O futuro tem o coração antigo e a mente alerta para os novos tempos, por Walter Sorrentino

O futuro tem o coração antigo e a mente alerta para os novos tempos

por Walter Sorrentino

Neste 9 de julho instituiu-se nova data do calendário para além da dita Revolução Constitucionalista de 1932. Trata-se do Dia da Luta Operária – em memória das lutas e conquistas da classe trabalhadora do Brasil. Foi instituída ano passado, pela Câmara dos Vereadores de São Paulo, por iniciativa do vereador Antônio Donato, do PT.

A data homenageia a grande Greve Geral de 1917, centenária o ano passado. E para isso, homenageou José Luís del Roio, que acaba de lançar seu livro A greve de 1917 – os trabalhadores entram em cena, recém-publicado pela Fundação Lauro Campos em coedição com a Alameda Editorial. Na capa, contém a foto de uma mulher liderando a greve.

A justa homenagem a Del Roio encheu o armazém tombado dos Matarazzo, na rua do Bucolismo, Brás, concentração operária, em grande parte imigrantes, e foi local de manifestação da referida greve – disputada entre anarquistas e futuros comunistas – onde pela primeira vez se entoou em público o hino A Internacional.

O evento coroa uma nova data, como disse, de comemoração das lutas de classes dos trabalhadores. Aliás, a terceira: consta também o 9 de julho da Revolução de 1924, na mesma São Paulo. Uma revolta tenentista liderada Por Isidoro Dias Lopes, general de brigada que agiu como o Marechal da Revolução. Tomaram a cidade por 23 dias, bombardeados pelo governo federal – especialmente o Brás operário -, expulsaram o governador. Mas face à desigualdade de forças, retiraram-se  mil mortos e quatro mil feridos depois, e muitos deles se integraram à Coluna Prestes, chegados a Foz de Iguaçu.

A todos os títulos, ambos os 9 de julho, representam mais o que é São Paulo do que a de 1932, quando setores da elite paulista, insurgindo-se contra o poder de Getúlio Vargas, foram às armas e derrotados para abrir caminho à modernização conservadora do Brasil. Tivessem vencidos, estaríamos dobrando as aposta no velho papel de exportadores de produtos primários agrícolas, quando se desfazia a hegemonia imperialista inglesa e assomava a dos EUA, consolidada após a Segunda Guerra Mundial. A propósito disso, não se salvaram os irmãos argentinos, na mesma circunstância, que viveram um período de decadência da qual emergiu o general Perón.

 Del Roio é dessas figuras emblemáticas e imprescindíveis do movimento operário revolucionário. Membro do PC do Brasil, adiante liderou com outros revolucionários a formação da Aliança Nacional Libertadora, cujo líder foi Marighela. Sua primeira esposa foi dada como desaparecida na ditadura militar. Historiador, publicista e escritor, é ligado profundamente à memória do movimento operário. Foi senador pela Itália, membro da Refundação Comunista. Um ideólogo da causa socialista dos trabalhadores.

Homenageá-lo é reviver e viver esse compromisso, com a saudável ortodoxia que não perde de vista que os interesses fundamentais dos trabalhadores serão os de emancipar toda a sociedade da exploração e opressão de qualquer tipo. É compreender que, malgrado novas morfologias, composição e formas de exploração, as classes trabalhadoras serão sempre o artífice principal dessa gesta. É reafirmar que o futuro tem o coração antigo e a mente alerta para esses novos tempos.

No Brasil, essas lutas legaram instrumentos fundamentais a elas: da greve geral de 1917 gestou-se o Partido Comunista do Brasil, que viria depois a liderar as maiores greves do país em 1953 – onde campearam figuras como Roberto Morena e Ângelo Arroyo; das grandes greves de São Bernardo do Campo, gestou-se o Partido dos Trabalhadores.

É com esse patrimônio acumulado que, ao homenagear Del Roio e a data, se fixa o olhar para o tempo atual, pleno de contradições, mas que têm um vetor essencial: a luta de resistência contra o desmonte do Estado de direito democrático protagonizado ontem pela subversão de setores do Judiciário com Sérgio Moro à frente de outros asseclas, que puseram a nu seu papel nefasto. Quem foi posto no banco dos réus, além da democracia, foi a soberania nacional, os direitos do povo. Por isso a liberdade e justiça a Lula são símbolos maiores dessa luta.

Mas a resistência se fortalece se houver perspectivas e elas abrem uma oportunidade imperdível para a esquerda, as forças progressistas e democráticas nas eleições vindouras. Fracassado em toda a linha o golpe de 2016, exigem tirocínio político que se ponha acima dos legítimos interesses de cada força partidária para produzir uma convergência programática única para salvar o Brasil e, em alto e bom som, compreender que unidos somos mais fortes e podemos chegar ao 2º turno e vencer.

Viva o Dia da Luta Operária de São Paulo! Viva Del Roio, um de seus mais representativos mensageiros.

 

Redação

2 Comentários

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  1. MMDC(A) LIVRE.FACULTATIVAMENTE JÁ FOMOS A VANGUARDA DO MUNDO

    Jovens |Estudantes e Advogados formados sobre as Catedras da Faculdade de Direito do Largo São Franscisco, desarmados e assassinados a sangue frio por Caudilho Ditador Fascista talvez seja parte realmente da Elite Paulista. Liberal. Democrática, Igualitária. Facultativa. Elite de Governos Eleitos Diretamente a cada 4 anos. Elite cujos expoentes eram Castro Alves, Rui Barbosa, Cruz e Sousa, Lima Barreto, Monteiro Lobato, Oswaldo Cruz, Machado de Assis, Carlos Chagas, Santos Dumont, Mario de Andrade, Tarsila do Amaral,… Trocado por Golpista Ditadura Assasina de Quartéis Militares de onde foram expelidos Getulio Vargas e Carlos Prestes, juntamente com Elite Esquerdopata que dará apoio e cumplicidade ao Período fascista e suas Legislações. Não à toa Voto Obrigatório, Contribuição Sindical Obrigatória, Código Civil e Penal de Ditadura Fascista estão vigentes até hoje. Elite Esquerdo-Fascista as mantiveram por quase 1 século. Golpe Ditaorial de Quartéis Militares tiveram absoluta cumplicidade desta Elite até 1954. E o acordo pela manutenção de governo militar com Dutra. Um admirador do Nazismo. Desde que o Governo seguinte fosse desta Elite Civil Esquerdopata que ascendeu com o Fascista. Então Tancredo neves faz surgir o factóide Juscelino Kubscheck. 54 servia? 64 não servia mais? Morde-assopra das nossas Elites com Quartéis Militares explicam o Brasil de 2018. Farinha do mesmo saco. Fascisto-Esquerdopatia. 

  2. É uma boa, esta de evocar

    É uma boa, esta de evocar outros acontecimentos para comemorar o nove de julho na capital paulista, deixando para lá o vexame de comemorar uma derrota, que é ridículo. Por mais que queiram enaltecer os paulistas envolidos, no acontecimento, por menos que Getúlio Vargas seja reconhecido, tendo sido principal responsável pelas ações políticas que levara a edificação das bases de nossa industrialização, não seja enaltecido pelo Estado que mais se beneficiou das ações do Governo Vargas. Muito bom saber.

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