Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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BBB22, racismo reverso e minissérie ‘Caso Celso Daniel’: grande mídia liga o modo Alarme, por Wilson Ferreira

Bater na tecla diária de que a pandemia e as “mudanças climáticas” conspiram contra a economia não é o suficiente.

BBB22, racismo reverso e minissérie ‘Caso Celso Daniel’: grande mídia liga o modo Alarme

por Wilson Ferreira

Nessa semana a grande mídia entrou no modo “alarme”: eleições, tudo bem! Mas não mexam na política econômica! Afinal, foi necessário muito jornalismo de guerra para fazer o País entrar na periferia do Grande Reset Global: o capitalismo de plataforma, o neocolonialismo high-tech. Por isso, o jornalismo corporativo sente a urgência de sumir com a pauta econômica em ano eleitoral, apesar da “recessão técnica” – eufemismo para falar de desemprego, inflação etc. BBB22 na Globo, a polêmica identitária do racismo reverso da Folha, o indefectível caso Celso Daniel sempre requentado num ano eleitoral, agora em minissérie da Globoplay. E, fechando a semana, o segredo de polichinelo da rachadinha com “depoimento-bomba” da Veja. Bater na tecla diária de que a pandemia e as “mudanças climáticas” conspiram contra a economia não é o suficiente. É necessário tentar dominar a pauta com os temas alt-right das guerras culturais e o moralismo do combate à corrupção – estratégia semiótica para criar convenientes polarizações.

Este Cinegnose vem insistindo no perfeito sincronismo entre a agenda do Grande Reset Global, do Fórum Econômico Mundial, e a crise da pandemia global do Covid-19. Além de mitigar o violento crash financeiro que ocorreria em 2020 (clique aqui), acelerou o processo de reconfiguração do capitalismo que especialistas definem genericamente como “Quarta Revolução Industrial” – melhoria da eficiência e produtividade de processos por meio de “fábricas inteligentes” cujo efeito social é a exclusão: crescente contingente da força de trabalho que nem mais para ser explorada servirá.

O que vem sendo confirmado por pesquisas, sendo a mais recente a da organização Oxfam Brasil cujos resultados apontam que 26 bilionários por hora apareceram no mundo desde o início da pandemia. Por outro lado, entre março de 2020 e novembro de 2021, a renda de 99% das pessoas do planeta caiu.

“A atual estrutura econômica do mundo concentra riqueza, empobrece e mata milhões de pessoas, destrói o planeta e coloca em risco o futuro da existência humana no planeta”, destaca a pesquisa Oxfam – clique aqui.

Historicamente, em momentos como esse de saltos do capitalismo para dar conta das suas próprias contradições, as guinadas políticas para o extremismo de direita sempre acontecem como o the last minute rescue do sistema econômico. Foi assim com a ascensão do nazi-fascismo pós-crash de 1929. E no século XXI, após sucessivos crashs e derretimentos de mercados financeiros que apontaram para o esgotamento do modelo da Globalização, a escalada da “direita alternativa” por todo o planeta sustentada pelas estratégias de guerra híbrida. 

No concerto mundial do Reset Global do Capitalismo, as eleições no Brasil passam a se revestir de importância estratégica nesse violento processo de reconfiguração – violento porque essa reconfiguração necessariamente deve ser acompanhada por forte engenharia social: por meio da crise estendida da pandemia e das “mudanças climáticas” transmitir uma percepção de “neutralidade” nas transformações sociais e, com o auxílio luxuoso dos mecanismo cognitivos de guerra híbrida, sumir com a pauta dos temas de economia política (luta de classes) e canalizar os conflitos políticos para a “guerra cultural” e a pauta da luta contra a corrupção.  

Mesmo os “colonistas” da grande mídia concordam que os temas econômicos serão decisivos para as eleições desse ano: recessão, inflação, desemprego, desalento, juros estratosféricos e uma política econômica monetarista renitente que parece flertar com a volta da velha hiperinflação. 

Porém, é tudo o que a grande mídia não quer – significaria colocar em discussão princípios basilares do neoliberalismo periférico e fundamentalista para o qual todo o esforço do jornalismo de guerra foi mobilizado: reformas, privatizações e fiscalismo para liberar o butim para acionistas privados de estatais e credores do mercado financeiro.


Não pode mais falar de Economia…

Modo “reprodução” e “modo alarme”

Eleições, tudo bem! Mas desde que não mexam na política econômica pela qual tudo foi feito, da guerra híbrida ao golpe de 2016:  a perpetuação do neocolonialismo high-tech, o capitalismo de plataforma que é o destino que o Capitalismo reserva à periferia nessa nova reconfiguração do século XXI. 

O sumiço da pauta econômica da grande mídia é tão evidente que, por exemplo, os “colonistas” da área econômica Miriam Leitão e Carlos Sardenberg da Globo abandonaram sua editoria na qual se notabilizaram: a primeira, virou uma comentarista sobre políticas ambientais; quanto ao segundo, o caso é mais dramático. É escalado para falar de qualquer coisa, até para fazer obituário da carreira de Elza Soares… 

No modo “reprodução” (a gestão e vigilância cotidiana da implementação e continuidade daqueles princípios neoliberais) a grande mídia cumpre diligentemente seu papel: no dia a dia do jornalismo corporativo, os grandes vilões da “recessão técnica” seriam a pandemia (o País começava a retomada, mas… veio a Ômicron) e as mudanças climáticas (fica quente demais… ou chove demais… ou não chove nos lugares certos… efeito “La Niña… por isso represas secam e termoelétricas são ligadas…).

Porém, não é o suficiente. Por isso, nessa semana, acompanhamos evidências de que a grande mídia começa a funcionar no modo “alarme”, prevendo um ano eleitoral difícil no qual o simples modo “reprodução” não dará conta – é preciso uma pesada artilharia de bombas semióticas diversionistas. Para os “colonistas” fugirem dos temas econômicos assim como o vampiro foge das réstias de alho.

A semana começou com a manchete de O Globo: “Sob pressão, Bolsonaro ‘recicla’ estratégia de 2018, centra ataques em Lula e reforça aceno a conservadores”. 

Continue lendo no Cinegnose.

Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

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