Gilberto Maringoni
Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.
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A Constituinte envenenada de Guedes e Bolsonaro, por Gilberto Maringoni

O país está se tornando um barril de pólvora social. Estamos na fase de resistência. É preciso ajustar as táticas de luta à nova realidade.

Foto Sergio Lima

A Constituinte envenenada de Guedes e Bolsonaro

por Gilberto Maringoni

O que Bolsonaro e Guedes levaram ao Congresso é uma nova Constituinte. Sem mais nem menos. As novas PECs alteram radicalmente o funcionamento do Estado e suas relações com a sociedade.

A tática é ousada. No terreno da política e da disputa de hegemonia, colocaram a mídia de joelhos, impuseram uma pauta diversionista – AI-5, casa 58, fake news etc. – e contaram com um movimento social golpeado desde 2015 por uma recessão planejada que abriu caminho para o desmonte do movimento sindical.

Há muitos bodes na sala. É pouco provável que a extinção de municípios prospere. O centro está na proposta de mudança no artigo 6º. da Carta:

“Parágrafo único. Será observado, na promoção dos direitos sociais, o direito ao equilíbrio fiscal intergeracional.”

Ou seja, constitucionaliza-se o ajuste fiscal.

É essa linha que baliza o arrocho no funcionalismo, a virtual extinção do SUS, a precarização laboral, o fim dos reajustes do salário mínimo, a quase extinção do investimento público e a dominância do financismo.

Vale comparar a ousadia extremista de Bolsonaro e Guedes em onze meses de gestão com a passividade bovina de 13 anos de administração que evitou realizar mudanças estruturais no país. A vida melhorou muito entre 2003-16. Mas isso se deu em espaços consentidos, que não tocaram interesses dos bancos, da imprensa, dos donos da terra e do dinheiro.

Pagamos caro pelo cavalo-de-pau na política econômica sem combinação prévia com o eleitorado. Pagamos pelo legado de 12 milhões de desempregados e por uma depressão que acarretou a queda de 8% do PIB.

Não há prostração possível. O país está se tornando um barril de pólvora social. Estamos na fase de resistência. É preciso ajustar as táticas de luta à nova realidade. A esquerda precisa estar sintonizada às dores e carências da população e se colocar diante dos problemas reais do emprego, do salário, da fome, da saúde etc.

É urgente traduzir o estupro constitucional em cinco pontos claros, sintéticos e compreensíveis.

Será duro. Mas nunca ninguém se colocou do lado canhoto da sociedade esperando sombra e água fresca.

(De uma conversa com Artur Araújo)

Gilberto Maringoni

Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.

1 Comentário

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  1. É inegável a super bem sucedida trajetória de uma pessoa semianalfabeta, de mesmo perfil daquelas que comparecem diariamente ao botequim da esquina, bebem uma coisa ou outra e ficam de conversa fiada até a hora da janta e do JN, afinal, sempre acreditam que precisam estar bem informados.
    Pensei que esta figura fosse posta prá correr em seis meses de governo, mas errei redondo. O nosso presidente eleito pela internet e sem ter comparecido a nenhum debate televisivo (bendita facada), em minha opinião não chegou ao trono por acaso, teve o apoio maciço de uns poucos com bolso muito cheio $$$, e estes poucos devem estar extremamente contentes com os resultados obtidos até agora pela sua marionete, reforma trabalhista, reforma da Previdência, privatizações sem qualquer tipo de limite, o fatiamento escandaloso da Petrobras, etc…, é muita felicidade em tão pouco tempo.
    Os financiadores da destruição em curso não se importam com o país, este sempre serviu para lhes dar rios de $$$ e nesta tacada de mestre irã centenas de bilhões de dólares para os seus bolsos.
    Muitos dos tais financiadores nem moram aqui, seus filhos estudam no exterior e, vez por outra, passam uma temporada por aqui, prá fugir do frio. E ainda falam mal do país, não se envergonham de cuspir no prato em que comem.
    Portanto, este presidente eleito está muito bem ancorado e só perde a vez se acontecer algo realmente impressionante, muito embora participar do assassinato de alguém não seja pouca coisa.
    A marionete faz o que lhe cabe e, muito possivelmente, terá uma bela conta num paraíso fiscal à prova de curiosos, algo como a ilha de Jersey. Quanto às dezenas de brasileiros que sofrerão fantásticos prejuízos, que se danem.

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