A importância de se enxergar o momento, por Alfeu
A primeira imagem que surgiu em mente é o de uma águia que voando a não sei quantos metros de altura , subitamente localiza a sua presa, que de cima é um minúsculo ponto ambulante.
Esse pensamento veio de um texto que motivou esse post.
A procura da informação pode ser determinada pela linha do tempo, onde um fato qualquer se localiza obviamente; no passado, no presente ou possivelmente no futuro. Essa divisão acaba determinando, de uma forma geral, o campo de atuação de um estudioso, um profissional, um pesquisador ou qualquer outro.
Um historiador tem a sua fonte maior o passado, que ao trazer para o tempo presente podemos entender os fatos recentes, como também tentar visualizar o futuro.
Atento às movimentações diárias, o jornalista tem como grande desafio se distanciar do presente para uma melhor analise; já que ele está imerso nesse período de tempo. Invariavelmente, precisam recorrer ao passado recente e sinalizar para um futuro quase que imediato, não por limitações do profissional, mas é o curto espaço de tempo a ser coberto que se impõe.
Todos eles tentam visualizar o futuro baseado em todo o material disponível desde lá de trás, mesmo assim é incerto. De qualquer forma, alguns conseguem ter as suas previsões concretizadas e elas acabam sendo o cartão de visitas de alguns, outros não conseguem ser minimamente mencionados.
A medida que o tempo vai passando, um turbilhão de situações, fatos, acontecimentos, fenômenos naturais, vão sendo produzidos; e assim, inúmeras informações, em forma de imagens e textos , vão passando em nossa frente sem que consigamos visualizar profundamente, digerir, examinar todas elas.
Mas no meio desse caos, que é a realidade, um pequeno ponto quase imperceptível para a maioria, chama a atenção de um observador mais atento, que enxerga a sua importância.
“Blogs, fóruns e intolerância” (aqui) é o título assinado pelo Nassif que para o seu leitor assíduo provavelmente não vai se surpreender; a abordagem é bastante familiar. Mas considerando que foi publicado em 2005, a dimensão torna-se outra. Naquele momento, o jornalista percebe a pulsação do ovo da serpente, cuja postura havia sido feita há quase duas décadas.
Vivia-se e respirava-se o “mensalão”, a mídia corporativa ainda comandava as narrativas e era importante na montagem de realidades. Mas naquele momento surgia outras formas e outros personagens nesse campo de informação, “modelando” percepções.
Algo estranho não só pairava no ar, mas se disseminava pelo ambiente político e atingia o dia a dia do cidadão; o cheiro não era nada bom. Cinco anos depois, as primeiras fissuras na casca do ovo.
A campanha presidencial de José Serra, em 2010, é a que começa a utilizar as novas mídias para a propaganda política e ao mesmo tempo serve como uma ferramenta para difundir fake news, lançando campanhas sórdidas de desqualificação de adversários, gerando um acirramento extremo. Começava-se ali, a prática de se arregimentar um exército privado para esse fim.
No programa que finalizava a campanha de Serra não havia uma mensagem política, era na verdade um recado obscuro.
O vídeo não era a expressão de um desejo e nem a imagem de uma bola de cristal. Os velhos estereótipos estão ali, que ainda se mostram eficientes em todos os níveis; algumas datas e personagens impressionam pela verossimilhança com os acontecimentos que se sucederam, sugerindo um “script”.
Fica claro também que, depois de um golpe, o personagem no vídeo que era aclamado por uma multidão,não era o Serra. Este apenas emprestava a sua imagem, abrindo espaço para um clima barra pesada que se avizinhava, sintonizado com o chamado mundo desenvolvido.
Daí em diante o tom da política seria dado pela forma da campanha de Aécio Neves, o intocável; em contraste com Serra, que agora é investigado e processado; não é da turma.
Ainda não se sabia quem seria o escolhido; mas depois de anos de instabilidade preparada, hoje já temos clareza qual o perfil que se procurava.
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