Depois do choque, por Daniel Afonso da Silva

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

Após os impactos dos eventos de sexta-feira, 13/11, em Paris e Saint-Denis, o presidente François Hollande e seu primeiro-ministro Manuel Valls propuseram uma union sacrée da classe política francesa em torno do diagnóstico “estamos em guerra”.

No domingo, 15/11, lideranças de todas as colorações foram recebidas no palácio de Élysée. De Marine Le Pen à Jen-Luc Melanchon, todos passaram a endossar publicamente a premissa oficial. O que lhes divide é o caminho a seguir.

Bruno Le Maire, a grande vedete do partido Les Républicains que dá nova roupagem ao partido UMP que estve na presidência até 2012 com o presidente Nicolas Sarkozy, vem sendo dos mais estridentes. Desde sábado, 14/11, ele vem reiterando a posição oficial, mas com imensas ressalvas. Segundo ele, sem tropas ao solo será impossível vencer Daech. Tropas ou não ao solo representa claramente o maior desafio estratégico francês nessa sua “guerra ao terror”.

Ainda na noite de domingo, 15/11, o Nicolas Sarkozy fora o convidado especial do Jornal da TF1 e afirmou categoricamente a inconsequência do envio de tropas ao terreno. Ele, como muitos, temem os fantasmas do Iraque e do Afeganistão. Receiam de um “Vietnã francês.

Desde segunda-feira, 16/11, o presidente François Hollande avança nas tratativas para o envio de tropas. Propôs modificação da constituição francesa para dar plenos poderes ao presidente da república em casos como estes excepcionais e firmou acordo histórico de cooperação com os russos para coagir Daech.

Bruno Le Maire voltou a provocar afirmando que se o incidente tivesse ocorrido em solo norte-americano, uma sessão de urgência do Conselho de Segurança das Nações Unidas seria realizada. Essa sessão foi convocada pelo presidente francês, mas ainda não se sabe quando vai ocorrer. Sem o apoio e o consenso das Nações Unidas, eventual envio de tropas ao solo pode gerar diversos níveis de contrangimentos morais e militares.

 “Destruir” Daech, como inflama o primeiro-ministro Valls, envolve, inicialmente, definir a estratégia conceitual.

No primeiro conceitual está mais que demonstrado não se tratar de uma guerra tradicional.  O inimigo não tem rosto, nem território e muito menos soberania. Também não se trata de uma “terceira guerra mundial”. Trata-se de uma guerra irregular.

Ao menos desde o 11 de setembro de 2001 esse estilo de guerra vem se multiplicando mundo afora. Daech representa a quintessência dos praticantes dessa guerra. Dissidentes da Al Qaeda, por se entenderem mais radicais e puros na linhagem de Osama Bin Laden, eles têm ramificações por todo o Oriente Médio, África e Europa. Quantos são e quando e onde vão atacar novamente segue uma incógnita.

Os mandatários franceses têm muitas razões para intensificar seu “estado de urgência” para provimento de alguma segurança. Mas o medo e a frustração vão imperar por muito tempo pelas ruas de Paris e seus arredores.

O “estamos em guerra” virou o mantra da presidência Hollande. Resta saber se essa guerra trará de volta alguma paz.

Daniel Afonso da Silva é professor-pesquisador no Ceri-Sciences Po de Paris.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

4 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Seria bom informar ao leitor

    Seria bom informar ao leitor brasileiro, acostumado com o acrônimo ISIS, ou atualmente EI, que os franceses não gostam de palavras de origem inglesa e forjam seus próprios acrônimos.

    Portanto DAECH é sinônimo de ISIS, ISIL ou EI.

    Daech, acronyme arabe d’« État islamique en Irak et au levant »

    Link: http://www.la-croix.com/Actualite/Monde/Daech

    1. Todos os líderes ocidentais

      Todos os líderes ocidentais deixaram de lado a denominação ISIS (ou ISIL). Agora é só DAESH.

      Falar-se em “ISIS” significa admitir que eles são um Estado (o que não é verdade) e que eles representam o Islamismo (quando não passam de um bando de assassinos psicopatas).

      “DAESH” é Estado Islâmico do Iraque e Síria em árabe, mas a opinião pública ocidental não sabe disto. Além do mais, uma palavra árabe com a mesma pronúncia (“dash”) quer dizer esmagar, esmigalhar.  Os membros do DAESH odeiam ser chamados assim e inclusive ameaçam matar quem os chama por este nome nos locais que governam…

       

    2. Daech ou Daesh ( Dà – shee ou Dá -schee )

        O nome do “Estado Islamico ” , em arabe coranico é : al-Dalwa al – Islamyati al – Iraq wa al – sham  (  ” estado ” Islamico do Iraque e ( até ? ) o Levante ).  no vocabulo “Dalwa” , de origem pode-se ser tb. classificado como um “califado “, ou ” al – dal – Umma, em contrafacção do arabe “dalwa”.

         O acronimo Daech/Daesh, é uma demonstração fonética, não em francês, mas do arabe referente ao escrito acima, tanto que em alguns dos primeiros comunicados do EI, em sua revista “Dabiq”, ela mesma utilizou-se deste acronimo em suas edições em linguas ocidentais ( inglês e francês ).

          Depois de algumas sérias criticas de estudiosos da “sharia”, agregados ao EI, este termo ” daech/daesh “, foi proibido, atualmente é considerado pelo EI como ofensivo, quase um palavrão, pois :

          Quando se pronuncia em arabe ” das ruas ” o dà-shee ou da’-s-chei , dependendo a entonação, ele pode significar para quem ouve, algo como ” pisotear “, ” sujar a alguem ” e até mesmo, no arabe coranico ou culto : ” alguem que impõe seu ponto de vista ” – .

  2. Até q seria bom enviarem tropas… (leiam antes d jogar pedras)

    Quero ver a populaçao francesa aceitar perder seus filhos numa guerra insana. Mandar avioes nao tripulados, ou mesmo tripulados voando às alturas é uma coisa; mandar seus filhos em terra para sofrerem o diabo e terem uma chance altíssima de morte é outra coisa. Haveria uma boa chance de uma insurreiçao popular na França.

    Nao acredito que façam realmente uma loucura dessas. E, se fizerem, que o castigo venha a jato, nao a cavalo…

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador