Carta aberta às bichas poodle, por Beatrice Papillon

Carta aberta às bichas poodle

por Beatrice Papillon

Vocês, bichas de direita, que se acreditam dentre todas, as mais sofisticadas, as eleitas. Que desfilam dissimuladas nos salões da burguesia, com seus pires, esmolando aceitação. Puxa-sacos da heterocracia branca e rica, que defendem a moral deles, a família deles, o privilégio deles, de olho no dinheiro e na segurança deles, para se aquecerem ao pé de suas lareiras. A que custo essas quadras de tênis? Sob que humilhações esses jantares? Vocês que andam como bolsas, à tira colo de madames fúteis e burras para conseguirem seus passes à área vip do capitalismo. Vocês que apelidam as gays pobres de ‘pocs’ e desprezam os homens rudes, ‘cafuçús’ que em segredo desejam.

Quem são vocês?

São os cães da granfinalha. Poodles é o que vocês são, e assim a partir de agora lhes chamo. Maldigo seus nomes e destinos. Porque traíram suas irmãs e irmãos LGBTs. Nós que resistiremos sob as balas, as botas e os punhais, enquanto avança na noite do país a voraz alcatéia que vocês lambem dóceis.

Vocês têm medo da violência como todxs, mas não querem findá-la. Temem o ataque do bandido, do assassino, do intolerante, mas não pretendem detê-los. Não! Porque na verdade vocês amam a violência. Eis a sua luxúria! Querem ela para vocês, mudada de mãos, sob seu domínio. Ambicionam alcançar o outro extremo do chicote. Querem se vingar do mundo pela sua própria infelicidade, pela sua insatisfação consigo mesmas. Por esse propósito é que se esgueiram nas alamedas do poder. Por isso bajulam os grandes e escarnecem dos pequenos. Arre, parasitas!

Suas retóricas liberais bem lhes desmascaram. Querem o massacre do dogma, do dólar, da polícia sobre aquelxs que elegeram como inimigos. Mas por que somos seus inimigos, senão por sermos seus semelhantes? Somos o espelho que revela em vocês as marcas de nossa espécie. Detestam o que a natureza nos destinou: a frágil e imperfeita humanidade. Ei-la, seu medo, o único lugar onde habita o gozo, o amor e a vida verdadeira.

Querem para vocês a inclusão num falso Éden de cristais e neon. Uma ilha de privilégios para inumanos feitos de petróleo! Não sabem que essa inserção é a vocês mesmos que exclui. Pois do lado de fora, estamos todxs juntos e a nós nos pertencemos e nos incluímos. Somos a diversidade carne, e portanto somos o mundo, do qual vocês estão fora.

Não são nada, e que esse “NADA” esteja inscrito nos seus cartões de visita. Não falem em nosso nome. Não são LGBT’s, nem qualquer coisa do quanto renegam do corpo, do afeto, do coletivo e do comunitário. Não falem jamais em nosso nome, vocês não nos representam!

A vocês, e a todos com quem se associarem para o ataque a LGBT’s, negrxs, mulheres e homens do povo, por meu nome, por meus amores e pela memória dos meus mortos, garanto: não passarão!

Que a vergonha que vocês mesmas criaram para si recaia sobre suas casas e esmague os seus mesquinhos intentos.

Shame on you, bitches!

Fortaleza, 18 de Junho de 2018
@papillonbeatrice

 
 

 

Redação

3 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. aparência

    Papillon,

    No mundinho pseudo hetero do lado de cá, o mesmo deplorável fenômeno.

    Tinha um amigo que dizia: – O mal do brasileiro é cada um querer parecer melhor que o outro.   

    Parece que a opção de todos é essa. Se você parece melhor, você se acha o melhor.

    Ainda que seu aluguel esteja atrasado e seu desodorante vencido.

  2. O fio da navalha

    Este é o ponto que me parece o fio da navalha. No quotidiano, conheço vários homossexuais que querem “brilhar” (alguns dizem deste modo, não é brincadeira), mas se mostram tão seduzidos pelas formas de poder, por gente e imagens poderosas, por um fetiche desavergonhado por um reconhecimento de qualquer ordem que simplesmente aderem ao poder de forma incondicional. 

    E não digo simplesmente à direita, mas também há os que se dizem à esquerda (quantificar? só posso falar daquilo que presenciei).

    Mas talvez não seja um aspecto isolado. O problema talvez (sim, novamente) seja sociopsicológico, quando o narcisismo encontra espaços dentro das relações de poder para demonstrar a sua face terrível. 

  3. Sou meio indiferente à materia do post

    Fiquei meio embasbacado com a catilinária endereçada aos poodles, às bichas da direita e demais traidores da causa. Sinceramente não sei o que dizer e nunca me ocorreu opinar sobre o assunto. Confesso não ter opinião formada. Vou pedir ajuda aos universitários e quem sabe uma manifestação dos principais pre-candidatos à presidência. Só sei que a causa gay virou um grande mercado comercial e eleitoral e um prato suculento para proselitismo e demagogia. Apoiar ou não, a meu ver, não faz a bolsa descer nem o dolar subir.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador