador, o DEM “definhou”.

Outra decepção de Magalhães Júnior se refere a acordos políticos descumpridos pelo primo. “Houve eleição em que ACM Neto não me apoiou. Ele sabia, em 2006, que eu queria ser candidato a deputado estadual, e nada fez”. O vereador também reclamou da indiferença em relação à candidatura de seu pai, Paulo Magalhães – hoje no PSD –, em 2010, para a Câmara dos Deputados. “Ele foi o último eleito do DEM”, ressente-se Magalhães Júnior. “ACM Neto deveria tratar melhor as pessoas que são próximas a ele”.

‘Operação Salva DEM’

O vereador, que pediu votos em 2008 para ACM Neto, não vai apoiar neste ano o primo, pré-candidato do DEM à prefeitura. O PSC deve se juntar à coligação do PT, cujo nome na corrida eleitoral é o do deputado federal Nelson Pelegrino. Consciente do difícil momento que sua ex-agremiação passa em Salvador, Magalhães Júnior repete o que diz ter ouvido nos bastidores da política local: “Esta eleição é a da ‘Operação Salva DEM’. É a sua última chance de sobrevivência”. Indagado se o seu antigo partido está “na UTI”, ele rebate, de imediato:”Está todo entubado”.

Vereadora em seu terceiro mandato, Tia Eron disse, inicialmente, que teria permanecido no partido caso não tivesse lido na imprensa baiana algo que a desagradou. “Mudanças de partido fazem parte da dinâmica natural da política brasileira. Mas, no ano passado, li uma entrevista do presidente Aleluia ao jornal “Tribuna da Bahia”, que acelerou a minha saída do DEM. Nas declarações, ele me atacava e dizia que eu estava fora da legenda. E afirmava que a minha saída não fazia diferença para o DEM”.

Tia Eron falou ter se sentido atacada por José Carlos Aleluia. “Ele disse que eu nunca havia comungado da ideologia partidária do Democratas. Cometeu uma grande injustiça. Aleluia se equivocou e não se retratou”, declarou a vereadora. “Qualquer pessoa teria a reação que tive após ser provocada: deixar o partido”. Nas eleições deste ano, Tia Eron vai apoiar o pré-candidato a prefeito da sua legenda, o deputado federal Márcio Marinho.

Por sua vez, José Carlos Aleluia afirmou que na tal entrevista não atacou Tia Eron. “Eu disse que vereadores do DEM em todo o Estado têm a obrigação de seguir o partido. Receosa, já que não estava fazendo isso, Tia Eron quis deixar o partido. Essa decisão foi exclusivamente dela”. Para ele, a vereadora não se engajava mais nas lutas da legenda.

Ações por perda de mandato

Por conta das saídas de Tia Eron e Andréa Mendonça, o Ministério Público Eleitoral abriu ações por perda de mandato. No entendimento do MP, houve desfiliação sem justa causa do partido pelo qual elas se elegeram. O vereador Paulo Magalhães Júnior escapou do processo porque a sua saída foi autorizada pelo então presidente do DEM na Bahia, Paulo Souto. As ações referentes às vereadoras ainda tramitam na Justiça Eleitoral.

Aleluia minimiza a representação nula dos demistas na Câmara dos Vereadores. “Na busca de integrar o novo governo, é natural que haja rompimento com o partido que vira oposição. O guarda-chuva da máquina do governo é enorme, abriga muita gente”. Nestas eleições, Aleluia projeta a eleição de pelo menos cinco vereadores. “Prefiro não citar nomes”, disse Aleluia. Mas internamente, o partido considera como trunfos os nomes de Heraldo Rocha, vice-presidente da agremiação na Bahia, e Kátia Alves, ex-secretaria estadual de Segurança Pública.

Chance do partido

Na avaliação do professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Paulo Fábio Dantas Neto, as eleições de 2012 são a tentativa do DEM de demarcar seu território no Estado. “É a chance da reconstrução do partido na Bahia”. De acordo com Dantas Neto, o partido teve boa performance nas últimas eleições municipais no Estado, sobretudo no interior. O cientista político disse, porém, que após o pleito uma parte dos prefeitos baianos eleitos migraram para o PMDB, liderado por Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Integração Nacional, pasta que repassa polpudos recursos aos municípios.

Além disso, prossegue o professor, em 2010 ACM Neto quis se firmar como a principal liderança da sigla no Estado, não se engajando muito para ajudar Paulo Souto na disputa pelo governo do Estado. “ACM Neto tinha a estratégia de fazer a sua campanha para se fortalecer”. Com 328. 450 votos, foi o deputado federal mais votado na Bahia. “Mas essa foi uma vitória de Pirro”, declarou Dantas Neto.

Ressentidos com o individualismo do atual pré-candidato a prefeito de Salvador, muitos demistas debandaram para o récem-criado PSD, do vice-governador, Otto Alencar, em busca do apoio da máquina do governo. Usufruir dos benefícios das máquinas _federal, estadual ou municipal – impulsiona a atividade do vereador.

O deputado federal ACM Neto não foi localizado para comentar o teor desta reportagem.

Fonte:
http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2012-06-03/autoritarismo-do-dem-em-salvador-deixou-partido-sem-vereador-na.html

Redação

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