Pimp my tank, ou quando parei de ter medo de um golpe de Estado

Bolsonaro conseguiu apenas humilhar a Marinha e o Exército. Aqueles tanques deveriam estar num museu militar

Por Fabio de Oliveira Ribeiro

Reunidos no alto da rampa que dá acesso ao palácio, o presidente da república vários marechais observam o desfile militar organizado pelo Exército e pela Marinha: 150 tanques passam expelindo fumaça em velocidade moderada em frente das autoridades.

Vários dos tanques orgulhosamente exibidos em 10/08/2021 são modelos antigos utilizados pelos EUA na Guerra da Coreia e na Guerra do Vietnã. Mas eles foram reformados e pintados especialmente para a ocasião, algo que motivou a escolha do título deste texto. Aliás, não ficarei surpreso se a TV Brasil, também conhecida como Golpe TV, resolva fazer um novo reality show com o nome Pimp my tank usando funileiros navais como protagonistas.

Se queria fazer uma demonstração de força, Bolsonaro conseguiu apenas humilhar a Marinha e o Exército. Aqueles tanques deveriam estar num museu militar. Amanhã alguns deles provavelmente precisarão de manutenção, pois é evidente que eles são extremamente frágeis. Numa guerra de verdade aqueles cacarecos provavelmente não durariam mais do que alguns minutos.

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O orçamento das Forças Armadas é colossal. Mas elas estão extremamente mal equipadas. Isso ficou claro durante o desfile. A questão então é descobrir o motivo pelo qual o Brasil gasta tanto com o Ministério da Defesa se não existem equipamentos militares modernos à disposição do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.

A resposta para essa pergunta é singela: o dinheiro grosso é gasto com os salários e pensões. Milhares de filhas solteiras vivem uma vida de luxo à custa dos cidadãos. E agora que centenas de generais receberam aumento e foram promovidos a marechais vai sobrar menos para modernizar a defesa do país.

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Se desejavam iludir a população, os generais cometeram um erro mortal. Ao fim da tanqueata enfumaçada só uma dúvida ficou no ar: a agência governamental encarregada de monitorar a qualidade do ar em Brasília vai ou não multar o Exército e a Marinha pelo excesso de fuligem expelida pelas refugos antigos que desfilaram em frente ao Palácio do Planalto?

O golpe dos funileiros navais não convencerá ninguém. Well… talvez convença os colecionadores europeus, norte-americanos e chineses de tanques antigos a visitar os comandantes militares para comprar as relíquias que eles exibiram orgulhosamente nas ruas. Se leiloarem aqueles cacarecos eles poderão acrescentar mais algum dinheiro às pensões de suas filhas solteiras.

O Ministro Dias Toffoli indeferiu o pedido para cancelar o desfile feito pelo PSOL, dizendo que a questão deveria ser julgada pelo STJ. O excesso de judicialização da política desaguou na militarização eleitoral que produziu o princípio do juiz com o fiofó trancado pelo medo. Assim nasceu o desativismo judicial.

Desde 2016 nós vivemos num país sem constituição. Numa democracia sem povo. Num Estado ilegítimo. 200 milhões de pessoas oprimidas pela ganância de oficiais militares que só pensam em cuidar de seus salários e das pensões de suas filhas solteiras. O Brasil é uma nação que foi invadida por suas próprias Forças Armadas. Felizmente a impotência delas é um fato confirmado pelas imagens da tanqueata.

Hitler dizia que a URSS era um edifício podre. Quando o III Reich chutasse a porta dele a estrutura toda desabaria. Os russos, porém, não estavam tão desarmados. Quando finalmente começaram a se deparar os tanques T-34, caças Sturmovik e foguetes Katyusha, os alemães ficaram extremamente surpresos.

No caso do Brasil não haverá surpresa. Em caso de invasão, nossas Fraquezas Desarmadas não aguentariam o tranco.

O desfile de ontem revelou a estratégia dos generais para conquistar e/ou preservar o poder: ameaçar a população brasileira com um punhado de tanques antigos. Todavia, a tanqueata bolsonarista também mostrou ao mundo que nosso país está podre. Se o Brasil for invadido por uma potência qualquer, a esmagadora maioria da população aplaudirá os invasores se eles prometerem dissolver o Exército, a Marinha e a Aeronáutica em troca de ½ do que nós gastamos com os militares e suas filhas solteiras inúteis.

Bolsonaro é fã declarado dos nazistas e um adepto da construção e difusão de “mensagens simbólicas”. Portanto, devemos olhar a tanqueata com um olhar oblíquo, dissimulado e de ressaca.

Hitler fez questão de fazer os franceses admitirem a derrota na II Guerra Mundial no mesmo vagão de trem em que a Alemanha havia assinado o armistício que encerrou as hostilidades da I Guerra Mundial. Notei que, apesar da pintura diferente, alguns daqueles tanques que desfilaram em 10/08/2021 eram idênticos aos que foram exibidos pelos militares durante o golpe de 1964. Talvez sejam os mesmos. Essa foi uma exigência especial feita pelo Führer bananeiro para homenagear Castelo Branco? Talvez fiquemos sabendo a verdade daqui há 100 anos, pois isso provavelmente será classificado como um segredo de estado.

Uma coisa é certa. O Brasil tem Marechais, mas não ter Exército nem Marinha. Tem uma imensa despesa militar, mas não tem equipamentos para se defender. Tem militares orgulhosos que envergonham a democracia. E tem uma infinidade de filhas solteiras sustentadas com as pensões dos oficiais que morreram ameaçando o povo.

Cada general-marechal-imperial brasileiro custa 100 mil reais (um pouco mais se levarmos em conta as putas e os coquetéis com caviar pagos com dinheiro público). Eles usam fraudas geriátricas atômicas. A arma secreta deles é o míssil futebolístico, com o qual os times de cabos e sargentos jogam os destinos do mundo contra as equipes de tenentes e capitães sob o olhar atento dos coronéis que negociam vacina em troca de propina.

Durante a II Guerra Mundial, uma unidade do glorioso Exército Vermelho se recusou a seguir em frente enquanto não recebesse sua ração de vodca. Os generais brasileiros são borbulhantes, movidos à champanhe. Em caso de guerra eles já fizeram um pé-de-meia suficiente para fugir do país?

Fábio de Oliveira Ribeiro, 22/11/1964, advogado desde 1990. Inimigo do fascismo e do fundamentalismo religioso. Defensor das causas perdidas. Estudioso incansável de tudo aquilo que nos transforma em seres realmente humanos.

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

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Fábio de Oliveira Ribeiro

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