Conep suspende estudos da Prevent Senior sobre a cloroquina

A explicação da empresa é que divulgou apenas os dados iniciais de um primeiro manuscrito acerca de um estudo clínico com pacientes. Mas que o que foi divulgado não é o estudo completo cadastrado na Conep.

O Conep (Comissão de Ética e Pesquisa), ligado ao Conselho Nacional de Saúde, suspendeu o estudo da Prevent Senior sobre o uso combinado de hidroxicloroquina e azitromicina no tratamento do Covid-19

O motivo alegado foi o fato dos testes com pacientes terem começado antes que a pesquisa fosse autorizada. O estudo tem sido alvo de críticas da comunidade científica.

A alegação da Prevent foi a de que era apenas um estudo inicial, baseado em suas próprias experiências, visando trazer novos elementos sobre o tema. E evitou rebater as críticas técnicas ao trabalho.

Segundo o estudo, apenas 1,9% das pessoas que receberam o tratamento precisaram ser hospitalizadas, contra 5,4% das que não receberam. Mas não analisou, previamente, se todos os participantes tinham sido infectados efetivamente pelo Covid-19, ja que os diagnósticos eram feitos por teleatendimento.

Em princípio, esse movimento não deveria produzir viés no estudo. A ideia é que a pessoa mais afetada estaria mais propensa a participar da pesquisa.

Em artigo recente, a microbiologista Natalia Pasternak, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, tinha apontado erros metodológicos na pesquisa. “A falta de rigor destrói a credibilidade do feito”, diz ela. Mencionou também comentarios do oncologista americano David Gorski e do geneticista francês Gaetan Burgio, que trataram a pesquisa como “execrável” e “atroz”, segundo O Globo.

A explicação da empresa é que divulgou apenas os dados iniciais de um primeiro manuscrito acerca de um estudo clínico com pacientes. Mas que o que foi divulgado não é o estudo completo cadastrado na Conep.

Hoje, ainda, a Sociedade Brasileira de Infectologia publicou diretrizes para orientar os estudos no país, de acordo com O Globo. Recomendou “testes de segurança” para medicamentos já usados em outras doenças. Ou seja, aplicados apenas em adultos saudáveis. Até a pesquisa Prevent, a recomendação era para experimentar a hidroxicloroquina em pacientes graves.

Luis Nassif

9 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. –>> Em princípio, esse movimento não deveria produzir viés no estudo. A ideia é que a pessoa mais afetada estaria mais propensa a participar da pesquisa.

    Esta afirmação não faz nenhum sentido. Se a pessoa mais afetada estaria mais propensa a participar da pesquisa, ou seja, tomar a medicação (pois era isso que a Prevent oferecia, e não participar de uma pesquisa experimental, podendo ou não tomar o medicamento, sem que médicos e pacientes soubessem, de antemão, quem estaria ou não tomando), isto já cria um viés, pois o grupo testado e o grupo controle não seriam homogêneos. Isso sem falar no tamanho discrepante dessas amostras, grupo testado e controle.

    –>> Natália Pasternack não aponta apenas “erros metodológicos na pesquisa”, mas problemas técnicos e éticos nela. Diz, com todas as letras, que a pesquisa não seguiu nem os “princípios básicos de ética médica” (https://www.revistaquestaodeciencia.com.br/questao-de-fato/2020/04/18/uma-aula-de-como-nao-se-deve-testar-um-medicamento).

    Enfim, parece que o que Prevent Senior fez foi vender “lotes na Lua”, talvez preocupada em limpar sua imagem manchada pela exposição feita pelo ex-ministro da saúde, por interesses conflitantes no MERCADO dos planos PRIVADOS de saúde, e não contribuir com uma discussão séria e pautada pelo rigor científico.

    Minha sugestão, insisto, é dar mais espaço para pesquisadores de instituições sérias, reconhecidas, com histórico de pesquisa na área, do que a estes mercadores da saúde.

    1. Não mesmo. Não se trata de vender a Lua, mas focar a sua atenças em dar o melhor tratamento que puder e salvar vidas. Por isso sua atuação é irrepreensível e, principalmente humana.

      A Prevent está focada em salvar vidas e não aparecer em revistas de medicina.

      Como randomizar pacientes que vão receber o tratamento e outros que serão enganados recebendo placebos inúteis? A solução encontrada foi genial. Deixou os pacientes escolherem se querem ou não receber o tratamento e transformou os que deram respostas negativas no grupo de controle.

      Se isso pode distorcer um pouco os resultados finais da pesquisa, tem de se sempre lembrar que o primeiro objetivo é SALVAR VIDAS.

      Sobre o viés criado com a opção do paciente decidir se o paciente decidir participar ou não deve-se lembrar que pacientes com menos sintomas ou até sem sintomas se sentiriam mais propensos a não participar, o que distorceria os resultados CONTRA e não a FAVOR pois aumentariam o numero de pacientes no grupo de controle diluindo os resultados adversos, e no grupo de tratados pegariam os mais graves. Assim o resultado deverá ser ainda mais favoráveis ao medicamento.

      Eu achei a atuação dos médicos da Prevent Senior muito humana e solidária. Esses testes com placebo, numa epidemia, para mim é desumano e anti-ético como foi com o estudo da FIOCRUZ que acabou em tragédia ao dar uma dose quase cinco vezes maior para um grupo em relação ao outro.

  2. O problema não é a (h)cloroquina ou qualquer outro medicamento promissor ou em teste.
    O problema é um presidente da república ou ministro de estado darem declarações antecipadas e afobadas, antes das conclusões devidas.
    O problema não é discutir e avaliar o medicamento (qualquer).
    O problema é discutí-lo publica e politicamente e não profissionalmente por médicos e cientistas.
    O problema não é um presidente da república achar que tem ou não tem que ter quarentena.
    É discutir isso em lives, memes e cercadinhos de dúzia e meia com o público que é agente passivo sem sequer discutir com as instituições de governo, que são agentes ativos.
    O problema não é ter idéias, propostas e opiniões.
    É pensar que está num botequim ou roda de praia e não no governo da oitava economia do mundo, de um país que provavelmente é um dos 3 ou 4 mais ricos do planeta.
    Com IMENSOS problemas para resolver. E o governo focar nos irrelevantes. E criar outros tantos gratuitos.
    O problema do governo deveria ser o Brasil. Mas atualmente é o inverso:
    O problema do Brasil é o governo.

    1. Complementando: o sucesso nos testes feitos com o antiviral remdesivir, desenvolvido pelo laboratório americano Gilead já fez o valor de suas ações crescerem 14%.
      É assim que se faz, sem alarde, sem politica, com o devido processo até a disponibilação para uso.
      E se não der certo, não cria discussão inútil por leigos, desvio de foco de outras possibilidades, escassez de produtos, usos indevidos e danos ou mortes irresponsáveis.
      Entendeu, ministronauta?

  3. Essa questão da cloroquina ou hidroxicloroquina não pode ser tratada nesse formato jornalístico ligeiro. Se tornou um cavalo de batalha nas hostes dos zumbis bolsominiuns, com grande repercussão fora desse âmbito também. Há metodologias e protocolos bem estabelecidos para testes. Dessa forma, meias análises sem conhecimento adequado da temática acabam servindo à manutenção desse medicamento como instrumento político. É preciso chamar médicos especializados para dar um final nessa história. Na França um hospital que vinha testando suspendeu os trabalhos em razão de efeitos colaterais sérios. E, importante, comunicou ao mundo suas conclusões. E ponto final.

    1. Não precisa ir à França: em Manaus, numa pesquisa feita por pesquisadores ligados a instituições sérias (Universidade do Amazonas, FIOCRUZ, USP, todas públicas, curiosamente…) fizeram algo parecido. Mas aqui ficamos discutido a mercancia da Prevent travestida de preocupação científica, ao invés de dar ouvidos à pesquisadores sérios e comprometidos com o avanço do saber científico sobre as potencialidades do tratamento com hcloroquina.

      PS.: Ontem fiz aqui um comentário logo que a matéria foi publicada, apontando inconsistências e ausências no texto, que parece ainda estar bloqueado.

      1. Na medicina existem 2 postulados que são absolutos:

        1- Quanto mais cedo uma pessoa for diagnosticada e iniciar o tratamento maiores são as chances de cura.

        2- A diferença entre o remédio e o veneno é a dose.

        Esse estudo da Fiocruz afrontou esses dois princípios e acabou em tragédia.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador