Criticar é um dever de cidadania, por Gilson Caroni Filho

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Criticar é um dever de cidadania, por Gilson Caroni Filho

Muita gente, e até compreendo os motivos, anda irritada comigo. Mas, como os nervos de alguns estão à flor da pele, acho que cabe um esclarecimento.

Criticar medidas do governo não significa dar munição à direita. Muito pelo contrário, é uma prova de que, apontando alguns desvios de rumo, estamos tentando preservar o que foi conquistado. Essa sempre foi uma característica da esquerda e, em dias alternados, rezo para que nunca a percamos. Tudo bem que há setores da oposição, não todos, que empregam práticas fascistas, mas não será com posturas stalinistas que os venceremos.

Eu estaria fazendo o jogo da direita, e aí poderiam me chamar de coxinha travestido de esquerdista, se propusesse coisas como revisar marco jurídico de áreas indígenas para atender aos interesses do agronegócio. Isso, lhes asseguro, vocês jamais me verão fazer. Respeito os povos da floresta.

Outra coisa. Aprendi, lendo Marx, que quando o capitalismo aliena o homem da natureza, ele passa a enxergá-la apenas como produto. Imaginem se eu iria aprovar o aceleramento de licenças ambientais, ignorar os danos causados ao ecossistema e à população que tiram dele o seu sustento.

Outra coisa que assimilei bem, e isso devo ao PT, foi que o fator previdenciário era um desrespeito ao trabalhador, principalmente aos mais pobres que, por necessidade, entram mais cedo na labuta. Claro que nunca endossarei qualquer agenda que amplie a idade mínima para a aposentadoria. Isso é coisa de tucano ou não é?

E o que dizer de cobrar da classe média pelo uso do SUS? Ele vai deixar de ser um serviço universal, tal como está assegurado na Constituição? Novamente, isso só pode ser coisa do PSDB. Temos que tomar cuidado com os infiltrados. E como temos.

Ouvi também que o camarada Renan Calheiros apresentou uma proposta que proíbe “liminares judiciais que determinam o tratamento com procedimentos experimentais onerosos ou não homologados pelo SUS”. Melhor para as operadoras de plano de saúde, impossível. Claro que sou contra. Mas li que a presidente gostou. Claro que só pode ser uma invenção do PIG. Mas se você acha que isso é progressista, não vamos brigar por uma coisa tão pequena. Afinal, tenho as duas carteiras que nos irmanam: a do PT e a da Amil. O que nunca imaginei é que a duas guardassem qualquer tipo de relação.

A imprensa noticia que o governo aprovou uma Lei Antiterrorista. Não acredito nisso por dois motivos. Seria um governo apoiado por movimentos sociais criminalizando a sua própria origem. E, por fim, como sou paranoico, temo que tal lei tenha efeito retroativo.

Por tudo que foi exposto, contem comigo na luta contra estas mentiras dos “coxinhas”. Estamos juntos.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

14 Comentários

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  1. texto equilibrado

    Caro Gilson não sou muito de frequentar blogs mas tenho que dizer que seu texto está muito equilibrado para os tempos que estamos atravessando.Nesses tempos em que  só temos baixarias é importante ler um texto equilibrado,sensato que se não diminui a nossa angustia diante dos proximos dias pelo menos temos a certeza que ainda temos pessoas que pensam, poem na balança e não tentam deturpar as críticas racionais ao nosso atual cenário politico. Um abraço, Maria de Fatima 

  2. Bem…

     Prefiro as posturas stalinistas vencedoras do fascismo do que as posturas trotskistas fracionadas e vacilantes é que nunca levaram a vitória em tempo algum!

    1. Tenho duvidas!
      Sempre o penso que na politica, somos politicos por natureza humana, a vitoria eh relativa, lenta, nem o objetivo fim, vencer mais como orgao vivo mutavel e avancando. Por vezes ate tenho questoes se realmente estamos avancando!
      A verdade do que penso e quando escuto outros pontos e ideias me cria interelacoes nao mais do ideal e sim do afim como humano.

  3. Temo os aduladores, aqueles

    Temo os aduladores, aqueles cujos elogios estão atrelados à pessoas ou partidos, não aos atos e posicionamentos. Tais pessoas não contribuem para a evolução e o aprimoramento de nada, pois não apontam os pontos fracos, o que deve ser melhorado. E se não há nada que possa ser melhorado, o governo, o partido ou seja lá o que for, isso significa que atingiu seu auge e logo virá o declínio natural após o ponto de máximo – o mundo não é estático, há sempre novas demandas, a sociedade evolui.

    Dito isto, o elogio genuíno é tão importante quanto a crítica construtiva. Trata-se de reconhecer os erros e acertos, uma questão de equilíbrio. Recentemente, tive uma pessoa da família que teve que ser internada pelo SUS e minha irmã, que é enfermeira, acompanhou esta internação. Conhecedora dos detalhes técnicos pertinentes ao ambiente hospitalar, minha irmã achou perfeito o atendimento no hospital público. Falei, então, com ela para ela divulgar isso, elogiar sim. Os pontos positivos também são importantes e merecem destaque.

  4. Tudo bem. Mas SÓ CRITICAR e


    Tudo bem. Mas SÓ CRITICAR e não ressaltar NUNCA o que de bom acontece, é ser vira-lata bem grande, querer ser cidadão de quinta permanente. Que cidadão não consegue se enxergar como o CONSTRUTOR DESSE PAÍS? O vira-lata, o reclamão, o analfa político. O país, SOMOS NÓS CIDADÃOS QUE CONSTRUIMOS! Reclamar de governos e apenas deles é coisa de  analfa político, um ser que nunca se inclui VERDADEIRAMENTE NAC LUTA PELA VITÓRIA DO PAÍS, é apenas  um reclamão contumaz e omisso nos momentos desicivos para MELHORAR,. O negócio é PIORAR, esse é do cidadão reclamão, vira-lata. Porque estragar tudo  NADA MAIS FÁCIL! Lutar é pra MELHORAR e só pessoas politizadas e que amam o seu país têm esse “TIMER”.

  5. O Caroni sem dúvida é de

    O Caroni sem dúvida é de esquerda mesmo e seu texto na excência é justo. Só que o buraco é mais embaixo.

    Quem enxerga o buraco com muito clareza é o Fernando Brito. Aconselho a leitura do seu texto no Tijolaço onde analisa, não sem resginação, a situação política atual. Impossível não concordar com ele.

    A síntese é que se foi o grande capital, nas figuras da Fiesp, Firjan e Bradesco, e com a adesãol dos Marinho, que deram um chega para lá no golpe, isso tudo não sairia de graça.

    Lamentar que o governo tenha se fragilizado ao ponto de ter que aceitar a “Agenda Brasil”, onde Renan expressa os desejos do empresariado, é o que resta à esquerda responsável no momento. O nome dessa agenda do ponto de vista do governo é “agenda de sobrevivência”. Mas claro, como diz o Brito no texto, sempre pode-se lutar para puxar um pouco a tal agenda para o lado de cá. 

    1. Nao sei nao
      O quadro politico na opiniao ainda nao terminou.
      Temos as manifestacoes ainda.
      Soh uma pergunta. Como sera que virao vestidos? Com a camisa da cbf! A palavra de ordem sera pedir a volta da ditadura?
      Lula sera preso?
      Ira ou nao aprovar as contas e pedaladas da Dilma? Sera o suficiente para tirar Dilma?
      O Moro e o MP nao ira alem do Dirceu ate a Dilma ou o Lula.
      A loucura do Cunha nao pode levar com sua tropa a uma guerra social ou civil?

  6. Certo, porém aqui… errado

    Tens razão. Se a defesa da democracia implica em não criticar o governo, os que dizem assim defender a democracia não são democratas: são governistas.

  7. Vai encarar o imponderável?

    Criticar não ofende. Porém  (sempre tem um porém), estamos em estado de alerta golpista. Nós da esquerda não sabemos qual a nossa real capacidade para resistir ao golpe. Quem souber, ganha um pirulito. Então há que se negociar.  E muito. Essa tal agenda não é uma coisa pronta e acabada. Há espaço para negociação, enquanto  acumulamos força. A politica é isso. Se não for assim, só tem duas opções: o golpe ou a renuncia, com consequecias imprevisíveis. Vai encarar o imponderável?

  8. Difícil

    Complicado, concordo com o Marcos Nobre.

    Quando se tem um governo eleito democraticamente para implementar políticas progressistas e esse guina à direita, não há o que fazer além do que criticar as políticas – na forma de racionalidade do pensamento – e mesmo assim defender a democracia –  a forma de consolidação e estrada daquelas políticas.

  9. Cidadania

    Ser cidadão requer o direito da crítica, sobretudo em meio à crise – esta gera oportunidades de mudanças. Qual o rumo que essas mudanças darão ao país? Assistiremos, mais uma vez, um acordo por cima, como sempre se deu na história do Brasil? As propostas de Renan representam o acordo por cima? O senado começará a votar as suas propostas na próxima semana. As entidades sindicais e os movimentos sociais, as uiversidades e especialistas nas diversas áreas em questão nada têm a dizer sobre as propostas de Renan e da cúpula? A alta cúpula não precisa debater nada com os trabalhadores e com os setores médios? Apenas os interesses dos empresários prevalecerão? O Brasil aceita superar a crise apenas com o acordo entre as elites? O PT capitulou definitivamente aos interesses das cúpulas? Interditar o debate é interditar a democracia.

  10. Perfeito

    Penso exatamente da mesma forma. Sou governista. Milito no PT há mais de 20 anos. Mas sou militante de esquerda, não vaca de presépio. Critico quando é preciso. Sabemos medir quando podemos ser mais duros nas críticas e quando devemos endurecer na campanha. Estamos passando por um momento frágil, por causa dos ataques constantes da mídia e do Congresso. Devemos nos unir, sim, mas não deixar de criticar quando for necessário. Saudações fraternas.

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