Diversidade, pobreza, e uma pulga atrás da orelha, por Gustavo Gollo

De que se alimentam nossas mentes? O que rege nossa atenção e absorve nossos pensamentos?

Um resultado paradoxal dos desenvolvimentos da humanidade que tem ocorrido de maneira cada vez mais intensa é a pauperização decorrente da busca desenfreada pela riqueza. Temos nos guiado – e inebriado –, por uma concepção de riqueza que mais condiz com a de glutoneria. Temos nos comportado como glutões vorazes empenhados em devorar mais e mais do mesmo alimento pobre que nunca sacia, consistindo nisso nosso desejo. Enfeitiçados pela quantidade, comandados por uma ânsia estúpida de desejar mais e mais, temos produzido e devorado bens em tal monta que algumas pessoas, individualmente, consomem mais recursos que o necessário para sustentar um povoado com milhares de pessoas. Lembremos que o lixo é o resultado do consumo. Constituímos a sociedade produtora de lixo – fato literalmente muito mais marcante do que sermos consumidores.

E por sermos tão glutões, temos empobrecido nosso mundo sob todos os outros aspectos que não o da glutoneria.

A pobreza em que nos metemos contemporaneamente em decorrência dessa nossa gula reflete-se em tudo à nossa volta, embora tenhamos dificuldade em vê-la, dada a pobreza de nosso próprio espírito, que só permite que vejamos o que se aproveite pelos glutões.

Talvez seja exatamente essa a causa maior de nossa pobreza, o fato de nosso espírito encontrar-se tão drasticamente empobrecido que nos impede de ver qualquer coisa sob outro ângulo que não o que nos é imposto pelos meios de comunicação, que nos garante que pobreza signifique falta de dinheiro, e riqueza o excesso disso. E por termos empobrecido tanto a ponto de só conseguirmos ver as coisas sob um ângulo, nem esse próprio fato pode ser reconhecido, perpetuando a pobreza.

Vemos tudo por um único ângulo, hoje, porque depreciamos ou destruímos todos os demais. Já não existem outras culturas, ou definham as que restam, e não percebemos que riqueza é diversidade.

Acreditamos todos, hoje, nas mesmas sandices repetidas pelos meios de comunicação no mundo inteiro, parvoíces cujas veiculações, tendo sido um dia pagas, acabaram por se tornar tão unânimes que já nem percebemos qualquer alternativa possível – as pautas, fundamentalmente econômicas, que regem as discussões políticas efetuadas pelos meios de comunicação patrocinados pelos detentores do poder econômico ilustram bem nossa visão unilateral. Em todos os debates apresentados nos meios de comunicação, as posições supostamente antagônicas postas em pauta pressupõem o mesmo ponto de vista.

De que se alimentam nossas mentes? O que rege nossa atenção e absorve nossos pensamentos?

O alimento de nossas mentes, nos dias atuais, nos é distribuído pela TV e outros meios de comunicação, todos eles sob as rédeas do poder econômico. Assemelha-se à ração distribuída às galinhas e tem como propósito manter-nos coesos em um único rebanho dócil e homogêneo.

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Os olhos de Maria deixam transbordar uma riqueza que contrasta fortemente com suas posses.

Veja também:
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Da servidão moderna

O carinha da internet

Gustavo Gollo é multicientista, multiartista, filósofo e profeta

Redação

1 Comentário
  1. Caro Gollo, concordo com você que vivemos num mundo unidimensional, para usar um termo de Marcuse. E a mídia realmente tem um ponto de vista unidimensional que nos afeta, mas não acho que seja a causa de nossa cegueria e de nossas ações que destroem o nosso suporte de vida natural e também o nosso tecido social.

    A causa de tudo isso é o capitalismo e seu único fim: a multiplicação do capital, ou seja, a geração de mais e mais lucro, sem parar. As pessoas e natureza, no capitalismo, não são fins em si, mas meios para o capital se multiplicar. E é o capital, na forma de sujeito automático, ou seja, de sujeito da eficiência e da competição que nos habita a alma e nos faz acreditar que sua destruição da natureza e das sociedades é normal. A mídia, apenas propaga este senso comum.

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