Livro reúne textos de 100 autores sobre o golpe no Brasil

Jornal GGN – Uma coletânea de textos de 100 autores diferentes forma o livro “A resistência ao Golpe de 2016”, lançado na última terça-feira (31), em São Paulo. Acadêmicos, jornalistas, cientistas políticos, advogados e líderes de movimentos sociais contribuíram com artigos.

O compilado de 450 páginas diz que o golpismo ficou indisfarçável em 4 de março deste ano, na ocasião da condução coercitiva do ex-presidente Lula. Foi quando bateu a memória da Ditadura e eles passaram a se movimentar para denunciar o golpe que se anunciava.

“Foi pensando nesse processo que tantas vidas nos custou, tanto sacrifício, tantos picos de inflação galopante, tantos anos em que os salários nada valiam, e conseguir um emprego era quase um prêmio, que o grupo se uniu para usar a arma que tínhamos às mãos. O teclado dos computadores”. 

Da Carta Maior

Livro ‘Resistência ao golpe de 2016’ nasce movido à indignação

Por Denise Assis

Foi pensando nesse processo que tantas vidas nos custou que o grupo se uniu para usar a arma que tínhamos às mãos. O teclado dos computadores.

O livro “Resistência ao Golpe de 2016” foi organizado por acadêmicos, jornalistas, cientistas políticos, advogados e líderes de movimentos sociais, que, ao longo da crise, se reuniam para trocar idéias e textos que escreveram. Alguns desses textos foram publicados em blogs, outros poucos em jornais. Participam 100 autores.

A coletânea foi organizada pela coordenadora do Programa de Doutorado em Direito da PUC-Rio, Gisele Cittadino, pela professora de Direito Internacional da UFRJ, Carol Proner, pelo advogado Marcio Tenebaun e o advogado trabalhista Wilson Ramos Filho, e será lançado nesta terça-feira, dia 31 de maio, às 19h, no Teatro Casa Grande, no Leblon, na Zona Sul do Rio, com a presença do ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso.

Alguns autores foram convidados, como o acadêmico da Universidade de Coimbra, Boaventura de Souza Santos, um dos idealizadores do Fórum Social Mundial, e o cientista polítco, Wanderley Guilherme dos Santos. O deputado federal Wadih Damous consta do livro, bem como o deputado Paulo Pimenta.

À medida que a crise se instalava a discussão em torno do tema ficava mais animada e frequente. Wilson Ramos foi quem teve a iniciativa de reunir os textos em livro. Recolheu o material produzido pelo grupo e assim nasceu o compilado de 450 páginas. 

Tudo começou quando no dia 4 de março o ex-presidente, Lula da Silva, foi buscado em casa sob forte aparato, por uma operação da Polícia Federal, e conduzido para uma sala especial do Aeroporto de Congonhas, onde foi ouvido coercitivamente. Daquele momento em diante, ninguém mais teve dúvidas. Era o golpe se instalando. Os que viveram tempos sombrios sentiram no ar o cheiro de enxofre. E para quê esperar mais? Quem pôde, em todas as capitais, saiu às ruas, para demonstrar que não, não seria assim, de bandeja. 

Por sorte de Lula e nossa, estava no aeroporto o ministro do Supremo Tribunal de Justiça, Marco Aurélio Mello, que impediu que o ex-presidente fosse seqüestrado para Curitiba, conforme revelou depois. Na pista, um avião da Força Aérea Brasileira já o aguardava, de porta aberta, esperando apenas que cochilássemos, para levá-lo espalhafatosamente para Curitiba, onde desceria preso.

Para os que viveram a ditadura, os sinais eram fortes demais para cruzarmos os braços. Para os que não viveram, mas já ouviram de sobra sobre os seus efeitos – que até hoje reverberam na sociedade, vide o desaparecimento de Amarildo – o quadro que se desenhava era muito característico para ser ignorado.

E foi assim, num sem fim de telefonemas, encontros e reuniões, que fomos passando do estado de perplexidade ao espanto, e do espanto à indignação. Daí vieram os atos, as mobilizações, até que nos vimos difamados mundo a fora, com aquele espetáculo deplorável do dia 17 de abril, quando os deputados, qual freqüentadores do programa da Xuxa, mandavam “um beijo pra mamãe, pro papai e pra você”, votando pelo início do processo de impeachment. Uma forma grotesca de maquiar o que o mundo chamou de golpe. Isto, sem falar na ode ao torturador, uma afronta aos mortos e desaparecidos na luta pela redemocratização desse país. 

Foi pensando nesse processo que tantas vidas nos custou, tanto sacrifício, tantos picos de inflação galopante, tantos anos em que os salários nada valiam, e conseguir um emprego era quase um prêmio, que o grupo se uniu para usar a arma que tínhamos às mãos. O teclado dos computadores. 

Naquele momento, era preciso literalmente botar a boca no mundo e gritar aos quatro ventos, como reagiu Chico Buarque, no Largo da Carioca, em ato no dia 31 de março: “Não, de novo não. Não vai ter golpe”. Passamos todos, cada um ao seu estilo, e correndo em raia própria, a denunciar a quebra da institucionalidade democrática que está ocorrendo no Brasil.

Escrevemos. Incansavelmente escrevemos. Denunciamos. Mas diante dos oligopólios da mídia, da vulnerabilidade de um Congresso minado pela corrupção doentia e digna de uma aprofundada investigação, e um Supremo – com honrosas exceções – acumpliciado com os que jogavam abertamente com o presidente do Congresso, Eduardo Cunha, não houve como salvar um modelo de país que tanto nos custou a ser delineado e construído. Um modelo que incluiu mulheres, negros, índios, foi rapidamente varrido para debaixo do tapete onde hoje pisam Temer e sua turma. Interinamente. É bom que se diga.

Redação

8 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. O GGN tem conteúdo de Nassif
    O GGN tem conteúdo de Nassif e seus articulistas e colaboradores para editar e publicar uma coletânea. E nem me refiro aqui ao “Xadrez”, uma obra distinta.

    1. Resistência

      O lançamento no teatro Casa Grande foi excelente. Pudemos ouvir pessoas que participaram da feitura do livro,jornalistas e intelectuais. Nada melhor do que ouvir pessoas inteligentes. Sobre o comentário do Marcelo que a resistência é 0,ele deve estar saindo pouco de casa, pois todos os dias há manifestações nas ruas.Ontem, teve uma lindíssima ” A marcha das mulheres com Dilma”. Uma pena se ele perdeu…

  2. A vergonha do dia 04 de março

    A vergonha do dia 04 de março comandada por um juiz que agiu de maneira sórdida contra um homem que trouxe amor ao Brasil resgatando milhões da linha de miséria. Cometeu um erro de caso pensado. A história registrou e a nossa ficha ainda estar caindo. Mexeu com milhões de brasileiros apoiado por uma mídia golpista. Vivemos hoje sem governo onde golpistas tentam com apoio dessa mídia justificar o injustificável. Parte da suprema corte fez vistas grossas as armações dos golpistas. Somos brasileiros da gema e amamos nossa pátria. Não somos contra a alternância de poder mas não aceitamos que o poder venha pelo cinismo das armações como reveladas há pouco nas gravações onde aparece um dos golpistas confirmando tudo. Presidenta Dilma, quando o golpe for derrotado, convoque novas eleições. Vamos restaurar a nossa democracia que foi golpeada fundo com apoio triste dessa que chamamos de grande mídia.

  3. Se já é livro é porque ja

    Se já é livro é porque ja esta consumado!! Só nos restam as urnas, mas com aquele ministro (ao qual me recuso a escrever o nome), no TSE, qualquer vitoria da esquerda sera anulada. Outro dia ouvi Gilberto Dimenstain dizer que estavamos tendo a nossa revolução francensa sem sangue. Eu não gostaria de ofender esse cara, mas em que mundo ele vive? Sera que contaram pra ele que foi a burguesia que que arrancou a cabeça do povo?

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador