Os efeitos dos juros internacionais nos preços dos ativos

Algumas explicações financeiras para entender os efeitos das taxas de juros internacionais nos preços dos ativos. Ou, porque qualquer ameaça de aumento dos juros chacoalha os mercados.

As grandes bolhas especulativas decorrem da volatilidade dos ativos. A riqueza financeira não é uma medida em si, mas em comparação com os ativos reais adquiridos..

Suponha uma economia em equilíbrio e uma empresa com histórico de vendas. Torna-se relativamente fácil precifica-la (isto é, definir seu valor). Basta estimar o fluxo futuro de resultados, a rentabilidade que o comprador espera para definir uma faixa preço.

A especulação ocorre quando se perdem esses referenciais.

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No grande jogo financeiro internacional, há três espécies de ativos-alvo:

1.      As empresas tradicionais, com histórico de receitas e relativa previsibilidade em relação aos fluxos futuros.

2.      Os commodities, alimentos, minérios etc.

3.      As empresas da nova tecnologia, sem parâmetros de desempenho, porque muito novas e atuando em áreas sem histórico.

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Teoricamente, o primeiro grupo seria aquele para investimentos mais previsíveis.

Uma das formas de precificar uma empresa é através do fluxo de caixa descontado ou de um múltiplo dos resultados anuais.

Suponha a empresa A:

1.      Fatura 10 por ano.

2.      O preço da empresa é de 10 vezes seu resultado anual, ou 100.

3.      O custo de oportunidade é de 10% ao ano.

4.      Ao final de dez anos, o  investidor revende a empresa pelo preço que pagou.

Para que, nesse período, seu investimento renda 10% ao ano, o preço a ser pago será de 100. Ou seja, aplica 100, durante dez anos recebe 10 por ano de resultados e ao final do período revende a empresa por 100.

Se o custo de oportunidade (representado pela remuneração em dólar dos títulos públicos dos EUA) cair para 5%, o investidor se disporá a pagar 139 pela fábrica – 39% de valorização apenas pela redução dos juros de 10% para 5% ao ano. Com as taxas de juros caindo para 1% ao ano, o preço da empresa saltará para 185.

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Suponha que, com os novos controladores, a empresa aumente em 20% seus resultados no primeiro ano e em 8% ao ano nos anos seguintes – possibilidade razoável, especialmente, em processos de fusão e incorporação.

Mantidas as demais hipóteses, o valor  potencial da empresa saltaria para 295.

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Ou seja, com a extrema liquidez internacional, com a profusão de novos mecanismos permitindo a ampliação da alavancagem (capacidade de tomar recursos), com os ganhos de escala decorrentes de fusões e incorporações, mesmo o segmento mais conservador – as empresas em atividade – sofrerem valorizações extraordinárias.

Apenas o efeito-juros produziu uma enorme bolha de ativos mesmo em mercados mais conservadores – como o imobiliário.

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Agora, lenta e penosamente, a economia mundial está retornando aos trilhos originais. Cada aumento de juros provocará uma redução proporcional nos valores de ativos. A queda desses ativos impactará as garantias bancarias, em alguns casos obrigando os investidores a queimarem seus investimentos.

Esse processo foi nítido na crise de 2008. Mas não resolveu o problema da inflação de ativos. Agora tenta-se, com mais cuidado, promover uma nova rodada deflação que não leve de todo a economia mundial.

Luis Nassif

17 Comentários

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  1. Nassif,bom dia,por favor me

    Nassif,bom dia,por favor me responda:Tomando como parâmetro,a explicação do texto,a nossa Petrobras está enxuta pronta para seguir crescendo?Obrigado.

  2. Está havendo um “pouso suave”

    Está havendo um “pouso suave” nos ativos e também nas commodities. E o ouro, estava subindo, não?

    Como será que anda o “mercado” de terras e obras de arte, só por curiosiddade?

    O Paul Krugman é que vem criticando essa política de austeridade que não dá a menor bola pro emprego.

    Será esse, então, o novo “consenso de wasshington”? No centro do sistema as expectativas estão estabilizadas “duela a quem duela”; os “desbravadores’ que procurem a periferia…

  3. Quem seria o “se” da frase “Agora tenta-se, com mais cuidado…”

    Excelente Artigo do Nassif.

    Simples e que permite as mais diferentes inferências sobre Futuras Políticas Econômicas e Industriais.

    O Nassif deveria esclarecer o “SE” da frase “Agora tenta-SE, com mais cuidado, promover uma nova rodada (de) deflação que não leve de todo a economia mundial” (acho que ele quer dizer “rodo” e não “todo”).

    Quem são estes misteriosos personagens que “promovem”, de forma calculada, tais “deflações” (e, às vezes, a deliberada Inflação que visa o “ajuste” da Dívida Pública e dos Grandes Grupos?).

    Os CEOs dos USA que promoveram o Sucateamento da Indústria Americana através da Planejada Globalização, são os mesmos que estão, junto com o Obama, promovendo a Nova Industrialização Americana.

    http://www.forbes.com/sites/stevedenning/2013/02/11/decoding-jeff-immelt-ges-new-act-us-manufacturer/

    For the last thirty years, US managers have been shipping manufacturing jobs overseas as fast as they could, in as large numbers as they could manage. In the process, they have been making excellent profits from systematically destroying jobs, intellectual property, and the capacity to innovate and compete. According to one informed estimate, as many as 60 percent of these offshoring decisions made no sense, even at the time.

    During this period, Jack Welch, GE’s CEO from 1981 to 2001, even suggested that the ideal situation for a global firm was to have its factory on a barge that you could move around the world to wherever it was the best competitive environment at the time.

    1. Global players

      Vale a pena mencionar mais um trecho da entrevista:

      We are a global company. We are not really a US company any more. We don’t care where we create jobs. We have no special loyalty or responsibility or moral commitment to any particular country or community. We are into making money wherever it can be made. We make no apology for being amoral.

      Com o avanço da globalização, e a concentração do poder em reduzido número de empresas supranacionais, qual a liberdade que um país pode ter para estabelecer políticas industriais que sirvam aos interesses nacionais?

      A política do BNDES foi criticada por tentar criar “global players”. Independente dos sucessos ou erros dessa política, o País pode prescindir de uma política que ajude a criar “global players”?

    1. Ricardo, essa economia só

      Ricardo, essa economia só existe nos EUA.

      Aposto que você, como economista. está querendo desinformar e ofuscar com essas conclusões. 

      Nós temos que entender um modo próprio de proceder para uma ciência dos opostos, porque os resultados da economia favoráveis aos americanos são problemas comuns para o mundo, principalmente para o nosso dinheiro, a sociedade e o Estado.

  4. Antes de decifrar a

    Nassif e colegas interessados numa tecnologia política para uma base global avançada:

    Antes de decifrar a dialética de Marx, mostrando um certo parentesco com o meu ensaio da alienação, quero começar pela perspectiva de Feuerbach, citando um trecho do livro de Marx, pág. 24: “Em a Essência do Cristianismo Feuerbach define assim a alienação: “O homem transforma o subjetivo, ou seja, faz daquilo que só existe em seu pensamento, em sua representação, em sua imaginação alguma coisa que existe fora de seu pensamento, de sua representação… 

    Assim os cristãos arrancaram do corpo do homem o espírito, a alma, e fazem desse espírito separado, privado de corpo, Deus.

    E acrescenta, em sua VII Lição, para caracterizar essa inversão: “Deduzir de Deus a natureza é como se quisesse deduzir da imagem, da cópia, o original, deduzir uma coisa da ideia dessa coisa”.

    O que vou fazer sobre a ideia mestra de Feuerbach, a alienação, nada mais é do que deduzir de Deus a natureza das coisas como se pudesse deduzir da imagem, da cópia, o original das coisas e decifrar a dedução de uma coisa da ideia dessa coisa: O “valor” fora do pensamento.

    O valor fora do pensamento é coisa séria para as sociedades: O preço do investimento externo!!! 

    O sistema econômico – capitalismo mundial – segue prolongando-se como espírito da unidade nacional. O objetivo histórico pelo pensamento de que a realização social é um objetivo de Deus e a imagem do homem que cria sua própria imagem foi mudado. As relações sociais e a produtividade dos países pelas conexões com os títulos públicos é um caminho de contra-senso religioso que, porém, a cópia social não pode mais ficar centralizada nas grades da ideia de que a democracia desemboca os povos numa prisão de sua representação… 

    A grande ida e volta do dólar pela qual se começa a considerar uma inter-relação entre o ideal real e a ficção do dinheiro transforma-se numa condição em que a falta de consciência da necessidade imediata de valores aos ativos de todas nações projetaram poderes corporativos da alienação do homem, pelo capital e pelo Estado, e a sua essência para fora de si: Os juros do crescimento, ou melhor o preço da imaginação das coisas fora do pensamento. 

    A consciência separada do valor dos ativos para o elo do investimento em dólar não pode continuar como consciência invertida da inconsciência das nações, por causa das consequências de uma troca de exterioridade, ao alcance premeditado para desenvolver a economia dos EUA.

    Ora, o valor dos ativos é uma natureza que existe na natureza independentemente da natureza da nossa consciência, posto que o valor é uma natureza externa fora da consciência do homem. Não há senão que fazermos as inter-relações dos valores (ativos) dos países como representações da consciência externa dos valores dos ativos materiais (cópia do originial); invertendo a sua ordem de valor (imaterial) para um sistema internacional de modo transcendental sobre a consciência reflexiva do mundo real e não sobre um valor unilateral fictício.

    O mundo real é um sujeito neutro para substituir a consciência dos homens, quero dizer, no qual se coloca os predicados do valor (ativos das atividades) para as nações em sua origem os criar. O valor do mundo não alienaria o Estado. E o mundo se reduz a unidade de realização dos valores do homem para o homem, fazendo-o seu espírito voltar ao espírito da divisão do homem em si mesmo quando este se deixa projetar para além de si mesmo na totalidade do espírito do mundo.

    Está na hora de fazer a crítica de que a alienação religiosa é alienação política na alienação econômica.

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