Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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Tecnologia e Inovação no mundo da Fantasia, por Andre Motta Araujo

E dá-lhe "empreendedorismo", "inovação", "inteligência artificial", tudo citado e reproduzido sem filtro, sem noção de realidade no mundo veraz.

Tecnologia e Inovação no mundo da Fantasia

por Andre Motta Araujo

Virou moda, na mídia brasileira, uma série de palavras-chaves que significam o nada, mas quem profere parece moderno, antenado, na “onda”.

E dá-lhe “empreendedorismo”, “inovação”, “inteligência artificial”, tudo citado e reproduzido sem filtro, sem noção de realidade no mundo veraz.

1.INOVAÇÃO: 98% da vida cotidiana no mundo real se trava no modo “antigo” de vida, onde a evolução é lenta mesmo no nosso mundo acelerado. Lenta no sentido da vida do dia a dia das famílias e pessoas. Algumas coisas mudam, mas a maior parte continua igual, a dificuldade da vida, da sobrevivência, da educação, da horrível distribuição de renda e oportunidades, do exaustivo modus vivendi nas grandes metrópoles onde a vida é cada vez mais difícil.

Muito das inovações derivadas da tecnologia NÃO beneficiam a grande maioria da população MAS aumentam a concentração de renda e o lucro dos grandes bancos e corporações. O excesso de informatização bancária aumenta o lucro dos bancos e dificulta a vida dos clientes, que gastam tempo seu que antes era o tempo que os bancos precisavam pagar aos bancários. Supermercados, como DIA e Pão de Açúcar agora, dão descontos… mas a partir de aplicativos que muitos idosos ou não sabem ou não querem usar, invés de simplificar complicam o que era simples sem que se perceba alguma vantagem.

O mundo das inovações não diminuiu a criminalidade, aliás aumentou a eficiência do crime e complicou a vida de todos pelas parafernálias de segurança.

2.No século das invenções nos EUA, 91% das patentes foram inúteis ou inócuas. Cito um exemplo do qual fui testemunha, a cama elétrica da Westinghouse, que conheci na sede dessa outrora grande empresa nos anos 70. A empresa gastou fábulas para desenvolver uma cama que dispensava lençóis e cobertores, ele tinha controles de temperatura para qualquer estação, era o orgulho dos inventores da Westinghouse, vi em primeira mão na sede da empresa em Pittsburgh. Não deu certo. Descobriram que o ser humano, por razões psicológicas, QUER ter um pano em cima do corpo para dormir, não é só por razões de temperatura.

Outro caso atual é o LIVRO ELETRÔNICO, quando inventado os fanáticos da tecnologia diziam que o livro-papel até 2015 teria acabado. Não foi assim. A maioria dos leitores quer sentir o papel na mão, o livro antigo continua existindo, assim como disco de vinil que voltou por várias razões.

Nem tudo que é novidade tem lógica ou atração, quando veio a TV decretaram a morte do rádio. O ser humano não é tão novidadeiro e gosta da tradição, as coisas mudam mas não é na velocidade e na direção que se imagina, muita enganação se vende como inexorável caminho da tecnologia e não é.

3.TECNOLGIA tem um outro grave problema em países culturalmente atrasados, a ADAPTAÇÃO é mal feita, copia-se a parte que interessa e não o conjunto de um processo. Nos EUA a automatização bancária em muitos sentidos é menor que no Brasil e eles são os pais da tecnologia bancária. Um cheque depositado em Dallas contra uma conta de Nova York pode levar 14 dias para compensar, os clientes que quiserem podem ser atendidos nos bancos por funcionários, ninguém é empurrado para usar máquinas, se não quiser. Eles usam lá a tecnologia com mais critério e liberdade do que aqui, nós chegamos ao ABSURDO de impor IDENTIFICAÇÃO DIGITAL a todos os eleitores, a um CUSTO ESTRATOSFÉRICO para o País, sem nenhuma lógica de vantagem. Nos EUA usam cartolina e lápis para votar, é muito mais barato. Muita baboseira tecnológica, como os elevadores sem botões em S.Paulo, são usados por  ser “chique” e não por vantagem, é a vontade de parecer moderno, lembra os sobas do Congo que usavam fraque e cartola e andavam descalços, queriam parecer belgas.

Outro exemplo de barbárie a ser praticada nas grandes metrópoles brasileiras, a eliminação do COBRADOR de ônibus, deixando toda a carga de problemas de um transporte coletivo estressante, e muitas vezes conflitivo, unicamente nas costas do motorista, que já tem que ter toda a atenção no complicadíssimo trânsito. Na atual situação social do País, sobram tensões nos transportes coletivos, eliminar o cobrador para CORTAR CUSTOS, e nem se fala em baixar o preço da passagem por causa desse corte, é uma ideia antissocial, perigosa, porque aumenta o risco de acidentes no trânsito e é desumana com os usuários, vai exclusivamente aumentar os lucros dos carteis de ônibus que dominam as grandes cidades brasileiras, muitos prefeitos “apoiam” a ideia descabida.

Tecnologia e inovação precisam INTERAGIR com a sociedade onde vão ser implantadas, não basta copiar, muita coisa nova é inadequada e disfuncional, pode ser mais estressante, há um valor na tradição, como sabem os ingleses. É possível ser moderno em alguns aspectos da vida e manter o modo tradicional em outros, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO são valores que precisam de filtros sociais, psicológicos e econômicos.

AMA

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

6 Comentários

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  1. Apoiado! Com um adendo. Para haver tecnologia e inovação é imprescindível entender as mudanças produzidas por ambas. Seus vetores para aplicação prática e cotidiana são as empresas. Estas, as brasileiras, ao menos as nacionais, em sua maioria estão ainda entrando ou lidando com a terceira revolução industrial. Junto com tecnologia e inovação, em todo discurso de lideres empresariais, ouvimos industria 4.0, governança e compliance. Entretanto, muitas não conhecem seus próprios processos, não sabem seus custos e desconhecem os fatores de competitividade de seu negócio. Não sabem o que as diferencia ou não. Fazem planos que chamam estratégicos com base feeling e não tem ação tática coerente com sua ‘estratégia’ e não controlar os indicadores de desempenho operacionais. Sem falar em líderes empresariais que não sabem sequer ler seus próprios balanços.
    Por essas e outras é que vemos aplicada qualquer coisa que “reduza” gastos ou aparente modernidade, como nos exemplos dados de eliminar-se a presença do cobrador de ônibus ou adotar-se o elevador sem botões. Não há análise consistente sobre a relação de custo/benefício como afeta a qualidade percebida de um produto ou serviço por quem o paga, o cliente.
    Sou crítico? Sim! Estou exagerando? Longe disso!

  2. Só um comentário, Pão de Açucar, Zona Sul e outras redes de mercados e também farmácias não dão “descontos”, eles na verdade estão atrelando a compra a um CPF, ou seja, a um indivíduo. Logo, eles não estão “dando desconto” estão simplesmente comprando dados. Posteriormente, não só eles podem utilziar esses dados como podem franquear o acesso ou vender para os fabricantes dos produtos que eles vendem. E é assim que acontece.

  3. Nesses programas de high-tech da Globonews, vi uma reportagem do tipo “as maravilhas do futuro” sobre os coletivos sem motorista em Singapura e nos EUA.

    Tou aguardando pra ver o a kinha Terminal Capelinha-Praça da Bandeira num busa high tech, sexta-feira 18:00 da tarde, serpenteando o caos Marginal Pinheiros-Cidade Jardim-9 de Julho, sem o motorista. Afinal, o mundo high é perfeito. Não vai ter nenhum conflito. Temos que tar antenado: Busão via satélite, Inteligencia Artificial. Na certa, esses entusiastas acham que o high tech disruptivo (olha o outro vocabulo mega trend) “domestica” até os nossas irritações cotidianas.

  4. “…nós chegamos ao ABSURDO de impor IDENTIFICAÇÃO DIGITAL a todos os eleitores, a um CUSTO ESTRATOSFÉRICO para o País, sem nenhuma lógica de vantagem. Nos EUA usam cartolina e lápis para votar, é muito mais barato…” E parte da Nossa Elite Intelectual, Política, Financeira, Midiática, acha bonito a escravização e o cabresto. Nem permitem a discussão de se libertar das algemas. Algemas Tecnológicas que nem são criadas por Nós Brasileiros, não produzem Empregos, Salários e Dividendos Brasileiros. Muito menos desenvolvimento. Produzem mais escravização e dependência. Impostos e exigidos por um uma Elite do Estado que paga fortunas abissais por esta tecnologia e impõe à População Brasileira que a compre também. Pobreza e atraso pagando o desenvolvimento de Indústrias Internacionais. Mas dizem que Somos a Geração antenada, plugada, 4.0? Onde? Em Aparelhos e Tecnologias Americanas, Coreanas, Japonesas, Chinesas e seus Produtos? E continuamos….. O fundo da latrina parece não chegar nunca. Pobre país rico. Mas de muito fácil explicação.

  5. Aproveitando que o assunto é tecnologia. André, você que conhece bem os Estados Unidos poderia dizer se existe algo parecido ao que se pretende fazer aqui no Metrô de São Paulo, a substituição dos bilhetes por outros meios de pagamento “mais moderninhos”. Aqui uma matéria da Folha abordando esse assunto https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1645774538735080-metro-quer-aposentar-bilhetes-de-papel-em-sao-paulo#foto-1645774539037734

  6. A inovação tecnológica “top trend”, que aqui em BH é difícil de encontrar é um jatinho d’água, acoplado ao vaso ( já que não temos mais bidê). Esse chuveirinho é uma bosta.
    Em tempo, conheci essa maravilha em hotel em Foz do Iguaçú.

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