O mito da continuidade da política econômica, por Rafael Dubeux

Sugerido por Webster Franklin

Do Instituto Alvorada

O mito da continuidade da política econômica

Por Rafael Dubeux

Nos últimos meses, intensificou-se na imprensa a tese segundo a qual o governo Lula teve êxito econômico graças à manutenção intocada da política herdada de FHC. Mais preocupado com a disputa eleitoral do que com a análise isenta, o objetivo desse argumento é conferir o todo o mérito e indiscutível prestígio do Presidente Lula ao governo de Fernando Henrique – que hoje não consegue se eleger sequer para síndico de condomínio.

Segundo o argumento, a partir da assinatura da Carta ao Povo Brasileiro, ainda na campanha de 2002, Lula teria se convertido à luz da sabedoria econômica fernandista. Quando assumiu o governo, em janeiro de 2003, garantiu seu sucesso ao preservar o “tripé” da política econômica, consistente em câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário.

Acontece que nem a Carta representou uma aceitação da política econômica de FHC, nem é fato que a manutenção do tal “tripé” signifique a continuidade da política econômica anterior.

Quanto à Carta, de fato ela afastou propostas mais extremas que, noutras circunstâncias, haviam sido defendidas pela esquerda brasileira, como a moratória da dívida. Mas é inteiramente falso afirmar que ela representou a aceitação da política econômica então vigente. É mais um mito. Convém relembrar trechos da Carta (a íntegra está disponível emhttp://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/article.php?storyid=2324):

“O Brasil quer mudar. Mudar para crescer, incluir, pacificar. Mudar para conquistar o desenvolvimento econômico que hoje não temos e a justiça social que tanto almejamos. […]
O povo brasileiro quer mudar para valer. Recusa qualquer forma de continuísmo, seja ele assumido ou mascarado. Quer trilhar o caminho da redução de nossa vulnerabilidade externa pelo esforço conjugado de exportar mais e de criar um amplo mercado interno de consumo de massas. Quer abrir o caminho de combinar o incremento da atividade econômica com políticas sociais consistentes e criativas. O caminho das reformas estruturais que de fato democratizem e modernizem o país, tornando-o mais justo, eficiente e, ao mesmo tempo, mais competitivo no mercado internacional. […]
O PT e seus parceiros têm plena consciência de que a superação do atual modelo, reclamada enfaticamente pela sociedade, não se fará num passe de mágica, de um dia para o outro. Não há milagres na vida de um povo e de um país. […] Será necessária uma lúcida e criteriosa transição entre o que temos hoje e aquilo que a sociedade reivindica. O que se desfez ou se deixou de fazer em oito anos não será compensado em oito dias. […]
Nossa política externa deve ser reorientada para esse imenso desafio de promover nossos interesses comerciais e remover graves obstáculos impostos pelos países mais ricos às nações em desenvolvimento. […]
Superando a nossa vulnerabilidade externa, poderemos reduzir de forma sustentada a taxa de juros. Poderemos recuperar a capacidade de investimento público tão importante para alavancar o crescimento econômico. […] Queremos equilíbrio fiscal para crescer e não apenas para prestar contas aos nossos credores. Mas é preciso insistir: só a volta do crescimento pode levar o país a contar com um equilíbrio fiscal consistente e duradouro. […]
Há outro caminho possível. É o caminho do crescimento econômico com estabilidade e responsabilidade social. As mudanças que forem necessárias serão feitas democraticamente, dentro dos marcos institucionais.”

Difícil inferir desses trechos que o candidato Lula se comprometeu com o continuísmo. A Carta, portanto, não representou submissão ao modelo anterior. Mas será que, a despeito da Carta, o governo manteve a política econômica? Vale notar que a crítica central da esquerda ao governo anterior poderia ser assim resumida: 1) a excessiva vulnerabilidade externa do país (sintetizada no enorme déficit em transações correntes); e 2) a péssima distribuição da renda. Como alternativa, propunha-se reduzir a vulnerabilidade e criar um grande mercado interno de massas. Essa interpretação petista (“os desenvolvimentistas”) se contrapunha ao grupo de economistas do então governo (“os monetaristas”) que advogavam que o grande problema macroeconômico do Brasil era fiscal, e não a vulnerabilidade externa.

Falar, portanto, em tripé da política econômica só serve para confundir o debate. Há muito mais entre o céu e a terra da política econômica do que apenas meta de inflação, câmbio flutuante e superávit primário. Aliás, mesmo esses três pequenos itens comportam temperamentos. As metas podem ter bandas mais amplas e seu centro pode ser mais elevado. A flutuação do câmbio não é limpa: intervenções são constantes em todos os países – tal qual no atual governo mediante, entre outros, a criação do fundo soberano, a instituição de IOF em investimentos estrangeiros e a compra intensa de reservas. E, por fim, o superávit é medida importante em períodos de crescimento, mas deve ser evitado como medida contracíclica por ocasião das crises, como praticado em 2009 para mitigar os efeitos da crise internacional – sob outro governo, o Brasil teria aumentado o superávit e elevado os juros.

Mas, como já apontei, há vários outros aspectos da política econômica para além do “tripé”. Podemos falar de crédito, poupança, tributação, comércio exterior, transferências públicas, entre outros.

Impossível, por exemplo, ignorar a mudança radical na política creditícia, mediante microcrédito, PRONAF, crédito consignado e aumento do papel dos bancos públicos (o BNDES emprestou 137 bi em 2009, contra cerca de 41 bi em 2002; a CAIXA aplicou 47 bi em financiamento imobiliário, contra cerca de 5 bi em 2002).

É preciso lembrar também a contribuição indispensável da política de comércio exterior, que auxiliou o país a passar de cerca de US$ 60 bi em exportações para US$ 197 bi em 2008 (em 2009, por conta da crise, caiu para “apenas” 160 bi), diversificando mercados. Isso permitiu ao país adquirir reservas vultosas, passando dos ridículos US$ 16 bi em 2002 para os atuais US$ 240 bi, mesmo com crise. O Brasil ainda ousou taxar os investimentos estrangeiros por meio do IOF, medida impensável pela cartilha anterior. Some-se ainda que, por essas medidas, o Brasil deixou de ouvir as lições e ordens tão temidas do FMI e se tornou credor internacional e também do próprio FMI. Isso seria simplesmente inacreditável em 2002. Nem o mais otimista dos petistas imaginava que o governo se encerraria com tamanho sucesso econômico.

Não custa lembrar que, em 2002, parecia impossível imaginar o Brasil credor internacional e sem receio dos humores diários e instáveis dos investidores internacionais. Notícias diárias sobre risco-país não têm mais relevância hoje. O tal “dever de casa” (quanto se abusou dessa expressão!) a que o Brasil estaria obrigado para atrair investimentos está absolutamente fora da pauta. Foi outro o dever foi realizado: superamos a vulnerabilidade externa e distribuímos um pouco a renda.

Não há como ignorar também o papel dos instrumentos de distribuição de renda, a exemplo do Bolsa-Família, do aumento real do salário-mínimo, da desoneração da cesta básica e de investimentos estruturais em áreas desfavorecidas do país (o Nordeste cresce hoje a ritmo chinês).

O resultado dessas e de outras medidas foram, conforme prometido na Carta, a formação do grande mercado interno de massas (foi o consumo crescente da nova classe média que evitou que afundássemos na crise internacional) e a redução drástica da vulnerabilidade externa (a atual taxa do câmbio traz alguma preocupação, mas nem de longe comparável à era FHC).

É fato que, também conforme disposto na Carta, a mudança não seria feita do dia para a noite. Lula alertara que não daria “cavalo-de-pau em transatlântico”. As mudanças foram cautelosas e eficazes, como se impõe a um país com a complexidade do Brasil. Os resultados estão à mostra: no ano da maior crise internacional das últimas décadas, 2009, o Brasil gerou em um só ano mais empregos formais (995 mil) do que nos oito anos somados de FHC.

Mesmo o retorno recente de pequeno déficit em transações correntes não pode ser equiparado à situação fernandina. Na ocasião, o déficit era objetivo deliberado do governo – hoje não é mais. Na ocasião, o Brasil não tinha reservas em quantidade suficiente e se via espremido por uma dívida externa monumental – hoje não mais. Portanto, embora o déficit atual mereça atenção, ele não pode ser minimamente comparado ao que já passamos por decisões equivocadas de política econômica.

Depois de indicadas as mudanças, é necessário por último rechaçar outro mito: o governo FHC não teria adotado essas medidas porque não teria tido tempo hábil entre o controle da inflação (1994) e o fim do segundo mandato (2002). É falso. O déficit em transações correntes era almejado pelo governo de então, e não um obstáculo que se tentava superar. Argumentava-se que o déficit seria positivo, pois acarretaria o ingresso de poupança externa, compensando a insuficiência da nacional. Apesar das lições históricas, não são poucos os adversários do atual governo que repetem esse argumento disparatado ainda hoje. Alegava-se também que a compra de reservas cambiais em grandes quantidades teria sido um erro do Governo Lula em razão de seu custo fiscal, já que a remuneração das reservas é inferior à dos títulos públicos. (Os críticos das reservas, curiosamente, sumiram depois de setembro de 2008, quando a crise internacional irrompeu. Eram tão atuantes até esse mês…)

Quanto às políticas sociais, com maior razão não cabe falar de momento econômico. Era só implantá-las. Não só não as implantaram, como resistiram a sua concretização no governo Lula sob o argumento, de novo, do custo fiscal. Não foi questão de tempo, mas de escolha política. Foram as medidas deste governo que nos protegeram da crise: reservas vastas, desnecessidade de capital externo, bancos públicos atuantes e mercado interno amplo.

Ignorar todos esses fatos e insistir em que o governo Lula é continuidade do de FHC revela total incompreensão de aspectos elementares de política econômica. Ou será que a compreensão existe, mas o interesse político em desqualificar o atual governo e ajudar o candidato tucano nas próximas eleições justifica o argumento? De minha parte, tenho calafrios ao imaginar como estaríamos em meio à crise se mantivéssemos a política anterior.

Por Rafael Dubeux|04.02.2010

Sobre o Autor:   Mestre e doutorando em Relações Internacionais pela UnB e bacharel em Direito pela FDR/UFPE, é atualmente pesquisador visitante na Universidade da Califórnia, Berkeley. Integra a carreira de Advogado da União e já trabalhou na Controladoria-Geral da União, na Secretaria de Relações Institucionais e na Casa Civil da Presidência da República.

Redação

33 Comentários

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  1. Não há nenhum mito. O povão

    Não há nenhum mito. O povão não se interessa sobre quem fez o que e o mercado sabe exatamente quem fez o que.

    Politica economica não é tema para leigos e nele não há espaço para mitos.

    O fato é qu sem o Plano Real o Brasil de hoje seria um caos como a Venezuela ou pior.

    1. Hebert Levy: o Plano Real é bom demais

       

      Motta Araujo (seta-feira, 20/12/2013 às 09:25),

      O que você diz é bem confirmado por Andre Araujo ou mesmo por Luis Nassif. Os dois são grandes admiradores da engenharia operacional de execução do Paklno Real no seu nascedouro. O Luis Nassif até defendeu o governo diante da possibilidade da FGV calcular a inflação de julho com o resíduo inflacionário (carry over) na moeda anterior, metodologia que até para um leigo como era percebida como correta. Percepção que se esclarece se se mostra que se por um decreto das potências supremas os preços de 1º de julho de 1994 em diante permanecessem constantes e iguais ao de 30 de junho de 1994, ainda assim apareceria como inflação de julho um resíduo inflacionário de 20%. Não se deve omitir, entretanto, que há uma boa justificativa para defender a medida do expurgo que seria que ela protegeria os cofres do governo de ter a parte da dívida vinculada à inflação aumentada em 20%. É claro também que os rentistas que perderam com esta medida iriam tentar ao longo do caminho recuperar a perda.

      O interessante é que tanto Andre Araujo como o Luis Nassif, e você os conhece bem para servir a você de referência, não atribuem os resultados ruins (A alta dívida de curto prazo e a necessidade de juro elevado) do Plano Real ao fato de o plano ter sido feito para acabar com a inflação de uma vez, em época de eleição e para eleger um candidato à presidência da República e um candidato que não fora sequer presidente de um grêmio recreativo na juventude, época em que os que assumem funções de liderança desenvolvem maior capacidade de gerência na tomada de decisão. E eu diria mais, eles não atribuem os resultados ruins do Plano Real ao fato de o Brasil ser uma economia capitalista ainda em desenvolvimento com infindável necessidade de obras de infraestrutura ao longo de uma base continental com desníveis regionais e sociais imensuráveis. Para os dois, os insucessos do Plano Real são devidos ao menino do Rio.

      Na análise dos dois não se leva em conta que à medida que o capitalismo se torna mais financeiro é preciso tornar o juro mais alto do que a inflação. E não lembram que em razão da pressão do mundo financeiro, os processos hiperinflacionários ou de inflação mais elevada no mundo foram todos eliminados. Na América do Sul, o exemplo, mais edificante dos frutos da pressão do mundo financeiro foi o desaparecimento da inflação na Bolívia.

      De certo modo, o discurso de Andre Araujo e de Luis Nassif sobre o Plano Real e que ainda hoje eles confirmam e onde você vai encontrar boas informações sobre o plano assemelha-se bastante aos editoriais da Gazeta Mercantil quando ela já estava nos seus estertores, escritos sob a batuta de Hebert Levy. Em resumo ele dizia: “O Plano Real é muito bom, o Plano Real é bom demais, mas, por favor, presidente, reduza o juro”.

      E como você disse em comentário enviado sexta-feira, 20/12/2013 às 09:47, para junto do comentário de Lionel Rupaud, enviado sexta-feira, 20/12/2013 às 09:29, aqui neste post “O mito da continuidade da política econômica, por Rafel Dubeux” de sexta-feira, 20/12/2013 às 08:26, e originado de sugestão de Webster Franklin que retirou do Instituto Alvorada o artigo de Rafael Dubeux “O mito da continuidade da política econômica”, o Brasil não foi ao fundo . . . do poço. O Brasil foi ao FMI. Insisto nisso porque como um dos poucos admiradores de G. Henrique de Barroso F., eu gosto de destacar todos os grandes êxitos do Plano Real.

      Clever Mendes de Oliveira

      BH, 20/12/2013

    2. Aos fatos

      Entào tá, vamos ao “fato”:

      Viva Itamar!

      E FHC que continue com o real “mérito” de ter arrasado a competitividade econômica E social de um país de enorme potencial, com um governo meramente “contábil” (e ainda assim, péssimo), entreguista e desmontador.

      Que além da ABL (rs), tenha seu “devido” assento na História. 

       

    3. Titanic.

      Prezados, o Senhor Motta quer nos fazer acreditar que o mercado não é para “leigos”, e não cede a mitos.

      Mais ou menos como a história do Titanic: grande demais para afundar!

      E a história da economima mundial está cheia deles (mitos): Desde a Enron, passando por Madoff, Eurolibor, e agora, fresquinho, o senhor Eike Batista.

      Aliás, uma olhada nas engrenagens do capitalismo, como ele é, de fato, vai nos mostrar que é tudo: uns acreditam que vão produzir, e ter gente para comprar o que vendem, enquanto outros vendem sua força de trabalho acreditando que receberão pelo seu trabalho, já outros se dedicam a captar estas riquezas e depositarem em seu bancos, e depois, transferem estes recursos para outros bancos, pessoas ou pessoas, acreditando que devolverão no prazo estabelecido ou remunerando com adicional pela não devolução do principal recebido.

      Ou seja, são todos mitos que se baseiam na fé destas pessoas.

      Quebrou esta fé, o sistema quebra, e aquilo que era confiança e solidez se revela apenas um totem (mito).

      Mas eu já disse: não riremos das deficiêncais teóricas do Senhor Motta, porque temos que reconhecer que defender o que ele defende é um trabalho danado. Pior ainda se ele acreditar no que defende.

       

        1. Pois não.

          Então, em 2007, a Islândia era o melhor país do mundo, pois tinha seguido a risca a receita (mitos) da desregulamentação e se transformado em porto seguríssimo para “investimentos”, com nota de rating superior a países como Canadá e até o Brasil?

          Bem, e o que dizer das agências de rating?

          Pois bem, o que dizer do mito subprime?

          E o mito europeu?

          Veja que os ingleses querem nos fazer acreditar nos mitos deles há anos, mas hoje discutem o banco de alimentos e iniciativas para cessar a fome que virou problema de saúde pública e já sobrecarrega o NHS (o sistema de saúde deles).

          O The Independent trouxe, semana passada, uma matéria desalentadora: Supermercados que vendem mercadorias mais baratas porque têm pequenos defeitos e foram rejeitadas. Uma espécie de “xepa da rainha”.

          Vejam só, que coisa. Caiu o mito inglês da eficiência econômica.

          Eu gostaria de dissociar os mitos empresariais do capitalismo, mas você sabe, caro senhor Araújo, que um é sinônimo de outro.

          Engraçado você destacar os mitos empresariais e deslocá-los do ambiente que os tornou possíveis.

          É engraçado. 

          Como eu disse, não vou tripudiar sobre sua árdua tarefa de defender o indefensável. Tomara que você não acredite no que diz, pois assim sofrerá menos.

          Um cordial abraço.

           

  2. Sim e não. No período Lula

    Sim e não. No período Lula houve mudanças positivas, mas o âmbito de atuação era muito restrito. Sob FHC houve privatizações de estatais importantes, a dívida pública estourou, e qualquer um que entrasse no governo estaria (como o PT esteve) amarrado a este coquetel explosivo de juros, dívida e Estado desregulamentado.

    Quando se diz que houve um continuísmo, é porque Lula não soube, ou não teve vontade política, de desarmar esta bomba. Se o “tripé”, a que o articulista minimiza, fosse desarticulado, o Estado brasileiro poderia se ver livre de centenas de bilhões de reais pagos ao rentismo para investir em educação, saúde, saneamento, habitação, mobilidade urbana, caso tivesse, por exemplo, mantido em seu programa a realização da auditoria cidadã da dívida.

    Lógico que com Lula o enfoque se alterou, o combate à miséria e a fome tornou-se prioridade, o que foi um grande salto, mas sem homens públicos que se proponham a combater, a alterar a estrutura predatória do Estado brasileiro, o máximo que conseguimos ver é uma espécie de “continuísmo mais social”.

     

     

    1. O colega citou maldades de

      O colega citou maldades de FHC e esqueceu da principal das bondades, o Plano Real, sem o qual o Brasil de hoje seria outro e muito pior.

      1. Até onde eu sei, o Plano Real

        Até onde eu sei, o Plano Real foi feito no governo Itamar.

        Nunca vi um Ministro suplantar um Presidente, só no caso do Plano Real mesmo, porque interessava a nossa elite derrotar Lula, “ungindo” FHC.

        1. Itamar teve tres Ministros da

          Itamar teve tres Ministros da fazenda em sequencia, Paulo Haddad, Gustavo Krause e Eurico Rezende, cada um com gestões de 60 a 90 dias, desse trio não saiu nenhum Plano Real, quando EHC assumiu o Ministerio coube a ele organizar a equipe e operar a liderança politica do ultra complexo plano de reforma monetaria, cujo estrondosos sucesso o levou à Presidencia da Republica.

          Itamar teve o grande mérito de dar sustentação politica a FHC.

          A Historia se escreve com base na realidade e não na imaginação, sem FHC não haveria Plano Real.

          1. Papo Furado

            Toda vez que a inflação chegava a níveis hiper, alguma coisa (qq.coisa!) precisava ser feita! No mínimo como freada de arrumação!

            Entre Sarney (na verdade, Tancredo) e Itamar, aconteceram vários (6+) planos (todos demonizados pela midia, exceto aquele que poderia ser o “soro anti-barbudo”….

            O presidente FHC (um sociólogo e não economista) pegou de Itamar a economia arrumada quase um ano antes!

            Seu “mérito”, como presidente, foi destruir a competividade econômica e social do país, sob ordens internacionais.

            Como ministro, fez o que até eu faria numa emergência (por ordem de Itamar): Chamaria o pessoal (montado por Tancredo no primeiro), que já tinha experiência em outros planos, aprenderam com eles, eliminaram erros e a coisa funcionou.

            Se não fosse ele (ou eu), seria outro, a cumprir a determinação de Itamar.

            O descompromisso de FHC com o Real foi tão grande que, menos de um mês depois do crítico e ainda pouco entendido, imaturo e carente de consolidação, pulou fora!

            Quem consolidou o plano como ministros, foram Ricúpero e Ciro Gomes, que seguraram a rebordosa.

            FHC “sartô di banda”, espertamente, com as seguintes prerrogativas:

            (a) Se desse errado, a culpa seria de Itamar, Ricúpero e Gomes.

            (b) Se desse certo, surfaria na onda e poderia enfrentar o líder barbudo das pesquisas à época. O PIG que sempre estava à procura de um anti-barbudo (qualquer um!), viu a chance, apoiou o plano e o surfista.

            Aí deu (b).

            E veio a destruição…

             

             

            PS: Esta narrativa está em algum livro neoliberês?

          2. Economia arrumada com Itamar?

            Economia arrumada com Itamar? Com tres Ministros da Fazenda em 100 dias? que piada pronta, nem dá para debater.

          3. Memória seletiva e pêlo em ovo

            Ora, colega, além dos ministros que vc cita antes, tivemos Ricupero e Ciro depois (300 dias), que foram os verdadeiros consolidadores do Plano, determinado por Itamar e coordenado por Edmar Bacha.

            Se Itamar nomeou vários ministros (incluso FHC), isso era comum durante o período hiperinflacionário e FHC, um dos nomeados por Itamar, não ficou nem um ano. Abandonou a implantação do seu filho (bastardo?) apenas ~4 semanas depois.de lançado. Nem havia Real* ainda, mas a URV.

            Itamar nomeou dois ministros depois, que “realmente” asseguraram o sucesso do Plano, “curiosamente” apoiado pela mídia pela primeira vez desde o primeiro, lá de Tancredo.

            E dái?

            A inflação recebida por FHC de Itamar (dez/1995) foi de 1,7%. Menor do que a que ele entregou a Lula.

            O plano Real teve como principal objetivo acabar com a inflação. E este foi o seu sucesso, obtido ANTES do governo FHC. 

            Quanto ao uso da frase “economia arrumada”, me refiro evidentemente a isso. Inflação controlada, o principal desorganizador da economia (como de hábito, quando o ovo quebra, vc procura pelo na casca).

            Se não, o que seria uma economia arrumada? A dos EEEU? A nossa atual? a do Reino Unido? da China? 

            Ou vc vai me dizer que FHC entregou uma “economia arrumada” para Lula? Depois de 8 anos de puro arrocho? Eu diria, um esbandalho!.

            Economia arrumada é quando o povo vai bem, colega.Ele é que roda a economia de verdade.

            A marca “Plano Real” continuou pelo menos até a reeleição de FFHH II, mas seu objetivo “matador” foi alcançado antes de seu primeiro mandato. O resto, que esticaram como “plano Real” foi apenas uma economia ultra-neoliberal, como a que foi aplicada em diversos outros países subordinados e que não tiveram um “Plano Real”…

            FHC deve a Itamar muito mais do que o pouco (sim tem que haver algo, né?) que Lula “deve” a FHC.

            FHC não melhorou em seu governo, quase nada,

            Só neolibelezas.

             

             

             

            (*) O surfe nesta longa onda foi tão descarado que FHC assinou as notas do Real sem ter nenhuma ligação formal com o Ministério da Fazenda (e a revelia de Itamar). Era só o candidato surfista, tirando fotos e sendo flmado pela mídia na praia. 

          4. Está aberta a contagem, 1, 2…

            Meu caro Papudo, eu nunca vi uma série de golpes tão fortes e tão variados: uppers, jabs, diretos e ganchos em sequência.

            O Senhor Motta Araújo não aguenta mais, por esportividade, vamos abrir a contagem, por favor.

            Afinal, temos que reconhecer que não pe qualquer um que se dispõe a fazer o papel ao qual ele se presta.

      2. Parlamentarismo tucano?

        Prezado,

        Eu acho que estou meio esquecido: O presidente do plano real não foi o Itamar? E na história institucional brasileira, sendo o presidente a figura mais forte, mesmo que tenha ótimos auxiliares, não deveria ser dele o “mérito” ou “demérito”  das iniciativas?

        Não foi assim quando cobramos os fracassos do Sarney, ou quando ele lograva êxito eleitoral?

        Ou Collor?

        Se, não existe na história, mas não seria certo imaginar que se houvesse reeleição, FHC não existisse como presidente?

        Pois é…Então, na lógica defendida aqui, FHC é algo que deve ser elogiado apenas por ter continuado Itamar, certo?

        Bem, eu não sou injusto (ao menos não acredito que seja), mas se devemos creditar a FHC todo o mérito do plano real, devemos lhe creditar o fracasso da iniciativa, ou será que, neste caso, a culpa é do Itamar?

        Ou o plano real é só vitória tucana e desastre do….espírito santo?

        Há quem ache diferente sobre o plano real:

        Para alguns, tudo não passou de um mero ajuste monetário, para ajeitar a nossa casa de tolerância financista, para que o capital em enxurrada, represado na década perdida, viesse comprar ativos estatais, destruir a indústria nacional, e faturar juros altíssimos na farra da paridade cambial, vendida como a oitava maravilha da engenharia econômica tupiniquim.

        Mas de tudo, fazer análise comparativa é antes de tudo…comparar, e eu pergunto: Há algum índice ou fundamento da era reivindicada por ti que tenha sido melhor que a atual?

        O senhor Motta quer nos fazer crer que tudo se resume a um problema de liquidez.

        E é, mas não da forma que ele coloca.

        Em 1994, foi justamente a liquidez que soterrou a indústria nacional pelo câmbio apreciado por uma das taxas de juro mais altas do planeta.

        Estávamos em uma enchente de liquidez, parecida com uma cabeça d’água: o capital especulativo atraído peloa “umidade e diferença térmica” que a alta “temperatura” dos altos juros provocavam aqui,  vinha e se precipitava sobre nós, arrastava tudo, não restava nada de pé.

        Rápido escoavam, e reiniciavam o ciclo “atmosférico”.

        As três quebras do país não foram falta de liquidez, mas a incapacidade de enfrentar seus ciclos de inundação e seca, justamente por termos cumprido, à risca, o que diziam os “luminares de Washington”: Que para conter as inundações, deveríamos cortar nossas árvores e deixar o solo à mostra.

        No entanto, devemos respeitar o que diz o senhor Motta. Defender o legado de FHC quando nem os tucanos o fazem não é tarefa fácil.

        Rir dele é como expressar preconceito contra alguém que está em desvantagem explícita.

         

         

  3. É obvio que é um mito!

    Com fhc, o pais quebrou 3 vezes (jan ’99, 2001 e 2002). Desde a chegada de Lula, não quebrou, e não vejo nenhuma razão disso acontecer no horizonte. E o emprego só cresce, o contrário da era fhc.

    Quem acha que as mesmas políticas podem dar resultados tão opostos só pode ser um jenio!

    1. O Brasil nunca quebrou,

      O Brasil nunca quebrou, quebrar é declarar moratoria como fez a Argentina em 2002. O Brasil fez um programa de ajustamento junto ao FMI, sacando dentro de seu limite estaturatrio no Fundo, que existe para isso. Naquela fase da economia mundial outros Paises tambem fizeram programas de ajustes junto ao FMI, incvlusive Russia e Mexico.

      Depois de 2003 houve abundancia de liquidez no mundo, os preços das commodities subiram e nenhum Pais mais pediu suporte do FMI, tratam-se portanto de ciclos da economia mundial e não de genialidade ou maldade de governantes.

      1. Entre mares

        Primeiro (de cabeça), o Brasil declarou pelo menos uma moratória, com Sarney.

        Segundo, semântica é para tolinhos:

        Se o Brasil não obtivesse grana do FMI, quebrava. Em “outras palavras”, estava quebrado, a menos que fosse ao FMI.

        E isto não custou apenas juros, mas os mesmos severíssimos ajustes (pagos e sofridos pelo povo) que hoje acontecem pelo mundo,

        Incluindo privatarias, LRF’s, arrochos, desempregos, concentrações e diminuições de renda e um foguetório de juros à banca local e mundial.

        O famoso: “a economia vai bem (e nem isso!), mas o povo vai mal”.

        E este “joguinho semântico” aconteceu 3 três) vezes em um único governo!

        Aí vem a conversa mole das commodities (que vão para bolsos privados, inclusive os minérios) e da liquidez, que culminou em 2008 com a maior crise mundial desde 29.

        E continuamos, diferentemente de muitos, beirando o pleno emprego e com índices melhores do que “antes de 2003”.

        Mas com ações OPOSTAS as que FHC adotou (e adotaria de novo).

        Aí, estaríamos como se entre o Mar Egeu e o Adriático.

        1. Estou me referindo ao Governo

          Estou me referindo ao Governo FHC, que é o foco desre debate. Na sua historia o Brasil quebrou varios vezes, no sentido de atrasar compromissos externos, pagamento de bonus e loans, não se esqueça do Plano Aranha, dos Fundings Loans, dos Planos Brady, em 1953 fomos salvos por um emprestimo de US$300 milhões do Federal reserve Bank of New York, que pos em dia os atrasados comerciais e restabeleceu a capacidade de importar.

          Nas decadas de 10, 20 e 30 reinaram os Fundings Loans liderados pelas casas Dillon, Read, J,Henry Schoeder,

          Barings. No Governo Sarney tivemos o Plano Brady, que foi ideia do Bresser Pereira e clonada pelo Brady.

          Quanto ao FMI há um completo equivoco aqui: O Fundo não faz nenhum favor quando empresta, o limite é de 4 vezes a cota do Pais, o Fundo existe exatamente para isso, emprestar em caso de falta de liquidez de pais membro, ninguem “”quebra ” porque vai ao Fundo, o Fundo exuste para isso e só um idiota acha que é humilhante ir ao Fundo, que tem regras para emprestar porque o dinheiro é de todos os Paises, essas regras tambem protegem o capital do Brasil quando o Fundo empresta para a Grécia, aliás o nosso diretor no Fundo, Paulo Nogueira Baptista, votou contra o emprestimo à Grecia em 2012.

          1. Não mudou nada.

            Ué, também refiro-me à FHC ao afirmar (e reafirmar) que o Brasil estave quebrado, até por sua própria definição de quebra

            Ou pegava grana com o FMI ou parava de pagar (moratória).

            3 (três) vezes!

            E ainda dizem que a economia “ia bem” com o príncipe sociólogo. Reallmente: bem mal!

            (justiça seja feita, não para a banca, os patrões e os amicci, o que já é “bastante”…).

             

            Quanto ao FMI “não fazer favor nenhum”, até meu sobrinho de 9 anos sabe disso.

            Está lá mesmo é pra enquadrar os povos infelizes de países onde há prepostos da banca para fazer “acordos de acordo” … com os interesses deles (a banca). Se quiser, falo pro meu sobrinho te explicar.

             

  4. O problema é o seguinte

    Se forem comparar as realizações dos governos Lula e o de FHC, a diferença pró Lula será avassaladora.

    Então o PSDB, mestre na desfaçatez, criou o mote do continuísmo, de fácil assimilação.

    Fácil para enganar os que são incapazes de refletirem com base em números.

  5. Esta é uma “polêmica” sem

    Esta é uma “polêmica” sem sentido.

    Qual o problem em continuar o que está certo, corrigir o que está errado e tentar outros caminhos em áreas deficiente?

    Isto é gestão pública eficiente!

    Acho que isso é o que se deve reputar ao Lula:  Administrou eficientemente o país..

  6. Havia prenúncio de mais crise

    O governo Lula não se prevaleceu do governo fhc. O do Lula muito bom e o do fhc péssimo.

    É uma idéia bizarra e de validae nula a possível continuidade por vários motivos, mas podemos aquei destacar dois:

    Primeiro, o governo fhc durou 8 anos, período quando a China e a India cresciam, e durante oito anos só houve crises e mais crises, moral inclusive, se houvesse continuidade seria de crise; segundo, o próprio governo fhc assinalou o “perigo” do “incapacitado” Lula, apontando a economia debilitada e crise pela frente, lembram-se.

    Foi bem ao contrário da passagem do Itamar para o fhc; este recebeu um país resolvido, otimista, crescendo.

  7. FMI É O PAI DO PLANO REAL

    Vamos parar com esse papinho de que foi FHC quem fez o plano Real, na realidade foi um acordo com o FMI, onde o Sr. Michel Camdessus impôs goela abaixo dos brasileiros a famosa Lei de Responsabilidade Fiscal que trouxe arrocho salarial e cortes de investimentos em áreas sociais e estruturais, o que obrigou ao PT se posicionar contra a lei e até hoje lembram deste fato como se fosse algo contra o país, pois na realidade a lei foi extremamente danosa à todos os setores e vimos no que deu. FHC foi três vezes com o pires na mão ao FMI, quebrou o país, pois se não recebesse o dinheiro não honraria os compromissos, e no meio disso tudo entregou as jóias da coroa, as estatatais a preco de banana. FHC acabou com este país, perdemos a moral com todos os países, pensou apenas em si e nos seus comparsas de partido.

      1. Sun Tzu. Compre principalmente o livro abaixo

        Pergunta: Nessa visão, exposta no seu livro, o Plano Real foi uma operação essencialmente técnica ou uma manobra política?

        André Araújo: Foi a aplicação na realidade brasileira de uma subideologia, gestada nos anos 40 e 50, que via o Brasil como país subordinado a um sistema maior, construído a partir do fim da Segunda Guerra, percepção que por sua vez está enraizada no liberalismo clássico da Escola inglesa. Por essa concepção, o Brasil não deveria procurar ser uma potência industrial porque sua vocação seria essencialmente agrícola e mineral.

        No link: Entrevista: O livro “A escola do Rio”, de André Araújo

        André foi cooptado e está ganhando um dinheirinho extra do PSDB.

        1. Meu caro, eu confirmo todos

          Meu caro, eu confirmo todos os meus livros, contuam valido os conceitos formulados, eu disse ao comentarista acima que nada é tão simples porque ele reduziu o Plano Real a um gesto do Michel Camdessus e a coisa foi muito mais complexa, recomendei a ele ler alguns livros da estoria do Plano Real, qual a dúvida?

          Eu aqui não defendo ideologias, meu combate é contra o simplismo, a simploriedade, o primarismo, o rudicionismo, o maniqueismo, a demagogia em todos os assuntos, faço um debate dialetico tentando encontrar a razão historica.

          1. Releia o seu livro e o seu comentário sobre ele, logo acima.

            Você afirma categoricamente que o plano Real …

            “Foi a aplicação na realidade brasileira de uma subideologia, gestada nos anos 40 e 50, que via o Brasil como país subordinado a um sistema maior, construído a partir do fim da Segunda Guerra, percepção que por sua vez está enraizada no liberalismo clássico da Escola inglesa. Por essa concepção, o Brasil não deveria procurar ser uma potência industrial porque sua vocação seria essencialmente agrícola e mineral.”

            Você confirma FHC e o plano real, como subordinado a um sistema maior e entreguista e responsável pela desintrustrialização do Brasil; “o Brasil não deveria procurar ser uma potência industrial porque sua vocação seria essencialmente agrícola e mineral.”

  8. Fla-Flu

    O “prêmio de consolação” das viúvas de FHC é essa ideia de continuísmo… O mais patético é que, durante o governo do sociólogo de araque, as políticas implementadas por ele – e seguidas por Lula, como querem – não apresentaram os resultados positivos que se viu no governo do metalúrgico apedeuta (aliás, que “AZAR” danado, hein?) – e ainda temos que aguentar a pecha de “incomPeTente”!!! É muita desfaçatez da canalha oposicionista! Se temos que reconhecer que Lula não criou nada de novo, eles têm que reconhecer a competência do PT em administrar o país fazendo funcionar bem o que já existia (afinal, de quem é o mérito maior: de quem cria mas não faz funcionar a contento, ou de quem aproveita o que já existe e obtem resultados satisfatórios, positivos?)

  9. é verdade

    depois que o pt assumiu tudo mudou, os bancos deixaram de quebrar os recordes de lucro ano após ano, finalmente a reforma agrária começou a andar, os indios deixaram de ser massacrados e agora toda tribo tem suas terras demarcadas (e quase todas com nome em homenagem a ministra barbie).  tudo isso fruto do rompimento com as politicas neoliberais.

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