Maira Vasconcelos
Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).
[email protected]

Em meio à tradição política de protestos, governo argentino tenta salvar a economia, por Maíra Vasconcelos

Argentina busca uma saída à crise econômica em meio aos impasses entre Alberto e Cristina

Em meio à tradição política de protestos governo argentino tenta salvar a economia

por Maíra Vasconcelos

Falta pouco mais de um ano para as próximas eleições presidenciais na Argentina. O aclamado novo “superministro” de Economia, o peronista Sergio Massa, disse que 2023 não está nos seus planos, mas em 2027 poderia se candidatar. O atual prefeito de Buenos Aires, o economista Horacio Rodríguez Larreta, do Proposta Republicana (PRO), partido fundado pelo ex-presidente Mauricio Macri, já se lançou informalmente à corrida presidencial, mesmo que ainda dependente das internas partidárias. Hoje, a agenda é dominada pelo discurso da atual crise econômica, a inflação interanual que está em 71%, os vencimentos dos bônus da dívida de US$ 44 bilhões junto ao FMI (Fundo Monetário Internacional), o deterioro do salário mínimo, a desvalorização do peso argentino frente ao dólar, e a relação entre o presidente e a vice, Alberto Fernández e Cristina Kirchner, que, como se diz por aqui, eles mal se falam.

A Argentina viu cair dois ministros de economia em menos de dois meses. O ex-ministro Martín Guzmán, responsável pela pasta desde o início do governo, em dezembro de 2019, renunciou em princípios de julho, quando assumiu a ex-ministra de economia da província de Buenos Aires (2011-2015), Silvina Batakis. Ela durou três semanas no cargo, enquanto permaneciam as tensões internas na coalizão do governo, Frente de todos (FTD), entre o peronismo alinhado com Alberto Fernández e o setor kirchnerista liderado pela vice-presidenta.

A solução para os conflitos entre os mandatários teria partido da condução política de Cristina Kirchner, que discordava do discurso de Guzmán de ajuste das contas públicas. O escolhido para ocupar o lugar de Batakis, o advogado Sergio Massa, renunciou como presidente da Câmara e assumiu o chamado “superministério”, a cargo da Fazenda, da Agricultura e de relações com organismos multilaterais, como o FMI. Massa aceitou o ministério em meio a maior crise inflacionária dos últimos 20 anos. No entanto, vale ressaltar, a atual crise é tida como algo típico no país, quase como uma tradição argentina em atravessar períodos de forte instabilidade econômica. 

Jornal GGN produzirá documentário sobre esquemas da ultradireita mundial e ameaça eleitoral. Saiba aqui como apoiar

Por outro lado, também avança a tradição política dos protestos quase diários na Capital Federal. Anunciada há um mês, a marcha organizada pelos principais sindicatos peronistas do país, agrupados na poderosa Confederação Geral do Trabalho (CGT), na última quarta-feira, 17 de agosto, teve como principal pauta a inflação. O alvo não era o governo, mas o setor empresarial, os “especuladores e marcadores de preços”. Afinal, a marcha saiu do Obelisco em sentido ao Congresso e não à Casa Rosada. Houve uma mensagem de apoio a Massa, o ministro tem o “voto de confiança da CGT”, segundo um dirigente sindical. Enquanto Alberto continua a receber críticas, principalmente, por falta de proposta política e condução para solução dos problemas econômicos.

A expectativa é que a inflação de agosto fique entre 6% e 6,3%, segundo dados de consultorias locais. Os principais responsáveis seriam o aumento de 40% no transporte público, ônibus e trens na Região Metropolitana de Buenos Aires (AMBA), de 11,3% nos planos de saúde e de cerca de 8% nos aluguéis. O peso argentino foi a moeda que apresentou a maior desvalorização frente ao dólar, 24,7%, entre janeiro e julho deste ano, na região. Os demais países, no mesmo período, tiveram uma perda média de 7% frente ao dólar estadunidense. No entanto, em relação aos valores de janeiro, algumas moedas apresentaram leve incremento ou estabilidade, como no Brasil, Bolívia, Chile, Paraguai, Uruguai e Peru.

Maíra Vasconcelos é jornalista e escritora, de Belo Horizonte, e mora em Buenos Aires. Escreve sobre política e economia, principalmente sobre a Argentina, no Jornal GGN, desde 2012. Cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina (Paraguai, Chile, Venezuela, Uruguai). Escreve crônicas para o GGN, desde 2014. Tem publicado um livro de poemas, “Um quarto que fala” (Urutau, 2018) e também a plaquete, “O livro dos outros – poemas dedicados à leitura” (Oficios Terrestres, 2021).

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

Leia também:

Descolamento do Brasil frente à Argentina, por Fernando Nogueira da Costa

A longa agonia argentina, por Rodrigo Medeiros

A queda das exportações de automóveis para a Argentina, por Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador