Uma análise realista do que está ocorrendo na Ucrânia, por Marcus Atalla

Para Martyanov, em momentos de guerra surgem um monte de amadores para falar sobre o assunto e quando amadores falam de guerra, discutem estratégia e não de logística. Baseiam-se em rumores.

Foto Alami News

Uma análise realista do que está ocorrendo na Ucrânia

por Marcus Atalla

Andrei Martyanov, perito em questões militares e navais, nascido em Baku (RU), formado na Academia Naval Bandeira Vermelha em Kirov, atualmente trabalha como Diretor de Laboratório num grupo aeroespacial comercial nos EUA. Além de um renomado autor de diversos livros, é considerado por muitos jornalistas geopolíticos, como um dos melhores analistas da atualidade.

Dia 13, Martyanov fez uma análise do que realmente está acontecendo na Ucrânia. Salienta ser a partir das poucas informações confiáveis que se pode conseguir. Para ele, em momentos de guerra surge um monte de amadores para falar sobre o assunto e quando amadores falam de guerra, discutem estratégia e não de logística. Baseiam-se em rumores.

Ele considera que, dentro do possível, as informações mais fidedignas foram as do Ministério de Defesa russo. Houve a destruição de cerca de 389 tanques, 770 veículos blindados e de 1200 outros equipamentos ucranianos. O ocidente ainda não aprendeu que o Putin diz a verdade. 99,9% do que disse que faria, é o que ele fez. Muito diferente dos políticos e generais ocidentais, que dizem uma coisa e fazem outra.

N. do A.: Aquele dito popular é correto: “Enquanto os russos jogam xadrez, os americanos jogam poker”, os estadunidenses pensam que todos são blefadores como eles.

Os militares estadunidenses estão usando a Tempestade no Deserto – guerras no Oriente Médio – como modelo para analisar a situação na Ucrânia, não tem nada a ver, não chega nem próximo. A maioria desses generais são cientistas políticos que nunca estiveram em um campo de batalha, numa situação real. Na Síria foi uma coisa, mas quando se tem apoio de fogo aéreo, pessoas com feridas horríveis, destruição da comunicação, é totalmente diferente.

O bombardeio de Yavorov Range, onde os mercenários estrangeiros e “conselheiros” da CIA e da OTAN estavam treinando as forças Neonazis, acabou com a estratégia dos EUA, que estavam preparando uma contraofensiva. Pelo menos 180 mercenários morreram de uma vez só, não se sabe o número de feridos, mas provavelmente são bastantes, portanto, não voltarão ao combate tão cedo.

Esses “soldados da fortuna” -mercenários – são os que mataram e matam civis em todos os lugares, Afeganistão, Síria, Iraque. Na verdade, são usados como propaganda, mesmo um número grande desses mercenários amadores reunidos para treinar, como o brasileiro e muitos outros, não mudam nada na guerra. Para se combater é preciso ser uma unidade ou subunidade, saber o que se está fazendo e trabalhar em conjunto.

O que sobrou da base de Yavorov Range:

Martianov ainda comentou sobre o brasileiro que apareceu no twitter: “Um fanboy do Brasil que está vivo acidentalmente e dizia que mataria russos, pelo menos agora ele entendeu o que é uma guerra de verdade, bem-vindo ao mundo real. É isso que é uma guerra!” É muito diferente daqueles mapas coloridos com setas e círculos. Martianov ainda deixou um recado: “Garotos e garotas, não tentem, não venham!”

Estratégia Russa

Sem ter informações substancialmente confirmadas, Martyanov não pode falar dos assuntos operacionais. Porém, agora que a névoa dos dias iniciais está dissipando, ficou claro de perceber a estratégia e objetivos adotados.

“Putin deixou claro o que iria fazer quando disse em desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia, falou sério!” As Forças Armadas Russas estão destruindo de forma sistêmica e contínua toda a máquina militar das Forças Armadas ucranianas, incluindo os batalhões nazistas.

As Forças Armadas Russas estão fazendo vários movimentos de pinça, cercando as diferentes forças ucranianas e isolando-ás uma das outras. Não há mais comunicação entre elas, não há mais um comando central. Agora são vários grupos isolados sendo fagocitados. A estratégia usada pelos russos é de sitiar as cidades, depois eles abrem corredores humanitários para os refugiados e a população sair, e voltam a apertar novamente, impedindo o fornecimento de suprimentos das forças armadas do governo para estes grupos.

As forças ucranianas estão ficando sem combustível e suprimentos. Elas deixaram de existir como uma força armada organizada. Nas cidades do leste já controladas, como Mariupol, a Rússia já está fazendo pagamentos sociais e pensões à população. Isso funciona melhor que o uso de tanques e de qualquer calibre. Há muitos ucranianos que querem ser neutros, e isso os faz constatar a realidade.

  • Mapa traduzido do cerco em Mariupol, semana passada. (*) DPR – Republica Popular de Donetsk – Donbass.

O que estamos vendo é o fim da fase 1, a desmilitarização da Ucrânia, a destruição dos equipamentos militares dos neonazistas e da máquina de repressão está completa. O objetivo da Rússia agora é a fase 2, destruir as forças armadas ucranianas e nazistas.

A trituração dessas forças continuará, os nazistas e mercenários capturados vivos serão julgados por crimes de guerra. Mantê-los vivos é um valioso recurso, são testemunhas do que aconteceu e do que os EUA e a OTAN fizeram. O ocidente está falando que a Rússia irá ocupar a Ucrânia, essa ou aquela cidade, pois bem, ela não irá, isso não é necessário, não precisa disso quando as Forças Armadas ucranianas estiverem desmanteladas e desarmadas. Os russos sempre estiveram no controle da situação, com uma estratégia bem definida e até agora, tudo está saindo como o planejado.

N. do A.: A estratégia da Otan/EUA é que a Ucrânia se torne um Vietnã ou Afeganistão para os russos. Fiquem anos gastando recursos, dinheiro e homens. Foi justamente isso a derrocada dos EUA, os trilhões gastos nas guerras eternas. Os russos sabem disso e não cairão nessa.

O Sistema Mundo

O Ocidente inventa que agora, as sanções econômicas irão punir a Rússia, agora, irão punir a China. A China fará algo para ajudar a Rússia. “A China está se tremendo de medo com as declarações de Sullivan. Por isso que seu comércio continua crescendo tremendamente.” Declaração de Sullivan ao qual Martianov referiu-se: “É uma preocupação nossa”, continuou ele, “e comunicamos a Pequim que não vamos ficar parados e permitir que nenhum país compense a Rússia por suas perdas com as sanções econômicas“.

Continua Martyanov: A notícia realmente interessante é que a Índia está próxima de criar um sistema de pagamento alternativo ao Swift e isso é a completa desdolarização da economia em toda sua glória. [O jornal GGN publicou semana passada sobre a adoção da rupia indiana pela Rússia].

N. do A.: A Índia tem divergências com a China, não quer uma dependência econômica, por isso irá criar o seu próprio sistema ao invés de aderir ao CIPS chinês.

Se você é uma superpotência armamentista como a Rússia, ou uma superpotência econômica, como a Índia, que também tem armas nucleares, você pode fazer o que quiser. Os EUA não farão qualquer coisa, mas se você for uma Venezuela ou uma Líbia, eles te bombardeiam, mudam seu regime, destrói a sua economia e propriedade. Isso vem da doutrina de Michael Ledeen do American Enterprise Institute, desde Reagan. É uma doutrina de neocon, a cada ano pegamos um país de “merda”, jogamos ele contra a parede, para mostrar ao Mundo nosso poder.

Contudo, com a Rússia não deu certo. O que está acontecendo agora não é o isolamento da Rússia, é o isolamento do Ocidente. A maior parte da população do mundo está no Oriente. Acreditam que essas populações gostam de verem essas sanções e destruição feitas pelo ocidente? Óbvio que não, o que acontecia era que estavam com medo, mas agora poderão falar. O equilíbrio de forças mudou drasticamente a favor da Eurásia.

As pessoas têm que entender que essa situação não é favorável para o ocidente como estão falando na mídia. Estamos lidando com a possibilidade da Rússia desligar a energia toda que vem para o ocidente. Olhem o preço do gás e do petróleo. A Rússia nem sequer começou suas contrassanções ao ocidente. Os EUA estão batendo no peito e falando: “Olhem, vejam como somos grandes!”.

A verdade é que não são. Quando se é, não precisa ficar falando besteira o tempo todo, como as elites ocidentais fazem. Eles estão apenas expondo suas fraquezas e suas suscetibilidades pelos danos que infligiram a si mesmos. Há uma mudança de paradigma.

Marcus Atalla – Graduação em Imagem e Som – UFSCAR, graduação em Direito – USF. Especialização em Jornalismo – FDA, especialização em Jornalismo Investigativo – FMU

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Redação

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