Venezuela: Ajuda humanitária?, por Marcelo Uchôa

O que deveria provocar interrogação mais do que a recusa venezuelana à “ajuda humanitária” são os fatos da Cruz Vermelha haver se negado a participar das operações de auxílio por desconfiança

Venezuela: Ajuda humanitária?

por Marcelo Uchôa

Curiosa a indignação contra o presidente venezuelano Nicolás Maduro por haver determinado o fechamento das fronteiras do país, negando-se a receber ajuda humanitária internacional mobilizada pela oposição liderada por Juan Guaidó, com o apoio explícito de Estados Unidos e Colômbia. 

Não faz tanto tempo assim, foi em 1991, que Augusto Pinochet, à época ex-presidente do Chile (então chefe do exército chileno), enviou para a Croácia, sob o pretexto de “ajuda humanitária”, 11 toneladas de armas, dentre fuzis, granadas, munições e coletes antitanque. Quem conhece a geopolítica da América Latina sabe bem que era desse modo, em aviões carregados de “ajuda humanitária”, que os Estados Unidos de Ronald Reagan alimentavam os contras da Nicarágua. Na época, o secretário de Estado adjunto norte-americano, Elliott Abrams, foi acusado de mediar o contrabando. Nada de chamar atenção se Abrams não fosse, hoje, a mesma pessoa que coordena, pelo lado do governo de Donald Trump, a suposta “ajuda humanitária” à Venezuela.

Será que os exemplos históricos e a tensão do momento não são suficientes para que se abra uma reflexão no sentido de procurar compreender os porquês de Estados Unidos e Colômbia (que, desde a era Chávez, vêm boicotando a Venezuela) estarem tão interessados em prestar solidariedade? Não seria muito amor ao próximo, de uma hora pra outra, a ponto de aguçar a curiosidade? 

O que deveria provocar interrogação mais do que a recusa venezuelana à “ajuda humanitária” são os fatos da Cruz Vermelha haver se negado a participar das operações de auxílio por desconfiança, e da ONU insistir na despolitização das medidas.  Por isso, age bem o presidente Nicolás Maduro ao fechar as fronteiras nacionais nestes tempos híbridos em que ameaças e promessas de filantropia andam de mãos dadas, para desespero dos seguidores do sem voto Juan Guaidó, que já contavam, com facas entre os dentes, pelo “suporte solidário”. Precaução e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.

Marcelo Uchôa – Advogado e Professor de Direito Internacional

Redação

8 Comentários

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  1. Quem está surpreso com a revelação do ex-funcionário do FBI sobre a intenção de Trump de invadir a Venezuela, não pôde saber de outra notícia de Julho de 2018, veiculada pela Associated Press, sobre Trump ter horrorizado amigos e inimigos no salão oval da Casa Branca quando demonstrou a mesma intenção:
    “Trump pressionou assessores pela invasão da Venezuela, diz oficial dos EUA”
    AP – 5 de julho de 2018
    “Presidente dos EUA repetidamente levantou a proposta com assessores americanos e líderes estrangeiros.”
    https://www.apnews.com/a3309c4990ac4581834d4a654f7746ef
    “O presidente Trump disse à imprensa em Nova Jersey, em agosto do ano passado, que “temos muitas opções para a Venezuela”. AP

    “Em uma reunião em agosto no Salão Oval para discutir as sanções à Venezuela estava terminando, o presidente Donald Trump pediu ajuda a seus principais assessores e fez uma pergunta inquietante: Com uma rápida deterioração da Venezuela ameaçando a segurança regional, por que os EUA não podem apenas invadir o país conturbado?
    A sugestão surpreendeu os presentes na reunião, incluindo o secretário de Estado Rex Tillerson e o Conselheiro de Segurança Nacional H R McMaster, que deixaram a administração desde então. Este relato da conversa anteriormente não revelada vem de um alto funcionário da administração familiarizado com o que foi dito.
    Em um intercâmbio que durou cerca de cinco minutos, McMaster e outros se revezaram para explicar ao presidente como a ação militar poderia sair pela culatra e arriscar perder o apoio duramente conquistado entre os governos latino-americanos para punir o presidente Nicolas Maduro por levar a Venezuela pelo caminho da ditadura, segundo o funcionário.
    O presidente continuou a considerar a ideia de uma invasão, falando no dia seguinte à reunião com a imprensa em seu campo de golfe de New Jersey, em Bedminster, e dizendo-lhes que “temos muitas opções para a Venezuela, este é o nosso vizinho”.
    “Estamos em todo o mundo e temos tropas em todo o mundo em lugares muito distantes. A Venezuela não está muito longe e as pessoas estão sofrendo e morrendo. Temos muitas opções para a Venezuela, incluindo uma possível opção militar, se necessário. ”
    O Sr. Trump também levantou a questão com O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, e discutiu isso na assembléia geral do ano passado da ONU em um jantar com os estados da América Latina.
    “Minha equipe me disse para não dizer isso”, disse Trump, antes de perguntar aos outros líderes se apoiariam uma solução militar para a crise venezuelana.
    O site Counterpunch ressaltou, sobre esta notícia, que era irônico que um homem do petróleo como Rex Tillerson e um do Pentágono, como MacMaster, tivessem se empenhado em dissuadir Trump de invadir a Venezuela em busca de suas reservas de petróleo. https://www.counterpunch.org/2019/01/30/trumps-coup-in-venezuela-the-full-story/

    Atualizado em: 5 de julho de 2018 10h21

  2. Mais inacreditável é um doutor defender um facínora, assassino e ditador. A Bíblia está certa quando diz que “o espírito vivifica, mas a letra mata”. Está cada vez mais claro por que o Brasil disse não a essa “esquerda” irresponsável e leviana.

  3. PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR: QUE TAL SE A RUSSIA E A CHINA TAMBÉM RESOLVESSEM ENVIAR “AJUDA HUMANITÁRIA” PARA A POPULAÇÃO QUE APOIA MADURO? AFINAL, POR QUE SÓ OS CONTRÁRIOS A MADURO PODERIAM RECEBER ESSAS AJUDAS DE ARAQUE? ALIÁS, ATÉ O IRÃ E A COREIA DO NORTE DEVERIAM ENVIAR AJUDAS…..SABE COMO É: PÃO COM OGIVAS NUCLEARES ATÉ QUE CAI BEM……QUEM SABE MANDASSEM UM POUCO DESSA AJUDA NAS CABEÇAS DOS IDIOTAS AQUI DO BRASIL QUE PUSERAM UM BOÇAL NO PODER…….

  4. “Nicolás Maduro” O mesmo Trump que separa crianças imigrantes de seus pais, insulta os muçulmanos e considera o aquecimento global uma balela, num passe de mágica se transforma em anjo e oferece ajuda humanitária à Venezuela. Só o petróleo é capaz de fazer este milagre.

  5. O que sempre me deixou intrigado foi que,nos debates das eleições presidenciais que colocaram Trump no governo,a oposição denunciou 40.000.000 de estadunidense abaixo da linha da pobreza…Pra,porque ajudar aos venezuelanos e não aos compatriotas???

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