Propostas para uma crise econômica, por Soraya Smaili

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Soraia Smaili

Após o primeiro semestre do novo governo Dilma, novas análises sobre a política econômica e sobre o chamado ajuste fiscal precisam ser refeitas. Certamente, as impressões de hoje são mais pessimistas e críticas do que as de 6 meses atrás e precisamos analisar retrospectivamente, para que uma análise mais concreta possa ser feita e sirva de base para propostas mais efetivas de melhora no cenário.

Está claro agora que em 2014 encerramos um ciclo na economia, que representava um período “neodesenvolvimentista”. O modelo aplicado até 2013 produziu relativa paz social no período de 10 anos, porém apresenta um esgotamento. A crise economica e a ausência de propostas
dão lugar a um início de 2015 com um programa de ajuste fiscal anunciado e colocado em andamento já nos primeiros dias do ano. Desde então, muitas projeções foram enunciadas; o início o ajuste fiscal foi apresentado como temporário. Porém, está claro agora que poderá
durar todo o ano de 2015 e boa parte de 2016.

Diante de um cenário de desalento e das ameaças vindas de um Congresso Nacional que busca negar ou inviabilizar a constituição de 1988, a universidade pública terá uma grande responsabilidade. É um dos poucos espaços capazes de resistir ao retrocesso que poderá ocorrer devido à perda de direitos sociais. Vivemos um cenário de um ajuste fiscal, uma economia que entra na recessão e que abre espaço para uma agenda conservadora e regressiva.

Diante disso, o que podemos e devemos propôr?

Como professores universitários, cientistas e membros de uma comunidade acadêmica que ainda é afeita (embora atualmente muito menos do que outrora), temos o dever de ofício, além do dever cidadão, de refletir sobre o problema, como também de buscar e propor soluções. Não é de hoje que a universidade, em especial a universidade pública, faz a crítica e procura manter de forma autonoma a reflexão e a proposição. Ainda somos muito capazes de fazê-lo, muito embora os governos das últimas décadas não tenham colocado a universidade em seu lugar social estratégico.

As universidades têm longa tradição de pesquisa e ciência e são capazes de produzir propostas e caminhos para a solução. A política econômica de 2015 não está “ouvindo” o pensamento crítico e vem sendo desenvolvida com a lógica que visa o mercado e o ajuste fiscal em
curso, contraria à lógica do desenvolvimento e do crescimento.

As universidades podem ainda colaborar de outras formas, especialmente na reversão do incômodo social que estamos vivendo devido à falta de perspectiva. Por estarem voltadas ao conhecimento, as universidades buscam também soluções. E o fazem com compromisso político, preocupadas com os processos democráticos e com os direitos sociais.

É preciso, portanto, reverter esse cenário. Conhecer a conjuntura, resistir perante o desânimo, usar toda a capacidade de reflexão e de formulação para a busca de soluções. Assumir o lugar estratégico que a universidade deve ter e propor à sociedade uma aliança contra o atraso, contra o conservadorismo e a perda de direitos. Organizar uma frente contra o ajuste fiscal e pelos direitos sociais.

Propor uma economia que retome o crescimento, o desenvolvimento e a capacidade de investimento na indústria e na recuperação da infraestrutura. Para isso é necessário remodelar substancialmente a estrutura tributária, com impostos sobre operações financeiras, a diminuição do rentismo, nova política para exportação de commodities e taxações sobre grandes fortunas, para citar alguns. Uma economia contracíclica que gere um ciclo virtuoso de crescimento e empregos.

As universidades podem propor, podem executar, podem mobilizar. Por isso, é estratégico que não sofram cortes orçamentários, pois já vivem em seu limite. Que não tenham a sua capacidade pensante limitada pela falta de recursos financeiros. Que não sofram retrocessos
acadêmicos que poderão levar anos ou décadas para recuperar.

A educação tem muito a contribuir para o crescimento e o desenvolvimento de um país. A universidade em particular está apta a gerar uma agenda estratégica de pensamento e proposição para o país. Façamos isso, ainda é tempo. Assim, a pátria será educadora e se
beneficiará do que a educação pode realmente fazer pela nação.

Soraya Smaili é reitora da Universidade Federal de São Paulo

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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