Moraes, a influência sobre a Lava Jato e a impunidade, por Janio de Freitas

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – Contundente em seu artigo desta quinta-feira, Janio de Freitas esmiuça o inimaginável grupo que se instalou no Planalto, por um atalho criado com benesses e ferindo nossa democracia. Trata com rigor a delação vazada de Alexandre de Moraes e a intenção do governo atual em mandar a situação para a Comissão de Ética. Ética como, pegunta Janio, um governo que carrega um anão do orçamento, um recordista de fraudes em concorrências, e outros tantos citados e nominados em denúncias e em processos.

O artigo é claro. A ação do então ministro, sua visita à Polícia Federal, suas falas na terra do próprio Palloci, são indícios mais que claros de sua tentativa de influenciar a Lava Jato. 

Janio vai mais longe, ao tocar em um ponto sensível para a cidadania hoje: a anulação do julgamento dos indiciados pelos 111 assassinatos no Massacre do Carandiru. Uma ofensa ao cidadão e um passe livre para as mazelas apoiadas pelo próprio delator de ações da PF, o ministro da então Justiça. É a impunidade.

Leia o artigo a seguir.

da Folha

Moraes mostra que governo tenta influenciar Lava Jato

por Janio de Freitas

Nem a “investigação” do ministro da Justiça se justifica, antes devendo-se um agradecimento a esse precário Alexandre de Moraes; nem é verdadeiro que desembargadores paulistas tenham apenas anulado os cinco julgamentos e condenações precedentes dos 74 PMs do massacre de 111 presos no Carandiru.

A tal investigação, por Moraes ter informado jornalistas de nova operação da Lava Jato nesta semana (a prisão de Antonio Palocci), está a cargo da Comissão de Ética da Presidência. A Comissão, porém, não tem condições de investigar a ética de alguém, se não olha à sua volta e toma as providências consequentes.

Está na sua vizinhança, com banca de ministro na Presidência, um “anão do orçamento”, integrante do grupo de deputados que fraudava o Orçamento nacional em proveito próprio. Também com banca na Presidência, também o recordista de fraudes em concorrências, mancomunado com as grandes empreiteiras quando governador do Estado do Rio. E, para não perder mais tempo, um presidente homenageado por delações na Lava Jato e pendurado em processos na Justiça Eleitoral. Nenhum deles notado pela Comissão de Ética.

Acima de tudo, Alexandre de Moraes fez uma delação verdadeira. Quando delações de óbvia falsidade são feitas para receber prêmios, e aceitas como válidas, a delação que se comprovou, já de um dia para o outro, não deveria passar pela inversão ética de ser ela a perseguida.

Se esses argumentos forem insuficientes, ainda há o serviço prestado ao país por Alexandre de Moraes, como convém a um ministro da Justiça. No governo Dilma, os aécios não se cansaram de propalar que o governo interferia na Lava Jato, prejudicava-a, queria controlá-la. Até que o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, em nome da Lava Jato, disse que o governo jamais fez, ou tentou, qualquer interferência na operação.

Moraes e sua delação aos repórteres revelaram mudança essencial. Mostrar-se informado de próximas ações da Lava Jato significa que o governo atual extinguiu a distância que o separaria das operações, como se deu com a liberdade plena entregue, por Dilma e José Eduardo Cardozo, à ação da Polícia Federal.

Conhecimento das ações da Lava Jato, sendo a PF subordinada ao ministro, só tem sentido se for para praticar o poder hierárquico de influência. Para quem se lembra do que disseram Romero Jucá e outros, sobre a necessidade e modo de “parar essa sangria” feita pela operação, Moraes deu sinal de grande utilidade. Por mim, muito obrigado.

O sexto julgamento do Carandiru, por sua vez, ocorre quase um quarto século depois do massacre. Os desembargadores Ivan Sartori, relator, Camilo Léllis e Edison Brandão determinam que o processo volte ao começo. Por sorte, não pensaram em começá-lo um pouco mais atrás, pelo morticínio de 111 presos.

Cinco conjuntos de condenação anulados em sequência, um quarto de século de liberdade e impunidade dos acusados –o que é isso, se não for uma forma de absolvição? Os 74 PMs estão absolvidos de fato, em demonstração irrefutável do massacre que o sistema de Justiça –não os juízes como indivíduos, o sistema que os engolfa– aplica na ideia de Justiça.

MEMÓRIA

Shimon Peres era o último estadista vivo. Com a grandeza que tinha, sua simples existência era suficiente para impedir a natureza dos netanyahus de levá-los até onde desejariam.

MISTÉRIO

Pesquisas Datafolha: entre a de 21 e a de 26 de setembro, o líder Marcelo Crivella cai de 31% para 29%. Pesquisas Ibope, fechadas em 13 e 25 de setembro: o líder Marcelo Crivella sobe de 31% para 35%. Apenas 24 horas entre os fechamentos e, no entanto, tendências opostas com seis pontos de diferença (ou cerca de 20%).

Nos demais candidatos, curiosamente, os resultados das duas pesquisas foram iguais ou vizinhos.

Mais problemas, daqui a pouco. 

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

6 Comentários

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  1. Jãnio de Freitas só não foi

    Jãnio de Freitas só não foi “convidado” a “limpar as gavetas” ainda porque trata-se de Jânio de Freitas. A sua permanência pode ser entendida como a conservação do verniz com que o jornal tenta vender-se como imparcial, o que, sabemos, não é verdade.

  2. Tá tudo dominando

    Tá dominado, tá tudo dominando… vede ser a música mais cantanda pelo PCC. Sim, depois de dominar literalmente o aparelho de segurança do Estado de São Paulo, agora o seu representante mor está na pasta da Justiça. Tá dominado, tá tudo dominado.

  3. Temer e Carandiru: tudo a ver.
    Temer foi secretario de segurança do ex_ governador de S Paulo, Fleury. Condenar os Pms no massacre de 1992 seria o mesmo que condenar Temer tambem. Mas a roda gira e o Vampiro do Carandiru virou o chefe da Naçao onde quase todos sao pobres e pretos como no Haiti e no Carandiru. Quase todos do Pavilhao 09 morreram com tiros nas costas. O que sera de nos, governados por gente como o Careca do Abc e o Vampiro do acarandiri?

    1. O secretário foi outro…

      …foi Pedro Franco de Campos – assim como Fleury, promotor de justiça no Ministério Público de SP. Desta vez, a culpa não foi de Temer…

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