Marcos Valério revela esquemas desde governo FHC, por Janio de Freitas

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

Foto Lula Marques

Jornal GGN – Marcos Valério foi mais longe sem a força tarefa da Lava Jato. Com a delação premiada submetida ao Supremo, via Polícia Federal, ele discorre sobre os esquemas financiados por suas empresas, desvios e quetais, desde o governo de Fernando Henrique Cardoso. Quem aponta o fato é Janio de Freitas, em sua coluna na Folha.

Janio diz que ele vai mais longe, porém não com temas que incluam a Petrobras em compras e obras, o que não exime os negócios da estatal. Os ilícitos das empresas de Valério passeiam por partidos e políticos valendo-se de programas de publicidade e marketing. E isso a Petrobras tinha muita proeminência.

Leia o artigo a seguir.

da Folha

Marcos Valério revela sistema que financiou desvios desde o governo FHC

Por Janio de Freitas

O uso de delação premiada pela Polícia Federal, como o acordo com Marcos Valério já submetido ao Supremo, torna-se mais ácido para a contrariada Lava Jato com um tempero incluído nas denúncias prometidas.

O período que Valério se dispôs a abranger não começa, como na Lava Jato, com o governo Lula. Ele oferece a revelação do sistema que financiou, por meio de suas empresas de publicidade, desvios financeiros desde o governo de Fernando Henrique. O contrário do que a Lava Jato admitiu aos seus delatores.

Os temas de Valério não incluem as grandes compras e obras da Petrobras, mas nem por isso negócios da estatal ficam de fora. Grande parte da atividade ilícita das agências DNA e SMP&B, com envolvimento de partidos e políticos, valia-se de programas de publicidade e marketing de estatais, nos quais a Petrobras há muito tem proeminência.

Dessas atividades é inesquecível, por exemplo, a pretendida mudança de nome da Petrobras, para Petrobrax. Só a contratação para troca da marca em todos os seus usos no país inteiro, daria mais um dos escândalos típicos da Lava Jato. Se, incumbida de desvendar as ilicitudes na Petrobras, a força-tarefa curitibana não restringisse a tarefa em vez da força. Mas o xis do problema não foi no governo Lula. Era um preparativo, retirando do nome o sentimentalismo nacionalista, para a venda da empresa.

Mais de um delator da Lava Jato referiu-se ao período anterior a 2003. Pedro Barusco citou com precisão negócios ilícitos na Petrobras já em 1998. Não entraram, porém, na zona de denúncia e acusação da Lava Jato. Quando lá apareceu, inesperada, uma menção a algo “no governo Fernando Henrique”, ficou também registrado o brusco e definitivo “isso não interessa!”.

Nessa linha, não é menos ilustrativa a recusa da Procuradoria da República em Minas e da Procuradoria-Geral, de Rodrigo Janot, ao acordo de delação proposto por Marcos Valério, e por fim aceito na PF. Também em Minas, o “mensalão” do PSDB, ocorrido quatro anos do “mensalão petista”, ainda não tem seu processo concluído: desde o fato a ser julgado, são 19 anos. E 12 desde as condenações dos acusados pelo “mensalão petista”.

*

JUSTIÇA?

Irene Ravache lançou o protesto (“O Globo”): “Senhores da Justiça, não aceitamos isso!”. Anna Carolina Jatobá, coautora do assassinato de Isabela Nardoni, jogada de um sexto andar aos 5 anos, passa da cadeia para o regime semiaberto. Cumpridos 9 anos da condenação a 26 anos e 8 meses, apenas deverá dormir na prisão.

A juíza Sueli Zeraik Armani, da 1ª Vara de Execuções Criminais de Taubaté, pode ter concedido o inscrito em lei. Mesmo assim, o fez baseada em perícia que diz ser “nulo” o risco de outro crime de Anna Carolina Jatobá.

Ninguém sabe o suficiente do estado psíquico e das circunstâncias futuras de um criminoso para reconhecer-lhe tamanha imunidade. Não foi feita perícia: houve exercício inválido de adivinhação. Não houve decisão judicial: foi a concessão de um privilégio sem Justiça.

Crimes contra crianças são terrivelmente perturbadores, sempre. Certas decisões judiciais são tristemente perturbadoras, em vão.

*

A SOLUÇÃO

O argumento de Gilmar Mendes, contra o atual direito do interlocutor de gravar a própria conversa, é sucinto: “Vamos ter que analisar a questão novamente [o direito de gravação, confirmado pelo STF]. Nova composição [do Supremo], novo quadro”. O produto da reflexão suprema é, portanto, tornar temporárias todas as decisões de tribunais e do Congresso.

A cada quatro anos a nova composição do Congresso reexaminaria toda a legislação. A cada novo ministro no Supremo, reexame das decisões para possível condenação dos absolvidos e derrota dos antes vencedores.

Dizem que os gênios são incompreendidos: é natural que Gilmar reclame de críticas. Há, no entanto, maneiras menos trabalhosas, embora menos lúcidas, de favorecer o Temer gravado por Joesley Batista.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

7 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Sucinto

    “Dizem que os gênios são incompreendidos: é natural que Gilmar reclame de críticas. Há, no entanto, maneiras menos trabalhosas, embora menos lúcidas, de favorecer o Temer gravado por Joesley Batista.”

    Não precisa dizer mais nada.

     

  2. A isca do “desde os governos FHC” faz parte do golpe???

    Esses textos fazem um trabalho involuntário para a direita.

    1-Dão credibilidade às delações que serão usadas de forma partidária.

    2-Acalmam a esquerda diante de mais uma armação

    TEORIA:

    O Ministério Público deve falar para o delator no começo incluir o governo FHC só para a esquerda achar que “agora vai…”. Depois eles ignoram essa parte e focam chumbo grosso na esquerda. Se a delação do Marcos Valério viesse a público falando apenas do PT seria mais criticada… mas dessa forma a delação ganha maior credibilidade.

    ROTEIRO ÓBVIO DA NOVELINHA:

    1-Delação começa com esse papo furado de “desde os governos FHC…”

    2-Acusações aparecem discretamente nos jornais com nomes do PSDB e do governo FHC. A esquerda se atiça com a possibilidade…

    3-A parte da delação que atinge FHC e o PSDB é totalmente ignorada pelo MP e pelo juiz.

    4-A parte que atinge PT e Lula é investigada com ou sem provas.

    5-Manchetes de jornais massacrando o PT.

    6-Mais um inquérito contra Lula, mesmo que sem provas…

    A esquerda tem que parar de morder essa isca de “desde os governos de FHC” e já desmascarar desde já essa tática.

     

  3. Agora?

    fdp, devia ter feito isso antes.

    Agora, com os casos prescrevendo e os tucanos passando de 70 anos, nem vale a pena…..a não ser para atacar Lula, masi uma vez

    1. Estou começando a achar que isso é parte da armação

      Parte da esquerda parece trabalhar a favor do golpe… esses textos mostrando as delações atingindo todo mundo prestam um enorme desserviço à verdade. Depois, ficam lamentando a parcialidade do Moro e indicando os erros do juíz… como se não fosse 100% óbvio que essas delações serão usadas exatamente como arma para atacar o PT!!!

      Desde o começo a esquerda deveria receber essas delações com porretada! Ficar alimentando a esperança que essas delações vão finalmente trazer justiça chega a ser uma piada!!!

      Não adianta ficar mostrando que a roubalheira começou no governo FHC… isso é óbvio!!! Até parece que logo agora o Moro vai mandar investigar FHC…com certeza… a Lava-Jato ainda não foi 100% enterrada por causa de Lula… só!!!

      Chega de delações… chega de Lava-Jato… se quiserem justiça será via outro processo… com outro MP… outros juízes…

      1-A POLÍCIA FEDERAL INOCENTOU JUCA QUE FOI GRAVADO FALANDO PARA “ESTANCAR A SANGRIA”

      2-MORO SOLTOU A MULHER DO CUNHA… NUNCA INVESTIGOU NINGUÉM DO PSDB!

      3-AÉCIO FOI GRAVADO IGUAL UM JAGUNÇO E SAIRÁ 100% BLINDADO

      NÃO EXISTE A MÍNIMA E REMOTA POSSIBILIDADE DESSAS MESMAS PESSOAS MANDAREM INVESTIGAR FHC!!!

      DESISTAM DESSE PAPO FURADO!!! A LAVA-JATO TEM QUE PARAR!!! PONTO FINAL!!!

      QUE VENHAM NOVAS CPI´S OU NOVAS INVESTIGAÇÕES… ESSA AÍ JÁ ESTÁ TODA CONTAMINADA!

       

  4. a crise no processo penal brasileiro

    O fundamento do processo é o contraditório: juiz inerte e imparcial, titular da ação penal com independência funcional, defensor com garantias processuais.

    Como a polícia está sumetida ao poder hierárquico que culmina no Ministro, instrumento político do Presidente da República, jamais poderia o Delegado de Polícia praticar atos processuais penais. Se o fizer, o contraditório estará falho.

    Ocorre que devido à falta de firmeza e clareza do Ministério Público, não somente o Federal, talvez devido também à cumplicidade com a Polícia, os atos de investigação se misturam com a jurisdição e com a iniciativa da ação penal.

    A delação se situa na fase de investigação, fase de atuação da Polícia, entretanto, a negociação de penas não poderia ser entabulada por quem não participa do processo penal, nem pode participar. No caso noticiado por Jânio, a Polícia apresentou ao Supremo uma delação para ser homologada.

    Até que um novo código de processo penal seja definido e vigore, ficará tudo mais e mais confuso, com crescente desordem no contraditório.

    O problema do grupo de procuradores com o juiz de Curitiba está na seleção política de seus alvos. Há um princípio esquecido no D.Processual Penal que é a indivisibilidade da ação penal. A violação deste princípio é uma estratégia política deles. No mais, o PT mergulhou nos esquemas de desvio de dinheiro público, propiciou um clima de repulsa nacional que está sendo usado contra Lula. Sem os crimes do PT, não haveria a mínima condição de forjar um processo contra Lula. Ficou fácil misturar Palocci e Lula.

    Direcionamento político no manejo da ação penal sempre houve, quando o Ministério Publico não tomava a iniciativa de investigar, e recebia inquéritos da Polícia, ajuizando ações sem nenhum espírito crítico. Tais inquéritos se originavam, de regra, de denúncias que partiam de políticos que dispunham de controle sobre a Polícia. Eram notícias de crime restritas, com o fim único de pressionar os adversários.

    Renan Clheiros, por exemplo, teve o controle total da PF, mesmo quando não era Ministro da Justiça. Conheço operações da PF, em que somente uma determinada facção política foi alvejada, um direcionamento evidente, menos para o Ministério Público Federal, que secundou docilmente os passos da PF. Por incompetência, por falta de consciência profissional.

    Um Delegado de Policia não tem a mínima independência funcional. É pau mandado. Já o membro do Ministério Público, não faz jus à sua independênia funcional, colocando-se a serviço de correntes políticas ou outros móveis espúrios. Isso somente pode ocorrer com a cumplicidade do Poder Judiciário, tal como acontece em Curitiba/Porto Alegre/Brasília.

    Mesmo um código de processo penal novo não irá concertar essas anomalias, que têm a ver com inúmeros outros fatores, externos à configuração do processo ou das instituições. A análise dessas disfunções é complexa.

    1. A Polícia Federal é co-responsável e beneficiária dessa zona!

      “Um Delegado de Policia não tem a mínima independência funcional. É pau mandado.”

      Discordo totalmente. Os delegados gozam de independência e fazem parte dessa armação toda. Não só fazem parte como se beneficiam e muito dessa palhaçada!!!

      1-Delegados Aecistas fazendo campanha no Facebook.

      2-Polícia Federal sendo “página amarela” da Veja, sentando o pau no PT, falando do timming para prender Lula.

      3-Policiais Federais vazando seletivamente e fazendo parceria com Antagonista e Veja

      4-Japonês da Federal, Gato da Federal, e outros.

      5-Filme da Lava-Jato com direito a PF fornecendo imagens de Lula sendo preso.

      6-Polícia Federal distribuindo ingresso de filme junto com MBL.

      7-Polícia Federal fazendo declaração que os 500kg de cocaína não eram do Perrella e depois não investigando nada.

      Nunca houve na corporação nenhum tipo discordância, demissão, reclamação… nada! A Polícia Federal entrou de cabeça nesse joguinho. Durante o governo Dilma um policial chegou a treinar tiro ao alvo com boneco da Dilma… nunca fizeram o mesmo com Temer, Serra, Aécio, etc. Não tem nenhum santo ali.

      Aliás… essa zona toda só foi possível graças a Polícia Federal!

       

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador