A nova velha revolução: em vez do corte de custos a gestão focada no reconhecimento, por Luis Nassif

Fundação Dom Cabral oferece uma imersão a Executivos sob o tema “o que vou legar para minha empresa”. Ou seja, daqui a dez, vinte, trinta anos, o que do meu trabalho ficará registrado na vida da empresa. Trata-se de um valor intangível e extremamente relevante na motivação das pessoas

Nos anos 90 houve um salto na gestão no Brasil. O fim da inflação e a abertura da economia promoveram dois movimentos relevantes.

No plano mais básico, os programas de qualidade, dos quais o maior nome foi o INDG, de Vicente Falconi.

No plano mais sofisticado, as escolas e consultorias de planejamento estratégico, com destaque para a Fundação Dom Cabral, o Coppe (da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e a Poli (ligada à Universidade de São Paulo) e consultorias estrangeiras como a McKinsey.

Os programas de qualidade foram relevantes para o bê-a-bá da gestão, os mapeamentos, e mensuração e a racionalização dos processos internos. Dado o primeiro passo, a empresa estava apta a absorver conceitos mais sofisticados.

Foi nesse ponto que a gestão empacou. As sucessivas crises da economia brasileira abriram espaço para a entrada agressiva dos fundos de investimento adquirindo empresas familiares, investindo em setores tradicionais (desde empresas de alimentação até redes de padarias, de restaurantes, lojas de conveniência, empresas de serviço).

Com o capital trouxeram a gestão de resultados no curtíssimo prazo. Trouxeram CEOs com participação nos resultados e a idéia fixa do corte de custos. E a busca de resultados sempre para o balanço seguinte inibiu qualquer visão de longo prazo da empresa.

O longo prazo exige investimentos em inovação — e eles comprometiam os resultados trimestrais ou o balanço anual. Exige, também, a identificação de vulnerabilidade de médio prazo, como a questão ambiental, a segurança das operações, as análises de risco. Nesse momento, o grande marqueteiro Vicente Falconi apostou na imagem de exterminador de custos, embalado pelo modo Jorge Paulo Lehmann de ser. Afinal, quem iria contestar o modelo de gestão de um brasileiro que se tornara dos investidores mais ricos do planeta?

E, de curto prazo em curto prazo, foram caindo os campeões nacionais do modelo Falconi, Sadia, Vale, BRF, Unibanco, todos eliminados pela visão do CEO genérico – aquele especializado unicamente em identificar onde cortar sem se preocupar com o amanhã.

Agora, o curso mais atraente da Fundação Dom Cabral oferece uma imersão a Executivos sob o tema “o que vou legar para minha empresa”. Ou seja, daqui a dez, vinte, trinta anos, o que do meu trabalho ficará registrado na vida da empresa. Trata-se de um valor intangível e extremamente relevante na motivação das pessoas: o reconhecimento, o legado, algo que passa a décadas de distância do tecnicismo vazios dos burocratas.

O grupo Ultra levará para sempre o legado de Paulo Cunha. Lembro-me de Luiz Garcia, de uma empresa de telecomunicações de Uberlândia, montando um seminário para tentar enxergar como seria a empresa daqui a 100 anos, e o que fazer para caminhar na direção pretendida. Ou dos quatro sócios da Natura, com sua visão sistêmica, englobando tecnologia, sistemas de vendas e internacionalização.

No setor público deveria vigorar, mais ainda, esses princípios. A pessoa que chega a um alto cargo, um Ministro do Supremo, um Procurador Geral da República, um Ministro de Estado, um Presidente da República, o que pretende deixar de legado?

No entanto, o imediatismo se alastrou em todas as instâncias institucionais. O único longo prazo que pensam é na herança para os filhos.

O tsunami Bolsonaro pelo menos terá o condão de despertar a alma brasileira para os aspectos efetivamente relevantes para a construção de um país.

Luis Nassif

7 Comentários

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  1. O estrago é duradouro, numa palavra, estrutural.

    Na infra estrutura, por assim dizer, grande parte das empresas, mesmo as não financeiras tem grande parte dos seus ativos na forma financeira, de modo que, se os juros básicos da economia diminuem, os preços imediatamente sobem, mais custos são “empurrados”, para manter a receita “planejada”. Em relaçãoi à demanda, depois dá-se um jeito, bota a culpa no marqueting, nos vendedores, nos distribuidosres, o que for…

    Na “superestrutura” correspondente está o que eu chamo de “papo MBA”. Isso aíi, Nassif, é o que dizem, “educação é pra ‘sempre'”. Esses cursos se expandiram nos EEUU na virada dos anos 70/80 para tirar a mentalidade burocratica das corporações norte americanas diante da concorrencia japonesa. Desembaracaram por aqui um pouco depois, e o pessoal aprendeu a falar ingles melhor.

    Só umas duas gerações pra desmistifificar isso.

  2. Jornalista Luis Nassif.Sua atencao para uma xarada LAVA JATO.Quem orientou o salafra judmoro nesta destrutivo e sinistro golpe.o PORQUE DE SER REPUBLICA DE CURITIBA A VOZ DO GOLPE CONTRA OBRASIL. Inicio o doleiro Yuseff NAO RESIDIA EM CURITIBA MAS EM SAO PAULO CAPITAL.Estas apuracao deverian correr na Cidade do Rio de Janeiro a sede da Petrobras.Triplex em Guaruja ,Sao paulo Sitio de Atibaia Sao Paulo Capital etc.Na detencao arbritaria a mando do golpista moro do ex Presidente Lula o tenente “BOZO E SEU FILHO EDUARDO”esperavam a chegada do ex Presdente Lula a Curitiba com sua corriola golpista com foguetes par a comemorar junto a corja Curitibana esta barbaridade juridica.Jud moro tenta de todas as maneiras se apropriar de “DOIS BILHOES E MEIO DE REAIS”junto com o verme daganhol para poder chegar ao poder a Presidencia do Brasil com esta fortuna necesaria para fazer politica em toda parte do MUNDO.Investigar as delacoes o depoimento do sr Tacla Duram e toda a safadeza da tal Lava Jato.Seria magnifico para o seu vitorioso XATRES desmacarar definitivamente esta quadrilha de bandidos lesa Patria.Grato e um forte abraco!

  3. Nassif acredito q o povão não está tendo a devida percepção econômica do q está por vir neste desgoverno Bolsonaro,vc por favor poderia fazer um vídeo apocalíptico bem didático com os números econômicos de antes durante e o q virá depois economicamente (escolha a área)no Brasil?E se possível utilizar um Power pointer,ví um vídeo seu com o Power,ficou bem prazeroso e diferente assistí-lo!!

  4. Nassif acredito q o povão não está tendo a devida percepção econômica do q está por vir neste desgoverno Bolsonaro,vc por favor poderia fazer um vídeo apocalíptico bem didático com os números econômicos de antes durante e o q virá depois economicamente (escolha a área)no Brasil?E se possível utilizar um Power pointer,ví um vídeo seu com o Power,ficou bem prazeroso e diferente assistí-lo!!

  5. pois, é, num ambiente em que os dirigentes
    máximos apregoam a morte de tudo
    – o que resta senão a irrelevancia das coisas?
    temas como esse “o que vou legar para minha empresa”
    parecem verdadeiras piadas de mau gosto diante
    do que se apregoa politicamente para o país
    (destruição completa, terra arrasada)….

  6. “O tsunami Bolsonaro pelo menos terá o condão de despertar a alma brasileira para os aspectos efetivamente relevantes para a construção de um país.”
    Discordo. O que o triste governo Bolsonaro deixa de lição é como a nossa Democracia é frágil, como nossas instituições são frágeis. Basta chegar um vagabundo qualquer como Ministro e muda tudo o que está acontecendo. Basta chegar um mequetrefe qualquer, descompensado, e dê-lhe a cortar verbas, acabar com programas, tudo o que cheira a marxismo cultural. Uso o atual governo (e essa maluquice de “marxismo cultural”) como exemplo. Poderia ser um governo de extrema esquerda. Chegaria lá e faria a mesma coisa. Não há um mínimo contrapeso. Não há continuidade nos programas. Por isso que o Brasil não avança.
    Outra lição que o Governo Bolsonaro deixa é que, se um despreparado como Bolsonaro consegue chegar ao posto mais importante da nação, sem mostrar um mínimo de competência, de preparo, de boa sanidade mental, o que isso diz sobre a nossa frágil e infante Democracia? O que isso diz sobre o Brasil?
    A Direita já viu o caminho. E um dia a Esquerda verá, também. A Esquerda tenta convencer, conquistar corações e mentes através do diálogo, do convencimento, da lógica e da razão. Através do sentimentalismo (não estou dizendo que isso é negativo, pejorativo). “Queremos um país que enxergue os mais pobres, queremos reduzir as desigualdades”. Não vai dar certo. Quer dizer, vai dar certo agora que o andar de baixo está empobrecendo novamente. A Direita está organizada. E como tu conquista corações e mentes considerando, 1º, o quanto a tecnologia propiciou a distribuição rápida e para todos os cantos das fake news e, 2º, o baixo nível intelectual/educacional da população brasileira? As condições existentes no país formam um caldo de cultura ideal para a Direita prosperar.

  7. Sobre a gestão nas esferas pública e privada há, de princípio, a observar que na essência se confundem e na concepção do agir exibem absoluta diferença.
    Pensemos no conceito elementar de gestão: “traçar e controlar resultados com eficácia”. Nada mais do que isso. Simples de enunciar e complexo ao extremo de executar. Há de se considerar que quando se fala em gerir se fala em gerir algo, o que pode ser, por exemplo, o ato de deslocar-se diariamente de casa para o local de trabalho, o de gerir empresas ou o de governar países. Nestes exemplos a complexidade de gestão aumenta ao passo em que aumenta a complexidade do sistema a gerenciar. Isso é um obviedade, mas o caminho do simplismo que vemos comumente aplicado nessa área passa, também, pela ignorância do óbvio.
    Assim, a distinção entre as esferas pública e privada se dá logo de início pelo abismo de complexidade existente entre gestão de corporações empresariais e de governos nacionais. Os resultados são traçados pelos objetivos de cada sistema e levam em conta, em essência, o objetivo maior, a missão, que dá razão e sentido de existência para cada entidade e o elementos que a constituem, seja esta entidade privada, seja pública. De novo por óbvio, os interesses são distintos e não raro conflitantes, logo, os resultados podem até encontrar momentos de coincidência e convergência, mas, novamente, por óbvio, não podem ser confundidos. Além do mais, determinar objetivos para uma sociedade, uma nação, um país é evidente ser imensamente mais desafiador do que para empresas ou indivíduos e muito mais difíceis de serem alcançados, ou seja, geridos.
    Governar um país implica tomar como baliza o interesse público, significando atender as demandas e prioridades de sua população sem deixar de considerar os efeitos para o bem estar das gerações seguintes e gerir empresas é saber assegurar a longo prazo seu crescimento e a sua capacidade de remuneração dos fatores. Quando países e empresas são geridos com objetivo de curtíssimo prazo, para gerar superávits primários no caso dos governos e caixa livre no caso das empresas, estão comprometendo o futuro em troca de benefícios imediatos e não necessariamente no interesse do povo em um caso e dos stakeholders do outro. É um trade off inaceitável e implica ainda, desvirtuando o sistema em sua essência, em corromper a razão intrínseca de haver governança, seja ela chamada governo, seja chamada board of directors. Quando a ação dos gestores, públicos ou privados, descola dos reais interesses do Estado ou da empresa temos o que é chamado conflito de agência.
    Isso que presenciamos, tanto no setor privado quanto na administração pública, nada a tem a ver com métodos de gestão, tem a ver com a visão distorcida imposta pelo financismo neoliberal que a tudo vê como fonte de lucro, resultante de um visão de mundo egoísta, utilitarista, oportunista e, portanto, imediatista.
    O professor Falconi, a quem sequer conheço, nada tem a ver com isso. No caso das empresas a quem orientou ou orienta, nada fez e nada fará, a exemplo do que fazem os profissionais do ramo, além de fornecer métodos para o uso de ferramentas de gestão. Uma pá pode ser usada na construção de uma casa ou para cavar uma cova, o método e a forma de uso são os mesmos e quem decide naquilo em que seu manuseio resultará é quem determina o objetivo da obra.
    As empresas citadas foram atingidas, não pelo meio usado, mas, pelo móvel atrás do seu uso e o mesmo está acontecendo ao País. Cabe à nós, POVO, os reais interessados no destino da nação e deste país lutarmos para que os governantes ajam de acordo com os desígnios ditados por nós. Não há solução pronta, nem, na atual conjuntura política, sequer a condição de projetarmos cenários com segurança. Resta-nos, portanto, resistir e revidar até que possamos avançar definitivamente e reconquistar o que é nosso de direito, um país para chamar de nosso e onde nossos descendentes possam viver plenamente. A isso chamamos protagonismo.

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