O crescimento de Colômbia, Peru e México e a crise internacional

Artigo do Brasil Debate

Por Saulo Abouchedid e Alex Wilhans Palludeto 

O debate no campo econômico se voltou nos últimos dias para o tema da crise internacional e seu impacto sobre o Brasil.

O ambiente de estagnação e elevada incerteza que se formou nas principais economias do globo (EUA e zona do euro), ao gerar um declínio dos fluxos de comércio e alta volatilidade dos fluxos financeiros, impactam, ainda que de forma desigual, as economias emergentes.

Certos economistas, no entanto, afirmam que a crise internacional já arrefeceu (como declarou Armínio Fraga em entrevista conjunta com Guido Mantega no canal Globonews) e que o desempenho econômico brasileiro recente se deve, sobretudo, à falta de confiança ensejada pelas políticas econômicas adotadas.

Os exemplos que supostamente ilustrariam esse argumento se concentram no crescimento relativamente vigoroso de alguns países da América Latina: tais como Colômbia, Peru e México.

Mas será possível explicar o dinamismo econômico desses países simplesmente pela estabilidade das “regras do jogo”, ou se trata de mais um conto, dentre os inúmeros já existentes, da fada da confiança que povoa a mente de muitos economistas?

De fato, o crescimento recente (e também aquele previsto para 2014) da Colômbia, do Peru e do México não é o desdobramento “natural” de um ambiente que transmite mais confiança ao empresariado em virtude do menor peso do Estado na esfera econômica.

Conforme aponta o Estudio Económico de América Latina y el Caribe da Cepal (órgão da ONU), esses três países praticaram políticas claramente de cunho expansionista – inclusive como forma de contrarrestar os efeitos da crise internacional, que segundo aqueles economistas já não mais sequer existia.

No caso da Colômbia, o governo incrementou fortemente seus gastos em investimentos (aumento de 19% em 2013 em relação a 2012) por meio do Plano de Impulso à Produtividade e ao Emprego.

Os detalhes do plano evidenciam semelhanças com algumas medidas adotadas pelo Brasil recentemente, tais como a redução dos custos de energia, desoneração da folha de trabalho e o uso de crédito subsidiado por meio de ampliação dos bancos públicos de desenvolvimento.

Peru, por sua vez, apresentou uma política fiscal e monetária expansionista, permitindo um aumento do investimento público e do consumo privado.

Já quanto ao México, a redução do crescimento em 2013 (1,0%) em comparação a 2012 (4,0%) foi, em grande parte, resultado de um ajuste fiscal que desacelerou a demanda interna, levando a uma reorientação das autoridades domésticas.

O crescimento de 2,5% esperado em 2014 expressa o déficit público de 3,5%, já aprovado pelo Congresso, o qual inclui investimentos da Pemex (empresa estatal do setor de petróleo).

Portanto, as ações dos nossos vizinhos, diante do cenário de turbulência da conjuntura internacional, direcionaram-se para a sustentação e/ou até mesmo ampliação do papel do Estado no estímulo à demanda agregada.

Nesse sentido, o crescimento não veio acompanhado de um suposto aumento da confiança decorrente de uma diminuição do intervencionismo estatal. E, portanto, da discricionariedade. Tampouco foi resultado do estabelecimento de instituições e normas transparentes – que embora necessárias, não são suficientes para promover o crescimento.

Destarte, o debate acerca do futuro da economia brasileira não pode se concentrar na oposição austeridade versus discricionariedade (ou neutralidade versus intervencionismo).

Como demonstra a experiência recente desses três países, as discussões devem ser feitas no contexto de um Estado atuante. De fato, se a confiança é um fator relevante para o dinamismo econômico, ela não é um fruto da neutralidade do Estado (como muitos parecem sugerir) e, sim, do direcionamento de suas ações frente a momentos adversos.

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Redação

16 Comentários

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    1. Eu ia falar isso mesmo.  O

      Eu ia falar isso mesmo.  O ultimo paragrafo eh estressante de se ler, alias:  “Estado atuante”?!?!  NO MEXICO?!?!?!

      1. SANTAYANA:http://www.maurosan

        SANTAYANA:http://www.maurosantayana.com/

         

        “uma nação cuja renda, segundo a OCDE, é de menos de sete dólares por dia; um país que tem o menor salário mínimo da América Latina, equivalente a 10.99 reais por jornada; no qual apenas 25% das pessoas tem acesso à internet; que acaba de cair seis posições no ranking de Competitividade Global do Fórum Econômico Mundial, ficando por trás do Brasil; e, segundo a OIT, 60% da força de trabalho está na informalidade; mais de 75% da população não tem cobertura previdenciária, e, segundo a CEPAL, 13% dos habitantes são indigentes e 40% da população está abaixo da linha de pobreza? “

         

        RESPOSTA: MEXICO!

        1. ] E este páis era o exemplo a

          ] E este páis era o exemplo a ser seguido por Aécio e Armínio Fraga.

          Aliás, este Naufraga não estava na chapa do Aéco à toa. Tinha uma missão. E não era levar o Brasil ao progresso.

        2. Que coisa heim, todas as

          Que coisa heim, todas as estatisticas indicam que a renda per capita do Mexico é maior que a do Brasil , um PIB US$1,845 trilhões para 120 milhões de pessoas contra um PIB de US$ 2,416 trilhões do Brasil para 205 milhões de pessoas, ambos de 2013 e pelo mesmo criterio, paridade do poder de compra, quer dizer que lá é só miséria e aqui é so abundancia.

          1. “estatisticas indicam que a

            “estatisticas indicam que a renda per capita do Mexico é maior que a do Brasil , um PIB US$1,845 trilhões para 120 milhões”:

            A quem voce pensa que esta enganando, Andre?  Voce conhece um mexicano que seja?  Saberia a razao de 10 milhoes de mexicanos -ou coisa parecida- estarem nos EUA ou serem descendentes deles?

            O Mexico virou uma desgraca pros seus cidadaos.  Cadonde foi parar esse dinheiro todo que o “PIB” mexicano diz que tem?

            Nenhum mexicano o viu, ok?

  1. Noticias quase censuradas no Brasil
    BRASIL/ECONOMIA – Artigo publicado em 28 de Outubro de 2014 – Atualizado em 31 de Outubro de 2014

    Brasil terá um dos melhores desempenhos econômicos da América Latina em 2015, diz Cepal

    A secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena, fez previsões otimistas sobre a economia da América Latina e Caribe.A secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena, fez previsões otimistas sobre a economia da América Latina e Caribe.Foto: Carlos Vera/CEPAL

     

    RFI – Rádio França Internacional

    A América Latina e o Caribe devem registrar um crescimento de mais de 2,5% em 2015. A estimação é da secretária-executiva da Comissão econômica para a região (Cepal), que aposta em um resultado melhor que os 2,2% previstos para 2014. Para ela, o Brasil terá um dos melhores desempenhos da zona.

     

    Após uma modesta previsão para 2014, a América Latina e o Caribe devem retomar o caminho do crescimento no ano que vem. “Eu acredito que 2015 vai ser um ano melhor para a região”, declarou nesta terça-feira (28) em Havana a secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena. “Creio que (o crescimento) será superior a 2,5%”, enfatizou.

    Segundo a executiva, brasileiros, argentinos e chilenos, registrarão um avanço com relação a 2014. “”O Brasil é, sem dúvida, um país que terá um melhor desempenho no ano que vem”, completou.

    No entanto, a executiva alertou para o contexto internacional, que continua delicado. “A Europa ainda não conseguiu sair da crise”, lembrou. Já a retomada do crescimento nos Estados Unidos, prevista para atingir 2% este ano, pode contribuir para a situação no resto do continente e estimular as economias da América Central e Caribe, frisou Alicia Bárcena. Ela lembrou que o envio de dinheiro de latino-americanos que vivem nos Estados Unidos é uma fonte de renda importante nesta região.

    A Cepal havia revisto para baixo as previsões de crescimento para na América Latina e no Caribe, com estimativas que passaram de 2,7% para 2,2%. Segundo a comissão, a principal razão dessa desaceleração é a fraca demanda de matérias-primas, principalmente da parte de a China.

    Já o Fundo Monetário Internacional (FMI) é mais pessimista. A instituição aposta em uma progressão de 2,2% para 2015. Já para este ano, o fundo prevê um crescimento de apenas 1,3%. Se confirmado, esse seria o índice mais baixo desde 2009.

     

  2. “… ou se trata de mais um conto…”

    Claro que se trata de mais um conto. Do contrário teriam que incluir a Bolívia como o País que mais cresceu economicamente. Mas eles – Arminio e sequazes que por aqui aparecem – são trapaceiros.

     

    Basta colocar “Bolívia crescimento econônico” no google para ler estas e outras informações:

     

    “De 2007 a 2012, a expansão anual média do PIB no país foi de 4,8%. E, para este ano, o FMI projeta um crescimento acima de 5%.”

    “Neste primeiro intervalo, a média da renda per capta da população era de US$956 e desde 2006 até 2012, subiu para US$1.775.”

    “Em 2013, a economia boliviana registrou uma taxa histórica de crescimento com 6,8%, sendo a mais alta dos últimos 38 anos, graças ao setor de hidrocarbonetos e a grande demanda interna. Neste ano, o avanço será menor devido aos resultados globais, mas ainda assim o país liderado por Evo Morales manterá os índices mais altos da região (5,5%).”

     

  3. País muito grande

    A enormidade e heterogeneidade do Brasil, fazem que o seu crescimento seja diferenciado entre as regiões.

    Assim, o Nordeste, pelo que tenho ouvido, cresceu bastante mais que a média do Brasil, quem sabe quase na mesma proporção que a Bolívia ou outros países mais pobres cresceram.

     

  4. Em nenhum momento Aécio ou

    Em nenhum momento Aécio ou Ermínio disseram que não iriam atuar na economia e nem que os governos de Peru, México ou Colômbia não são atuantes. Isso quem deduziu foi o autor do texto.

    O que se tenta demonstrar é que o governo brasileiro atua de maneira equivocada.

    E a UE acaba de entrar contra a política de incentivos tributários à indústria brasileira na OMC. Apenas mais uma demonstração de que, além de não produzir resultados, esse protecionismo a base de incetivos fiscais, privilegiando a incompetência nacional, é uma burrice.

     

  5. Comparações equivocadas

    Comparar dois paises narcotraficantes, como o Mexico e colombia com o Brasil, dizendo que o crescimento de seus pib são maiores, não que dizer absolutamente nada!  É só interesse de mostrar que os paises na esfera americana não estão ferrados.  Os artigos do Santayana, já postados neste em outro comentário do blog, são suficientes para entendermos os assunto.

    1. Que bobagem

      Conheço muito bem a Colômbia e sei dos problemas que lá existem em relação ao uso do combate ao tráfico para a manutenção do poder de grupos ligados a oligarquias e aos EUA mas dai a ofender uma nação importante da América do Sul chamando-a de pais de narcotraficantes representa ignorância e preconceito. Acho que o mesmo vale para o México, um país de pessoas trabalhadoras e nacionalistas como nunca ví em nenhum outro lugar, o texto apresenta uma idéia semelhante a antiga crenças de muitos estadunidenses de que o Brasil é uma grande floresta e a população mora em ocas.

  6. Senhores: é que os

    Senhores: é que os economistas só enxergam PIB na sua limitada cabeça. Justiça social, não se inclui nesses “estudos”. O méxico, um país lindo e de cidadãos simples, tem uma injustiça social altíssima. Mas, para economistas, isso é irrelevante. É o caso da índia. A injustiça social é tenebrosa, mas o “crescimento econômico” está muito bem. Capitalista só vê capitalista, o resto é pra permanecer no lixo mesmo.

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