A criminalização do aborto como lei do feminicídio, por Debora Diniz

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Deborah Diniz

Em AZMina

2016 foi ano de olharmos para os femicídios causados pela lei

Temos uma lei de feminicídio  que define o crime quando se mata uma mulher pelo simples fato de ser uma mulher. Nos termos da lei penal, um qualificador ao crime genérico do homicídio. O feminicídio é um escândalo: a morte é por ódio às mulheres na casa, nos afetos, nas famílias. Mas há outro escândalo – a matança de mulheres pela ilegalidade do aborto. Dados divulgados pelo jornal O Estado de S. Paulo dizem que 4 mulheres morrem por dia em consequência do aborto clandestino. Das 1.300 mulheres que abortam por dia, segundo dados da Pesquisa Nacional de Aborto, 4 delas podem morrer. É 1 mulher morta a cada 6 horas.

Essa é outra forma de feminicídio. Não está na lei penal, mas o fundamento é o mesmo – quando se morre porque se é mulher. É a mulher comum que faz aborto. É a mulher comum, com filhos e católica, que se arrisca pelos métodos inseguros para abortar. Além das 4 anônimas por dia que morrem, outras tantas adoecem, sentem medo, entristecem por se sentirem criminosas ou pecadoras. É verdade que se algo de alentador houve em 2016 foi o pedido do Papa Francisco para que o aborto fosse perdoado nas confissões. Isso foi de uma importância tremenda para as mulheres católicas, o principal grupo religioso de mulheres a abortar no Brasil.

Fechamos 2016 com números assombrosos sobre aborto: 1 mulher por minuto aborta no Brasil; meio milhão em 2015. Já são mais de 4 milhões e 700 mil mulheres que abortaram em algum momento da vida no Brasil. Se são mesmo 4 por dia como sugerem os dados oferecidos pelo Ministério da Saúde ao jornal O Estado de S. Paulo, estamos falando de uma matança ainda mais grave que a que movimentou a lei do feminicídio. Só há uma saída para proteger as mulheres do homicídio imposto pela lei penal – descriminalizar o aborto no Brasil.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

4 Comentários

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  1. Coerência

        Os evangélicos pregam que Deus deu ao ser humano o livre arbítrio sempre que ocorreu qualquer tragédia contra inocentes e acidentes naturais catastróficos que ceifam as vidas de muitas  pessoas, por exemplo o genociídio de Campinas com 12 mortos ou o terremoto no Japão. Os evangélicos pregam que Deus dá riqueza e fartura ao ser humano, logo interfere na ordem das coisas para dar dinheiro e riqueza a alguém que ele goste, mas prefere não evitar o genocídio e as tragédias. Então, não há coerência nos seus argumentos contra o aborto. Ora, se Deus permite o genocídio e as tragédias, por que vai interferir no aborto se representarbem emocional para a mãe.

  2. “Dados divulgados pelo jornal

    “Dados divulgados pelo jornal O Estado de S. Paulo dizem que 4 mulheres morrem por dia em consequência do aborto clandestino”:

    Eh, e antes era so “minha buceta, minha escolha”.  Como todos os “conservadores” fizeram no mundo inteiro, agora eh “meu utero, minha escolha”…  esquecendo tao convenientemente que quando era o primeiro caso eles ADORARAM as pedras que eles proprios colocaram no caminho.

    Continuam colocando:  nao se “regulamenta” utero mais do que se “regulamenta” buceta.  Mulher tem todo o direito de dar pra quem quer e tem todo o direito de abortar os filhos (do puto) de quem quizer E AINDA COBRAR METADE TO ABORTO DELES.  E COBREM MESMO!

    Enfia as maos nos bolsos dessa putaiada de extrema direita, “mulheres”.  Deixem eles tirar o caviar das bocas dos proprios filhos e esposas pra pagar os abortos que eles causaram.

    Advinhem o resultado legal disso.

    Vamos la.  Advinhem…

  3. “Fechamos 2016 com números

    “Fechamos 2016 com números assombrosos sobre aborto: 1 mulher por minuto aborta no Brasil; meio milhão em 2015. Já são mais de 4 milhões e 700 mil mulheres que abortaram em algum momento da vida no Brasil. Se são mesmo 4 por dia como sugerem os dados oferecidos pelo Ministério da Saúde ao jornal O Estado de S. Paulo, estamos falando de uma matança ainda mais grave que a que movimentou a lei do feminicídio”:

    Tenho varios problemas com esse paragrafo:

    -nao tem fontes, e uma “mulher por minuto” nao bate comigo;

    -nao sei de onde veio subitamente 4 milhoes e 700 mil mulheres” que abortaram “em algum momento”;

    -tampouco sei se “um aborto por minuto” comporta dados oficiais do “ministerio da Saude De Dilma E Lula”, enquanto o “outro” vai mentir ate o ultimo cabelo do dedao do pe, como o “governo” Temer ja esta mentindo a respeito de praticamente tudo que sabota.

    POREM…  a diferenca entre 1 por minuto e 4 por dia eh assombrosa pois um dia tem 1440 minutos enquanto 4 abortos por dia tem 1440 minutos dividido por 4 eh 360, ou 300 por cento menor que o primeiro dado, so que…  ela diz que isso eh…  mais grave, nao menos grave.

    A “matanca ainda mais grave” dela eh menor que a que ela afirma primeiramente!!!

    Tem alguem mentindo ou muito matemisticamente confuso aqui e nao eh eu.

    1. e fácil mesmo discordar dos números

      Tem que separar uso de pílulas abortivas de cirurgias abortivas.

      Se pega a venda de medicamentos abortivos a conta deve ser alta mesmo. Se usar o número de cirurgias abortivas a conta deve ficar menor.

      Na realidade existe uma pressão para aprovação do tema que nós homens não conseguimos entender. E olha que existem métodos contraceptivos bastante eficientes como o DIU que é pouco conhecido e usado pelas mulheres. O uso do aborto cirúrgico é tão caro em comparação ao uso de métodos contraceptivos e do uso da pílula do dia seguinte que fica impossível aprovar um orçamento para o SUS usando estes números acima.

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