A parceria PF-mídia e as diferenças quando Lula e FHC são alvos da Lava Jato

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – É quase que simultâneo o surgimento de notícias na imprensa a respeito de novas fases da Lava Jato e o recebimento de informações oficiais sobre as operações. Ainda que alguns veículos sinalizem que recebem informações privilegiadas – o caso da condução coercitiva de Lula é um exemplo polêmico desde que o editor de Época insinuou que já sabia da ação na noite anterior – certo é que a assessoria da PF deposita informações na caixa de e-mail dos jornalistas cadastrados em sua lista – o GGN, inclusive – a tempo de que todos possam publicar os novos acontecimentos. Não foi o que aconteceu com o novo indiciamento de Lula.

Nesta quarta (5), por volta das 10h30, a manchete do Estadão indicava que a Polícia Federal decidiu, a partir da delação do réu delador da Lava Jato Nestor Cerveró, investigar corrupção no governo FHC. Isso ocorreu um dia após o prefeito eleito em São Paulo João Dória Junior (PSDB) denotar despreocupação com a possibilidade de correligionários serem presos na operação, e uma semana após o ministro da Justiça Alexandre de Moraes (PSDB) ter usado informações sigilosas da investgação em evento político.

Apenas duas horas depois após sair a notícia citando FHC – requentada, pois os dados são conhecidos desde junho, e sem detalhes ou qualquer menção à contratação pela Petrobras da empresa de um dos filhos do ex-presidente – Época mudou a direção dos holofotes da velha mídia para a notícia de que Lula foi indiciado novamente, agora em função da operação Janus, que apura suspeita de propina de R$ 20 milhões paga ao “sobrinho postiço” do ex-presidente pela Odebrecht em obras feitas em Angola.

A notícia contra Lula se espalhou e já é destaque em praticamente todos os grandes portais, lançando uma cortina de fumaça sobre a reportagem envolvendo propina em projetos da Petrobras durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). A Folha de S. Paulo, por exemplo, não traz nenhuma menção ao fato em sua homepage no momento em que esta edição é fechada.

Nos títulos, Lula é o elo entre a Odebrecht e o empresário Taiguara dos Santos, sobrinho de sua ex-esposa, que conseguiu mais de 15 contratos com a empreiteira por obras em Angola. Época aproveitou para pesar a mão e insinuar que as palestras internacionais do ex-presidente são fonte de corrupção.

A defesa de Lula, ao rebater o novo indiciamento, sublinhou a parceria PF-mídia na tentativa de manchar sua imagem. Disse que irá analisar o documento da Polícia Federal, “vazado para a imprensa e divulgado com sensacionalismo antes do acesso da defesa, porque essa prática deixa claro que não são processos sérios de investigação, e sim uma campanha de massacre midiático para produzir manchetes na imprensa e tentar destruir a imagem do ex-presidente mais popular da história do país.”

Lula tem argumentos a seu favor. Além de os detalhes do indiciamento da PF contra Lula terem sido dados apenas por Época, por volta das 12h30, o release com as informações oficiais e genéricas da Polícia Federal sobre o fato só foi disparado a toda a imprensa depois das 15h.

No informe, a PF diz que “as provas recolhidas e o relatório elaborado pela Polícia Federal seguem sob análise do Ministério Público Federal, que decidirá sobre eventual denúncia à Justiça dos investigados indiciados.”

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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