O ‘covard-38’ é o vírus político mais letal, por Gustavo Conde

Na quarentena global, seremos obrigados a refletir sobre nós mesmos - e o topo da pirâmide financeira tem verdadeiro pânico em ver sua força escrava de trabalho "pensando".

O ‘covard-38’ é o vírus político mais letal

por Gustavo Conde

Tem muita gente comemorando o caos global gerado pelo coronavírus.

A tendência é que tenhamos um salto gigantesco na audiência da internet, cada vez mais a única via de interação e de informação – boa, ruim ou péssima – a que temos acesso.

Eu lido diretamente com esse bicho. As ações do aplicativo Zoom, que usamos para fazer vídeo-conferência, dispararam.

Sites, blogs, canais de Youtube, terão uma explosão de novos usuários nas próximas semanas – e muitos executivos da cena digital se reposicionam e investem para consolidar suas marcas.

É a corrida digital do coronavírus – com as cifras de oportunismo e desumanidade embutidas.

O mundo nunca mais será o mesmo (nem nesse nem em tantos outros aspectos).

Esqueçam em definitivo jornais e revistas de papel. Eles morreram para sempre.

Teremos, ademais, de dar um novo significado à experiência social. Valorizar mais a presença do outro.

A jornada será longa, meus queridos.

Na quarentena global, seremos obrigados a refletir sobre nós mesmos – e o topo da pirâmide financeira tem verdadeiro pânico em ver sua força escrava de trabalho “pensando”.

Os filmes apocalípticos parecerão brincadeira de criança perto da complexidade real que é uma pandemia biológica associada ao pânico dos mercados. Não porque eles não são suficientemente aterrorizantes, mas justamente porque o terror social que se torna real ganha um ar de normalidade insuportável.

É quase paradoxal, mas o grande horror que nos espreita é a normalização e a institucionalização de um problema criado por nós mesmos: as relações desumanas de trabalho, as aglomerações desestruturadas urbanas, a ganância, o desprezo atávico pela saúde pública, pelo transporte coletivo, pela educação.

Não é a classe média no espelho, mas é a humanidade no espelho.

Nós, no Brasil, temos um ingrediente adicional, o mais letal deles todos. Temos um presidente que se alimenta da propagação de mentiras e da própria possível doença: ele violou a quarentena e saiu às ruas – sem sair do carro – nas manifestações fascistas deste infame dia 15.

Como é da cultura de todos nos brasileiros, deixaremos para a última hora o combate mais importante nessa crise de coronavírus: a retirada do poder do vírus humano que atende pelo nome fantasia de Bolsonaro [o Covard-38].

E não custa comentar: a essa altura do campeonato, tem gente preocupada em não gerar pânico. Em geral, quem pede para não gerar pânico, ‘está’ em pânico.

A linguagem é ingrata: ela acaba sempre por revelar o sujeito que habita as profundezas do ‘eu’, basta ter um pouco de atenção.

Em tempo: nós não precisamos nos preocupar com o ‘pânico’, que já existe a despeito do nosso desejo. Nós precisamos enfrentar o desafio inédito de seguir protocolos de segurança que nos garantirão a vida e a coletividade, com pânico, com STF, com tudo.

Como o Brasil tem a elite mais egoísta e sanguinária do planeta, o desafio se estende a também sermos obrigados a lidar com ela.

Eles é que estão em pânico (pânico é um sentimento pequeno-burguês: rico tem pânico, pobre luta – nasce lutando).

Era uma hora boa para resolver essa pendência histórica no Brasil: a hora em que todas as classes estão no mesmo barco da incerteza (quem sabe uma revolução comunista armada?).

Fato é que o Brasil experimenta o coquetel ideal do genocídio assistido, processo de controle social desejado por essas elites milicianas e empresariais que debutam no poder.

E nós ainda insistimos em assistir a isso como um show passageiro de horrores.

Trata-se não de erro primário ou estratégico, mas de um gesto suicida.

A epidemia de covardia no Brasil ainda é muito grande. Contra ela, nós não podemos criar anticorpos ou vacina: nós temos de permanecer alérgicos.

O recomendado pelo “infectologia política” é não permitir a aproximação da covardia. Dilma Rousseff nos ensinou isso de maneira quase rudimentar, por duas vezes seguidas na história: uma quando não entregou companheiros sob tortura física, outra quando não aceitou conciliação sob tortura política, judicial e midiática (uma tortura tão hedionda quanto o pau-de-arara).

Dizem os ditados surrados que perambulam como zumbis por aí, ao longo da história: é das crises que nascem os líderes.

Talvez, tenha chegado mais essa hora para o nosso destino – que carece de líderes porque chafurda no superávit de covardia.

É bom liderarmos todo esse processo devastador de morte ‘biopolítica’. É liderar primeiro a própria “casa”, a autoestima. Depois, multiplicar esse processo entre os seus.

Esse foi o aprendizado deixado por Lula, por ora e ainda, o único líder ainda em atividade neste país.

 

Redação

5 Comentários

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  1. Acabo de ver em meu face um filme de uma mãe sentada no ponto de ônibus com uma bola na mão enquanto seu filho pequeno 2/3 anos parte para cima dela para agredir-la fisicamente. Tem mais gente no ponto, mas parece que não prestam atenção a cena. Cada vez que isso acontece ela segura seus braços para impedir a agressão e depois os solta de novo, quando então a criança de novo parte para cima para novamente tentar agredi-la.
    Essa cena se repete inúmeras vezes até ficar cansativo de ver.
    Quem postou pergunta: O que você faria num caso desses? Respondi: Dava umas palmadas na hora e chegando em casa dava um castigo privando-o de coisa que ele gosta como celular ou bicicleta por um dia e explicando o porque das palmadas e do castigo e que isso irá aumentar se ele não mudar o seu comportamento.

    Não posso deixar de traçar um paralelo entre essa cena e o que Bolsonaro vem fazendo cotra o Congresso e o STF, sem que os mesmos tomem qualquer providencia para deter tais agressões.
    No caso em tela, poderia inclusive punir um dos seus filhos, que incorrem em vários atos de desrespeito as instituições, como uma espécie de advertência, antes de medida mais dura contra o mandatário autoritário.
    Seria também uma maneira de ir testando a capacidade dos golpista de cumprirem seus objetivo, se já tem cacife.
    Do jeito que as coisas estão, não tarda muito e os tanques estacionam em frente aos dois poderes por pura falta de inciativa reativa por parte dos dois.

    Deixando tudo como está, como aconteceu com a acensão de vários ditadores mundo afora, que antes da tomada do poder total vai minando os demais, fica-se a impressão que o que temos é arremedo de democracia, uma democracia consentida.

  2. Lamentável: ninguém comenta….e quando se comenta é uma cera só para publicarem……será que foram…. prestigiar o covard-38? aLIÁS, COVARDE MESMO POIS QUANDO O DESAFIEI PARA UM DUELO NA RAMPA ELE FEZ DE CONTA QUE NÃO SOUBE DE NADA….VERME É VERME, ESTRUME, ESTERCO…

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