sexta, 19 de abril de 2024

Folha distorce, falseia e defende a censura da Globo, por José Chrispiniano e Ricardo Amaral

A Terra é redonda, a Petrobrás foi espionada pelos Estados Unidos, a Globo censura a Vaza Jato: esses são os fatos que Lula aponta e incomodam tanto

Folha distorce, falseia e defende a censura da Globo

por José Chrispiniano e Ricardo Amaral *

Folha de S. Paulo deveria informar-se melhor, lendo suas próprias reportagens, antes de advogar a censura praticada pela Rede Globo, como fez na manchete falsificada deste primeiro fim-de-semana de fevereiro de 2020. Não há outra palavra para definir a cobertura da Globo sobre a Vaza Jato como um todo, e não apenas no breve período que a emissora selecionou para disfarçar sua parcialidade e que a Folha empurrou aos leitores, sem checar, defendendo quem a censurou.

A Folha publicou 25 reportagens em parceria com o The Intercept Brasil, editado pelo jornalista Glenn Greenwald, e o site UOL produziu outras 8. De 9 de junho até 24 de julho de 2019, período selecionado pela defesa da Globo, foram 5 reportagens da Folha, mas só uma foi reproduzida pela TV e não tratava da parcialidade de Sergio Moro e da Lava Jato no caso Lula. O tema é tabu na Globo, como foram as Diretas na década de 1980 e como a liberdade de imprensa era tabu para o nazismo. Por isso censuraram todas as provas de que Moro agiu para prender Lula e eleger Bolsonaro.

Se a Folha tivesse lido a Folha antes de defender a Globo (e difamar Lula), registraria que o Jornal Nacional censurou a matéria “Lava Jato desconfiou de empreiteiro pivô da prisão de Lula, indicam mensagens” (30/06/19). Nela se comprova que o ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, quando preso, mudou seu depoimento e criou um enredo sobre Lula para ter sua delação aceita pelos procuradores. Contou uma história sem provas, da qual até os procuradores desconfiaram, para sair da cadeia e condenarem Lula.

A Globo censurou “Conversas de Lula mantidas sob sigilo pela Lava Jato enfraquecem tese de Moro” (8/9/19). A Folha mostrou, e a Globo não, que Moro e a força-tarefa esconderam, do STF e do país, conversas nas quais Lula explicava a razão de assumir a Casa Civil de Dilma Rousseff, em março de 2016 – e não era para buscar foro privilegiado, mas para salvar o governo e consertar a economia. Moro voltaria a mentir sobre o assunto no Roda Viva, semanas atrás, quando disse ter enviado ao STF “todos os áudios” grampeados de Lula ao STF. A Folha revelou que a Lava Jato grampeou os advogados de Lula e fez relatórios para Moro. A Globo censurou a notícia.

O JN fez alarde da delação mentirosa de Antonio Palocci vazada pelo ex-juiz a uma semana do primeiro turno de 2018, mas não noticiou “Moro achava fraca delação de Palocci que divulgou às vésperas de eleição, sugerem mensagens” (Folha 29/07/19). A Lava Jato espionou Lula e seus familiares ilegalmente, porque ele era o alvo. Mas a Globo censurou “Lava Jato driblou lei para ter acesso a dados da Receita, mostram mensagens” (Folha, 18/08/19).

A nota da Globo que a Folha reproduziu em editorial terça-feira e na manchete de hoje é uma empulhação. Se é fato que o JN e o Fantástico deram 103 minutos de reportagens sobre a Vaza Jato nos primeiros 46 dias, não é menos fato que 66 minutos foram dedicados à defesa de Moro e ao esforço de criminalizar a série desde o nascedouro. E que em apenas 5 dias, de 24 a 28 de julho, JN e Fantástico bombardearam o país com 68 minutos sobre a Operação Spoofing, que associa a Vaza Jato a pessoas acusadas de crime cibernético, incluindo notícias falsas que tentavam envolver o PT.

O editorial da Folha em defesa do mau jornalismo da Globo soou como um ato de contrição do jornal pela entrevista de Lula ao portal UOL. O texto é axiomático: “governantes não gostam de imprensa livre”. Livre do contraditório? Livre da obrigação de checar o que publica? A Folha deu-se a liberdade de publicar mentiras como a de que, no governo, “Lula flertou com dispositivos para controlar a mídia”, sem dizer quais, pois nunca existiram. Que seu governo “deu preferência, inclusive financeira (…) a veículos em torno do petismo”, sem dizer quais, como e quanto, pois essa é outra mentira repetida à moda Goebbels.

A Folha quer igualar Lula a Bolsonaro porque o ex-presidente diz que o atual tem razão em algumas queixas sobre a imprensa. É um reducionismo desonesto. Lula não ameaçou cassar concessões, não fez retaliação econômica. Denunciou o mau jornalismo do qual todos podem ser vítimas. A mesma imprensa que critica Bolsonaro (por várias razões) defende a desconstrução do estado, a desnacionalização do país e a revogação de direitos que ele impõe. Jamais farão com seu governo o que fizeram com Lula, Dilma e o projeto de desenvolvimento com inclusão. Iguais são Folha, Globo, Veja, Estadão, todos alinhados com o projeto de Paulo Guedes, mesmo que o preço seja conviver com Bolsonaro.

O fato é que essa “imprensa livre” muitas vezes fabrica manchetes para amparar sua opinião. É perfeitamente legítimo externar estranheza e associar, como fez Lula, o roubo de informações sigilosas da Petrobrás num container da Halliburton, em 2008, à espionagem da NSA na estatal e nos telefones de Dilma Rousseff, noticiada no mundo inteiro em 2013 com farta documentação provida por Edward Snowden. Não é teoria, é fato que o golpe do impeachment, a prisão de Lula, a destruição da indústria brasileira de óleo e gás e a desnacionalização da Petrobrás e do pré-sal atendem a interesses geopolíticos e econômicos dos Estados Unidos. Como é fato que Moro e a Lava Jato atuaram em fina sintonia – e fora da lei – com agentes daquele país.

Procuradores do Brasil fizeram a Petrobrás pagar 3,8 bilhões de dólares em multas e acordos judiciais nos Estados Unidos. É muita vezes mais do que a Lava Jato teria recuperado no Brasil, mas isso nem a Folha consegue ver na Globo. Tampouco se vê a terra arrasada em que Moro transformou o pais, como denuncia Lula, pois a Folha está ocupada em esclarecer o terraplanismo alheio.

É simplesmente ocioso checar, como faz a Folha, se um picareta como Olavo de Carvalho acredita mesmo que a terra é plana ou tem apenas dúvidas a respeito. Fato relevante é a destruição do ensino público, do meio ambiente e da soberania nacional por obra dos pupilos que ele nomeou no desgoverno de Bolsonaro. Lula distorceu Olavo? Olavo distorce a inteligência. E a Folha distorce o conceito de checagem de dados – que seria importante contribuição do jornalismo frente à pandemia de mentiras – porque precisa desqualificar Lula.

A Folha pode negar que Lula tenha ficado numa solitária, como o ex-presidente se referiu à prisão num dos discursos checados pela reportagem. Lula ficava sozinho 22 horas por dia, com exceção das quintas-feiras, quando tinha visita de amigos e familiares, e dos fins de semana, quando ficava sozinho 24 horas por dia. Tecnicamente não se chama solitária o regime prisional a que ele foi submetido por Sergio Moro, até o Supremo Tribunal Federal restabelecer, para todos, o princípio constitucional da presunção de inocência que havia sido negado a Lula. Mas não há como checar, tecnicamente, o sentimento de uma pessoa de quem tomaram uma eleição como favorito à presidência da República, a honra pessoal e 580 dias da existência, num processo farsesco, uma condenação injusta e uma prisão inconstitucional. A dor da gente não sai no jornal. Nem na Globo.

  • José Chrispiniano e Ricardo Amaral são jornalistas e assessores do ex-presidente Lula
Redação

8 Comentários

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  1. Pare de passar vergonha Folha, não se esqueça que existem historiadores que vão colocar o seu papel histórico mais uma vez contra a democracia brasileira. Brasil sofreu um golpe num impeachment sem crime de responsabilidade. O processo de Dilma que tramitou no senado foi circunscrito a decretos de créditos e a “pedalada” no Banco do Brasil (Plano Safra). Pois o relatório do impeachment que tramitou no congresso não poderia tratar de acusações anteriores a 2015, mandato encerrado. Não tiveram especialistas em orçamento público ou em finanças públicas que concordassem com crime em quatro (inicialmente seis depois viraram quatro) decretos de créditos suplementares que não geraram despesa porque foram contingenciados. Crédito suplementar aumenta a dotação de uma determinada ação, mas não autoriza o gasto. O que autoriza o gasto é o decreto financeiro que pode ser contingenciado. Pedalada no plano safra do governo com o Banco do Brasil, esse foi o outro “crime” da Dilma. A relação do Tesouro com o BB é um contrato de serviço, você demora de quitar esse saldo e isso vira uma operação de crédito? A LRF proíbe empréstimos de bancos públicos ao Tesouro e forçaram a barra para caracterização de um contrato de serviço como operação de crédito. Derrubaram uma chefe de estado e chefe de governo com base em quatro decretos e o plano safra, Dona Folha. Uma tragédia brasileira que você contribuiu com seu jornalismo de esgoto. O tucano Anastasia não conseguiu um depoimento de técnicos do Tesouro, Banco Central e Receita Federal para corroborar com o relatório dele, apenas o Ministério Público de Contas totalmente partidarizado por um reacionário (Júlio Marcelo de Oliveira) que já apareceu na “Vaza Jato” tramando com Dallagnol. Lula está falseando em chamar o impeachment de Dilma de golpe? Toma vergonha na cara, Folha de São Paulo.
    P.S Parabéns José Chrispiniano e Ricardo Amaral pelo brilhante artigo.

    1. Os promotores, defensores e apoiadores do golpe dado na presidência RE-eleita democraticamente não sabem a diferença entre mora e crédito.
      Cada vez que alguém atrasa uma conta de luz, água ou gás, ou mesmo uma prestação de empréstimo ou financiamento, ela certamente não está abrindo um contrato de crédito, apenas entrando em MORA.
      Ela pode por ex: estar pagando 4% ao mês no empréstimo mas tipicamente pagará 1% de mora (e multa uma vez só), denotando evidentemente regras diferentes para COISAS DIFERENTES.
      Mas no braZil, ignorantes “espertos” (nem isso, apenas têm poder) enganam ignorantes trouxas na mórmoleza.
      Há mais de 5 séculos.

  2. Isso só serve para aqueles que sonham com frente ampla entenderem,de uma vez por todas, que isso não é possível.
    O que essa gente quer é capitulação.
    Se depender de mim eles vão ter de lamber as botas dessa figura que eles ajudaram a colocar no Palácio do Planalto.
    Que fiquem com a língua fina!

  3. Nassif: se um dia em Pindorama se escrever a história da imprensa mercenárias (da grandemídia) a Fe-Lha, se não encabeçar a lista, possivelmente figurará entre as primeiras. E não é novidade. Nunca, desde a origem, esconderam essa tendência. Num concurso da notícia, parece que ali quem pagar mais leva o prêmio. Estaria na raiz da classe social de onde emergiram seus donos? Faça um levantamento histórico. Não seria de estranhar se de cada sucesso um cambalacho estivesse pelas cercanias. Há quem diga que cada furo de reportagem tem um preço, alem da churumela de que estaria informando o público. Não lembro quem já disse que se pedirem um artigo sobre Jesus haveriam de perguntar se quer contra ou a favor. Por isto, a do SapoBarbudo é apenas mais uma história inserida num contexto conhecido de todos.

  4. Engraçados.

    Jornalistas desejam profundamente que empresas de mídia deixem de lamber a mão de quem os alimenta.

    Essa crença é irmã siamesa de outro mito que, de certa forma, lhes confere alguma esperança de que possam fazer parte de algo melhor: a independência ou autonomia da imprensa.

    É mais ou menos como o ingênuo policial que adere ao aparato de força do estado imaginando que é possível separar o mundo entre mocinhos e bandidos.

    Arf.

    A Folha será sempre a Folha.

    O NYT idem.

    Não há embate como aquela farsa do filme onde o Post alega ter vazado os documentos de Mcnamara por civismo.

    Nada.

    Assim como no Iraque em 2003, a mídia da época ( 50/60) não só ajudou como construiu a histeria que empurrou os EUA ao Vietnam.

    Alguém lembra aí que a Carta Capital bajulava todo ano o Itaú, Natura e outros golpistas?

    Maiores e Melhores não era essa a festa?

    Pois é.

    O maior avanço para sociedades periféricas como a nossa seria o fim da atividade jornalística e a proibição da existência de jornalistas.

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