Lei hermética da polaridade e a mudança na racionalidade humana, por Marcos de Aguiar Villas-Bôas

Lei hermética da polaridade e a mudança na racionalidade humana

por Marcos de Aguiar Villas-Bôas

Nos últimos 3 textos publicados neste blog sobre o tema (ver aqui o último), tratamos das 3 primeiras leis herméticas segundo a ordem pela qual elas normalmente são apresentadas nos estudos, a exemplo do livro Caibalion. Até pelo fato de, como mencionamos antes, todas estarem interligadas, já falamos um pouco sobre a lei da polaridade nos textos passados, mas, neste momento, analisaremos essa lei ou princípio hermético com mais cuidado:

“Tudo é duplo, tudo tem dois polos, tudo tem o seu oposto. O igual e o desigual são a mesma coisa. Os extremos se tocam. Todas as verdades são meias-verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliados.”

Temos repetido em diferentes textos – e isso é dito em muitos vídeos do programa Diálogo com os Espíritos, em livros psicografados e na mensagem espiritual trazida ontem por meio de Carlos Torres neste blog – que a Terra é um planeta escola pautado na dualidade.

Todos aqui vieram de outros planetas para, dentre outras coisas, aprender e ensinar a lidar com as dualidades num mundo de provas e expiações de modo a expandir a consciência nas vibrações do amor e da justiça. Esse foi o compromisso, em geral, dos que estão encarnados hoje e dos que encarnaram nos últimos milênios.   

Sábios egípcios já diziam isso cerca de 5.000 anos atrás. Segundo conta o livro Akhenaton – Revolução Espiritual no Antigo Egito, de Roger Bottini, que traz histórias narradas por Hermes e Radamés, alguns sábios levaram do continente de Atlântida, destruído por um asteroide, conhecimentos muito avançados para o Egito Antigo e outras regiões. Daí porque ninguém consegue explicar até hoje a construção das fantásticas pirâmides ocorrida mais de 2.000 anos antes de Cristo, antes de supostamente existirem as tecnologias que permitiriam o levantamento dos blocos de pedra que dão sustentação a tal monumento.    

Segundo o livro narra, a civilização de Atlântida era muito avançada. Uma parte vinha de um planeta que era bem desenvolvido mentalmente, porém nem tanto do ponto de vista comportamental/emocional, tanto que foi destruído. Pela semelhança da descrição com a narrativa do irmão Kadashian aqui referida em texto anterior, é provável que parte da humanidade de Atlântida fosse advinda do chamado Povo Azul, hoje também denominado por alguns de Povo do Oriente, talvez pelo fato de ter levado à época o seu conhecimento de Atlântida para países hoje considerados orientais.  

Neste planeta, tudo é duplo, tudo tem dois polos aparentemente opostos, mas que são, em realidade, a mesma coisa em graus diferentes. Praticamente tudo é representado na mente humana em oposição para efeito de facilitar o seu entendimento. Isso dá uma sensação de separação rígida, de coisas estanques, mas que é falsa devido a tudo estar integrado. Parte importante do aprendizado na Terra é saber transgredir as dualidades, ou seja, aceitá-las, reconhecê-las, mas não ficar preso dentro da ilusão de que elas são coisas totalmente separadas, opostos que conflitam entre si.

Na medida em que se passa a planos mais profundos/complexos de consciência, é possível perceber que opostos são apenas aparentes; são graus distintos de algo, que, à medida em que se aproximam mais dos extremos, deixam mais clara a oposição, porém, ainda assim, são apenas níveis distintos de uma só coisa.

Se tudo vibra e se a vibração pode ser desde a mais densa até a mais sutil, passando por infinitos estágios, tudo que é considerado oposto é apenas um ponto de vibração tido mentalmente pelo grau reverso de um primeiro ponto, como uma representação mental de “a” e “-a”.  

A compreensão disso permite que o ser humano saia, por exemplo, das inúmeras ilusões de verdade. Muitos se colocam como defensores de algo em detrimento do seu oposto como se houvesse um conflito irreconciliável entre eles, mas, como diz a lei da polaridade, todas as verdades são apenas meias-verdades.

A oposição aparente está dentro de paradoxos, que são exatamente isso: supostas dualidades existentes dentro de uma mesma coisa, de uma mesma ideia, de um mesmo sentimento. Eles podem ser, portanto, comportados, equilibrados dentro de uma mesma decisão, realizando-se um balanceamento entre os opostos aparentes, o que não significa “jogar na coluna do meio”.

É complicado para a atual racionalidade humana entender isso com mais profundidade pois ela está condicionada pelo cartesianismo (matemática linear e lógica formal), pelo reducionismo (junto com o dualismo), pelo mecanicismo e pelo determinismo forte. Em outras palavras, tudo costuma ser compreendido de forma linear, como se as partes fossem separadas e opostas, movendo-se de modo engessado e pré-determinado, sem espaço para surpresas.  

Com o despertar da consciência, aprende-se a acomodar melhor os paradoxos, a chegar àquilo que se chama de equilíbrio prático, utilizando o que é melhor de cada grau de algo, podendo-se defender em um momento “a” e em outro momento “–a”, o que alguns estudiosos decidiram denominar de “lógica do terceiro incluído”, uma atualização da “lógica do terceiro excluído”, defendida por Aristóteles e amplamente aplicada na humanidade por séculos. 

O romeno Stéphane Lupasco ficou conhecido por defender a lógica do terceiro incluído em meados do século XX e esse se tornou um dos pilares da corrente científico-filosófica denominada transdisciplinaridade, cujos três pilares principais são exatamente essa lógica para a transgressão das dualidades, os diferentes níveis de realidade e consciência, e a complexidade.

A transdisciplinaridade nos parece estar entre o que existe hoje de mais avançado no mundo em termos de corrente científico-filosófica, aceitando, inclusive, ao lado de ideias profundas vindas da Física Quântica, a existência de espíritos e de outros planos de realidade.

O nome transdisciplinaridade, segundo se conta, surgiu do grande estudioso da Psicologia, da Educação e de outros temas, Jean Piaget, na década de 70. Percebendo que a interdisciplinaridade, a pluridisciplinaridade e a multidisciplinaridade haviam trazido muitos avanços para as ciências, e notando que era necessário dar um passo à frente na integração das disciplinas, ele sugeriu que se partisse para uma transdisciplinaridade, um pensamento capaz de enxergar as disciplinas separadas, mas, ao mesmo tempo, integradas. 

Em seguida, Edgar Morin, principal expoente dos estudos da complexidade no mundo, o físico romeno Basarab Nicolescu e outros autores desenvolveram essa corrente científico-filosófica com base em sólidos e avançados fundamentos teóricos e práticos, unindo ciência, filosofia e espiritualidade.

Espírito e matéria são diferentes arrumações de um mesmo fluido cósmico universal. O amor, quando degenerado em apegos, pode se transformar em ódio. Pequenos desvios podem transmutar sentimentos e energias em diferentes direções, tanto indo do que agrada para o que desagrada, como na direção inversa.

Compreender o princípio da polaridade permite caminhar para uma visão da realidade de forma mais “inter-relacional”, o que se chama hoje, de certo modo, de pensamento complexo, que integra melhor o conhecimento, reconhecendo a importância não somente das partes reduzidas (reducionismo), nem somente do todo (holismo), mas das partes, do todo e de seus múltiplos arranjos de inter-relações, que podem levar as partes a excederem em suas propriedades o simples conjunto delas, princípio que ficou conhecido como “da emergência”.

Uma visão mais complexa da realidade, saindo do reducionismo, tem a ver com expansão de consciência, pois focar demais nas partes, dar atenção apenas às reduções, é perder a percepção do todo, como lembra Osho:

“A ciência avança do pequeno para o menor ainda, e o maior, o vasto, fica completamente esquecido. O todo é completamente esquecido em favor da parte. A ciência nunca conhecerá a divindade por causa da concentração. Portanto, as pessoas me procuram e dizem, ‘Osho, ensine-nos concentração, queremos conhecer o divino’, eu fico simplesmente perplexo. Elas não entendem os fundamentos básicos da busca” (Compaixão: o florescimento supremo do amor, p. 28). 

O trecho acima pode levar a uma ideia holística errônea, ou seja, de que basta trocar a visão reducionista pela visão do conjunto, mas não é simplesmente isso. É preciso não se focar em nenhuma das visões e usar todas elas, compreendendo as partes como infinitas possibilidades de inter-relações (arranjos), cada uma com efeitos distintos. Olha-se para as partes, para o conjunto e para as múltiplas possibilidades de interação, buscando obter o que há de mais efetivo segundo os princípios previamente estabelecidos. 

A transdisciplinaridade pode ser, portanto, se estudada com base no conhecimento ocultista mais avançado, uma chave para dar um salto de racionalidade rumo à compreensão do que está por trás das ideias humanas tidas por sensos comuns, desfazendo as ilusões e limitações que permeiam as mentes em face do inconsciente coletivo e das visões superficiais de cada um, quase sempre distorcidas por armadilhas da mente egóica.

O princípio da polaridade pode ser bem explicado pelo termômetro. Temperaturas mais baixas são consideradas “frio” e temperaturas mais altas são consideradas “quente”.  A língua é utilizada para poder expressar a realidade e as dualidades (os supostos opostos) facilitam muito separar uma coisa da outra, permitindo uma compreensão mais inicial, superficial de tudo.

Se aprofundamos, contudo, percebemos que o termômetro mede a mesma coisa, a temperatura. Frio e calor, apesar de parecerem coisas intocáveis, contrárias, são os graus dessa mesma coisa. A definição de baixa temperatura (ou frio) será uma para um povo nórdico e outra completamente diferente para um povo que vive nos trópicos.

O que é frio ou calor? São termos utilizados para se referir aos conjuntos de graus de uma mesma coisa, mas que podem ser vistos de modo completamente distinto a depender da experiência de cada pessoa.

Essas noções dão mais consciência acerca da relatividade de tudo e da inexistência de verdades. Todas verdades são subjetivas e, se só podemos falar na verdade da experiência de cada um, não há verdade tal qual se entende na Terra: aquela verdade única, que corresponde à realidade, ao que é, ao que aconteceu. A verdade é uma mera ilusão para dar mais segurança e para alimentar o ego de quem acredita ser o dono dela.

Tomemos agora como exemplo as notas musicais. Convencionou-se falar em dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, dó, mas poderíamos falar em dó1, dó2, dó3, dó4, dó5, dó6,dó7 e dó8 ou dó1, dó2, dó3, dó-sol, sol1, sol2, sol3 e dó1’. A língua é composta por nomes que atribuímos às coisas. Pode fazer sentido na comunicação de muitas formas diferentes. As notas são apenas mudanças de vibração.

Os nomes atribuídos com alguma lógica poderiam ser infinitos. Para que se tivesse harmonia musical, convencionou-se utilizar 7 notas e mais os seus sustenidos/bemóis. Dó e ré são a mesma coisa: uma vibração que emite um som cuja identificação pelos humanos foi definida por um termo. Como os sons de cada vibração são distintos, atribuiu-se nomes diferentes, mas, quando a diferença é de meio tom acima do dó, fala-se num dó sustenido, apesar de que mi e fá são diferenciados também por meio tom. Nomes são formas de referenciar, mas que moldam a realidade para cada consciência humana. 

Tudo o que a humanidade vem entendendo sobre as coisas, como opostos e como verdades, é apenas uma representação superficial da relação do que se chama de “signo”, ou seja, da inter-relação entre algo sobre o que se fala, o que se pensa sobre esse algo e a palavra utilizada para denominá-lo. Se entra na inter-relação o que se pensa, não há objetividade e, portanto, não há verdade. O termo “verdade relativa” apenas existe para tentar salvar a concepção de verdade, algo que não existe.

É completamente possível lidar com diferentes ideias sobre um mesmo algo, fazendo uma ou outra valer de acordo com a experiência. As noções ficam gravitando na consciência e são empregadas de acordo com a necessidade pragmática e com os valores morais. Diferentes assertivas, como “a” e “-a”, são naturalmente aceitas sobre o mesmo algo, a depender das circunstâncias, que podem inverter o tipo de ideia, sentimento, emoção e comportamento necessário ou que faz mais sentido em cada caso. 

Apesar de ter sido apresentada milhares de anos atrás, a lei hermética da polaridade, se bem compreendida hoje, pode ser responsável por um salto quântico na racionalidade humana, desfazendo um monte de ilusões centrais que criam, por exemplo, conflitos, medo e facilitam o domínio de alguns poucos sobre todos os demais.

Ilusões como a noção de verdade, como opostos completamente conflitantes, como um conhecimento rígido que evolui sempre linearmente, logicamente, mecanicamente, por um determinismo causal engessado são responsáveis por travas nos avanços científico-filosóficos e na própria capacidade humana de se comunicar, de aprofundar suas ideias e, em última instância, de amar.     

Marcos de Aguiar Villas-Bôas é terapeuta holístico, consultor jurídico e político, espiritualista universalista, reikiano usui, reikiano xamânico, estudante de psicanálise, praticante de meditação e amante do todo e de todos. Deixou a sociedade de um dos maiores escritórios de advocacia do país, sediado em São Paulo/SP, para seguir seu sonho de realizar pesquisas em Harvard e em outras universidades estrangeiras, mas, após atingir muitos dos seus objetivos materiais, percebeu, por meio da Yoga, de estudos e práticas espiritualistas sem restrições religiosas, que seus sonhos e suas missões iam muito além das vaidades acadêmica e profissional. Hoje busca despertar a consciência, o mestre dentro de si, e ajudar os outros a fazerem o mesmo, unindo o material e o espiritual. 

Redação

5 Comentários

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  1. Ninguém consegue explicar a
    Ninguém consegue explicar a construção das pirâmides do Egito?!?
    A explicação já foi dada pela ciência: os egípcios molhavam a areia do deserto, fazendo com que os trenós que transportavam os blocos de pedra deslizassem com facilidade. Uma pintura de 1900 AC confirma isto.

    1. E todo mundo explica tudo,

      E todo mundo explica tudo, como a luz acende, como o avião pode voar…

      Considerando que essa “descoberta” hipotética dos trenós sobre areia molhada só surgiu em 2014 da era atual, não diminui em nada a originalidade da tecnologia egípcia na época, pelo contrário. Resta então explicar de onde os discos voadores conseguiam tanta água, já que no deserto há grandes rochas, mas água…

  2. Haja hermetismo!!

    Há muito tempo não me deparava com um exemplo tão notável de autofagia discursiva, no curso da qual o texto, a todo momento, labora para desconstruir a si mesmo.

  3. a volta do besteirol

    Abra uma igreja sr. Villas Bôas. Este país oferece isenção fiscal para generalistas, sofistas, mequetrefes, embusteiros também conhecidos como pastores.

  4. Aprendi com a vida que

    Aprendi com a vida que podemos aproveitar do conhecimento de alguém com quem não concordamos. Vi coisas muito interessantes e sensatas neste blog sobre médiuns e espirtualidade, mas o presente texto e a mensagem de Carlos Torres me parecem complicados. Hoje temos um conhecimento muito razoável sobre a construção das pirâmides, As evidências são considráveis e o autor deveria tomar um pouco mais de cuidado ao tratar do tema, sob o risco de cair no descrédito. Quanto à Atlântica, não parece possível que um ente astral tenha atingido o planeta, nas proporções de destruir um continente, sem deixar vestígios consideráveis e sem provocar alterações imensas nas espécies existentes. Não me parece razoável acreditar em Atlântida. Não concordo com muita coisa em Kardec, mas estou de acordo com ele ao afirmar que convém submeter à crítica racional as mensagens mediúnicas. De resto, me ajudou a pensar as observações sobre a dualidade da experiência terrena.

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