
Terremotos em Ubatuba e daí?
por Heraldo Campos
Na última semana de agosto do ano de 2020 “(…) a TV aberta mostrou as imagens de tremores de terra na região do Recôncavo Baiano, que atingiram até 4,6 na Escala Richter. As imagens da mercadoria caindo das prateleiras de um supermercado nessa área dos abalos sísmicos chegaram a assustar. Na cidade de São Miguel das Matas as casas atingidas pelos tremores apresentaram várias rachaduras.
As falhas geológicas quando reativadas são as principais responsáveis pelos terremotos.
Apesar do Vale do Paraíba e do Litoral Norte do Estado de São Paulo estarem cerca de 2.000 km de distancia dessa região, existe um fator em comum entre elas que é a direção nordeste na qual se encontram alinhadas as falhas geológicas, mesmo que representem compartimentos geológicos e zonas sismogênicas distintas.” [1]
Para a região de Ubatuba (SP) e Angra dos Reis (RJ) “(…) essa hipótese não pode ser descartada. Mas, como voltamos a ter um governo que preza o diálogo e a democracia, espera-se que a população angrense tenha treinamento suficiente para saber onde deve ir em caso de algum infortúnio geológico porque, salvo melhor juizo, o ubatubense que vive cerca de 160 km dessa região talvez não saiba o que fazer, nem para onde ir. Terremotos e daí?” [2]
Há alguns dias atrás acordei depois de mais uma noite mal dormida, no meio dessa onda de calor insuportável, fiz um café, e liguei a TV aberta. O reporter do programa jornalístico estava anunciando um possível terremoto que teria ocorrido na cidade de São Paulo, Ubatuba e região. Na sequência da preocupante notícia, o mesmo reporter emendou dizendo que as instituições de pesquisa haviam sido consultadas e não tinham registrado nenhum evento geológico desse tipo, mesmo tendo soado o alerta de perigo em celulares da população que vive nessa região.
Uma primeira pergunta: houve algum registro de sismo e informação de moradores locais sobre algo semelhante ao que ocorreu na cidade de São Miguel das Matas, na região do Recôncavo Baiano em 2020, por exemplo?
Gente com o “passado duvidoso” [3] tem para todo o lado e com caixas de ressonância para os mais variados assuntos. Uma pista do que aconteceu, é que uma informação dessa categoria poderia muito bem ter sido disparada pelos mesmos conhecidos setores que vivem para espalhar notícias falsas e factóides, abaixo e acima da Linha do Equador, como temos constatado nos últimos tempos. Aqui fica uma segunda pergunta: será que não seriam aqueles “bacanas cidadãos” que, vira e mexe, divulgam que a “Terra é plana”, por uma conveniência de narrativa, com o objetivo de provocar o terror e o medo nas pessoas, para a ocupação de território político, juntamente com seus “miquinhos amestrados”?
Para concluir, uma terceira e talvez uma velha pergunta: será que a preocupação dessa gente, nada inocente, é porque os alquimistas estão chegando? “Eles são discretos e silenciosos / Moram bem longe dos homens / Escolhem com carinho a hora e o tempo /
Do seu precioso trabalho / São pacientes, assíduos e perseverantes / Executam segundo as regras herméticas / Desde a trituração, a fixação / A destilação e a coagulação” (trecho da canção “Os alquimistas estão chegando” de Jorge Ben do ano de 1974). Tchan!
Fontes
[1] “Avenida Itaorna” artigo de 01/09/2020
https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2020/09/avenida-itaorna.html
[2] “Terremotos e daí?” artigo de 19/09/2023
https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2023/09/terremotos-e-dai.html
[3] “Passado duvidoso” artigo de 31/01/2025
https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2025/01/passado-duvidoso.html
Heraldo Campos é geólogo (Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP, 1976), mestre em Geologia Geral e de Aplicação e doutor em Ciências (Instituto de Geociências da USP, 1987 e 1993) e pós-doutor em hidrogeologia (Universidad Politécnica de Cataluña e Escola de Engenharia de São Carlos da USP, 2000 e 2010).
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Talvez mais um “experimento social” das big techs para monitorar a reação da população e dimensionar a arma da desinformação e seus possíveis efeitos. Falando nisso o que foi feito dos “drones” que apareceram às centenas nos EUA na proximidade da data de posse do bestalhão? É daqui pro buraco.