
A recente queda na popularidade do presidente Lula (PT) tem levado o governo a adotar medidas estratégicas para reverter essa tendência. O cenário atual é marcado por desafios econômicos, pressões políticas e oposição ativa, que tem explorado temas sensíveis para desgastar a imagem do governo.
Por Antônio Augusto de Queiroz*
Este texto analisa os fatores que contribuíram para o declínio da aprovação popular, as ações adotadas pelo governo para enfrentar esses desafios e as perspectivas futuras em contexto de polarização política.
O diagnóstico do governo aponta 2 eixos principais como responsáveis pela queda na popularidade.
O primeiro é a inflação de alimentos, que impacta diretamente o custo de vida da população, especialmente dos segmentos mais pobres, além do impacto indireto da elevação do valor do dólar, que também teve reflexo sobre a inflação.
O segundo são as denúncias da oposição, que têm ganhado destaque na mídia e no debate público. Entre os temas explorados estão a crise do PIX, com a suposta tributação de transações financeiras a partir de R$ 5 mil, a taxação das importações de baixo valor — conhecidas como “blusinhas da shopee” —, e a responsabilização do governo pelo aumento da criminalidade e percepção de corrupção.
Estes fatores, somados à insatisfação de setores do mercado financeiro e do agronegócio, criam ambiente desafiador para a Administração Federal.

Estratégia
Para enfrentar esses desafios, o governo tem adotado estratégia que combina medidas populares e negociações políticas. No âmbito social, foram anunciadas 3 iniciativas para beneficiar a população de baixa renda e a classe média.
A primeira propõe a isenção do Imposto de Renda para rendimentos de até R$ 5 mil.
A segunda visa ampliar o acesso ao empréstimo consignado aos trabalhadores do setor privado, com limite máximo de taxa de juros, como já ocorre no consignado dos servidores públicos.
A terceira é a expansão do vale-gás, que deve beneficiar mais de 20 milhões de famílias.
Humor da população e descontentamento
Essas medidas buscam melhorar o humor da população e conter o descontentamento gerado pela inflação e pela crise econômica.
No campo político, o governo tem trabalhado para fortalecer a base de apoio no Congresso, onde o alinhamento com o Centrão é visto como essencial para a aprovação de pautas prioritárias. Entre as ações estão:
1) aceleração da reforma ministerial;
2) composição das comissões temáticas no âmbito do Parlamento;
3) busca por solução para o impasse das emendas parlamentares (com atuação no STF); e
4) cobrança sobre o Ibama para autorizar a pesquisa para exploração de petróleo na margem equatorial. Este último tema é de interesse do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e a resolução é vista como forma de garantir o apoio de aliado estratégico.
Riscos de descontrole
Apesar da queda de popularidade, o governo avalia que os riscos de descontrole são limitados. A agenda prioritária, especialmente as proposições com benefícios para a população, tende a ser aprovada com o apoio do Centrão.
No entanto, a oposição pode criar obstáculos por meio de mecanismos de fiscalização, como a criação de CPI, e campanhas de deslegitimação. Para reduzir o impacto de eventuais derrotas, o governo está disposto a negociar a revisão de vetos ou aceitar a derrubada de alguns desses, principalmente em temas como a Reforma Tributária e a dívida dos estados.
A polarização política, no entanto, continua a moldar o cenário nacional. A oposição tem explorado narrativas críticas ao governo, responsabilizando-o pelo aumento da criminalidade, da carga tributária e da corrupção.
Comunicação mais assertiva
Para contrapor essas críticas, o governo tem investido em comunicação mais assertiva, adotando slogans como “O Brasil é dos brasileiros”, fazendo contraponto à direita, que tem vestido o boné de campanha do presidente estadunidense, Donald Trump. Essa estratégia busca atrair apoio de setores mais conservadores e neutralizar as críticas da oposição.
Olhando para o futuro, a governabilidade do governo Lula parece estável no curto prazo, graças ao alinhamento tático com o Centrão. No entanto, os desafios de longo prazo incluem a manutenção desse apoio e a gestão das expectativas da população em cenário econômico complexo.
A polarização entre Lula e Bolsonaro tende a persistir, com ambos sendo os principais atores no cenário eleitoral de 2026. Enquanto Lula deve buscar a reeleição, desde que sua saúde permita, Bolsonaro deve manter-se como figura central da oposição, podendo lançar o filho, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), ou Michelle Bolsonaro, como candidato/a em caso de confirmação de impedimento.
Polarização como fator determinante
Em resumo, o governo Lula enfrenta cenário desafiador, mas suas estratégias para reverter a queda de popularidade incluem medidas populares, alinhamento com o Congresso e comunicação eficaz.
O sucesso dessas ações dependerá da capacidade de o governo equilibrar as demandas da população, as pressões políticas e as complexidades do cenário econômico.
A polarização política continuará a ser fator determinante, e a dinâmica entre Lula e Bolsonaro seguirá moldando o futuro da política brasileira.
(*) Jornalista, analista e consultor político, mestre em Políticas Públicas e Governo (FGV). Sócio-diretor da empresa “Consillium Soluções Institucionais e Governamentais”, foi diretor de Documentação do Diap e é membro do Cdess (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável) da Presidência da República – Conselhão.
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Governo já perdeu o controle, aliás, nunca teve, e o maior problema não é nem o deus mercado, mas o supermercado! O pobre não está podendo consumir nem ovo!
Oposição ativa e governo passivo.
O Deus do Vinho, digo, Baco, afirma:
“Mas voltando ao tema, a questão é que se o governo é bom, mas não consegue falar bem de si, não é porque há críticos no mesmo campo”.
No texto cujo título é “As cinco dificuldades para escrever a verdade”, o dramaturgo e poeta Brecht nos diz que é preciso coragem para dizer a verdade, que é preciso inteligência para reconhecer a verdade, que é necessária a arte de tornar a verdade manejável como uma arma, que é preciso ter discernimento suficiente para escolher os que tornarão a verdade eficaz e, finalmente, que é necessário habilidade para difundir a verdade. Acho que é nesse último ponto que o governo Lula está falhando.
“HABILIDADE PARA DIFUNDIR A VERDADE
Muitos, orgulhosos de ter a coragem de dizer a verdade, contentes por a terem encontrado, porventura fatigados com o esforço necessário para lhe dar uma forma manejável, aguardam impacientemente que aqueles cujos interesses defendem a tomem em suas mãos e consideram desnecessário o uso de manhas e estratagemas para a difundir. Frequentemente, é assim que perdem todo o fruto do seu trabalho. Em todos os tempos, foi necessário recorrer a “truques” para espalhar a verdade, quando os poderosos se empenhavam em abafá-la e ocultá-la. Confúcio falsificou um velho calendário histórico nacional, apenas lhe alterando algumas palavras. Quando o texto dizia: “o senhor de Kun condenou à morte o filósofo Wan por ter dito frito e cozido”, Confúcio substituía “condenou à morte” por “assassinou”. Quando o texto dizia que o Imperador Fulano tinha sucumbido a um atentado, escrevia “foi executado”. Com este processo, Confúcio abriu caminho a uma nova concepção da história.
Na nossa época, aquele que em vez de “povo”, diz “população”, e em lugar de terra”, fala de “latifúndio”, evita já muitas mentiras, limpando as palavras da sua magia de pacotilha. A palavra “povo” exprime uma certa unidade e sugere interesses comuns; a “população” de um território tem interesses diferentes e opostos. Da mesma forma, aquele que fala em “terra” e evoca a visão pastoral e o perfume dos campos favorece as mentiras dos poderosos, porque não fala do preço do trabalho e das sementes, nem no lucro que vai parar aos bolsos dos ricaços das cidades e não aos dos camponeses que se matam a tornar fértil o “paraíso”. “Latifúndio” é a expressão justa: torna a aldrabice menos fácil. Nos sítios onde reina a opressão, deve-se escolher, em vez de “disciplina”, a palavra “obediência”, já que mesmo sem amos e chefes a disciplina é possível, e caracteriza-se portanto por algo de mais nobre que a obediência. Do mesmo modo, “dignidade humana” vale mais do que “honra”: com a primeira expressão o indivíduo não desaparece tão facilmente do campo visual; por outro lado, conhece-se de ginjeira o género de canalha que costuma apresentar-se para defender a honra de um povo, e com que prodigalidade os gordos desonrados distribuem “honrarias” pelos famélicos que os engordam.
Ao substituir avaliações inexatas de acontecimentos nacionais por notações exatas, o método de Confúcio ainda hoje é aplicável. Lênin, por exemplo, ameaçado pela polícia do czar, quis descrever a exploração e a opressão da ilha Sakalina pela burguesia russa. Substituiu “Rússia” por “Japão” e “Sakalina” por “Coreia”. Os métodos da burguesia japonesa faziam lembrar a todos os leitores os métodos da burguesia russa em Sakalina, mas a brochura não foi proibida, porque o Japão era inimigo da Rússia. Muitas coisas que não podem ser ditas na Alemanha a propósito da Alemanha, podem sê-lo a propósito da Áustria. Há muitas maneiras de enganar um Estado vigilante.
Voltaire combateu a fé da Igreja nos milagres, escrevendo um poema libertino sobre a Donzela de Orleans, no qual são descritos os milagres que sem dúvida foram necessários para Joana d’Arc permanecer virgem no exército, na Corte e no meio dos frades….”
https://criticadesapiedada.com.br/2020/08/17/as-cinco-dificuldades-para-escrever-a-verdade-bertolt-brecht/