O que o partido comunista francês tem a dizer sobre Charlie Hebdo

Enviado por Almeida

Atentado em Paris contra o Charlie Hebdo: o horror

Do Polo de Renascimento Comunista na França (PRCF)

Para o Initiative Communiste

Traduzido pela equipe do Resistir.info

Saídos das trevas medievais, terroristas abateram friamente homens desarmados. Estupor e indignação. Doze mortos, feridos graves… Partilhamos a dor e o horror ressentidos pelos próximos das vítimas e pelos cidadãos de todas as convicções amantes da laicidade e da liberdade de expressão, por todos aqueles que recusam que fanáticos restaurem sobre o nosso solo o pretenso “delito de blasfémia” abolido pelas leis laicas e façam reinar o terror clerical. Um pensamento especialmente particular para o nosso querido Wolinski que foi, durante décadas, um dos raros desenhistas a combater o anticomunismo, o anti-sovietismo e a defender com coragem Cuba socialista. O PRCF condena este horror absoluto e seus autores que não merecem nenhuma espécie de desculpa. 

PARA ALÉM DO HORROR, DEVEMOS ENFRENTAR TAIS ACTOS COM SANGUE FRIO E ANALISAR O QUE ESTE CRIME REVELA 

Ninguém conhece claramente os instigadores deste atentado neste momento. Ora, Marine Le Pen acaba de denunciar um atentado dos “fundamentalistas islâmicos”. Esta hipótese é evidentemente plausível, mas não é senão uma hipótese e há uma vontade provocação na proposta da FN que espera certamente aproveitar os acontecimentos para dinamizar seu empreendimento xenófobo. Não esqueçamos as 77 pessoas assassinadas pelo nazi Anders Breivik na Noruega ou os quarenta sindicalistas queimados vivos em Odessa pelos nazis apoiados por Kiev. Os integristas religiosos não têm o monopólio do terror, longe disso! 

QUANTO AO FUNDAMENTALISMO ISLÂMICO, QUEM O ARMA? QUEM O INSPIRA? QUEM O FINANCIA? QUEM O FAZ PROSPERAR? 

O governo dos Estados Unidos e seus vassalos, a Arábia Saudita, o Qatar, certos governos de países muçulmanos na bota da NATO. São estes que têm recrutado e utilizado os integristas contra os comunistas árabes, contra o movimento operário e democrático destes países: os Estados Unidos sustentaram Ben Laden e seus torcionários contra o governo popular afegão e contra o Exército Vermelho que o governo de Cabul havia chamado para ajuda em virtude de um tratado de assistência conforme ao direito internacional. Recorde-se de Sadate que utilizou os Irmãos Muçulmanos contra os progressistas egípcios. Ainda hoje quem arma e financia Daesh senão os regimes amigos dos imperialistas do Qatar ou do Koweit cujo inimigo principal é a Síria independente e soberana? 

Que se recorde também de quem fez assassinar o chefe de Estado da Líbia pouco se importando por entregar este país próximo das nossas fronteiras aos integristas fanáticos: trata-se dos srs. Sarkozy, Cameron e Obama que respondiam então às pregações do grande cruzado ocidental BHL (Bernard-Henry Lévy). Na realidade, o fundamentalismo islâmico é uma das criaturas do imperialismo, criatura que por momentos, segundo um esquema clássico, volta-se contra o seu criador: Sadate abatido pelos Irmãos Muçulmanos, 11 de Setembro em Manhattan, os Talibans voltam-se contra os ocidentais depois de terem linchado aos milhares os estudantes, os comunistas e os professores laicos que alfabetizavam o país… 

A QUEM APROVEITA O CRIME? 

Esta deve ser a pergunta. Quais são as forças políticas que prosperam sobre o racismo anti-árabe? Quais forças políticas querem substituir a realidade da luta das classes pela fantasmagórico luta das raças, das etnias, das religiões? São as forças da fascização galopante , onde elementos da direita clássica juntam-se cada vez mais aos semeadores de ódio da FN com o apoio de pseudo-intelectuais como Zemmour. Mais do que nunca, esta estigmatização permanente das populações muçulmanas ou classificadas como tais alimentam, sem os legitimar, os piores ressentimentos. E por sua vez, estes permitem aparentemente “justificar” o ódio do trabalhador muçulmano numa espiral que é preciso romper antes que resulte na fascização do nosso país e de toda a UE, a qual não pede senão isso (conferir Ucrânia, países bálticos, Hungria, direita dura flamenga, etc). 

E qual força social vendo pela frente o risco de uma revolução social tenta fazê-la desviar, apodrecer, matá-la transformando-a em luta interna nas classes populares de origem ou/e de religiões diferentes que poria em abrigo seus interesses de classe? O grande capital! 

EM QUAL CLIMA IDEOLÓGICO ESTE CRIME ESPANTOSO TEVE LUGAR? 

É o da fascização da sociedade, da campanha mediático-ideológica em torno dos Zemmour, Soral, Dieudonné, em torno do bobo islamófobo Houellebecq, de um racismo anti-trabalhador árabe cada vez mais aberto, pela recusa de um presidente de municipalidade a enterrar um bebé cigano (rom), pelas declarações de um primeiro-ministro julgando os ciganos “não integráveis”, em suma, num clima apodrecido que recorda as horas mais sombrias do nosso país. 

O GOVERNO HOLLANDE NÃO ESTÁ INOCENTE NA CRIAÇÃO DESTE CLIMA MORTÍFERO!

Por espírito neocolonial e por submissão à UE-NATO, ele impeliu ainda mais longe que Sarkozy as ingerências no conflito sírio, as práticas neocoloniais intervencionistas da Françáfrica (Costa do Marfimn, R. Centroafricana, Mali), as escaladas contra o Irão, o apoio apenas disfarçado ao massacrador Netanyahou, sempre continuando a compactuar diariamente com os piores regimes feudais do Golfo. Como sempre dissemos, o combate contra o terrorismo fanático na própria França é inseparável da luta contra “nosso” imperialismo, que criar dia-a-dia o terreno propicio para as violências mais selvagens. 

EIS PORQUE O PRCF REJEITA CATEGORICAMENTE A “UNIÃO SAGRADA” POR TRÁS DE HOLLANDE E CAZENEUVE 

Em graves dificuldades no terreno social, estes vão muito certamente explorar a situação para acentuar os ataques contra os direitos sociais adquiridos e contra as liberdades (cf nossa denúncia da recente lei Cazeneuve de que se fez prova de que reduz ainda mais nossas liberdades sem diminuir a força de ataque dos assassinos). O Polo dos Renascimento Comunista em França apela, pelo contrário, a uma grande “Frente antifascista, patriótica e popular voltada para o progresso social, a laicidade republicana verdadeira, as liberdades democráticas, a paz, a soberania nacional, contra o grande capital e sua UE atlântica pois a corrida ao lucro máximo semeia o caos no mundo inteiro. 

Os assassinos, os degoladores, os fanáticos, os manipulados e os manipuladores encontrão diante deles os comunistas que farão tudo para reforçar sua unidade de acção e para permitir a constituição de uma vasta Frente Antifascista, Popular e Patriótica tendo em vista um novo Conselho Nacional da Resistência. Conclamamos nosso povo a um imenso sobressalto progressista e republicano para barrar o caminho à peste que ganha terreno, pois quer se camufle em verde, em negro, em azul mariano, em azul-marinho ou em castanho, o fascismo serve sempre os mesmos interesses: os do capitalismo. 

A melhor resposta aos assassinos é nossa unidade de combate, nossa determinação, nosso sangue frio e a perspectiva de uma sociedade desembaraçada da exploração da miséria, do imperialismo e da guerra, a perspectiva do socialismo. 

Sempre condenando sem a menor restrição os assassinos, não nos deixamos encerrar no “choque das civilizações” com que sonham os cruzados de todas as plumagens: avancemos sem enfraquecer a luta das classes e construamos por toda parte a resposta social à euro-austeridade para que no 10º aniversário do 29 de Maio de 2005 (não à euroconstituição), ascenda a exigência de uma república social, soberana e fraternal desembaraçada do capitalismo, do imperialismo e do fascismo

15 Comentários

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  1. Uma ótima análise sobre a liberdade de expressão, islamofobia, e

    quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

    Do blog Em tom de mimimi

    Je ne suis pas Charlie

     Em primeiro lugar, eu condeno os atentados do dia do 7 de janeiro. Apesar de muitas vezes xingar e esbravejar no meio de discussões, sou um cara pacífico. A última vez que me envolvi em uma briga foi aos 13 anos (e apanhei feito um bicho). Não acho que a violência seja a melhor solução para nada. Um dos meus lemas é a frase de John Donne: “A morte de cada homem diminui-me, pois faço parte da humanidade; eis porque nunca me pergunto por quem dobramos sinos: é por mim”. Não acho que nenhum dos cartunistas “mereceu” levar um tiro. Ninguém merece. A morte é a sentença final, não permite que o sujeito evolua, mude. Em momento nenhum, eu quis que os cartunistas da Charlie Hebdo morressem. Mas eu queria que eles evoluíssem, que mudassem. Após o atentado, milhares de pessoas se levantaram no mundo todo para protestar contra os atentados. Eu também fiquei assustado, e comovido, com isso tudo. Na internet, surgiu o refrão para essas manifestações: Je Suis Charlie. E aí a coisa começou a me incomodar. A Charlie Hebdo é uma revista importante na França, fundada em 1970 e identificada com a esquerda pós-68. Não vou falar de toda a trajetória do semanário. Basta dizer que é mais ou menos o que foi o nosso Pasquim. Isso lá na França. 90% do mundo (eu inclusive) só foi conhecer a Charlie Hebdo em 2006, e já de uma forma bastante negativa: a revista republicou as charges do jornal dinamarquês Jyllands-Posten (identificado como “Liberal-Conservador”, ou seja, a direita européia). E porque fez isso? Oficialmente, em nome da “Liberdade de Expressão”, mas tem mais… O editor da revista na época era Philippe Val. O mesmo que escreveu um texto em 2000 chamando os palestinos (sim! O povo todo) de “não-civilizados” (o que gerou críticas da colega de revista Mona Chollet – críticas que foram resolvidas com a saída dela). Ele ficou no comando até 2009, quando foi substituído por Stéphane Charbonnier, conhecido só como Charb. Foi sob o comando dele que a revista intensificou suas charges relacionadas ao Islã – ainda mais após o atentado que a revista sofreu em 2011. Uma pausa para o contexto. A França tem 6,2 milhões de muçulmanos. São, na maioria, imigrantes das ex-colônias francesas. Esses muçulmanos não estão inseridos igualmente na sociedade francesa. A grande maioria é pobre, legada à condição de “cidadão de segunda classe”. Após os atentados do World Trade Center, a situação piorou. Já ouvi de pessoas que saíram de um restaurante “com medo de atentado” só porque um árabe entrou. Lembro de ter lido uma pesquisa feita há alguns anos (desculpem, não consegui achar a fonte) em que 20 currículos iguais eram distribuídos por empresas francesas. Eles eram praticamente iguais. A única diferença era o nome dos candidatos. Dez eram de homens com sobrenomes franceses, ou outros dez eram de homens com sobrenomes árabes. O currículo do francês teve mais que o dobro de contatos positivos do que os do candidato árabe. Isso foi há alguns anos. Antes da Frente Nacional, partido de ultra-direita de Marine Le Pen, conquistar 24 cadeiras no parlamento europeu… De volta à Charlie Hebdo: Ontém vi Ziraldo chamando os cartunistas mortos de “heróis”. O Diário do Centro do Mundo (DCM) os chamou de“gigantes do humor politicamente incorreto”. No Twitter, muitos chamaram de “mártires da liberdade de expressão”. Vou colocar na conta do momento, da emoção. As charges polêmicas do Charlie Hebdo são de péssimo gosto, mas isso não está em questão. O fato é que elas são perigosas, criminosas até, por dois motivos. O primeiro é a intolerância. Na religião muçulmana, há um princípio que diz que o profeta Maomé não pode ser retratado, de forma alguma. (Isso gera situações interessantes, como o filme A Mensagem – Ar Risalah, de 1976 – que conta a história do profeta sem desrespeitar esse dogma – as soluções encontradas são geniais!). Esse é um preceito central da crença Islâmica, e desrespeitar isso desrespeita todos os muçulmanos. Fazendo um paralelo, é como se um pastor evangélico chutasse a estátua de Nossa Senhora para atacar os católicos. O Charlie Hebdo publicou a seguinte charge:  Qual é o objetivo disso? O próprio Charb falou: “É preciso que o Islã esteja tão banalizado quanto o catolicismo”. Ok, o catolicismo foi banalizado. Mas isso aconteceu de dentro pra fora. Não nos foi imposto externamente. Note que ele não está falando em atacar alguns indivíduos radicais, alguns pontos específicos da doutrina islâmica, ou o fanatismo religioso. O alvo é o Islã, por si só. Há décadas os culturalistas já falavam da tentativa de impor os valores ocidentais ao mundo todo. Atacar a cultura alheia sempre é um ato imperialista. Na época das primeiras publicações, diversas associações islâmicas se sentiram ofendidas e decidiram processar a revista. Os tribunais franceses – famosos há mais de um século pela xenofobia e intolerâmcia (ver Caso Dreyfus) – deram ganho de causa para a revista. Foi como um incentivo. E a Charlie Hebdo abraçou esse incentivo e intensificou as charges e textos contra o Islã. Mas existe outro problema, ainda mais grave. A maneira como o jornal retratava os muçulmanos era sempre ofensiva. Os adeptos do Islã sempre estavam caracterizados por suas roupas típicas, e sempre portando armas ou fazendo alusões à violência (quantos trocadilhos com “matar” e “explodir”…). Alguns argumentam que o alvo era somente “os indivíduos radicais”, mas a partir do momento que somente esses indivíduos são mostrados, cria-se uma generalização. Nem sempre existe um signo claro que indique que aquele muçulmano é um desviante, já que na maioria dos casos é só o desviante que aparece. É como se fizéssemos no Brasil uma charge de um negro assaltante e disséssemos que ela não critica/estereotipa os negros, somente aqueles negros que assaltam…   E aí colocamos esse tipo de mensagem na sociedade francesa, com seus 10% de muçulmanos já marginalizados. O poeta satírico francês Jean de Santeul cunhou a frase: “Castigat ridendo mores” (costumes são corrigidos rindo-se deles). A piada tem esse poder. Se a piada é preconceituosa, ela transmite o preconceito. Se ela sempre retrata o árabe como terrorista, as pessoas começam a acreditar que todo árabe é terrorista. Se esse árabe terrorista dos quadrinhos se veste exatamente da mesma forma que seu vizinho muçulmano, a relação de identificação-projeção é criada mesmo que inconscientemente. Os quadrinhos, capas e textos da Charlie Hebdo promoviam a Islamofobia. Como toda população marginalizada, os muçulmanos franceses são alvo de ataques de grupos de extrema-direita. Esses ataques matam pessoas. Falar que “Com uma caneta eu não degolo ninguém”, como disse Charb, é hipócrita. Com uma caneta se prega o ódio que mata pessoas. No artigo do Diário do Centro do Mundo, Paulo Nogueira diz: “Existem dois tipos de humor politicamente incorreto. Um é destemido, porque enfrenta perigos reais. O outro é covarde, porque pisa nos fracos. Os cartunistas do jornal francês Charlie Hebdo pertenciam ao primeiro grupo. Humoristas como Danilo Gentili e derivados estão no segundo.” Errado. Bater na população islâmica da França é covarde. É bater no mais fraco. Uma das defesas comuns ao estilo do Charlie Hebdo é dizer que eles também criticavam católicos e judeus. Isso me lembra o já citado gênio do humor (sqn) Danilo Gentilli, que dizia ser alvo de racismo ao ser chamado de Palmito (por ser alto e branco). Isso é canalha. Em nossa sociedade, ser alto e branco não é visto como ofensa, pelo contrário. E – mesmo que isso fosse racismo – isso não daria direito a ele de ser racista com os outros. O fato do Charlie Hebdo desrespeitar outras religiões não é atenuante, é agravante. Se as outras religiões não reagiram a ofensa, isso é um problema delas. Ninguém é obrigado a ser ofendido calado. “Mas isso é motivo para matarem os caras!?”. Não. Claro que não. Ninguém em sã consciência apoia os atentados. Os três atiradores representam o que há de pior na humanidade: gente incapaz de dialogar. Mas é fato que o atentado poderia ter sido evitado. Bastava que a justiça francesa tivesse punido a Charlie Hebdo no primeiro excesso. Traçasse uma linha dizendo: “Desse ponto vocês não devem passar”. “Mas isso é censura”, alguém argumentará. E eu direi, sim, é censura. Um dos significados da palavra “Censura” é repreender. A censura já existe. Quando se decide que você não pode sair simplesmente inventando histórias caluniosas sobre outra pessoa, isso é censura. Quando se diz que determinados discursos fomentam o ódio e por isso devem ser evitados – como o racismo ou a homofobia – isso é censura. Ou mesmo situações mais banais: quando dizem que você não pode usar determinado personagem porque ele é propriedade de outra pessoa, isso também é censura. Nem toda censura é ruim. Por coincidência, um dos assuntos mais comentados do dia 6 de janeiro – véspera dos atentados – foi a declaração do comediante Renato Aragão à revista Playboy. Ao falar das piadas preconceituosas dos anos 70 e 80, Didi disse: “Mas, naquela época, essas classes dos feios, dos negros e dos homossexuais, elas não se ofendiam.”. Errado. Muitos se ofendiam. Eles só não tinham meios de manifestar o descontentamento. Naquela época, tão cheia de censuras absurdas, essa seria uma censura positiva. Se alguém tivesse dado esse toque nOs Trapalhões lá atrás, talvez não teríamos a minha geração achando normal fazer piada com negros e gays. Perderíamos algumas risadas? Talvez (duvido, os caras não precisavam disso para serem engraçados). Mas se esse fosse o preço para se ter uma sociedade menos racista e homofóbica, eu escolheria sem dó. Renato Aragão parece ter entendido isso.  Deixo claro que não estou defendendo a censura prévia, sempre burra. Não estou dizendo que deveria ter uma lista de palavras/situações que deveriam ser banidas do humor. Estou dizendo que cada caso deveria ser julgado. Excessos devem ser punidos. Não é “Não fale”. É “Fale, mas aguente as consequências”. E é melhor que as consequências venham na forma de processos judiciais do que de balas de fuzis. Voltando à França, hoje temos um país de luto. Porém, alguns urubus são mais espertos do que outros, e já começamos a ver no que o atentado vai dar. Em discurso, Marine Le Pen declarou: “a nação foi atacada, a nossa cultura, o nosso modo de vida. Foi a eles que a guerra foi declarada” (grifo meu). Essa fala mostra exatamente as raízes da islamofobia. Para os setores nacionalistas franceses (de direita, centro ou esquerda), é inadmissível que 10% da população do país não tenha interesse em seguir “o modo de vida francês”. Essa colônia, que não se mistura, que não abandona sua identidade, é extremamente incômoda. Contra isso, todo tipo de medida é tomada. Desde leis que proíbem imigrantes de expressar sua religião até… charges ridicularizando o estilo de vida dos muçulmanos! Muitos chargistas do mundo todo desenharam armas feitas com canetas para homenagear as vítimas. De longe, a homenagem parece válida. Quando chegam as notícias de que locais de culto islâmico na França foram atacados – um deles com granadas! – nessa madrugada, a coisa perde um pouco a beleza. É a resposta ao discurso de Le Pen, que pedia para a França declarar “guerra ao fundamentalismo” (mas que nos ouvidos dos xenófobos ecoa como “guerra aos muçulmanos” – e ela sabe disso). Por isso tudo, apesar de lamentar e repudiar o ato bárbaro de ontem, eu não sou Charlie. No twitter, um movimento – muito menor do que o #JeSuisCharlie – começa a surgir. Ele fala do policial, muçulmano, que morreu defendendo a “liberdade de expressão” para os cartunistas do Charlie Hebdo ofenderem-no. Ele representa a enorme maioria da comunidade islâmica, que mesmo sofrendo ataques dos cartunistas franceses, mesmo sofrendo o ódio diário dos xenófobos e islamófobos, repudiaram o ataque. Je ne suis pas Charlie. Je suis Ahmed.

    http://emtomdemimimi.blogspot.com.br/2015/01/je-ne-suis-pas-charlie.html?spref=fb

    1. JE SUIS AHMED AUSSI

      Brilhante comentário. Preciso, esclarecedor e edificante, pois desmistifica a farsa que pretende manipular a tragédia em favor do fascismo. Mereceria ser divido em parágrafos e publicado como post, neste blog e em outros espaços. Parabéns ao autor, pela coragem, pela clareza e pela eficiência política. Agora, somos Ahmed também.

    2. Discordo do que diz mas defendo até a morte seu direito de dizer

      Há pessoas esquecidas ou ignorantes da lição dessa frase, atribuída a Voltaire, sobre a liberdade de expressão. Essa liberdade é em essência para as ideias das quais discordamos; a liberdade que só garante a concordância é uma falsa liberdade. Palavras podem doer, mas não mutilam e nem matam, se alguém se sente ferido por palavras, que busque seus direitos dentro da lei ou devolva palavras igualmente ferinas, mas não atos atentatórios a integridade física de ninguém. Não existe crime de blasfêmia numa república laica,  a reação contra o semanário foi extremamente desproporcional ao alegado “crime” dos chargistas, foi a perpetração de um massacre brutalmente criminoso. Religiões são criticáveis e mais ainda são os religiosos e, sobretudo, os ditos fundamentalistas “religiosos”, gente intolerante com tudo e contra todos que contrariem suas crenças obscuras e psicopáticas: eles são o avesso da liberdade de expressão.

      Ao contrário do que transparece do artigo acima, embora críticos das religiões e dos seus fundamentalistas, os chargistas defendiam a minoria muçulmana contra a intolerância da direita islamofóbica.

      Um estado democrático tem o dever de defender a liberdade de expressão de seus cidadãos. O policial Ahmed estava ali cumprindo a função do dever do estado, sua memória deve ser reverenciada como a de um mártir da liberdade de expressão. Doou sua vida ao cumprimento do dever, da democracia e do estado laico, deve ser lembrado que, até os últimos momentos de sua existência, Ahmed foi também Charlie.

    3. Vc esqueceu 1 “detalhe”: o contexto das charges s/ Maomé

      A publicaçao das chargtes do jornal nórdico, replicadas por Charlie, foi quando um aiatolá fez uma convocaçao para que muçulmanos matassem aquele escritor que publicou Versos Satânicos. Foi uma resposta, nao nos deixaremos intimidar. 

  2. Artigo Abutre

    Um lixo de artigo, escrito por um abutre que contempla na carcaça do caso Charlie Hebdo a oportunidade sórdida de levar algum trocado.

    Um regime cretino como o comunismo, que ao longo da história matou mais de 65 milhoes de seres humanos na china e mais de 20 milhões na antiga URSS, que está quase morto, tenta agora recrudescer às custas da desgraça alheia.

    Ainda tenta dissimular e confundir, com um reducionismo primário, ao atribuir uma pecha fascista ás religiões. Esquecem-se de que somente o comunismo assassinou mais de 30 milhões de cristãos.

    Agora podem me taxar de troll. É a única maneira que a mente de alguns consegue lidar com o contraditório.

    1. capitalismo mata a todo momento

      o capitalismo mata todos os dias, crianças desnutridas da áfrica e do resto do mundo. 

      essa guerra ao dinheiro que não tem freio.

      isso aí é mais uma armação para países imperialistas se beneficiarem. 

       

    2. Não, Hudson, troll não!

      Você só é um garoto bobo, que acredita que só e exclusivamente o comunismo produziu mortes, que acredita ingenuamente que nunca houve morte por conta do capitalismo, do fascimo ou coisa que o valha da direita.

      Você só é bobo, nem pra troll serve.

    3. Abutre é a ancestralidade feminina mais imediata

      “O melhor momento para se ganhar dinheiro é comprando quando houver sangue escorrendo pelas ruas”.

      John D. Rockfeller

  3. mordomo

    quem, certamente, não é o ‘mordomo’ nesse ataque ao jornal de esquerda francês: o imperialismo ianque e seus tentáculos-estados do oriente médio; o governo ultra-direitista de israel; a extrema direita xenófoba europeia e a extrema direita francesa que vê uma possibilidade real de vencer as próximas eleições, extamente como marina silva, ano passado, após o “trágico” acidente do jatinho sem dono.

    e os candidatos a mordomo?

    “os de sempre”, nas palavras do chefe de polícia de ‘casablanca’ no filme homônimo.

  4. O relativismo ético moral da

    O relativismo ético moral da esquerda é algo asqueroso, e nesses momentos críticos é onde ele mais fica evidente, se encancara. 

    Pena que esse viés seja hegemônico no blog, ontem vi leitores aqui pregando abertamente a aniquilação de europeus, assim como se fosse na padaria comprar pão. Os “bem feito, procuraram isso”, então. Absurdo.

    Ve-se de tudo,

    comentaristas de esquerda na rede relativizando o atentado passaram a acusar o ocidente capitalista na figura do Charlie por provocações ao Islam e que o ato terrorista dos islamistas era de certa forma justificável (lembram da Sherehazade?) Certamente, ignorantes que são, não conheciam a linha editorial do jornal, nem sabiam que existia para ser mais exato. Depois que descobriram que o Charlie Hebdo era um jornal de vertente esquerdista e que batia em chico e francisco, passaram a acusar a “direita francesa”, não mais o editores do semanário  francês pela matança. 

     

  5. CIDADANIA VERSUS FASCISMO

    Excelente texto. Apresenta uma avaliação lúcida e firmemente fundamentada da triste realidade exemplificada pelo recente atentado em Paris, pois indica a relação entre o avanço fascista e os interesses do grande capital.

    Lapidar e irretocável a afirmação de que “a corrida ao lucro máximo semeia o caos no mundo inteiro”, bem como a convicção de que, em todas as suas diversas vertentes, o fascismo sempre está a serviço do imperialismo.

    Precisa e tocante a conclamação para o enfrentamento político contra as estratégias manipuladoras promovidas pela direita fascista, inescrupulosa e farsante. Somente a união de todos os progressistas em prol dos princípios democráticos pode impedir a tragédia global que o fascismo tenta impor a ferro e fogo.

    Neste sentido, vale recordar que a tão alardeada e manipulada liberdade de expressão não abriga a ofensa sistemática e acintosa aos valores e símbolos da cultura alheia.

    Do mesmo modo que mesmo o deboche mais ofensivo à tradição e à simbologia do que quer que seja não autoriza nem justifica violência brutal e covarde como a exibida no trágico episódio parisiense de 07/01.

    Por tais razões, é que o entendimento de eventos lamentáveis desta natureza requer a percepção da existência de uma complexa estrutura voltada para a promoção de conflitos políticos de variadas espécies. Estrutura esta que inclui inúmeras engrenagens de uma indústria pseudo cultural a serviço dos interesses fascistas e belicistas.

    A liberdade dos humoristas de fazerem piadas com o que quer que seja termina onde começa o direito das pessoas terem seus valores culturais respeitados por todos e preservado pelo Estado Democrático de Direito.

    O problema começa a aumentar quando as autoridades deixam de coibir os abusos praticados pela mídia.

    Principalmente quando tais abusos são sistemáticos e evidenciam estarem a serviço do poder econômico mais predatório,vinculado à indústria bélica e a todas as mais deletérias formas de lucrar com a violência e a espoliação.

    Somemos esforços por uma cidadania unida contra o fascismo farsante e vil.

    1. De jeito nenhum!

      A liberdade dos humoristas de fazerem piadas com o que quer que seja termina onde começa o direito das pessoas terem seus valores culturais respeitados por todos e preservado pelo Estado Democrático de Direito. a

      Ninguém tem o direito de ter seus valores culturais respeitados acima de qualquer condiçao. Desrespeitar realmente valores é queimar mesquitas ou sinagogas, chutar santas e invadir terrenos de candomblé, nao fazer desenhos sobre o obscurantismo religioso, que é o que Charlie fazia. As religioes nao estao acima do bem e do mal, e nao têm o direito de impor a censura a seus oponentes. 

       

  6. Alguém já viu charge pelos mulçumanos contra católicos, et ??

    nunca vi e seria o maior estardalhaço haver  uma charge debochando dos católicos, dos cristãos, dos protestantes, etc. As capas do Charlie, concordo, são de mau gosto, crianças rebeldes sem perceberem o mal e o risco de suas habilidades sem limites. Há necessidade de regulamentação da mídia e não uma absoluta liberdade (que chega a se contrariar a si mesma, pois inibe e contraria com muita agressividade a liberdade dos outros, no caso, de mulçumanos, não importa tanto se foram da Al Quaeda.

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