Não há salvaguarda eficiente para proteger o cidadão, diz advogada sobre regulamentação das bets

Carla Castanho
Carla Castanho é repórter no Jornal GGN e produtora no canal TVGGN
[email protected]

Empresas que estão patrocinando estavam sediadas em Curaçao, Malta, paraísos fiscais que já são reconhecidamente usados pelo crime organizado, diz Cláudia Carvalho

Foto: iStock

Desde que a legalização das apostas esportivas online – as bets – foi cogitada, surgiram preocupações sobre a potencial exploração desse setor pelo crime organizado, com exemplos de envolvimento de grupos como o PCC e milícias no controle de casas de apostas. 

Para a advogada criminalista atuante em Cybercrime e Criminal Compliance, Cláudia Carvalho, embora o governo tenha regulamentado o setor em maio, exigindo que empresas tenham representação no Brasil e sigam normas de prevenção à lavagem de dinheiro, essas medidas podem não ser suficientes para garantir a segurança dos cidadãos. 

“Já existem várias empresas que estão patrocinando, é praticamente o futebol brasileiro, sem elas iria haver uma falência financeira. Mas até então eram empresas que estavam sediadas em Curaçao, em Malta, paraísos fiscais que já são reconhecidamente usados pelo crime organizado”, ilustrou Cláudia à TVGGN Justiça [confira o link abaixo].

Ainda que em Curaçao tenha havido um movimento para tentar afastar a imagem negativa de paraíso fiscal facilitador da lavagem de dinheiro, através do órgão regulador “Curaçao Gaming Authority”, que exige uma série de normas preventivas, “essas empresas, inclusive as que já operam, continuam sediadas nesses paraísos fiscais, mantendo suas operações sob anonimato”, explica. 

Ainda de acordo com a advogada criminal, com as novas regulamentações das bets surgiram propostas para que advogados atuem como gatekeepers, ou seja, representantes formais das empresas diante das autoridades, que atuariam, na verdade, como “laranjas”.

“Tenho colegas que já estão recebendo propostas indecentes de empresas que querem se estabelecer aqui e querem, na desculpa de ter uma pessoa como a gente, que vai fazer a abertura desse licenciamento dentro dos requisitos que o governo vai estabelecer, que esse profissional seja o laranja, pelos compromissos que ele vai assumir. Com o trabalho que ele vai desempenhar, ele vai ser a cara da empresa diante da sociedade, do Ministério da Fazenda”.

Regulamentar trará controle maior sobre o mercado das bets

Para o jornalista investigativo e pesquisador Sérgio Ramalho, que também compôs a bancada do programa desta sexta (23), a regulamentação das bets visa trazer um controle maior sobre um mercado já em expansão. 

“Regulamentar é a melhor forma que a gente tem, mas isso também não vai afastar esses grupos, essas organizações criminosas, agora, só deu uma dimensão transnacional, a gente está vendo organizações  criminosas brasileiras atuando junto com transnacionais. O Estado precisa ser mais ágil, inclusive, em parcerias com outros países”.

“Eles vão encontrar o meio para fazer. E não paga só com cartão de crédito. Você pode pagar com pix, esse pix pode ser aberto numa conta que você não sabe exatamente a origem. É complexo, a gente está falando de ferramentas de tecnologia muito complexas, muito sofisticadas, você opera dinheiro daqui do Brasil em outro lugar”.

Para a psiquiatra Sônia Maria Motta Palma, o cenário atual mostra a fragilidade das políticas de saúde mental no campo das dependências que afetam o sistema de recompensa cerebral, um problema que já passou da hora de ser solucionado com a devida atenção que merece.

“Talvez esse seja o momento das pessoas envolvidas, ligadas às universidades, aos serviços públicos, cobrarem por essa especialização, esse olhar, esse cuidado. Isso já deveria estar em um patamar mais elevado. A questão das bets é mais um prolongamento do que nós já temos”.

Para Sérgio Ramalho, “Existe uma fina ironia interessante de que quem lucra com isso também pague por esses tratamentos”. 

Assista ao programa completo aqui

5 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. A ubiquidade da propaganda das Bets é assustadora. Os adds delas estão em todos os lugares o tempo todo oferecendo crédito para os iniciantes até viciá-los. Mensagens não solicitadas dessas empresas pipocam no meu celular todos os dias. Não existe uma maneira de bloqueá-las. Isso deverá ser considerado abusivo, mas não é.

    1. Sugestões de bloqueio de propaganda: navegador seguro: BRAVE – DUCK DUCK GO – ÓPERA – FIREFOX – depois que baixar o navegador ir até as configurações e escolher o buscador DUCK DUCK GO- para pesquisa – ainda nas configurações procurar extensões – baixar – AD GUARD E adblock – Todos os anúncios deixarão de aparecer. Quando configurar também pode controlar os pop ups e o nível de segurança. Não verá qualquer anúncio a não ser o da própria página acessada (banner exclusivo eventual)

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador