Mais fumaça sobre o caso Marielle, por Gustavo Gollo

Por Gustavo Gollo

Compelida a se pronunciar sobre o assassinato de Marielle Franco, em vista das desastradas manifestações da Procuradoria Geral da República (PGR), a Rede Globo tratou de adensar as cortinas de fumaça previamente erguidas por ela própria, tornando a repetir as fake news que havia inventado anteriormente, e que vinham sendo repetidas pelos papagaios caolhos que compõem nossos meios de comunicação.

Dias atrás, a PGR acolheu “denúncias gravíssimas” com as quais justificou a abertura de uma “investigação da investigação”, nas palavras do ministro da segurança pública, que se encarregou de divulgar a ação.

Fake news

A primeira dessas denúncias corresponde a uma cortina de fumaça inventada por O Globo logo após a revelação, feita pela Rede Record, de que a arma do crime, ao contrário do que vinha sendo divulgado, teria sido uma submetralhadora utilizada pelas forças especiais da polícia, e raramente por outros.

 

A farsa consistia em dar credibilidade a uma denúncia efetuada por um policial que costumava trabalhar fazendo bicos para milicianos, contra seus ex-patrões. Segundo a denúncia, durante um almoço, em um restaurante, enquanto dava cobertura aos criminosos, o policial teria ouvido conversa na qual os 2 acusados trocaram palavras ameaçadoras, referentes supostamente a Marielle, uma então desconhecida. O fato teria ocorrido quase um ano antes do crime.

A denúncia apontou não só os 2 supostos mandantes do crime – nomes amplamente divulgados pelos meios de comunicação, desde então –, mas uma dúzia, ou mais, de outros nomes de coautores da execução – nomes, esses, estranhamente, quase sempre omitidos pelos meios de comunicação, assim como o nome do policial delator.

Jornal Nacional

Em reportagem de 5 minutos e 45 segundos, apresentada no Jornal Nacional, ficamos sabendo que uma das denúncias gravíssimas citadas acima, que levaram a PGR a instituir uma investigação das investigações, correspondia à delação citada acima, presenciado pelo policial enquanto fazia um bico para os milicianos, dando cobertura aos criminosos. A informação constrangedora havia sido previamente omitida pela PGR. (O vídeo referido foi proibido, comento o fato ao final desse).

A Globo não informou o nome do denunciante, nem se interessou em saber que providências o policial teria tomado ao ouvir a ameaça de assassinato, delatada por ele. Nem tampouco a Globo informou se a PGR e a polícia teriam tomado providências a respeito da confissão, apresentada pelo policial, de participação na quadrilha.

A mesma reportagem reiterou informação divulgada pela PGR de que a outra denúncia gravíssima a ponto de suscitar a abertura de uma “investigação das investigações” provém de um dos denunciados na primeira denúncia! E exatamente do criminoso encarcerado desde agosto do ano passado – 7 meses antes do assassinato –, e acusado de uma dúzia de homicídios! De sua cela, o criminoso teria descoberto as irregularidades nos procedimentos dos investigadores. A argúcia da PGR ao se basear, exatamente, no relato do acusado encarcerado foge de minha compreensão.

A ação intempestiva da PGR parece ter vindo em resposta a denúncias estrondosas efetuadas pelo ministro da justiça, denúncias prontamente abafadas e esquecidas pelos papagaios caolhos de nossos meios de comunicação.

O escárnio

A pilhéria foi iniciada pelo jornal O Globo, na forma de uma cortina de fumaça feita de modo a desviar as atenções e eliminar suspeitas sobre policiais que teriam utilizado a submetralhadora descoberta como arma do crime. Confiante na capacidade de transformar em verdade qualquer disparate nele veiculado, o jornal divulgou o relato inverossímil do policial ressentido contra os ex-patrões, criminosos notórios, transformando-os em bois-de-piranha logo apresentados em todos os meios de comunicação como mandantes do crime.

A chacota ia de vento em popa, repetida impensadamente por todos os que aventavam o assunto, quando, em um lapso, uma nova troça – essa seriíssima – foi veiculada pelo mesmo jornal.

Em 19 de agosto o jornal O Globo discorreu sobre o Escritório do Crime, matadores de aluguel altamente treinados e organizados, composto por policiais e ex-policiais, que teria cobrado R$ 200 mil pelo assassinato de Marielle. Com forte dose de sarcasmo, o repórter acrescentou informações muitíssimo detalhadas do crime e do bando, como o adicional cobrado pela execução de Marielle devido à estrondosa e inesperada repercussão do caso.

Estranhamente, um pacto de silêncio foi imposto sobre a notícia reveladora, que parecia resolver todo o caso e lançar luz sobre muitos outros. Procure informações sobre a notícia bombástica e tente avaliar a idoneidade de nossos meios de comunicação, que ignoraram acintosamente a notícia. Teria sido o “Escritório do Crime” uma fake new inventada pelo jornal O Globo com o mero intuito de aterrorizar seus leitores? Nem isso perguntam. Um pesado silêncio ainda se impõe, como um tabu, sobre o tema.

Mesmo assim, a notícia chegou aos ouvidos de um dos acusados, que, do cárcere – onde se encontra há mais de 1 ano –, tratou de escarnecer da nova acusação imputada a ele – que responde por 12 assassinatos –, alardeando que o crime que lhe era imputado tinha sido efetuado pelo escritório do Crime. Desavisadamente, na voz do detento, a notícia furou o pacto de silêncio.

Sarcasticamente, a denúncia da existência do Escritório do Crime, repetida pelo condenado, serviu de justificativa para que a Procuradoria Geral da República distorcesse o seu alvo para com ela lançar uma intimidante investigação da investigação. Que problema poderia haver na utilização desse, ou de qualquer outro despautério por coalizão de forças tão poderosa? Não estaria a atitude reforçando o propósito do assassinato de deixar muito clara a mensagem: “Mato mesmo, por que? Não gostou?”.

Tudo indica que as relações do crime organizado com o poder, referidas pelo ministro da justiça, ultrapassam longamente as fronteiras do estado do RJ.

   

Sobre a proibição judicial

No sábado um juiz proibiu a veiculação pela Globo do vídeo referido acima e de outros baseados nas mesmas informações, proibição que poderia ser interpretada como censura, e condenada em virtude de tal consideração. Censura à imprensa é uma atitude nefasta e altamente condenável por impedir o esclarecimento da população.

A Globo, no entanto, vem desde o início lançando cortinas de fumaça sobre o caso, inventando notícias falsas sobre o assunto e ocultando fatos relevantes, dando seguidas mostras de tentar encobrir os assassinos de Marielle, e raros sinais de empenho em esclarecer os fatos. Tivesse interesse real em informar seus leitores e já os teria esclarecido sobre o Escritório do Crime, com quem repórteres de O Globo têm grande intimidade, conforme ficou claro na reportagem única feita pelo jornal, em agosto.

Em vista do interesse demonstrado pela Globo em abafar os fatos significativos sobre o caso desde a ocorrência do assassinato, e após 8 meses de sigilo absoluto na investigação, fica-se imaginando que barganhas ela teria feito para invadir dependências da polícia e se apossar dos arquivos contendo os documentos sigilosos, e com que propósitos.

De qualquer modo, a sanção legal à ação, na forma de censura, abre precedente lamentável em momento especialmente ruim.

leia mais:

https://jornalggn.com.br/fora-pauta/marielle-franco-e-o-escritorio-do-crime-por-gustavo-gollo

https://jornalggn.com.br/fora-pauta/quem-esta-protegendo-os-assassinos-de-marielle-por-gustavo-gollo

Redação

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