Percival Maricato
Percival Maricato é sócio do Maricato Advogados e membro da Coordenação do PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais
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O manifesto do advogados e a reação de juízes e procuradores federais, por Percival Maricato

Muitas perguntas e poucas respostas

O manifesto do advogados e a reação de juízes e procuradores federais 

por Percival Maricato

O manifesto dos advogados no caso do Lava jato falou obviedades para quem trabalha com a justiça penal:  normas que não mais prevalecem, direitos que foram sempre respeitados e agora estão suprimidos, entre eles as  prisões anteriores a condenação, que só se justificavam  em casos extremos, o acesso prioritário aos autos pelo advogado de defesa (agora qualquer brasileiros sabe que só após a mídia), a obrigação do Judiciário de evitar expor a figura do acusado a situações humilhantes e etc.

Está evidente ainda a seletividade extrema com que as denúncias são vazadas para a imprensa, que enfatizam ações de políticos de uma única posição: pro governo, ou empresários a eles ligados.

Ao  defender o juiz Sergio Moro, misturando indevidamente outros seus colegas, a nota da Associação dos Juízes Federais (AJUFE),  acabou confessando essa notória mudança de conduta: os advogados estariam inconformados com a mudança de paradigma…com a Justiça agora agindo rigorosamente contra poderosos, ao contrário da secular omissão, tempo em que apenas os pés de chinelo eram posto atrás das grades.

Alem da resposta nada ter a ver com a denúncia do manifesto, sobre questões processuais, ela leva a conclusões interessantes: quer dizer que os poderosos não respondiam por seus atos à Justiça??? E agora respondem???. A que se deve “essa quebra de paradigma?”  Não seria interessante investigar porque tantas falhas anteriormente e agora tantos acertos, até para mantê-los também para os governos posteriores???

Qualquer pessoa de mediana inteligência pode observar que sim, pela primeira vez há tantos poderosos sendo atingidos, mas por pela primeira vez, existirem muitos outros poderosos, muito mais, interessados em que assim seja. Teriam eles fugido do rebanho, quebrado a conduta que deles se esperava com relação a políticos e partidos? Quem é que impedia esse rigor nas décadas anteriores, ou a corrupção foi inaugurada pelos governos petistas?

A AJUFE  foi injusta com juízes que já tentaram condenar poderosos há décadas, mas não conseguiam fazer investigações efetivas, não tinham colaboração da polícia, nem como fazer suas decisões passarem pelo crivo de tribunais superiores.

Se mantida a tal “quebra de paradigma” mais a “teoria do domínio do fato”: teremos que dobrar as vagas nas prisões, doravante para os poderosos, que a nota promete punição…doravante…Mas seria positivo para o país.

Outra conclusão interessante é que foi preciso governos de esquerda tomarem o poder, alguns de seus membros fazerem o que sempre se fez no país), para a Justiça finalmente ser ágil e rigorosa. Pode-se dizer que a eleição do PT teve então mais um fator importante, acabar com a omissão da Justiça, se é que esse rigor com poderosos será mesmo mantido.

Em meio ao tiroteio, soa estranho silêncio da OAB, a nacional e as seccionais, pois qualquer advogado sabe que o denunciado no manifesto de seus colegas está de fato acontecendo, tratando-se não apenas de arbitrariedades contra acusados, mas contra a própria advocacia, cerceada em sua atuação, com advogados tratados pela mídia e juízes como se fossem criminosos. Aliás, a nota elogia a omissa cumplicidade da OAB.

Percival Maricato

 

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Percival Maricato é sócio do Maricato Advogados e membro da Coordenação do PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais

16 Comentários

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  1. Carta aos brasileiros do PIG..
    Acho que os ministros do STF não ousam reformar as arbitrariedades do Moro porque, assim como Lula, eles também foram obrigados a assinar esta carta para serem aprovados ao supremo. ..
    A prova disto foi o relatório “de 7 cabeças” apresentado pelo Fachin….
    A julgar pela contumácia de certos ministros em fazer coro com alguns linchamentos políticos, só posso imaginar isto….
    Não tem outra explicação para a blindagem da galera de azul….

  2. Essa teia é complicada.

    Todos sabem que há um poder maior por detras de tudo isso. Se todas as autoridades agissem  corretamente  poderia pegar muitos da sua irmandade, incusive a si mesmo por omissão de anos. D. Pedro que o diga. 

  3. isso nunca aconteceu antes da lava jato…

    nunca houve prisões exageradas, tortura de acusado, presunção de culpa, ainda bem que agora que isso acontece pela primeira vez os advogados desses humildes réus protestam

  4. às vezes descuidam e se revelam…

    revelam que a justiça passou um bom tempo subordinada aos interesses financeiros do outro lado, adormecida, sem suspeitos importantes, sem delatores, sem maiores investigações e, por conseguinte, com poucos indiciados ou sem os fogos de artifícios atuais do ministério público

    e por nada haver que houvesse do lado de cá, trabalhista, passou um bom período dormindo tranquilamente

    mas, como podemos ver no post, a esperança resiste

    até a discussão acolarada da dívida pública, é mais por não concordarem com gastos com pobres e com o povo em geral

  5. Qunado o bandido preso era do

    Qunado o bandido preso era do lado de lá do sistema, não podia MOSTRAR AS ALGEMAS!

    Davo processo…

    ESSA lei foi VIOLADA COM  A CAPA DA VEJA!

  6. não existe nenhum mistério acima disso tudo…

    ninguém, individualmente, acima de todos

    só as pessoas de sempre, de uma justiça que nunca existiu………………………………..

    até interreses capitalistas não atendidos podemos usar como justificativa para tanta perseguição, se considerarmos que na sequencia de governos trabalhista, nunca deixaram de ser fiéis a este tipo de interesse

    muito válido, na minha modesta opinião, para um país em desenvolvimento

    são as pessoas de sempre, uma justiça que passou a existir só agora para, talvez, poder voltar a dormir tranquilamente, após fazer dos que muito lutaram para que ela, a Justiça, pudesse seguir com toda liberda, enfim, fazer de todos que lutaram por ela fiéis defuntos políticos

  7. no livro os donos do poder,

    no livro os donos do poder, raymundo faoro fala dos estamentos sociais;;;

    em suma, iipo castas sociais indianas…

    o judiciário, em particular….

    agora parece que esse pessoal aí do mp quer reforçar ainda mais esse estamento….

    o corporativismo é notório…

    pelo menos é claro que são mais iguais que os outros….

     

  8. Manifesto dos juízes – uma interpretação

    Antônio César Bochenek expende em manifesto feito em nome da AJUFE críticas pesadas ao manifesto dos advogados, este último reação a atos persistente e frequentemente incomuns de juízes, procuradores e policiais da Lava Jato.

    Bochenek fala em quebra de paradigma pelo Judiciário, especialmente pelo juiz Moro, de Curitiba, mas não diz qual. Qual paradigma foi quebrado? O paradigma da presunção de inocência? Se for, e parece que é, juiz não pode quebrá-lo, pois tal quebra de paradigma é ilegal. Ou será que não é essa a quebra de paradigma a que Bochenek se refere? A quebra seria então juiz de primeira instância ganhar mais do que a lei permite? Tem sido noticiado, sem qualquer desmentido, que Moro ganha R$ 70 mil/mês quando o máximo que a LEI lhe permite são cerca de R$ 30 mil/mês. Qualquer uma dessas quebras é vedada a juiz, pois, se não forem ilegais (e são), são ilegítimas.

    São fatos inquestionáveis a prisão generalizada de acusados sem prévia condenação judicial e o afrouxamento das restrições à liberdade dos presos mediante a chamada delação premiada, também conhecida com caguetagem. Tal prática é tortura de Estado: violenta-se o direito a liberdade do acusado por meio de argumentos subjetivos chinfrins, do tipo “copy and paste”, cuja verificação é impossível em instância superior, até que o acusado delate ou se autoincrimine (é incrível que tribunais superiores sustentem a perda da liberdade de cidadãos não condenados judicialmente com base em alegações vazias de coator). Dizendo de outra maneira: por meio de tortura psicológica e física, causa-se sofrimento ao acusado para que faça o que o Estado (ou grupelho do Judiciário, MPF e PF?) quer. Ditadores agem assim, não provam culpa de acusado, mas o torturam para que se incrimine e caguete. É isto o que está sendo feito na tal da Lava Jato. Não causará surpresa se o Judiciário, quebrando paradigma, reintroduza a prática de pau de arara para conseguir autoincriminação e caguetagem.

    Diz Bochenek: “Aqueles que não podem comprovar seu ponto de vista pela via do Direito só têm uma opção: atirar ilações contra a lisura do processo.” Engana-se Bochenek redondamente. Frente a um Judiciário corporativo e polarizado politicamente não resta aos cidadãos, mormente aos advogados, outro caminho que não seja o político. A Sociedade precisa saber que o Judiciário está desrespeitando, sem sustentação de voto, paradigmas como a presunção de inocência e o paradigma de que o ônus da prova cabe ao acusador. A Sociedade precisa saber que o Judiciário tortura pessoas para que se autoincriminem ou “entreguem” suspeitos, ou aqueles a quem o grupelho quer incriminar.  Isto tem de se tornar público porque ninguém deu a juízes, procuradores e policiais a prerrogativa de mudar tais paradigmas.

    Bochenek, inacreditavelmente, diz o seguinte: “Fazem isso em uma tentativa vã de forjar na opinião pública a impressão de que a prisão é pena excessiva para quem desviou mais de R$ 2 bilhões, montante já recuperado pela Operação Lava Jato.” Ora, prisão sem condenação judicial, pois é disso que o manifesto dos advogados trata, nada tem a ver com montante de desvio. O montante do desvio não autoriza descumprimento de princípios do Direito pelo Estado, prática com raízes fascistas. Além do mais, em nenhum momento, os advogados, em seu manifesto, mostraram-se contrários à recuperação dos desvios e à punição dos que desviaram. O  reclamado foi o descumprimento do respeito ao devido processo legal. Nosso Bochenek, neste ponto, incorre na falácia do espantalho, a falácia engana trouxa. Outra coisa notável que se depreende da infeliz declaração de Bochenek é a preocupação com que as denúncias cheguem à opinião pública. Ora, Bochenek, vazamentos de ilações do MPF e da PF que destroem a imagem de pessoas, muitos dos quais não passam de calúnias, podem ser levados à opinião pública, mas os desmandos do judiciário não? Ora, Bochenek.

    A Lava Jato, em um Judiciário politizado descaradamente, corre frouxamente, sim, porque o corporativismo judiciário a sustenta. O Judiciário, ilegalmente, funcionando como órgão acusador(!), quer criminalizar partido político, e mesmo a política, para ficar bem com a opinião publicada (e não pública), como Bochenek confessa subjacentemente em seu texto. Tribunais superiores, pressionados por juiz de primeira instância e pela mídia que se diz partido de oposição, seguem na esteira linchadora inaugurada na AP 470 e seguida por Curitiba. Não deve ser esquecido que esse juiz de primeira instância, o juiz Moro, assessorou a ministra Rosa Weber na elaboração do famoso voto da ministra no julgamento da AP 470 no qual está posto, em essência, que, mesmo sem provas, José Dirceu estava sendo condenado porque a literatura assim permitia. A politização do Judiciário, como o voto de Weber prova, isso sem se falar de Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Moro, é de alto a baixo, por isto a declaração de Bochenek de que advogado pode ter sucesso na postulação de correção de aberrações processuais é totalmente falsa. Com esse Judiciário, postulações desse tipo, quando o paciente tem algo a ver com o PT, fracassam sempre.

    O resto do arrazoado de Bochenek é inepto e vazio, e não vale a pena qualquer consideração sobre ele.

    Estamos às portas da pior das ditaduras, a do Judiciário. É preciso, sim, que advogados e a OAB, que Bochenek aparentemente teme, lutem pela restauração de direitos básicos do Estado democrático de direito. Os paradigmas que Bochenek alega estarem sendo quebrados são paradigmas que sustentam o Estado democrático de direito, quebras que põem todos os cidadãos ao talante de juízes, isto sem se falar do stalinismo judiciário que atribui a um único juiz acusador o país inteiro como jurisdição. Os que lutaram pela democracia estão sendo traídos por essas quebras de paradigma perpetradas pelo Judiciário admitidas por Bochenek.

     

    1. esse seu comentário está tão

      esse seu comentário está tão bom que

      deveria ser elevado a post…

      primeiro, porque o senhor da ajufer confessou que houve quebra de paradigma…

      segundo, que paradigma estranho é esse?

       se é o direito garantidor que foi substituído pelo direito do inimogo,

      aquele que manda prender sem direito a qualuquer defesa,

      isso tem consequencias, sim, para o restado democrátgicode direito….

      esse pessoal que quebra paradigmas fundamentais para a

      convivencia democrática aí tem de se explicar….

      ou punido, se houver legislação para isso….

  9. O LADO FAJUTO DAS

    O LADO FAJUTO DAS INVESTIGAÇÕES DA LAVA JATO.
    Presos, lobistas, empresários e executivos delatam para diminuir penas. Delaçõezinhas sem fim, a conta-gotas. A PF, o MPF e os juízes estimam mais 3 anos de investigações. Até 2018. Se eles quisessem mesmo saber origem e destino das propinas bastaria uma auditoria na contabilidade das empresas. Tudo se resolveria rapidamente. Por que não fazem isso? Atingiria quem se mantém ao largo das investigações? Outros poderes constituídos? Não só. O principal é que deixaria de desgastar a Petrobrás. A Petrobrás é o centro, o alvo principal da cobiça por ser uma das mais importantes e estratégicas empresas do mundo. Desde a descoberta do pre-sal o preço do petróleo começou a cair. De 100 para 30 dólares. O Brasil sem a Petrobrás é um cão sem dentes.

  10. O silêncio da OAB

    “Em meio ao tiroteio, soa estranho silêncio da OAB, a nacional e as seccionais…”

    A cerca de 3 ou 4 anos atrás fui contratado para compor e produzir um jingle de campanha para o candidato a presidente da regional da OAB em MG. Após realizar o serviço de acordo com as orientações do cliente, e ainda fazer todas as modificações na peça final do jingle, fui informado que o cliente simplesmente não pagaria pelo serviçocontratado e entregue no prazo certo. As justificativas foram no mínimo cínicas – a assessoria do candidato chegou a alegar que não pagaria porque eu não teria usado instrumentos acústicos na gravação, o que além de ser uma deslavada mentira não foi exigido em nenhum momento da contratação. O candidato caloteiro foi eleito e reeleito na OAB MG. E ao reclamar meu direito a receber pelo serviço prestado e alegar que eu poderia até mover uma ação na justiça para receber o assessor afirmou: “entra na justiça mesmo porque aí é que nós vamos gostar, pois A JUSTIÇA É NOSSA!”

    Sabendo-se que essa parece ser uma atitude normal para os ocupantes da OAB não é estranho que eles fiquem em silêncio agora com todos esses abusos. Afinal para quem pensa que “a justiça é nossa” para que dar satisfações a quem quer que seja sobre o que eles fazem ou deixam de fazer???

    Só lembrando que o referido candidato (que não citarei o nome-afinal a justiça é deles…) é filho de um governador biônico da ditadura militar, ou seja um perfeito “filhote da ditadura”!

  11. Cada louco com sua mania.

    Quem acredita que a ‘justiça” esta mudando é um grande bobo, o negocio deles é acabar com o PT.

    Veja o que aconteceu no mensalão (do PT)  julgaram até quem não tinha foro privelegiado no STF, foi uma carnificina e quando chegou a hora de julgar o mensalão do PSDB mandaram para instancias inferiores para que prescrevam,

    É mais fácil eu acreditar que o homem vai a Marte em 2017 do que crer que a “justiça” vai apenas melhorar no Brasil.

  12. Classe média de pés descalços!

    São todos cretinos, inclusive os cínicos que entraram de cabeça no modo “torcida organizada” de parte da superestrutura jurídica e midiática, que se excita contra as maiores empresas brasileiras flagradas nos jeitinhos, enquanto acoberta os equivalentes e concorrentes estrangeiros. Tal fenômeno evoca-me as discussões sobre o papel da “burguesia nacional” na teoria etapista comunista da revolução nacional democrática de décadas passadas: contra um empresariado industrial, vitaminado pelo mercado interno, a extrema direita prescrevia a primarização por ser a vantagem comparativa, inclusive pela índole “viralatista” nacional ser o produto trágico do clima e miscigenação; hoje, está politicamente correta com os disfarces institucionais e conta com a massa de manobra que a destruição dos serviços públicos, via FMI, disponibilizou. 

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