Acordo da OPEP será insuficiente para evitar crise no petróleo

A ideia inicial era cortar a produção de 100 milhões de barris por dia para 90 milhões. Com a crise da pandemia, o consumo de petróleo caiu para algo entre 65 e 80 milhões de barris.

A venda de petróleo americano a preços negativos – isto é, quem vendia pagava para o comprador ficar com o petróleo – não chegou a afetar o mercado internacional. Tratava-se de uma situação atípica, restrita à produção no centro-oeste americano, o West Texas Intermediate -, à falta de tancagem e ao vencimento no mercado de opções de Nova York.

O petróleo tipo Brent é menos sensível aos jogos de mercado. Primeiro, porque os contratos futuros são liquidados em dinheiro – a diferença entre o preço de mercado e o preço do contrato – e não por entrega física. Depois, porque grande parte do petróleo é embarcado por via marítima, evitando assim pontos de estrangulamento na armazenagem. Mesmo assim, há risco de esgotamento da capacidade das embarcações.

Ontem a queda do petróleo tipo Brent para US$ 19,42 – queda de 22,40% em um dia – acendeu uma forte luz amarela.

Antes mesmo da pandemia, a indústria de petróleo já entrara em crise. Os conflitos entre Arábia Saudita e Rússia, impedindo os cortes na produção para sustentar preços, já havia deflagrado a crise para companhias com altos preços de extração, para a indústria do xisto e do carvão nos Estados Unidos.

A ideia inicial era cortar a produção de 100 milhões de barris por dia para 90 milhões. Com a crise da pandemia, o consumo de petróleo caiu para algo entre 65 e 80 milhões de barris.

Nas últimas oito semanas, o armazenamento flutuante aumentou 120%, um recorde de 120 milhões de barris. Nas próximas semanas entra em vigor o aguardado acordo dos produtores, de reduzir em 10% a produção. Mas teme-se que o consumo caia até 30%.

Segundo algumas consultorias, o preso do petróleo Brent abaixo de US$ 25 por barril inviabiliza pelo menos 10% da produção mundial de petróleo.

Há também mudanças radicais na geopolítica do petróleo. O óleo pesado do Canadá não sai por menos de US$ 45 o barril. Rússia e Arábia Saudita, por sua vez, tem um custo de US$ 10 por barril.

O setor mais vulnerável é o a indústria do xisto norte-americana. Estimulada pelos incentivos do governo Obama, houve uma abertura ampla de empresas para explorar o novo negócio. Acontece que é um setor que exige a perfuração constante das minas, devido ao seu rápido esgotamento. As empresas acabaram se endividando e já estavam em situação insustentável quando os preços internacionais começaram a despencar.

Em geral, o petróleo sempre foi um indicador de antecedentes da economia mundial. Aumento de cotações precede melhorias da economia, e vice-versa.

Na quadra atual, deixou de ser. Os traders não conseguem estimar mais do que dois meses à frente – e erram.

O nível das cotações do Brent tem implicações pesadas sobre o Brasil:

  1. Bate diretamente na capacidade de investimento da Petrobras. A privatização da BR Distribuidora e do setor de gás quebrou duas pernas do complexo Petrobras. A empresa ficou apenas com o setor mais arriscado, a prospecção.
  2. O único sinal positivo da economia mundial são as previsões de recuperação da atividade na China em prazo não inferior a 7 meses. Mesmo assim, há riscos de monta nas relações Brasil-China. Os sucessivos ataques de autoridades do governo à China acenderam a luz amarela em relação à dependência excessiva da China em relação à soja brasileira. E a China é de longe o maior parceiro comercial brasileiro.
Luis Nassif

5 Comentários

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  1. Vi uma figura interessante (de 2018) onde mostra os 3 principais produtores, EUA, Arábia e Russia, cada qual produzindo pouco mais de 10 milhões de barris dia naquele ano.
    ..claro que pra completar o cenário deveríamos ter no gráfico a composição dos demais produtores e EXPORTADORES (tipo Irã, Iraque, Canadá, Venezuela, Kwait, Emirados, Kazaquistão, Brasil e Nigéria por ex), já que muitos outros países produzem pra consumo próprio.
    ..e mais, o custo de cada um, pois só com esse quadro é que saberíamos de fato quem tem condições de cortar a produção pra minimizar essa luta suicida.
    Duma coisa eu sei, com a privataria dos gasoldutos, BR distribuidora e paralisação das obras das refinarias produzidas por aquele parente, a PETROBRÀS e o BRASIL estão muito mais expostos e fragilizados do que antes de 2015.
    POR TUDO ISSO gostaria de lembrar a TODOS NOS BRASILEIROS de agradecer os MILITARES brasileiros, e a contribuição valorosa que eles deram pra que houvesse o GOLPE derradeiro na democracia e auto suficiência, na independência brasileira.
    SELVA !!!!
    https://staticshare.america.gov/uploads/2018/09/oil_production_chart-2018.pt_-1024×651.jpg
    https://fernandonogueiracosta.files.wordpress.com/2012/07/maiores-produtores-de-petrc3b3leo-em-2020.png?w=584

  2. “…Bate diretamente na capacidade de investimento da Petrobras. A privatização da BR Distribuidora e do setor de gás quebrou duas pernas do complexo Petrobras. A empresa ficou apenas com o setor mais arriscado, a prospecção…” E a venda da EMBRAER para a Pré-Falimentar Boeing? Que poder de investimentos e restruturação que exercerão os tais NorteAmericanos, não é mesmo? Como a privatização acima citada, cada ‘Negócio de Gênio’ das Estruturas Políticas Brasileiras. Coisa de Estadistas !!! ESTÁ NA HORA DE ACORDAR !!!! ANÃO DIPLOMÁTICO GIGANTE ADORMECIDO !!!!!! Cadê aquela estória de Livre Comercio? De Preços Internacionais? De oscilações de preço conforme o Mercado Mundial? De não interferência da Soberania Nacional sobre Preços não controlados e Empresa aberta ao Mercado Internacional? Aquela estória que o Estado Nacional não pode interferir no Setor e Empresa Estratégicos ao seus Interesses? Não pode administrar Preços conforme seus Interesses? O que estão Fazendo Russia e Arabia Saudita ( a mando dos EUA), se não controlar e modificar preços por Interesses Políticos e Geo-Políticos? EUA tentando sabotar e reduzir Preços do Petróleo Mundial, com isto minar as principais fontes de financiamento de Russia (e Venezuela)? E o Brasil e Petrobrás e Privataristas e Globalistas e NeoLiberais e Lacaios e Elites Chinfrins Brasileiras que não tem uma única ideia própria, que compra até bosta do exterior, se embalada como “Internacional”, fazendo a Nação Brasileira inteira correr e se sujeitar atrás dos interesses de outros Povos e outras Nações. Interesses que em nada nos beneficiam. Somos Lunáticos ou é apenas Ignorância doutrinada por quase 1 século? Isto é o tal Livre Mercado, Livre Comércio sem interferência política, que pregam os Imbecis Tupiniquins? Como chegamos ao fundo da latrina depois de 9 décadas? Pobre país rico. Petróleo a 100 Dólares. Gasolina Brasileira a 4,50 Reais. Petróleo a menos de 20 Dólares. Petrobrás reduzindo em 60% o Preço da Gasolina. Onde está a Gasolina a menos de 2 Reais nas Bombas dos Postos? As penas, realmente nãos Nos fazem falta. Mas de muito fácil explicação.

      1. Esta caminhada já era muito mais longa, quase secular. E tenha certeza, durante todas estas décadas, não nos desviamos do caminho traçado. Pensa que o Brasil não tem projeto de longa duração? A ida ara o fundo da latrina é um deles.

  3. Nassif,
    Percebo da mesma maneira, a OPEP ainda desovando petróleo em quantidade maior que a demanda, capacidade de armazenagem que poderá esgotar-se antes do final de junho e as consequências deste fato assombroso, iniciado pelo governo saudita quando, já com o coronavírus, começou a encharcar o mundo com petróleo, ato insano cujo desdobramento é este que está à vista de todos.
    A indústria do shale americano deverá ser mais uma demonstração da força da iniciativa privada americana, já que tudo o que é estatal não presta, yes…, com o seu ponto de equilíbrio em torno de U$ 25,00 versus U$10,00 ou menos, para o WTI.
    O brent também não escapará, daqui prá fente todos observarão com maior cuidado os níveis de fornecimento, demanda e a nova estrela do show, a variável estocagem.

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