Fernando Castilho
Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, a Sangria Estancada.

O que falta para Lula emplacar seus candidatos a prefeito?, por Fernando Castilho

O fato inconteste é que não há comunicação. Não há ligação entre os feitos do governo Lula e o povo. Há uma desconexão.

Imagem: reprodução redes sociais

O que está faltando para Lula emplacar seus candidatos a prefeito?

por Fernando Castilho

Deu na Folha: os candidatos a prefeito apoiados por Bolsonaro lideram as pesquisas em 23 municípios com mais de 200 mil habitantes e, em 11 deles podem vencer no primeiro turno. Os apoiados por Lula estão em primeiro lugar somente em 16 cidades e apenas 5 liquidariam a eleição em primeiro turno.

Apesar de estranha, a notícia é verdadeira, pelo menos antes do dia 6, quando o pleito é pra valer.

Mas, por que isto está acontecendo?

Sabemos que Bolsonaro fez o pior governo da história. Não há nenhuma obra de vulto, nenhuma universidade foi construída, nenhum grande hospital erguido. Além disso, ele foi responsável por pelo menos 400 mil mortes durante a epidemia e quase todo mundo teve uma vítima em sua família ou em seu rol de amizades.

O capitão enfrenta processos que vão desde falsificação de cartão de vacinas até tentativa de golpe de estado, passando pelo vergonhoso roubo de joias do Estado. É também o responsável pelo apetite insaciável por emendas do centrão, o que se constitui numa verdadeira sabotagem ao programa de governo de Lula.

Na contrapartida, Lula tem tido grandes êxitos. Alguns não são percebidos pela população, como o arcabouço fiscal e a reforma tributária, mas outros afetam de maneira muito positiva a vida dos brasileiros mais pobres como a enorme redução do desemprego, a inflação sob controle, o crescimento do PIB e a volta dos programas sociais.

Mas, então, por que os candidatos de Lula não decolam?

A explicação parece simples: o povo não sente a melhoria de vida. Ou, se sente, o outro lado desmente com fake news.

O fato inconteste é que não há comunicação. Não há ligação entre os feitos do governo Lula e o povo. Há uma desconexão.

O presidente do México, López Obrador, que deixa o cargo hoje, adotou em seu governo a estratégia de comunicação diária, através de lives, com o povo mexicano. Deve ser por isso que sua aprovação é de 68%. Essa aprovação lhe garantiu a eleição de sua sucessora, Claudia Sheinbaum.

Amanhã Lula estará na posse de Claudia. Espero que Obrador lhe dê alguns conselhos.

Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, a Sangria Estancada.

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2 Comentários

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  1. É preciso reconhecer dois fatores: uma parte da comunicação da direita apela para assuntos que calam fundo nas camadas populares, dentre eles: Deus, moral e bons costumes, e propriedade privada. Do primeiro, não é necessário falar; já era arraigado quando os católicos eram expressiva maioria, e agora o é ainda mais, com os evangélicos, cuja mensagem é clara, nem um pouco ambígua, e decididamente firme, principalmente entre aqueles temas que eles condenam, particularmente as questões de gênero, exemplo mais bem acabado da utilização de um assunto totalmente alheio à religião, para proselitismo de ideias conservadoras e reacionárias; nesse campo, ser tolerante é, em termos de política, contraproducente, um autêntico tiro no pé; só é possível reverter esse quadro com investimento maciço em educação, o que demanda prazo longuíssimo, e estamos falando de período eleitoral. Dos dois outros, um – a moral e os bons costumes – é irmão gêmeo do primeiro, e se estende a questões igualmente sensíveis entre a população mais pobre e carente, como, por exemplo, as políticas inclusivas não só aos LGBT, mas também a outras minorias, e o outro é provavelmente o mais bizarro efeito desses séculos de perversão escravocrata/capitalista que são a nossa história, por paradoxal que possa parecer, e contrariamente à noção de que os pobres são naturalmente solidários e generosos entre si. Sou pobre e moro em bairros pobres há mais de trinta anos. O pobre não quer ser solidário, quer ser rico; e não quer ser generoso, quer acumular. Claro que há exceções, e há muita gente solidária e generosa nesses extratos; mas quando o que se tem a dividir é pobreza e escassez de recursos, nada mais natural que agir dessa forma. Isso pode parecer mesquinho, cruel, e inadequado; mas creio que jamais, em toda a História do Brasil, um discurso reacionário, igualmente mesquinho, cruel, e inadequado, alcançou tamanho número de adeptos e simpatizantes, em nossa história. Isso não é pouca coisa. A reação sempre veio da elite; hoje está vindo dos extratos mais populares. Não é só nesses poucos meses de Lula III que os pobres obtiveram ganhos e melhorias em suas vidas; também o conseguiram em Lula II e no primeiro mandato de Dilma. Que marcas essas coisas deixaram em suas vidas? Por que correm tão decididamente agora atrás daquele que vem com a Cruz e a Espada? Porque os temas apelativos que mencionei não se resumem a alguns anos de bonança, e sim a séculos de embotamento mental. Na prática, a única coisa nova que a população carente desse país experimentou nos anos do PT foi a possibilidade de consumir mais e melhor, mas, como já disse alguém, a sociedade de consumo jamais poderá atender aos anseios mais profundos do inconsciente coletivo, dentre os quais reinam, absolutos, Deus, a moral e os bons costumes, e o desejo de propriedade. Este último, habilmente vinculado, no imaginário fascista, aos dois primeiros; não é meramente uma questão de comunicação. Há muito atavismo envolvido nisso, e aí se igualam o paternalismo dos senhores e a reverência inabalável do povo à autoridade. Quando essa autoridade é, não um senhor, mas um igual, a reverência cede, por um lado, e o povo ascende; mas, ao primeiro sinal de crise, o desejo de estar sob a proteção de um senhor, mesmo terrível, retorna ao primeiro plano. E é aí que o apelo ao que está, há muito, estabelecido no imaginário popular, age e triunfa. Os símbolos dessa crise são incorporados – a decadência moral, o ateísmo, e a pobreza. Esse círculo vicioso apenas adquiriu um contorno inesperado, protagonizado pelo povo, ao lado de quem o oprime, mas lhe afaga o ego moralista, submisso, e despossuído. Não sei como enfrentar essas questões, mas ignorá-las é perdição certa. A explicação está no imaginário popular, e suas distorções. É preciso admitir que elas existem, para então enfrentá-las.

  2. O que falta para Lula emplacar seus candidatos?

    Visão de um periférico..

    Lula e o PT, prometeu a reendustrializacao e hoje vemos um país cada dia sem indústria.

    Poderia ter ouvido a aepet e reendustrializar o país através do pré sal mas hoje Lula vende o pré sal.

    Lula prometeu uma boa saúde e o que vemos aqui na periferia é um horror.

    Vou ficar só com trabalho e saúde, porque basta..

    O que o Lula é PT nos deram?

    Mais repressão o que era ruim com a PM hoje está um horror com guardas municipais agindo como uma outra PM (porque guarda foi treinado e é treinado por pms), Lula e o PT sabem disso.

    Qualquer pessoa de bom senso, sabe a loucura que é e será mais uma polícia,

    Lula e o PT tornaram o prefeito num verdadeiro imperador, hoje a violência do guarda não é fácil reclamar a da PM ao mesmos tem o promotor pra olhar.

    Agora senhor Fernando imagina quando prefeito se reeleger aqui em SP e o seu vice que comandou a rota, comandar os guardas, agora o senhor imagina o que ele falou quando comandante, que na periferia tem que tratar as pessoas diferente e a gente aqui sabe o quê diferente.

    Senhor Fernando, o senhor consegue imaginar a tragédia?

    E lula armou guarda e deixa agim como polícia, sabendo que a constituição é bem clara, guarda cuida de praça e prédio, mas não acontece assim.

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