Rumo à obsolescência ou ao despertar da Força?
por Túlio Muniz
Há sinais evidentes e graves de que o Governo Lula beira a obsolescência por repetir velhas e falhas fórmulas e práticas dos próprios governos anteriores do PT (sobretudo Lula 2003-2006 e Dilma 2011-2016), para além das preocupações apontadas por Luís Nassif. Talvez por manter em cargos estratégicos agentes cuja mentalidade se volta a um passado onde não havia a instantaneidade das redes sociais (no caso da Comunicação Oficial), e também por o setor governista da esquerda não mais deter a hegemonia nos sindicatos (no caso da atual greve nas Universidades e IFs, com o MGI a ignorar deliberadamente representações mais expressivas), e mesmo na Economia (muitos alinhamentos ao ‘Mercado’, como fizeram Dilma e Levy), na Cultura (sem grandes inovações para além do que já se experimentou aqui em fomentos), Meio Ambiente (até agora não se vê muita concretude com os aportes do tipo Fundo Amazônia), Povos Originários (são cada vez maiores as críticas acentuadas de lideranças importantes).
Os casos são muitos e se entranham no Governo de coalizão. O Turismo e a Caixa, por exemplo. Entregues ao Centrão, não se sabe a que se deve a presença de seus gestores. A Caixa, maior banco público e social, virou um suplício a quem necessita de atendimento de programas sociais, o que esvazia toda positividade de ações importantes já longevas (Bolsa Família) ou de novas políticas (Pé de Meia).
Um sintoma grave de obsolescência está em curso. O Ministério da Gestão (MGI) na pessoa do secretário de Relações de Trabalho, José Lopez Feijóo, que no último ano e meio ignora solenemente as reivindicações de docentes federais ora em greve. Feijóo, em reunião recente, chegou ao disparate de admitir que daria “um tiro no próprio pé” ao ser advertido por representantes dos sindicatos mais representativos (ADNDES e SINASEFE) se repetisse o que fez nas greves de 2012 e 2015, que dilapidaram a carreira docente. À época, Feijóo desempenhava a mesma função nos governos Dilma, e assinou acordo com um sindicato outro forte, mas hoje minoritário (Proifes). Pois a fórmula foi reaplicada, e só não prosperou porque há intervenção da Justiça Federal e da própria cúpula do PT, cuja Executiva decidiu agir instada por docentes filiados ao partido, e tentar um diálogo diretamente com Lula. A Educação tem sido das maiores bandeiras do governo, mas a degradação das estruturas físicas das Universidades e Institutos por limitações de verba de manutenção, e a desvalorização de servidores têm gerado um contraste inquietante e contraditório com as perspectivas de expansão do ensino superior.
A longa permanência de alguém com o perfil de Feijóo nos governos petistas preocupa porque ele tem o estilo típico do aluno da ‘turma do fundão’, que faz ouvidos moucos às palavras dos professores, e é um antigo conhecido do próprio Lula desde os tempos de fundação da CUT. O presidente sabe dessas atitudes? As endossa ou seus efeitos deletérios não têm sidos comunicados a ele? Lembrando que docentes e técnicos federais tem suas bases majoritariamente composta por simpatizantes e eleitores de esquerda, talvez sejam as categorias que cotidianamente mais contato tem com um público superior a um milhão de estudantes e suas frustações são com eles compartilhadas.
Estaria Lula sendo contaminado por essa obsolescência, ou a letargia apontada por Nassif é devido a ele estar cercado de auxiliares que ou não lhe informam de tudo a tempo de sua sagacidade reverter estragos maiores?
Portanto, há muito a que se conferir, e urgentemente. O termômetro das eleições municipais está esquentando, e seu resultado influenciará imensamente no resultado das eleições seguintes, em 2026, das quais podem emergir um Congresso ainda mais conservador que o atual, ainda mais hostil para com o Governo ou com poder de barganha maior, o que corroerá a candidatura progressista, seja Lula ou outro nome, sendo ela vencedora ou não.
Túlio Muniz é professor universitário federal na UFERSA e filiado ao PT-CE .
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