Por que o discurso do ódio não é liberdade de expressão?, por George Lakoff

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Por que o discurso do ódio não é liberdade de expressão?

por George Lakoff

Tradução de Letícia Sallorenzo

A liberdade em uma sociedade livre é para todos. Portanto, a liberdade exclui a imposição à liberdade dos outros. Você é livre para andar na rua, mas não para impedir que outros o façam.

A imposição à liberdade de outros pode vir de forma física imediata e evidente – bandidos vindo atacar com armas. A violência pode ser uma espécie de expressão, mas certamente não é “liberdade de expressão”.

Como a violência, o discurso de ódio também pode ser uma imposição física à liberdade dos outros. Isso porque a linguagem tem um efeito psicológico imposto fisicamente – no sistema neural, com efeitos incapacitantes a longo prazo.

Aqui está o motivo:

Todo pensamento é realizado por circuitos neurais – não flutua no ar. A linguagem ativa neuralmente o pensamento. A linguagem pode, assim, mudar o cérebro, tanto para o melhor quanto para o pior. O discurso de ódio muda o cérebro dos odiados para o pior, criando estresse tóxico, medo e desconfiança – tudo de forma física, tudo presente na atividade dos circuitos neurais de uma pessoa todos os dias. Este dano interno pode ser ainda mais grave do que uma punhalada. Ele se impõe à liberdade de pensamento e, portanto, age livre de medo, ameaças e desconfiança. Ele se impõe à capacidade do indivíduo de pensar e agir como um cidadão totalmente livre por muito tempo.

É por isso que o discurso de ódio se impõe à liberdade daqueles que são alvo do ódio. Uma vez que ser livre em uma sociedade livre não requer se impor à liberdade dos outros, o discurso de ódio não se enquadra na categoria da liberdade de expressão.

Discurso de ódio também pode mudar o cérebro daqueles com preconceito leve, movendo-se para o ódio e a ação ameaçadora. Quando o ódio está fisicamente em seu cérebro, então você pensa que odeia e sente ódio, e você é movido a agir para realizar o que você, fisicamente, em seu sistema neural, pensa e sente.

É por isso que o discurso de ódio não é “mero” discurso. E uma vez que se impõe à liberdade dos outros, não é um exemplo de liberdade.

Os efeitos físicos de longo prazo, muitas vezes incapacitantes, do discurso de ódio sobre os sistemas neurais dos odiados não têm status na lei, já que nossos sistemas neurais não têm status em nosso sistema legal – pelo menos não ainda. Essa é uma lacuna entre a lei e a verdade. 

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

2 Comentários

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  1. Em tempos de ódio, odiemos…

    “Quem combate pela espada perecerá pela espada” — Mt 26:52b

     

    Nassif: já te disse que não sou lulista ou petista. Nem de esquerda, nem (Deus me livre guarde) de direta. Mas tomei lado nessa eleição. Nem me coloco contra ao Presidente daBala. Ele é mero boneco na mão dos verdeolivas, que vêm desgraçando a País desde o final do século XIX, com o golpe da República. E gorinha escapou por pouco da facada “amiga”. Mas seu discurso de ódio tem de ser considerado e enfrentado com toda ênfase.

    Você pode até discordar, mas meus avisos ficaram provados — a esquerda só se reune na cadeia. Porque “esquerda brasileira”, políticamente falando, mais parece um ninho de mafagafos, com sete mafagafinhos.

    E o cenário que se apresenta nada tem de cômico. É, fundamentalmente, trágico. De ruim a pior. O nordeste, principalmente, será isolado. Deverá ficar a pão e água, até dobrar os joelhos os Czares fardados, aos bando togados e às elites coroadas. Todos do sul, sudeste e centroeste.

    Os bens da nação serão negociados a céu aberto, para ampara a nova política econômica e cimentar as robalheiras de costume. O trio maldido PSDB/DEM/PPS serão beneficiados com os crimes, que haverão de ficar enrolados juridicamente até prescreverem. Como os do Príncipe deParis, do Carcamano daMoóca e de Aecim dasAlterosas.

    Os blogueiros livres haverão, desavergonhadamente, de ser preseguidos à exaustão. Aos mais afoitos, um acidentezinho, tipo RioCentro ou ZuzuAngel (por quê não Juscelino?) podeá acontecer. Não mais haverá notícia de grandes desvios. A censura da caserna não há de permitir. Aqui e ali um peixinho menor, para alimentar a grande mídia.

    Mas é o discurso de ódio, disseminado na campanha, que deve ser levado em conta. Ao ódio o ódio. Que é a forma mais eficiente de enfrentá-lo.

    E se, no campo político insticional e social, o tempo do ódio foi plantado pelo Presidente daBala, que colha os frutos…

     

  2. Essa reportagem é interessante porque estou lendo só agora 15.03.2019 e justamente pensava sobre isso qdo assisti ao episódio 12 da primeira temporada da série FBI da Universal. No episódio um extremista de direita é assassinado após discurso de ódio em uma universidade de New York e os agentes do FBI vão investigar, a história toda me incomodou, mas no final os agentes falam o seguinte texto: eles tem o direito de liberdade de expressão assim como outros tem o direito de discordar, assim é a América. Eu pensei: espera aí, não é nada disso e agora essa reportagem vem de encontro ao meu pensamento.

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