José Roberto de Toledo: Temer não busca popularidade, mas concluir mandato

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: Beto Barata/PR – Fotos Públicas

Jornal GGN – A busca de Michel Temer nunca foi a aprovação popular, mas a de quem ele depende para governar: a base no Congresso. Garantido o apoio por troca de cargos, o segundo objetivo era aprovar as reformas que julga ser necessárias, o que aos trancos vem conquistando. A opinião é de José Roberto de Toledo, em sua coluna no Estadão.

Neste cenário de prioridades ao mandatário peemedebista, a mira da Lava Jato ou garantias sociais ficam em segundo plano para quem deve alcançar um único exemplo na história brasileira: o de Sarney, único que concluiu o mandato com a impopularidade reinando.

Por José Roberto de Toledo

Sarneyzição como desejo
 
Do Estadão
 

O governo Temer não perdeu popularidade, simplesmente porque nunca a encontrou. Nem procurar, procurou. Desde antes de chegar ao poder, sua agenda era e continua sendo implementar reformas que, mesmo se necessárias, não seriam tentadas por quem depende de votos, por quem é ou pretende ser popular. O plano era trocar apoio no Congresso por cargos e aprovar as reformas com urgência, antes que alguém notasse. Pois alguém notou.

A queda da aprovação de Michel Temer, o crescimento dos que o consideram ruim ou péssimo – segundo Ibope e Ipsos – não se deve só às suas declarações bufas sobre as mulheres. Nem é apenas porque quase metade do seu ministério está sob investigação. Temer ficou tão popular quanto Dilma Rousseff por reação à agenda que impôs. A última gota foi a reforma da Previdência.

Em março, o noticiário sobre mudanças na idade de se aposentar foi, segundo o Ibope, três vezes mais lembrado do que qualquer outro tema. Até mesmo corrupção. É daquelas raras ocasiões em que uma questão de política pública supera a atenção à Lava Jato. É fácil entender.

Diferentemente de outras tantas medidas que deputados e senadores despacharam sem pensar duas vezes, mexer nas regras de aposentadoria tem compreensão universal. A maioria entendeu que vai ter que trabalhar mais e corre o risco de receber menos. Viável ou não, era algo dado e que se pretende tirar. Sua consequência não é indireta, como a fixação de limites orçamentários ou mesmo a liberação geral da terceirização.

Até os congressistas perceberam que o eleitor vai senti-los mexendo no seu bolso se aprovarem a reforma como foi proposta. As emendas que desfiguram o projeto do governo, as ameaças de rebelião e as defecções já consumadas refletem a pressão contrária que deputados e senadores sentem de quem os elege. Há um ponto em que nem a fisiologia compensa o que podem perder. Aconteceu com Dilma, está acontecendo com Temer. Sinais abundam.

Renan Calheiros e Eduardo Cunha puxaram as cordas para a assunção de Temer. Enquanto um lidera o PMDB, o outro está preso e condenado a 15 anos. A diferença entre eles é a capacidade de ler o cenário e, quando necessário, retroceder. Renan é um sobrevivente. Desde o governo Collor, sempre soube voltar algumas casas para permanecer no tabuleiro. Seu desembarque de Temer é mais do que o desquite entre dois aliados de ocasião.

Líder da maior bancada do Senado, Renan pode atrapalhar muito na Previdência, mas talvez nem precise. A perda de governistas pelo caminho pode barrar a reforma antes mesmo de ela sair da Câmara. E se isso acontecer, o que será de Temer? Qual o propósito de um governo reformista que não reforma e é cada vez mais impopular?

Três presidentes antes do atual atingiram o patamar de ruim e péssimo que Temer alcançou. Collor e Dilma ficaram pelo caminho. Apenas um concluiu o mandato: José Sarney, um ex-vice e do PMDB, exatamente como agora. Se o passado serve de parâmetro para o futuro, o melhor cenário que espera Temer é uma sarneyzação.

Para quem não estava lá ou não se lembra, é o nome que se dá a um governo tutelado pelo Congresso, com pouca margem de manobra, e que se limita a esquentar a cadeira enquanto não se elege seu sucessor. A diferença é a Lava Jato. Na época de Sarney, as denúncias de corrupção abundavam, mas pouco se investigava. Tudo estava centrado no Congresso e em suas CPIs. Agora, há uma Polícia Federal autônoma, um Ministério Público independente e um Judiciário com ganas de ser protagonista da política.

A reforma da Previdência tornou-se o ponto sem retorno para Temer. Se não aprová-la, seu governo perde a razão de ser. Se passá-la, sua popularidade tende a cair ainda mais. Em ambos os casos, aumentará a pressão para abreviar sua gestão.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

6 Comentários

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  1. Pra quem manda de fato no

    Pra quem manda de fato no Brasil, o plano é este = Temer tem que fazer o Brasil voltar o máximo possível ao período pré-lei áurea. Se ele se mostrar frouxa pra tal, tira-se como se tira uma formiga da parede e aí não faltarão candidatos a concluir a Solução Final 2.0 que é essa reforma da previdência. O segundo passo é colocar em 18 alguém que irá com certeza manter essas medidas. Logo, Lula e Ciro podem ser eleitos, mas não tomam posse. O candidato, por ora, de quem manda aqui é o Dória. Provavelmente, se no poder em 19 (que os deuses nos livre) ele vai é aprofundar as reformas feitas até essa data. 

  2. castas

    “Temer não busca popularidade, mas concluir mandato”

    Sim. com mais dois anos ele acaba de implantar no Brasil o sistema de castas. Pobre volta para a escravidão vitalícia através da destruição da previdência e com a terceirização ampla e irrestrita. A casta classe média alta fica aonde está, e continua pensando que é rica. As média média se conforma em ser composta unicamente de feitores com a missão de tirar o couro do resto. Isso em troca de um carrinho um pouquinho melhor e um apartamentinho enfeitado pseudo chic.

    Todo o resto, o populacho, passa a ter dois direitos: trabalhar de sol a sol (quando encontrar trabalho) e se conformar calando a boca.

    Petróleo brasileiro? já era, BRICS? dançou, Soberania? foi, 5ª economia? vai sonhando. Temer nos conduzirá com suas mãos firmes para o gloryoso regime de Capitanias Hereditárias

  3. A quem o Toledo pensa que

    A quem o Toledo pensa que engana

    com esse texto – a pedido – fajuto.  Os

    patrões dele tudo farão para que se

    aprove  qualquer merda que mandar 

    para o congresso..

     

  4. A midia esconde que ladroes

    A midia esconde que ladroes governam e por isso o povo deixa de ter a corrupçao como preocupação em relação as perdas de direitos impostoa pela troupe golpista. Outro erro: colocar Dilma e Temer no mesmo balaio, a diferença entre os dois é enorme, o Temer apenas vende o patrimonio nacional e coloca sem dó o ferro no c…do povo…

  5. “Desde antes de chegar ao

    “Desde antes de chegar ao poder, sua agenda era e continua sendo implementar reformas que, mesmo se necessárias, não seriam tentadas por quem depende de votos”

    Basicamente, as reformas (eufemismo para precarização social) estão sendo implantadas com sucesso porque Temer goza de um superávit anti-democrático.

    Não foi eleito por ninguém, não representa a maioria da população brasileira, formada de trabalhadores, e julga (acertadamente) que sua sobrevivência política depende de servir de síndico da massa falida que se tornou o Brasil.

    Os credores recebem tudo, o Brasil volta a ser plantation, a elite se acalma recebendo um pedaço maior de um bolo menor.

    Essa é a visão tacanha, broxante, medíocre de quem só consegue imaginar um futuro subalterno para um país do tamanho do Brasil.

  6. Temer não busca popularidade, ele busca escravizar a população

    Vamos soltar o Temer bem no meio do Complexo de Favelas do Alemão, sozinho, e vamos ver como ele será recepcionado pela população.

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