A Globo sempre está do lado errado da história, por Dilma Rousseff

Embora tenha chamado atenção para um problema essencial da sociedade brasileira e reforçar causas estruturais, como o racismo, sonegou de seus telespectadores a verdade sobre a crise social pela qual o país está passando.

A Globo sempre está do lado errado da história

por Dilma Rousseff

Em longa reportagem exibida ontem, o Fantástico, da Rede Globo, apontou o aumento da desigualdade no Brasil a partir de 2016, revertendo o processo ocorrido desde o início dos anos 2000. Embora tenha chamado atenção para um problema essencial da sociedade brasileira e reforçar causas estruturais, como o racismo, sonegou de seus telespectadores a verdade sobre a crise social pela qual o país está passando.

Atribuir, como nas primeiras frases da reportagem, a atual crise por que passa o Brasil a fatos ocorridos em 2015 e 2016 é uma manipulação da história. O Fantástico omite que fui impedida de governar em 2015, esconde que fui afastada de fato do governo em maio de 2016, e omite cinco anos dos governos Temer e Bolsonaro, em que o Executivo se dedicou, cotidianamente, a boicotar o crescimento do Brasil, a dilapidar o patrimônio da Nação e a eliminar direitos dos trabalhadores, do que são exemplo a emenda constitucional do teto de gastos, as reformas trabalhista e previdenciária. São cinco anos de escolhas políticas, todas apoiadas pela Rede Globo, cujo principal resultado foi a volta da fome e a ampliação da pobreza e da desigualdade no Brasil. Esconder dos telespectadores estes fatos é mais que desonesto, é a metódica e deliberada disposição da Rede Globo de interferir de forma perniciosa nos rumos políticos do País.

Os telespectadores mereciam saber, por exemplo, que a economia brasileira está hoje em 12ª posição no mundo, e caindo. Deveriam ser informados ainda que durante o meu governo estivemos sempre entre as oito maiores economias do mundo.

Toda a imprensa noticiou que a insegurança alimentar grave havia recuado de 8,2% da população em 2004 e para 5,8% em 2009, segundo pesquisa do IBGE. Em 2013, a proporção havia cedido para 3,6%. A melhora tirou o Brasil do Mapa Mundial da Fome em 2014, segundo relatório global divulgado à época pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

O Fantástico falseou a verdade, ao esconder a informação relevante de que a queda do PIB em 2015 e, até maio de 2016, quando de fato fui afastada do governo, se deveu, em grande parte, à crise política gerada pelo boicote ao meu governo no Congresso e pelo processo de impeachment, que inibiu a atividade econômica e, assim, reduziu a arrecadação tributária. Tudo com o devido respaldo e apoio da Rede Globo.

Praticamente desde a minha posse, ao longo do primeiro semestre de 2015, o Congresso mobilizado pelo golpista Eduardo Cunha atuou ativamente para desestabilizar economicamente o governo, por meio das chamadas pautas-bombas, que forçavam a ampliação das despesas com as quais o Tesouro não conseguiria arcar.

Ao mesmo tempo, impedia a aprovação de projetos com os quais pretendíamos enfrentar as dificuldades fiscais, como a retirada da isenção das grandes empresas. Na época, a própria imprensa noticiou o processo permanente de sabotagem de Eduardo Cunha, na verdade uma verdadeira pré-estreia do que viria a ser Jair Bolsonaro em termos de pauta neoliberal na economia e conservadora nos costumes.

No 2º semestre de 2015, impulsionado pelos golpistas, ganhou força a tese do impeachment, cujo processo foi aceito pelo presidente da Câmara, em dezembro. Ficou claro que o país entrara naquele momento em estado de semiparalisia política e quase anomia econômica.

Em 12 de maio de 2016, fui afastada do cargo de presidenta da República, por força da abertura do processo de impeachment pelo Senado. Não voltei mais ao cargo para o qual havia sido eleita democraticamente. O boicote, iniciado em 2015, deu frutos em 31 de agosto de 2016.

Além de ter escolhido culpar pela crise atual alguém que está fora da Presidência há cinco anos, o Fantástico silenciou de maneira maliciosa sobre outros fatos relevantes mostrados em sua reportagem. Silenciou sobre a desastrosa política econômica de Paulo Guedes, a criminosa omissão do governo Bolsonaro diante do Covid-19, que transformou o Brasil no segundo país com maior número de mortes. Silenciou ainda sobre a inanição das políticas sociais e de saúde, silenciou sobre a política de abastecimento de alimentos do país, silenciou sobre o acesso à habitação. Enfim, calou-se sobre o aspecto multidimensional do combate à miséria a à pobreza.

E silenciou porque concorda e apoiou todos os fatos relevantes responsáveis pelo atual desastre econômico, notadamente a política de restrição fiscal.

Quando exibiu personagens que contaram que a vida deles havia sido boa no passado, não informou que este passado foi o governo Lula e o meu governo.

Quando falou que a desigualdade no Brasil caiu de forma intensa no início dos anos 2000 até 2015, omitiu que este foi exatamente o período dos governos Lula e Dilma.

Quando mostrou uma economista francesa ganhadora do Nobel afirmando que as cotas raciais nas universidades e o Bolsa Família foram decisivos para reduzir a desigualdade e a fome no Brasil, deixou de lembrar que estes dois programas foram implantados por Lula e por mim.

E quando fez menção ao fato de que, apesar da crise atual, todas as crianças frequentam a escola, mais uma vez deixou de gastar pelo menos alguns segundos dos mais de 14 minutos da reportagem para lembrar que esta condicionalidade sempre fez parte do Bolsa Família, o mais bem sucedido programa de transferência de renda do mundo, criado pelo PT.

O Brasil precisa enfrentar e superar sua estrutural desigualdade e exclusão e precisamos muito falar sobre estes desafios. Mas não será distorcendo fatos, montando uma avalanche de “fake news” e omitindo quem estava no governo quando que este processo mais avançou que a Globo contribuirá para isto. Não é escondendo as conquistas do período do PT nem a destruição promovida pelos governos golpistas e de extrema direita que a Globo ajudará este processo.

Como vem fazendo ao longo da história brasileira recente, o Grupo Globo é um dos grandes responsáveis pela desigualdade e pelo atraso no desenvolvimento do País, ao sempre defender ajustes recessivos sobre os ombros da população. Por isso, a Globo sempre esteve do lado errado da história.

11 Comentários

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  1. Globo suja, a burguesia suja. Querem manipular as populações negras falseando as questões raciais como questões pontuais sem relação com as estruturas sociais. Lula e Dilma,junto com movimentos negros e outros movimentos, partidos e forças populares e democráticas revolucionaram a sociedade brasileira. Estes governos é que geraram a sinergia necessária produtora das transformações, até então, inéditas em nossa história. Com o fortalecimento das populações negras, das mulheres, das populações do norte, nordeste e periferias diversas das grandes e médias cidades, assim como fortaleceu toda classe trabalhadora, durante 13 anos!.

  2. A reportagem é uma fraude, a emissora tenta apagar o legado dos 3 governos do PT com mentiras e omissão de informação, uma vergonha atribuir a atual crise ao segundo mandato Dilma que foi boicotada por edardo cunha, mídia, congresso desde o começo do segundo mandato. A globo é uma vergonha, continua mentindo para o povo que só se informa através da globo, e torna o PT invisível qdo é para falar bem do legado do PT, O PT só existe para a globo para ser criminalisado.

    1. Murdoch está aí para demonstrar o contrário. Chega de viralatismo. Em qualquer lugar, a mídia tem lado. E defende seu lado. Chama-se luta pelo poder, luta de classes.

  3. Eu ja havia sido censurado no DCM e no Tijolaco pq lá é descarado o patrocínio Petista. Agora aqui no Nassif é a primeira vez 🙂

  4. Coluna do Ricardo Feltrin (UOL)

    Ontem esta coluna trouxe dados inéditos sobre audiência da TV e do streaming no Brasil. A coluna informou como a Globo registrou em outubro o pior índice de audiência mensal em quase dois anos e que, além disso, foi o pior outubro desde 2015.
    Na comparação com outubro do ano passado a Globo perdeu mais de 6% de ibope. E não só ela: com exceção da Record, todas as outras TVs abertas também registraram queda. Motivos não faltam Embora ainda seja o mais importante veículo de comunicação para a publicidade e seja o único entretenimento doméstico de pelo menos 80 milhões de pessoas (sendo que 55 milhões delas estão abaixo da linha de pobreza), a TV aberta vê fuga de público para outras telas, como a do celular. O que mais chama a atenção é o crescimento do consumo de streaming por meio de aparelhos de TV. Isso certamente é outro motivo que explica a perda de público da TV aberta.

    – Veja mais em https://www.uol.com.br/splash/noticias/ooops/2020/11/10/assista-a-explosao-do-consumo-de-streaming-no-brasil.htm?cmpid=copiaecola

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