Brasil espera resultado final da Venezuela para reconhecer vitória de Maduro

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Lula deverá reconhecer a vitória após a divulgação dessas atas, mas pediu a resposta dos observadores internacionais

Maduro em visita ao Brasil, em maio de 2023 – Foto: Ricardo Stuckert

O governo brasileiro aguarda a divulgação completa das atas da eleição presidencial na Venezuela, após o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do país apontar a reeleição de Nicolás Maduro, com 80% das urnas apuradas. Lula deverá reconhecer a vitória após a divulgação dessas atas, mas pediu a resposta dos observadores internacionais – ONU e Carter Center – sobre o pleito no país.

A ONU e o Carter Center estão no país e acompanharam o processo eleitoral na condição de observadores. Após a divulgação do resultado, na madrugada desta segunda (29), a oposição incitou os órgãos internacionais a investigarem, alegando que não tiveram acesso a muitos boletins de urnas. O governo Lula quer que os observadores verifiquem se as acusações têm alguma procedência.

A cautela do governo brasileiro ocorre, ainda, em meio a uma pequena tensão entre os países. Na semana passada, o presidente Lula afirmou que “ficou assustado” com uma declaração de Maduro de que haveria “banho de sangue” se a oposição vencesse as eleições neste domingo (28).

“Eu fiquei assustado com a declaração do Maduro dizendo que se ele perder as eleições vai ter um banho de sangue. Quem perde as eleições toma um banho de voto. O Maduro tem que aprender, quando você ganha, você fica. Quando você perde, você vai embora”, disse Lula.

Em resposta à Lula, mas sem citá-lo, o presidente da Venezuela disse que não falou “mentiras”, mas que fez apenas “uma reflexão” e que “quem se assustou que tome um chá de camomila”.

Ainda, durante o discurso pré-eleitoral, Maduro chegou a dizer que as eleições brasileiras não eram seguras, em tentativa de comparação com as da Venezuela.

“Nós temos o melhor sistema eleitoral do mundo. Temos 16 auditorias. E se faz uma auditoria ‘profunda’, como vocês sabem, em 54% das urnas. Em que outra parte do mundo se faz isso? Nos Estados Unidos? Não há auditoria no sistema eleitoral. No Brasil, não auditam nenhum boletim de urna. Na Colômbia, não auditam nem uma urna sequer. Na Venezuela, auditamos com profundidade.”

Logo após as falas, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do Brasil desistiu de enviar dois representantes brasileiros como observadores estrangeiros e macou a presença somente com o embaixador Celso Amorim, assessor especial do presidente Lula para assuntos internacionais.

Ainda que com o silêncio de Lula, para não se indispor junto ao governo venezuelano, o embaixador – que está no país – se manifestou sobre as eleições e elogiou, dizendo ter sido uma jornada eleitoral “tranquila” e pedindo respeito ao resultado final.

A fala de Amorim foi feita antes da contagem das todas as mesas de votação e, portanto, o representante brasileiro não confirmou o resultado de vitória à Maduro.

“Estou acompanhando de perto o processo eleitoral venezuelano. Ainda há mesas de votação abertas. É motivo de satisfação que a jornada tenha transcorrido com tranquilidade, sem incidentes de monta. Houve participação expressiva do eleitorado”, disse.

O assessor especial também lembrou que o presidente brasileiro irá “aguardar os resultados finais”.

“Estou em contato com diferentes forças políticas e analistas eleitorais, além de membros da equipe de observadores do Centro Carter e do Painel de Especialistas da ONU. O presidente Lula vem sendo informado ao longo do dia. Vamos aguardar os resultados finais e esperamos que sejam respeitados por todos os candidatos.”

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4 Comentários

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  1. É absurdo, que no Brasil, onde políticos e outros cidadãos ficam falando da falta de confiabilidade das urnas e estão soltos e falando, queira criticar a Venezuela. Parece Kafka.

  2. Alguém tinha alguma dúvida de que fosse qual fosse o resultado a eleição seria contestada? O petróleo venezuelano é o objeto de cobiça, mas jamais aparece na retórica deste conflito . Não se trata sequer de um conflito contra a esquerda, Afinal, um governo de esquerda de tantos anos deveria ter uma economia de esquerda. Mas, mesmo com Chaves isto jamais se consolidou. A elite venezuelana não perdeu sua influencia durante Chaves, apenas perdeu posições de poder. Porém isto não é um grande problema, quando se pode controlar boa parte da vasta máquina estatal através de seu corpo de funcionários e servidores, muitos concursados, amigos e familiares espalhados por toda a máquina estatal.. Todos conhecemos isto, ou será que aqui alguém pensa que as instituições brasileiras mesmo depois de tantos anos de PT, está na mão de progressistas. Aqui como lá é fácil cooptar, seja quando o cooptado já pertence a velha oligarquia, seja quando é um classe média que abraça como ninguém o discurso de sempre e passa a defender políticas do tipo Banco Central ou defende as democracias ocidentais, o terraplanismo econômico e o neoliberalismo que se diz meritocratico. Os interesses de Petroleo foram de uma forma ou de outra mantidos na Venezuela e através de seus diversos associados. Muitos tecnicamente competentes continuaram associados a indústria do petroleo. USA jamais quebrou laços com a PDVESA e quando foi conveniente, por causa da guerra da Ucrania, e o perigo Chinês, levantou as sanções. Me parece que o acordo de Barbados tentaram justificar o levantamento das sanções. Não creio que os USA estejam preocupados com a democracia. Se levantaram as sanções, não o fizeram antes de dar as reservas venezuelanas no exterior para o famoso presidente auto intitulado Guaidó. Acho que Guaidó desapareceu com o dinheiro ou fez grandes negócios. A ojeriza da população a esta velha elite é muito grande na Venezuela, o que é por eles chamado de populismo. Mas isto é conhecido no Brasil, afinal aqui a população cansou do PSDB. Talvez um cansaço com as incapacidades de Maduro e uma grande campanha midiática movam os eleitores, não se sabe para onde, A deterioração de governos como o de Maduro não é um fenômeno Venezuelano e curiosamente todas as críticas ideológicas contra a Venezuela jamais deixaram claro qual é de fato a política economica na Venezuela. Na época de Chaves se tinha algumas medidas voltadas para políticas sociais, mas nada muito claro na economia. Não se pode dizer que tenhamos notícias sobre estatais estratégicas, política de desenvolvimento, coletivização, estatização etc… Eu realmente desconheço. Ou seja, para mim o discurso direita versus comunismo parece ser apenas retórico. No momento na America do Sul temos apenas o caso Milei, onde a retórica ultraliberal, explicitamente ideológica tenta a todo custo se implementar com medidas econômicas. No restante da América do Sul, o que temos são tentativs claras de ganhos neoliberais, com algumas privatizaçoes, mas sem que queiram de fato rifar o estado. Afinal todos, inclusive a Faria Lima, depende tanto do estado que faz de tudo para dominar o BC e tenta tutelar o governo com ameaças e oscilações na bolsa. O que temos é uma briga constante pelo controle do estado. O discurso retórico contra um pretenso governo comunista só serviu para alimentar uma guerra violenta e suja pelo controle do estado venezuelano. Agora a dita mídia democrática do ocidente, fala de uma oposição escondendo suas facçoes de ultradireita e passando a imagem de um candidato moderado e de centro, contra os extremismos. (Esta frase parece piada encomendada). A mídia não nos informa nada sobre quem são, quais as políticas que defendem, apenas dizem ser heróis da resistência contra a ditadura de Maduro e a favor de uma abstrata democracia. Me parece que a Venezuela esta presa na retórica que fingindo ser ideológica joga um véu sobre a realidade econômica e social. A Venezuela está presa dentro de uma narrativa que terá consequências dramáticas na realidade. Nós conhecemos isto, pois desde o mensalão, passando pela Lava Jato, alimentamos uma narrativa, descolada da realidade mas que teve como consequência o fascismo. A narrativa elegeu Bolsonaro, que fez um governo eminentemente retórico, servindo de cortina de fumaça para esconder a realidade, causando uma destruição que ainda vai nos acompanhar por muito tempo. A narrativa se tornou tão forte que o cinismo penetrou profundamente em todas as instituições. Transformar a ação do governo brasileiro com relação à Venezuela em leniência com uma ditadura é puro cinismo quando vem dos mesmos jornalistas e mídia que prega uma leniência, “moderação” e diálogo com governos como os de Milei e Netanhyahu.

  3. Como é possível acreditar, confiar e fazer ser merecedor de voto um indivíduo que se diz revolucionário, mas que se mostra como um ditador totalmente desequilibrado e perigosamente ameaçador, contra a população do seu próprio país?
    Após mais essa terrível demonstração ameaçadora de poder abusivo, covarde e ditatorial, eu entendo que, por enquanto, é o que resta para o seu vergonhoso final de carreira.
    A atual eleição deixou mostras bem claras, que o perfume da reação democrática já se faz sentir e que lidera os mais valorosos brios de uma libertação que nasceu e que cresce totalmente livre de qualquer influência, ainda que os urubus do mercado mundial de tudo fazem para tomar de assalto todas as riquezas que seus olhos alcançam, na Venezuela.
    Ditadura não e entrega das riquezas e da soberania jamais.

  4. Como pode alguém que se disse trabalhador, retirante , sindicalista , que queria
    mudar seu país , de repente apoia dois Golpes de Estado ? Um interno o de Biden,
    calando-se vergonhosamente , o outro contra um apoiador incondicional , que em
    um dos piores momentos da Covid , enviou Oxigênio a Manaus , enquanto Bolsonaro
    matava os brasileiros.
    Depois ainda mente vergonhosamente , dizendo que conversou com Biden . Ora todos
    sabemos da situação deste senhor , que tem problemas sérios de saúde , e não con-
    segue dialogar .
    É bem assim , é o momento .
    Agora , não será possivel a quem quer que seja, esconder o que é ,por mais que tente.
    As máscaras estão caindo , como Castelos de Areia . Impérios se desfazem , e for-
    tunas evaporam .
    Não será diferente com as ” mentiras e os mentirosos” !!!

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