Geni e a Petrobras, por Walfrido Jorge Júnior

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Assim como a Geni, pedras estão sendo atiradas na estatal brasileira Petrobras. Inspirados pelas táticas do mercado norte-americano, de acionistas abrirem processos contra companhias por supostamente saírem prejudicados – aqui sem a proteção da soberania do país, do que interessa à economia brasileira -, indenizações terminam por destruir a empresa brasileira.
 
Por Walfrido Jorge Warde Júnior*
 
Geni e a Petrobras
 
Lava-Jato expôs a ação espoliadora de alguns dos administradores, que levaram a companhia a celebrar contratos superfaturados em troca de propina
 
Do Globo
 

A Geni de Chico Buarque é hostilizada pelos seus concidadãos. Ela inspira uma precária complacência dos detratores, quando a descobrem capaz de evitar a destruição da cidade por um misterioso Zepelim. Finda a ameaça, a tolerância acaba sob o refrão: “Joga pedra na Geni!”

O ciclo de glória e execração de Geni sugere uma analogia com a história da Petrobras. Mais uma vez, uma chuva de pedras desaba sobre a companhia. Agora, ela vem na forma de nova arbitragem movida por acionistas brasileiros, aos quais se juntaram fundos de pensão — inclusive a Petros, dos funcionários da própria Petrobras. Seus autores tentam simular uma ação de classe do direito americano ao convocar acionistas para a demanda por meio da sua divulgação.

Alguns dizem que é uma sofisticada tentativa de saque, que vitimiza a vítima, jamais seus algozes.

A Operação Lava-Jato expôs a ação espoliadora de alguns dos seus administradores, que levaram a companhia a celebrar contratos superfaturados em troca de propina. Sob esse ataque parasitário, a Petrobras perdeu valor. Suas ações caíram, e seus acionistas tiveram prejuízo.

É essa a reclamação, segundo as notícias, posta na nova arbitragem. Alguns acionistas pretendem que a Petrobras os indenize pelos danos que administradores causaram diretamente à companhia e indiretamente a todos os acionistas.

O Direito brasileiro não permite ação direta de imputação de responsabilidade e de ressarcimento movida por acionista contra a companhia. Quando o administrador delinque e causa dano direto à companhia — e indireto a todos os seus acionistas —, a lei faculta apenas uma indenização contra o administrador. Assim, quando a empresa se ressarcir e recompuser o seu patrimônio, terá ressarcido indiretamente o acionista.

Nosso direito não permitiu essas ações para evitar cinco consequências adversas:

1. a proliferação de milhares de ações iguais em diferentes foros;

2. decisões diferentes sobre a mesma questão;

3. a dragagem de recursos da companhia para a administração desses litígios;

4. a depauperação da companhia, sob a avalanche de demandas, e a frustração dos pedidos de indenização;

5. a impunidade dos verdadeiros culpados.

O que surpreende não é, todavia, uma medida sem qualquer respaldo legal, mas o fato de grandes fundos de pensão participarem dela. Muitos deles foram investigados pela Operação Greenfield, um filhote da Lava-Jato, depois de uma sucessão de maus negócios e — como se suspeita — de irregularidades que esvaziaram os seus cofres.

O que se espera é que essa arbitragem de legalidade duvidosa não sirva para recuperar o caixa dos fundos de pensão em detrimento da Petrobras, que até agora gastou mais com as suas investigações internas do que recuperou pela mão pesada da Lava-Jato.

Se for isso, o caso exporá a nu um grave malfeito, com o que, ao contrário do que se pode pensar, provavelmente apenas os denunciantes serão punidos, porque no Brasil, como profetizou Nelson Rodrigues, o verdadeiro pai de Geni, toda nudez será castigada.

*Walfrido Jorge Warde Júnior é presidente do Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

1 Comentário

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  1. Sonho brasileiro
    A Petrobras é fruto de um sonho brasileiro. Fruto de campanha popular que envolveu militares, estudantes, políticos progressistas atendendo o desejo de sanar a enorme carência de energia vivenciada na guerra mundial . Experiencias anteriores como a Pemex mexicana , a YPF Argentina , a ENI italiana influenciaram sua criação tardia. De início difícil , geologia adversa, atingiu tamanho gigantesco a ponto de ser indutora da nossa industrialização e ,garantia de autonomia de energia para o Brasil a preços administrados .
    Já entre as maiores do mundo descobriu enorme província de petróleo no pré-sal Atlântico .
    Sonho realizado, desperta a cobiça do mercado !
    Agora a quadrilha governaste a troco de 30 moedas destrói a Petrobras ,contrariando boa governança e até interesses de investidores privados. Fora temer .

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