Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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O inferno da repetição é o que ardeu nas chamas da estátua do Borba Gato, por Wilson Ferreira

Sincronicamente, Bolsonaro encontra-se com deputada da extrema-direita alemã: articulação da extrema-direita internacional como arma, sempre em stand by, aguardando os futuros momentos mais agudos do Grande Reset Global do capitalismo.

O inferno da repetição é o que ardeu nas chamas da estátua do Borba Gato

por Wilson Ferreira

O grande escritor Stephen King fala que “o Inferno é a repetição”. Então, o Inferno é aqui. As chamas da estátua do Borba Gato dão uma sensação de “déjà vu” sobre algo que não terminou bem. Sensação da qual a mídia progressista parece estar imune na sua amnésia: “um brinde para a “Revolução Periférica!”, clamam uns. “A roda da história caminhando!”, exaltam outros. False flag? Mini incêndio do Reichstag? Pouco importa saber se a tal “Revolução Periférica” (o nome, em si mesmo, já é paródico) é fato ou fake. Desde já, a ação já é um produto da cismogênese incitada no imaginário nacional pelos estratagemas diversionistas do golpe militar híbrido que já aconteceu, e ninguém viu. Arrasta o espectro político para o campo semiótico no qual a extrema direita sente-se mais à vontade: o da “guerra cultural”. Para ocultar a infraestrutura da economia política e da luta de classes no caos cognitivo da luta contra os “símbolos fascistas”. Sincronicamente, Bolsonaro encontra-se com deputada da extrema-direita alemã: articulação da extrema-direita internacional como arma, sempre em stand by, aguardando os futuros momentos mais agudos do Grande Reset Global do capitalismo.

“O inferno é a repetição”. Se esse aforismo do escritor Stephen King estiver correto, então estamos no Inferno. E o Inferno é aqui, no qual parece que vivemos e não aprendemos. 

Se foram abduzidas ou não por forças políticas oportunistas, o fato é que desde as chamadas Jornadas de Junho de 2013 um mecanismo de tic-tac perfeito pulverizou o sistema político brasileiro com a histeria do combate à corrupção, desde o Mensalão até Lava-Jato. Massas trajadas de verde-amarelo foram às ruas inspiradas por coisas como o “Vem Pra Rua” – alguns ficaram na rua até hoje, como sem-tetos em meio ao desalento do abismo econômico.

PsyOp do partido militar, com a luxuosa assessoria da Inteligência norte-americana sob o auspício da dupla Obama-Biden, forjou um grande arco político formado pela direita alternativa (alt-right), Judiciário, grande mídia e a Banca financeira para parir Bolsonaro e manter Lula fora do jogo – o golpe militar híbrido que ninguém viu, porque não foi televisionado.

Desde as eleições de 2018, a guerra semiótica criptografada de informações corre solta, criando caos cognitivo, efeito-pânico e a indefectível guerra cultural da direita alternativa como estratégia diversionista para manter a esquerda e oposições aprisionadas numa pauta midiática assim como o cão de Pavlov salivando, hipnotizado pelo toque do sino.

Parece que nada foi aprendido pelo chamado “campo progressista”, surpreendida pelo incêndio da estátua do Borba Gato (a Kitsch e horrenda estátua perpetrada por Júlio Guerra), em São Paulo, reivindicado por uma tal “Revolução Periférica”.

O revisionismo de estátuas, obeliscos, mausoléus, ruas, edificações, placas passou a ser considerado uma “necessidade do tempo presente”. Movimento global impulsionado pela onda antirracista desatada pelo assassinato do negro George Floyd, com remoções e derrubadas organizadas símbolos de reis, ditadores, generais, almirantes, escravagistas etc.

E aqui, a estátua de um bandeirante (grupo de mercenários, pilhadores e matadores de negros e índios que enchiam as burras de ouro e pedras preciosas) foi o alvo. 

“A ação de movimentos sociais e de segmentos da população questionando as homenagens é positiva, é parte integrante da luta pela hegemonia na sociedade. É a roda da história caminhando — e às vezes capotando. “Nada é permanente, exceto a mudança”, já disse Heráclito por volta de 540 a.C.”… Uau! Esse foi o tom épico e até messiânico na mídia progressista, dado por esse exemplo do jornalista e sociólogo Milton Alves – clique aqui.

Ou o tom de exortação de chamado à luta: “Abaixo todos os Borba Gatos. À Revolução Periférica, um brinde. Não haverá trégua aos racistas” – clique aqui.

De novo, assim como em 2013, a esperança do “novo” na política e de “lições que a classe política deveria aprender”…

Instrumento de guerra híbrida?

Nada parece ter sido aprendido após tantos anos e tantas evidências acumuladas sobre recorrentesfalse flags, não-acontecimentos, infiltrações de terrorismo de direita etc. que abduziram manifestações muitas vezes legítimas e que foram usadas para sequestrar pautas e desestabilizar política e economicamente um governo eleito até o seu impeachment. E o arremate final em 2018. Em outras palavras, a criação da cismogênese fundamental que polarizou e envenenou psiquicamente o imaginário nacional.

Por exemplo, as evidências encontradas em pesquisas de que os usuários que postavam os protestos nas redes sociais estavam geograficamente distantes dos protestos nas ruas e que usuários de áreas geograficamente isoladas nas hashtags do Twitter participavam remotamente das manifestações – clique aqui. E agora, o mesmo modus operandi se repete nas manifestações de rua em Cuba, com imagens dos protestos replicadas nas redes vindas de outros países – clique aqui.

A essa altura, pouco importa saber se o “Revolução Periférica” é um instrumento de guerra híbrida ou um autêntico levante das periferias contra o racismo e o preconceito que as condena à violência policial e a miséria.  

Ela é o produto dessa cismogênese que confina o espectro político dentro do horizonte de eventos que a direita alternativa impôs pelas operações psicológicas: o horizonte da guerra cultural e de costumes.

Criação de cismogêneses em guerra híbrida se trata de gestar o caos a partir de pontos fracos, feridas abertas no imaginário social, os “botões” a serem apertados numa psyop. No caso do Brasil, os dois “botões” são o militarismo e a escravidão – duas feridas jamais cicatrizadas cujos imaginários ativam duas cismas: a eterna tensão de um possível golpe militar (que já foi executado e ninguém percebeu, acreditando que as instituições estão “funcionando”) e os subprodutos da velha ordem escravocrata: racismo, preconceito, intolerância, ódio de classe etc.

Continue lendo no Cinegnose.

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

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