Por que a Rússia decidiu retirar suas tropas da Síria?

Jornal GGN  – Após o anúncio do ministro da Defesa russo de que as tropas do país serão retiradas da Síria, analistas internacionais tentam traçar os próximos passos do conflito no país e também as razões que explique a decisão da Rússia.

Para Jonathan Marcus, da BBC, o anúncio de Putin é uma amostra de “habilidade diplomática” do presidente russo. Marcus considera que a intervenção russa atingiu os objetivos de consolidar a posição do presidente da Síria, Bashar al-Assad, facilitando que suas forças recuperassem áreas estratégicas do país.

O analista também comenta que Putin e Barack Obama conversaram nesta segunda-feira, mas que EUA e Rússia discordam sobre uma solução militar na Síria. Os americanos não acreditam na manutenção de Assad como uma solução para o conflito, e pedem uma “transição política” no país. Leia mais abaixo:

Da BBC Brasil

Por que a Rússia anunciou de surpresa a retirada de tropas da Síria?

O ministro da Defesa russo, Sergey Shoigu, deu a ordem para a retirada e aeronaves estão sendo preparadas para voos de longa distância de volta à Rússia.
 
Com cautela, autoridades ocidentais saudaram a medida, dizendo que isso poderia pressionar a Síria a se engajar em conversas diplomáticas para restabelecer a paz no país, dominado há cinco anos por uma guerra civil.
 
Uma nova rodada de negociações neste sentido entra hoje no segundo dia. Enquanto isso, uma comissão da ONU (Organização das Nações Unidas) irá apresentar mais à frente um relatório sobre crimes de guerra no país.

 
A Rússia é um aliado chave do presidente da Síria, Bashar al-Assad, e autoridades sírias procuraram rejeitar especulações sobre problemas entre os países, afirmando que a medida se deu em comum acordo.
 
O governo de Putin sempre insistiu em que a campanha militar teve como alvo apenas grupos terroristas, mas potências ocidentais disseram que os ataques visaram opositores de Assad.
 
Habilidade russa
 
Para o analista da BBC Jonathan Marcus, correspondente para assuntos de segurança, o surpreendente anúncio de Putin é uma “nova amostra de habilidade diplomática” do presidente russo.
 
Para ele, a intervenção russa “contra o terrorismo” na Síria atingiu seus principais objetivos: consolidar a posição de Assad, facilitar que suas forças recuperassem áreas estratégicas do país e assegurar que o presidente sírio continue sendo um fator chave em qualquer arranjo futuro.
 
Shoigu, o ministro russo da Defesa, disse que a campanha militar teve mais de 9 mil missões aéreas de combate, destruiu 209 instalações de produção de petróleo, ajudou as tropas sírias a retomar 400 localidades e o controle de mais de 10 mil km² de território.
 
“Creio que a missão estabelecida pelo Ministério da Defesa e pelas Forças Armadas russas tenha sido cumprida” disse Putin nesta segunda.
 
A decisão veio no dia em que negociações de paz eram retomadas em Genebra, e em meio a um cessar-fogo vigente desde 27 de fevereiro.
 
A Rússia diz, contudo, que manterá a presença militar na Síria, com uma base naval e outra aérea.
 
“A Rússia tem cerca de 30 aviões de combate na Síria e um contingente em terra para protegê-los, além de um número não especificado de conselheiros e forças especiais em solo operando com o Exército sírio”, afirmou Jonathan Marcus.
 
Divergências
 
Putin e o presidente dos EUA, Barack Obama, conversaram por telefone nesta segunda. “Ambos defenderam a intensificação do processo por uma solução pacífica”, informou o Kremlin.
 
Mas os países ainda divergem em um ponto chave, segundo Marcus. “Para o Ocidente não há solução militar na Síria, e Moscou discorda.”
 
Washington não vislumbra a manutenção de Assad no poder como uma solução para o conflito, e voltou a pedir uma “transição política” no país.
 
Mas se no momento há um vencedor nesse xadrez geopolítico, esse parece ser Moscou.
 
“A Rússia tomou partido de uma parte com poder militar considerável e aliados razoavelmente efetivos, como os combatentes do (grupo xiita libanês) Hezbollah e milícias recrutadas pelo Irã e guiadas por comandantes iranianos”, disse Marcus.
 
“E a Rússia utilizou recursos suficientes para marcar a diferença. Levou um pouco de tempo, mas os resultados no terreno agora são claros”, completou.
 
Sarah Rainsford, correspondente da BBC em Moscou, diz que a retirada parcial russa da Síria pode também ter relação com o alto custo das operações militares, em um momento em que a receita de Moscou está em baixa pela queda nos preços do petróleo.
 
Pode também, diz a correspondente, ser uma tentativa de aliviar o isolamento que o país sofre na comunidade internacional desde o início das operações.
 
Cautela na oposição
 
A oposição síria recebeu o anúncio de Putin com cautela.
 
“Se a retirada for feita com seriedade, dará um impulso às negociações de paz”, disse Salim al Muslat, porta-voz do Comitê Supremo para as Negociações, organização que agrupa forças de oposição.
 
 Image copyright Getty Image caption Putin anunciou a decisão no mesmo dia da retomada das negociações de paz sobre a guerra civil na Síria
 
Os EUA também manifestaram prudência. “Teremos que ver quais são exatamente as intenções da Rússia”, disse o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest.
 
A ofensiva militar teve custos para a Rússia, como o abate de um avião comercial, mas o êxito de Putin e Assad parece claro e já ameaça reduzir o país a dois enclaves: uma zona costeira dominada pelo governo sírio e o restante em poder do Estado Islâmico.
 
O anúncio da Rússia poderia significar, efetivamente, um respaldo às conversas diplomáticas.
 
A atual rodada de negociações é o “momento da verdade”, afirmou nesta segunda o enviado especial da ONU à Síria, Staffan de Mistura.
 
Não há plano B e a única alternativa a um acordo seria a retomada da guerra, disse Mistura.
Redação

3 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Uma lição em todos os
    Uma lição em todos os sentidos.
    A Rússia mostrou seu poder e a eficácia dos seus armamentos.
    Estabilizou o regime de seu aliado.
    E se retirou do país com uma vitória incontestável, com o mínimo de baixas e de prejuízo dos seus valiosos caças e bombardeiros.

    Se quisesse anexar a Síria ou lá permanecer indefinidamente, a Rússia cometeria o mesmo erro que os EUA cometeu no Afeganistão e no Iraque. Ao se retirar expõe mais ainda ao ridículo seu principal adversário.

  2. Putin mexeu somente um peão

    no tabuleiro de xadrez geopolítico. Por que?

    Tinha necessidade de verificar na prática a reformulação de suas forças armadas em um treinamento real. Em cinco anos os ocidentais não conseguiram nada somente o caos. Bom, a Rússia foi lá e em 6 meses acabou com a festa, num exercício real de suas forças armadas praticamente sem baixas.

    Segundo, avisou o ocidente que pode jogar qualquer jogo geopolítico e influenciar essas forças equilibrando-as. Vide o caso da Ucrânia. Será que a OTAN vai encarar?

    Terceiro, ajudou a mitigar a avalanche de refugiados para a europa. Os Europeus devem, além da derrota dos fascistas, mais essa à Rússia.

    Quarto, manteve o governo sírio intacto e vai sentar à mesa de negociações dando as cartas.

    Quinto, qualquer problema de ora em diante será culpa exclusiva do USA e seus aliados Europeus que foram acusados por Obama de insulfladores e oportunistas.

    Sexto, caso a situação novamente piore, a Rússia pode voltar para terminar o serviço.

    Os Americanos ficaram atônitos com a decisão de PUTIN até porque não foram avisados (o telefonema de Obama/Putin) apesar de ter acontecido no mesmo dia da decisão russa não tratou do assunto. Um tapa de luva de pelica nos americanos.

    O próximo lance de Putin será mover a mãe Rússia na Ucrânia com seus cavalos, bispos e torres.

    A propósito, a BBC há muito tempo perdeu sua aura de independência outrora tão maravilhosa. Hoje mais parece uma assessora de imprensa do gabinete britânico.

    Quer se informar melhor, veja aqui:

    http://br.sputniknews.com

     

  3. A Rússia fez um excelente
    A Rússia fez um excelente trabalho. Mas, como acredito, foi muito mais em virtude de defesa das suas bases militares em solo sírio do que propriamente defender o governo de Assad. De qualquer forma provaram para o Ocidente que têm um poderio militar respeitável e desmascararam as intenções intervencionistas de EUA e cia.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador