Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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De feijão, quermesses e prepotência, por Rui Daher

Êpa! Golpe ruralista com o feijão? Achava que foi com a Dilma e a democracia, foi não?

Sabem vocês de minhas Andanças Capitais, normalmente agrícolas. Fatal trazerem observações e produtos fabricados a partir da cana-de-açúcar, que mal fez ela? Cismaram que o estado de São Paulo, na impossibilidade de se tornar um imenso Portugal, o que seria mais charmoso, transformou-se em imenso canavial. Bobagem, chute de quem não lê, não pesquisa, não lembra dos parceiros do Rio Bonito, como descritos por Antônio Cândido. São Paulo continua sendo o estado agrícola mais diversificado do País. Estão a fim de acerola? É aqui. Se preferirem a orgânica, também.

Nesta semana, publiquei artigo em CartaCapital, aqui reproduzido, sobre a conjuntura do cultivo do feijão e os motivos do produto estar caro para seus fregueses.

Em 30/06, o GGN reproduziu texto do Brasil de Fato, assinado por Alan Tygel, “O golpe ruralista e o preço do feijão”. Êpa! Golpe ruralista com o feijão? Achava que foi com a Dilma e a democracia, foi não?

Eivado de chavões e rótulos ultrapassados, o autor antecipa que “o agronegócio brasileiro não se preocupa em produzir alimentos para o Brasil”. Que coisa, hein? Mais um. Feijão, meus caros, é agronegócio. Antes, dentro e depois das áreas produtivas. Já comeram aquele horroroso sorvete de feijão servido em restaurantes japoneses? Pois é, agronegócio.

Perceberam que gaúchos, paranaenses e aqueles que foram plantar no cerrado mato-grossense se referem à oleaginosa como “o soja”? Sabem por quê? Feijão, o feijão-soja. Nós, aqui no Sudeste, é que resolvemos feminizá-la e dar-lhe uns graciosos requebros.

Só para finalizar, que hoje é dia de domingo. Brincar, comer e beber bem, pelo menos enquanto o “Dominó de Botequim” não reabre.

Quem está na entorpecida agropecuária ou no turbinado agronegócio, Cães da Bancada Ruralista, Berrantes Caiados, latifundiários improdutivos, multinacionais imperialistas donos de milhões de hectares de terras, caboclos, campesinos e sertanejos devem(!) plantar o que tem demanda, se possível nos mercados interno e externo. Para ganhar dinheiro e viver. Como todos fazemos, no capitalismo, que outro sistema não temos, e não para adocicar o olhar de William e Renata.

Não vou fazer para vocês. Preguiça. Nesta semana, trabalhei “até de sábado”. Mas, diligentes que são, consultem o USDA, Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, ou FAOSTAT, serviço de estatísticas da FAO/ONU. Se estivéssemos produzindo no lugar da soja o equivalente em feijão, sabem o que estaríamos fazendo com ele? Estou educado hoje.

A cultura da amizade nas redes sociais

Certo que acabaria assim. Certo pedantismo literário. Não em tudo, claro. Há muita coisa boa, sobretudo nas brincadeiras, exposições, trocas com amizades antigas ou mesmo lá feitas ou refeitas.

O advento do turbilhão lembra-me o Brasil inteiro uma só quermesses, onde oferecíamos músicas, alfinetadas, cantadas, sorteávamos prendas e desavergonhávamos as mocinhas.

“Zé Honório, da Vila Hercília, manda avisar Fátima, da Escola Municipal Vidigal Mendes, que a espera no muro lateral esquerdo do Cemitério Almas que Sempre Voltam”. Promete respeito.

“O sorteio do pote de salsichas vinagradas do Bar do Tio Antônio será realizado daqui a meia hora”.

“Magali, que não quis declarar o sobrenome (disse que ele sabe), oferece ao João Antônio, da oficina de motos “Gracha com Xis”, a música Beijinho Doce, gravação das Irmãs Galvão”.

E assim íamos sem saber a quem o Padre Eterno reservaria a última missa. Dom Honório, 84, da Igreja de São José ou Frei Patrício, 87, da Matriz de Nossa Senhora das Graças.

Lenha

Sinto que não estou legal hoje. Bem, estou, mas muito leve diante do patético que o Brasil cotidiana, do verbo cotidianar, que não existe como também o interino.

Começo um parágrafo que rendo desancar alguém e termino bucólico. Domingo, dez da manhã, meio cedo para iniciar os trabalhos, certo Fernando, se é que os seus do sábado já terminaram.

Luís Nassif, trouxe às tela e tona, o jornalista Ruy Lopes que formava com Abramo e Wainer, o trio de ouro do colunismo na Folha de São Paulo.

Quando avisou de quem se tratava, e diante da merdaiada que temos hoje por aí, alguns comentaristas lembraram de nós, que escrevemos em telas, sempre pouco reconhecidos. Alguém observou: “a ponto de dar de dez a zero” nos que escrevem nas folhas impressas.

Sinto-me assim. Tanto quando escrevo nesta tela GGN como no site da CartaCapital. “Ué, comprei várias vezes a revista e não te vi lá. Escreve mesmo”? Não, seu bosta, só no site.

Aliás, muitos de nós deveríamos ser ainda mais valorizados, pois escrevemos por diletantismo, sem remuneração, ao contrário do que acontece nas impressas.

O mesmo sentimento tenho no Facebook. Não por tomar a iniciativa do convite à amizade, que não o faço, tímido que sou, mas tenho amizades digitais com alguns colunistas famosos das impressas. Gente que admiro, leio, comento, curto, compartilho.

Tudo o que escrevo no GGN e em CartaCapital, semanalmente, ofereço a esses “amigos”. Silêncio dos mortos. Pois bem, que assim se tornem. Não disse que logo iria melhorar?

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

8 Comentários

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    1. Carpina,

      não escrevi sob efeito de drogas. Você não estava presente. E pseudônimo é covardia, coisa que mestre Carpina não acha legal.

    2. Carpina,

      não escrevi sob efeito de drogas. Você não estava presente. E pseudônimo é covardia, coisa que mestre Carpina não acha legal.

    3. Ser ácido e sagaz

      não quer dizer que use drogas.

      Por falar nisso, tinha um comentarista que escrevia por aqui que sempre parecia meio chapada. Anda desaparecido.

  1. Desanimador neh. Sabe senhor

    Desanimador neh. Sabe senhor Rui, estes caras nao sabem de nada. Querem porque querem mandar no mercado. Nao adianta o senhor explicar, didaticamente, porque o feijao tah caro. Eh assim que as esquerdas pensam, querem mandar em tudo. 

     

  2. De feijão…

    Caro Sr. Rui, se este país começasse a perguntar para quem entende por sua experiência com quais passos deveríamos prosseguir? Não para termos uma verdade absoluta, mas para usar o conhecimento já adquirido como um alicere, um trampolim. Para o técnico em agropecuária, por 50 anos,  o que é agronegócio? Para o Requião do PMDB para que salvar a Dilma? Para Katia Abreu, líder dos ruralistas, qual o futuro do seu segmento, se aliando a uma presidenta do PT? Para Bresser Pereira, ministro de FHC, por que enxerga o precipicio com a volta de entreguistas? Para Delfim Neto, obra do regime militar e de Paulo Maluf, o porque da crença que as politicas dos últimos 13 anos foram mais eficientes que todas as anteriores? Para o agricultor que planta feijão em 10 ou 20 alqueires, por que numa área tão diminuta é mais rentável plantar esta leguminosa que outra como soja? Por que o iludido não vai para a cidade trabalhar de empregado (e comprar feijão no supermercado) que é muito mais “mole” e rentável que continuar na roça? Por que não perguntamos para quem tem respostas?

  3. Já eu acho que o texto de

    Já eu acho que o texto de Alan Tygel traz um debate importante e necessário sobre soberania alimentar.

    A vila campesina define soberania alimentar como o direito dos povos a alimentos nutritivos e culturalmente adequados, acessíveis, produzidos de forma sustentável e ecológica e o direito de produzir seu próprio sistema alimentar e produtivo. A soberania alimentar favorece a soberania econômica, política e cultural dos povos. Envolve acesso à terra e a água, proteção das sementes, a autonomia alimentar, geração de emprego, menor dependência de importações e da flutuação do preço do mercado internacional. A autossuficiência alimentar é estratégica e está ligada a questões de segurança nacional.

    E isso vai muito além dos interesses dos grandes produtores (e se estamos tendo que importar arroz e feijão, significa que há demanda, sim).

    O texto de Alan ainda traz dados importantes:

    No mesmo período (de 1990 até agora) em que a área plantada de arroz e feijão caiu 44% e 36%, respectivamente, a área de soja aumentou 161%, enquanto o milho aumentou 31% e a cana, 142%. Somados os três produtos (soja, milho e cana), temos 72% da área agricultável do Brasil com apenas três culturas. São 57 milhões de hectares que ignoram a cultura alimentar e a diversidade nutricional do nosso país em favor de um modelo de monocultura, que só funciona com muito fertilizante químico, semente modificada e veneno, muito veneno.

    Diferenciar ou não agricultura familiar de agronegócio é, mais do que qualquer outra coisa, uma escolha política.

    Segundo a FAO Agricultura Familiar é entendida como todas as atividades agrícolas de base familiar e está ligada a diversas áreas do desenvolvimento rural. A agricultura familiar consiste em um meio de organização das produções agrícola, florestal, pesqueira, pastoril e aquícola que são gerenciadas e operadas por uma família e predominantemente dependente de mão-de-obra familiar, tanto de mulheres quanto de homens.

    Principal responsável pela comida que chega às mesas das famílias brasileiras, a agricultura familiar responde por cerca de 70% dos alimentos consumidos em todo o País. O pequeno agricultor ocupa hoje papel decisivo na cadeia produtiva que abastece o mercado brasileiro: mandioca (87%), feijão (70%), carne suína (59%), leite (58%), carne de aves (50%) e milho (46%) são alguns grupos de alimentos com forte presença da agricultura familiar na produção.

    http://operamundi.uol.com.br/conteudo/samuel/44581/opiniao+o+golpe+ruralista+e+o+preco+do+feijao.shtml

    http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2015/07/fao-agricultura-familiar-e-agronegocio-sao-chave-para-crescimento

    http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2015/07/agricultura-familiar-produz-70-dos-alimentos-consumidos-por-brasileiro

    http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/84/84131/tde-19032014-114603/pt-br.php

     

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