Pará lidera o ranking de assassinatos por conflitos de terra

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Em meio aos números do estado que não se comemoram, o projeto Virola-Jatobá vem sendo ameaçado nos últimos anos. Sem ações efetivas, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão fará uma missão para acompanhar o caso
 

Invasores abrem caminho da floresta na Reserva Legal do Virola-Jatobá – Foto: Roberto Porro, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental
 
Jornal GGN – Assassinatos por conflitos no campo bateram o recorde de 70 casos em 2017, atingindo o maior número desde 2003, de acordo com os últimos dados divulgados nesta semana pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). O resultado foi 15% maior que o registrado no ano anterior e incluiu quatro massacres nos estados da Bahia, Mato Grosso, Pará e Rondônia.
 
No estado do Pará, que lidera o triste ranking com 21 trabalhadores e trabalhadoras rurais sem-terra, assentados, indígenas, quilombolas, posseiros e pescadores assassinados no último ano, sendo dez no Massacre de Pau D’Arco, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), do Ministério Público Federal, passou a investigar outro conflito, que nasce na região onde foi morta a missionária Dorothy Stang.
 
Trata-se do assentamento do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Virola-Jatobá, no município paraense de Anapu. As famílias que se instalaram legalmente no local denunciam invasões que tentam impedir que desenvolvam as atividades de manejo florestal comunitário que realizam.
 
Grileiros e madeireiros ilegais estariam invadindo as terras que são protegidas pela União e seguem o modelo de assentamento criado pela missionária Dorothy Stang, que permite que agricultores consigam obter renda com a retirada de madeira, mas sem a destruição de florestas.
 
Os conflitos no Virola-Jatobá, narrados há anos, foram acirrados desde novembro do último ano, com a ocupação massiva de espaços, gerando a expulsão de famílias regularizadas. O Ministério Público do Pará e o MPF encaminharam, em dezembro, uma petição ao governo federal, para que atue na região.
 
Os pedidos foram encaminhados ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) e ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), mas ainda sem resultados. Nesta semana, a PFDC realiza uma missão na região, para avaliar a situação com base nas denúncias.
 
Pará: líder em mortes por conflitos de terra
 
O estado também lidera os números de mortes por massacres, que correspondem a 40% do total dos assassinados registrados pela Pastoral da Terra. No total, foram 26 massacres entre 1985 e 2017, que vitimaram 125 pessoas. 
 
Por realizar desde 1985 o levantamento de assassinatos por conflitos no campo, a Comissão também acompanhou os julgamentos destes casos, chegando ao negativo cenário de que apenas 8% do total destas mortes no Brasil foram levados à Justiça. “Isso mostra como a impunidade ainda é um dos pilares mantenedores da violência no campo”, informou a CPT, em nota.
 
Nestes 32 anos, o estado do Pará teve um total de 466 casos de conflitos no campo que resultaram em um total de 702 mortes, levando a região Norte a liderar o ranking destes casos.
 
A Comissão Pastoral da Terra criou uma página exclusiva para expor estes números. Acesse aqui.
 
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

2 Comentários

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  1. Pará….

    Alguma palavra sobre o Ambientalista assassinado por denunciar os Crimes de Mineradora Estrangeira? Alguma palavra sobre o Crime Absurdo da Mineradora Hydro de Propriedade Norueguesa? Alguma imagem ou foto, de como vivem as pessoas em Barcarena, também no PA, nos arredores desta empresa? Muita indignação, muita preocupação com a Floresta, inclusive por parte de Missionária e ONG’s Internacionais e Nacionais, enquanto os Brasileiros Paraeneses, vivem em extrema pobreza, vendo suas águas serem poluídas e destruídas. É muita hipocrisia ideológica. .    

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