Ataque à Fiocruz é mais um sintoma do avanço do terraplanismo em Brasília, por Bernardo Mello Franco

"O Brasil vive um momento em que os donos do poder veem as universidades como locais de “balbúrdia” e buscam conhecimento nos livros de Olavo de Carvalho"

Jornal GGN – O ataque do governo à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) é um sintoma de um mal maior do que o desconhecimento do prestígio internacional da instituição brasileira que desenvolve pesquisas no campo da saúde.

A doença chama-se “terraplanismo da política brasileira”, e o principal defensor da tese é o escritor e guru Olavo de Carvalho. A análise é de Bernardo Mello Franco, publicada em seu blog no “O Globo” nesta quarta-feira (29).

Por decisão do governo, um estudo conduzido pela Fiocruz, e que custou R$ 7 milhões aos cofres públicos, para mapear o uso de drogas no Brasil terminou engavetado. O trabalho mobilizou 500 pesquisadores e ouviu 16 mil pessoas, mas seu problema não foi a metodologia, foi a conclusão: não há epidemia de drogas no país.

Dados divulgados pelo site The Intercept sobre o levantamento mostram que, após percorrerem todo o país, os pesquisadores verificaram que apenas 9,9% dos brasileiros experimentaram alguma droga ilícita na vida e somente 1,5% dos entrevistados haviam usado maconha nos últimos 30 dias.

“Em entrevista ao GLOBO, o ministro Osmar Terra admitiu o que a comunidade científica já sabia. A pesquisa foi censurada porque não confirma a tese de que existiria uma epidemia de drogas no país”, escreve Mello Franco.

Terra disse não confiar nas pesquisas da Fiocruz e que o levantamento sobre drogas não tinha “validade científica”. Quando lembrando sobre o prestígio internacional da Fiocruz, rebateu que o prestígio era por “fazer vacinas”. “Agora, para droga, ela tem um viés ideológico”, completou.

Para contrapor todo o trabalho científico da Fiocruz, o ministro falou da sua experiência de vida: “Andei nas ruas de Copacabana, e estavam vazias. Se isso não é uma epidemia de violência que tem a ver com as drogas, eu não entendo mais nada”, declarou.

“A Fiocruz não é a primeira instituição federal a sofrer ataques do governo. O presidente Jair Bolsonaro desmereceu o IBGE quando o instituto informou que o desemprego subiu. Na semana passada, o ministro Augusto Heleno pôs em dúvida a credibilidade do Inpe, que alertou para uma escalada no desmatamento da Amazônia”, destaca Mello Franco.

Ele ressalta que o mesmo pensamento limitante explica o ataque às universidades e instituições federais de ensino feitas pelo ministro da Educação.

“A novidade é que o terraplanismo deixou de ser privilégio dos discípulos do ex-astrólogo [Olavo de Carvalho]”, pondera o colunista.

“Em entrevista ao “Valor Econômico”, o ministro Heleno repetiu a cantilena de que as salas de aula estariam tomadas pela “doutrinação ideológica”. Questionado sobre as fontes de sua afirmação, citou vídeos do YouTube e correntes do WhatsApp”, conclui. Para ler a Coluna de Bernardo Mello Franco na íntegra, clique aqui.

Leia também: Fiocruz assegura qualidade de pesquisa nacional sobre drogas vetada por órgão do Ministério da Justiça

Redação

5 Comentários

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  1. Consideremos que, se somarmos um osmar, com um heleno e acrescentarmos um bolsonaro, mais outro mourão-de-banhado e, de lambuja, somarmos os 3 desfilhados, além deseducado, o desmédico, o desmilitar e uma pitada desMoronada, teremos bem uma milícia das mais sanguinárias contra todo e qualquer resquício democrata, de estado de direito, de cultura e de brasilidade. Ou seja, somados ao botafogo e ao alcunhalumbre, sobraria o quê, em BSB? Nadica de nada: o esmerdeamento coletivo de um país que já foi – quase – uma nação.

  2. Pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz mostra que 3,563 milhões de brasileiros consumiram drogas ilícitas em período recente. Dos entrevistados, 208 mil disseram ter usado crack nos 30 dias anteriores ao levantamento. Concluído em 2017, o estudo permanecia inédito até o início desta semana. Observadores atribuem a omissão aos resultados, que poderiam desidratar o discurso do governo de que há uma epidemia de crack no País. Segundo o Ministério da Justiça, não houve divulgação porque a metodologia usada estava em desacordo com o estabelecido no edital do trabalho, o que a Fiocruz nega. -ESTADÂO

  3. Deputados de direita e a Terra plana

    Verifiquei, sem muito espanto, que muitos dos deputados de direita foram (ou dizem que foram) alunos do Olavo de Carvalho. Será que eles também não têm segurança do formato da Terra, das leis de Newton, da relatividade de Einstein, das vacinas, das leis da ótica, etc.?
    Então, gostaria de sugerir ao Governo Bolsonaro uma iniciativa científica: botamos todos os deputados olavetes num veleiro, embarcamos também o ministro astronauta (para dar o contrapeso da experiência de ver a Terra de fora) e o ministro da educação (outro olavete, que vai aprender bastante com a viagem). O barco sairá do Rio, entre comemorações sambísticas e um show de pênaltis cobrados pelo Neymar, subirá a costa do Brasil, todos tomarão a famosa cajuína na foz do Parnaíba e embarcarão um tonel de rum em Cuba, que ninguém é leão. O barco fará um porto rápido na Flórida, embarcará o próprio Olavo de Carvalho e 50 caixas de Lexotan, e retornará ao canal do Panamá, onde a tripulação ganhará os melhores chapéus Panamá feitos alhures. Sempre seguindo o poente o veleiro dará a volta ao Mundo, evitando Galápagos e as confusões da evolução do místico Darwin, passando por cima da Austrália (mais uma vez, com a parada de praxe para embarcar carne de canguru salgada), seguindo pelas ilhas Maurício (com dois dias de pausa para averiguar se o dodô está mesmo extinto ou se é o chester da Perdigão), e seguindo pelo cabo da Boa Esperança de volta ao Atlântico. Parada outra vez em Fernando de Noronha, com banho de mar entre golfinhos e multa pra todo mundo pelo IBAMA e finalmente um apoteótico retorno ao Rio de Janeiro, sendo recebidos pelo séquito de araras vermelhas do Imperador Macunaíma. A Saúde inspecionará a embarcação para averiguar se não há caso de doença quarentenária a bordo e todos serão transportados para uma recepção na Urca. Na ocasião, darão seu depoimento sobre a “redondez” da Terra. Os que continuarem terraplanistas serão precipitados do morro da Urca diretamente no lago Cocito, onde Satanás os esperará abanando as asas sobre as águas geladas. Os que se converterem à visão cosmogônica moderna serão levados à praia de Ipanema, maior concentração de beldades de todos os sexos do Mundo, e daí levarão a boa nova por todo o Brasil.
    Já vejo o sucesso desse empreendimento nos jornais do Mundo todo: “Bola mata o chato!”

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