Juiz de Fora: vãs tentativas de envolver o PT, por Marcelo Auler

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Reportagem da edição do Jornal do Brasil desta segunda-feira (10/09). Na foto de Fábio Motta, da Agência Estado, Adélio, o agressor, observa Bolsonaro minutos antes dele ser agredido.

Juiz de Fora: vãs tentativas de envolver o PT

Marcelo Auler, de Juiz de Fora (MG)

 

em seu blog

Há uma tentativa por parte dos aliados de Jair Bolsonaro, candidato à presidência pelo PSL, de partidarizar o ataque que lhe foi desferido em Juiz de Fora, na quinta-feira (06/09), por Adélio Bispo de Oliveira, de 40 anos, desempregado e provavelmente portador de algum desequilíbrio mental. Aos poucos, porém, para descontentamento dos seguidores do capitão do Exército/candidato, a versão do agressor confesso, de que agiu sozinho, por livre e espontânea iniciativa, vai sendo confirmadas pela investigação da Polícia Federal.

Na expectativa de usar o atentado contra seus adversários políticos, de tudo houve um pouco. O companheiro de chapa de Bolsonaro, General Hamilton Mourão, responsabilizou os petistas. A advogada Janaína Paschoal e o senador Magno Malta (PR-ES) usaram a imagem de um comício de Lula, em uma foto montagem no Twitter. Nela, de forma grotesca, inseriram o rosto de Adélio sobre outro rosto na expectativa de colarem não o rosto, mas o personagem ao candidato petista. Isto lhes gerou um processo ajuizado pelo PT junto ao Supremo Tribunal Federal.

Em Juiz de Fora, tentam envolver uma sindicalista e dirigente do PT, no ato em que Bolsonaro foi atacado, para mais uma vez linkarem o agressor à legenda. A resposta do partido surgiu em nota oficial na noite de domingo (09/09), onde consta:

“É lamentável que a tola busca por culpados insista infantilmente na tese da participação do PT no ocorrido, o que, já está mais do que óbvio, não faz sentido. L… é vítima de uma mentalidade violenta, doentia, que despreza a inteligência e enfatiza a raiva. Mentalidade que precisamos combater e derrotar – mas no plano das ideias, no plano da democracia, como é a tradição do PT”.

A Fake camiseta de Flávio Bolsonaro (foto: reprodução do vídeo)

Trata-se de um jogo baixo e sujo, em cima de um atentado que foi repudiado por todos os candidatos. Se é previsível que Bolsonaro se apresente como vítima, como realmente foi, ao mesmo tempo é lamentável que se tente enxertar na agressão adversários no pleito, independentemente de prova que sustente a tese.

Sem falar do oportunismo eleitoral do filho do capitão/candidato, o deputado estadual Flavio Bolsonaro, que disputa no Rio uma vaga ao Senado. Ele simplesmente criou uma “camiseta fake”, imitando a que o pai usava ao ser atingido. Uma criação tosca, na qual o rasgo foi feito em lugar errado e, ao contrário da que o pai vestia, aparece com mancha de sangue. Serviu para abrir um vídeo do PSL e quem sabem impressionar mais os eleitores, mesmo ferindo a verdade.

Distúrbios e politização

Nas redes sociais, paralelamente, espalharam a versão de que o Adélio Bispo de Oliveira, réu confesso, teria recebido pagamento de R$ 350 mil, através de um depósito bancário, descoberto pela Polícia Federal. Serviu como “comprovação” de um atentado encomendado. Esquecem que para serviços como estes jamais são feitos pagamentos por via bancária, que deixam rastros. Na realidade, na ânsia de se politizar o gesto transloucado de um cidadão com sintomas de distúrbios psicológicos, transformaram R$ 3.500 de saldo em depósito de R$ 350 mil.

No Facebook, Adélio mantinha seu discurso político. Chegou a postar projetos de lei que acusa Bolsonaro de tê-los copiado. (Foto: reprodução do Facebook)

O difícil de se acreditar, em especial pelos bolsonaristas, é que mesmo sem nenhuma formação universitária e deixando transparecer sinais de desequilíbrio – “quem mandou foi o Deus aqui em cima”, expôs na polícia ao ser questionado sobre um possível comparsa ou chefe no atentado – esse mineiro de Montes Claros, que segundo familiares se trancava no quarto e dialogava sozinho, tem um lado altamente politizado, a ponto de impressionar seus próprios defensores.

Como atestam seus advogados, ele diz ser autor de projetos de lei que expôs na sua página do Facebook. Um deles, prevendo a eleição de ministros dos tribunais superiores, diz que Bolsonaro copiou para apresentá-lo no Congresso como se fosse ideia do próprio parlamentar.

A mistura do distúrbio com sua politização transparece no trecho de depoimento que a juíza Patrícia Alencar Teixeira de Carvalho transcreveu no Termo de Audiência de Custódia, realizado em 7 de setembro. Ao transformar a prisão em flagrante em prisão preventiva e decidir, para a segurança do mesmo, isolá-lo no presídio federal de Campo Grande (MS), a magistrada reproduziu parte das explicações de Bispo dos Santos: à Polícia Federal:

“Que perguntado sobre a motivação religiosa, esclarece que recebeu uma ordem de Deus para tirar a vida de BOLSONARO, haja vista que, embora ele se apresente como evangélico, na verdade não é nada disso; Que questionado sobre a motivação política, informa que o interrogado defende a ideologia de esquerda, enquanto o Candidato Jair Bolsonaro defende ideologia diametralmente oposta, ou seja, de extrema direita; Que se considera um autor da esquerda moderada; Que BOLSONARO, defende o extermínio de homossexuais, negros, pobres e índios, situação que discorda radicalmente ( ….) Que declara que não foi contratado por ninguém para atentar contra a vida do Candidato; Que não recebeu o auxílio de ninguém para o intento criminoso (…)”

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Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

5 Comentários

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  1. Fico pensando quantas arrobas

    Fico pensando quantas arrobas pesa o cidadão que carrega o Bolso nas costas, na foto do artigo. Ainda esfregando as bolas no cangote dele.

  2. Senhor repórter esse Marcelo

    Senhor repórter esse Marcelo Auler. Ler essa matéria inteira no seu blog é uma lição de sanidade e objetividade nesse momento em que as instituições brasileiras, incluida a grande midia, se mostram mais perturbadas do que o Bispo Adélio da facada no Messias Bolsonaro.

    Aliás, a imagem horrorosa do Bolsonaro estampada em todos os jornais, inclusive blogs progressistas, de camisolão retrata a estética moral do país. Sucede a imagem da Carminha das farmaceuticas de tailleur rosa, by Jackie O, cacarejando com a Alcione. 

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